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Chapter 4 - Capítulo 4: Nos Passos da Natureza

O REINO TRIBAL

Capítulo 4: Nos Passos da Natureza

O sol nascia suavemente no horizonte, suas primeiras luzes aquecendo a terra e iluminando nosso abrigo de maneira tranquila e acolhedora. A sensação de renovação era palpável, e, ao abrir os olhos, senti-me não apenas revigorado, mas mais forte do que antes. O esforço do treinamento de ontem tinha surtido efeito, e eu sabia que estava mais perto de alcançar o controle total sobre minha energia. O processo de aprendizado, embora árduo, estava se tornando mais claro a cada dia.

– "Vó!" – chamei, já me preparando para sair.

– "Posso ir à floresta de novo? Quero trazer mais frutas e peixes para o almoço."

Judith, sempre atenta, me lançou um olhar preocupado. Sua expressão séria não era um obstáculo, mas um lembrete da realidade perigosa que nos cercava.

– "Cuidado com os monstros, Khargas. A floresta pode ser traiçoeira. Não se esqueça disso."

Eu sabia que a advertência de minha avó vinha do amor e da experiência. A floresta não era um lugar amigável, mas era meu campo de treino, e eu não podia mais hesitar. A busca por alimento agora estava entrelaçada com meu treinamento, pois cada saída era uma chance de fortalecer meu vínculo com a mana e, ao mesmo tempo, aprimorar minhas habilidades de combate.

– "Com a permissão de Judith..." – pensei comigo mesmo, e sem hesitar, segui em direção à floresta com renovada confiança.

Cheguei rapidamente ao riacho. O som suave da água caindo sobre as pedras se tornou uma melodia tranquila, um convite ao relaxamento. Ali, as florestas e os rios eram fontes de força, de mana, e o contato com a natureza parecia amplificar esse poder invisível. Sentando-me à beira do riacho, fechei os olhos e comecei a meditar, sentindo a energia ao meu redor.

Era como se a própria essência do mundo fluísse através de mim. Eu sentia a mana se acumulando dentro de mim, uma força etérea que se unia aos meus próprios fluxos internos. A sensação de conexão com a natureza era indescritível, e pela primeira vez, eu compreendi verdadeiramente a vantagem dos povos primitivos.

– "Se eles soubessem do potencial que têm... poderiam até desafiar as grandes províncias feudais, sem medo."

A mana não estava confinada a artefatos ou palavras mágicas; ela fluía livre, um dom da natureza. Eu estava apenas começando a entender o quão profundo poderia ir.

A meditação trouxe-me até o limite máximo de mana que podia armazenar naquele momento. Senti uma leve pressão nos músculos, como se meu corpo estivesse se adaptando à quantidade de energia que acabara de acumular. Isso era um sinal claro: eu não poderia absorver mais sem consequências.

– "É necessário fortalecer o corpo para aumentar a capacidade de armazenar mana." – lembrei das palavras que, em minha vida anterior, já haviam me sido ditas. A energia não era algo a ser desprezado. Se eu ultrapassasse meu limite, o risco de danificar meu corpo era real.

– "Se eu não for cuidadoso, a energia pode sobrecarregar os canais, provocando uma explosão interna…"

Mas a verdade era que meu corpo ainda era jovem. Meu treinamento físico estava longe de ser completo, e, por mais que minha mente estivesse avançada, meu corpo precisava acompanhar. Então, tomei uma decisão. Eu não poderia ficar estagnado.

– "Mas existe outra maneira de aumentar minha força…", pensei. O plano estava se formando em minha mente.

Caçar bestas de mana, ou criaturas místicas, era uma maneira conhecida de fortalecer os canais de mana. Algumas dessas criaturas carregavam cristais de mana, que poderiam ser absorvidos para reforçar a circulação da energia dentro de meu corpo. Essa prática era comum entre os magos e guerreiros experientes.

Havia também uma técnica mais avançada e arriscada: reunir vários cristais para criar um núcleo de mana dentro do corpo. Esse núcleo permitiria armazenar uma quantidade muito maior de mana, tornando o indivíduo mais poderoso. Mas essa técnica não era simples e demandava grande habilidade, além de ser muito perigosa. A criação de um núcleo de mana era um procedimento arriscado, geralmente reservado para magos nobres, que possuíam o conhecimento e a resistência física para suportá-lo.

– "Essa técnica foi algo que descobri em minha vida anterior, e sei que há muito mais a ser aprendido por este povo." – pensei, enquanto minha mente vagava para possibilidades ainda inexploradas.

Antes de sair em busca de uma presa, escutei ruídos vindos do mato à frente. Instintivamente, me posicionei em guarda, a lança improvisada nas mãos, pronto para reagir a qualquer movimento. O silêncio da floresta parecia me observar, cada som reverberando como um eco no meu interior.

De repente, entre as folhas, um par de olhos apareceu. Um rosto com focinho grande e arredondado, e a sensação de perigo se tornou imediata. Um javali selvagem! O animal me viu e, furioso, se lançou na minha direção, a cabeça baixa para me golpear com toda sua força.

Com rapidez, desviei para a esquerda, observando o javali bater de cheio em uma árvore atrás de mim, ficando atordoado pelo impacto. A oportunidade foi imediata. Em um movimento rápido e preciso, cruzei o espaço entre nós, cravando minha lança no pescoço do animal. O golpe foi certeiro, e o javali caiu, finalmente, sem vida.

O desafio havia sido facilmente superado. E com o javali abatido, comecei a me preparar para levar a carne de volta. Cada passo na floresta agora parecia diferente. Já não era mais uma criança indefesa; era alguém destinado a ser reconhecido.

Ao voltar para casa, o peso do javali nas costas se tornou um símbolo da jornada que eu estava trilhando. Um lembrete de que, mesmo em minha juventude, eu tinha a capacidade de crescer e me tornar uma força a ser respeitada.