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Chapter 6 - Capítulo 6: Gritos de Desonra

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Capítulo 6: Gritos de Desonra

A primeira semana naquele novo mundo passou num piscar de olhos, preenchida por treinos intensos e aprendizados. Dediquei-me com afinco à arte da lança, sentindo meu corpo se fortalecer a cada dia, moldado pelo esforço constante. Além disso, ajudava minha avó Judith nas tarefas diárias, caçando e trazendo os alimentos necessários para nossas refeições. Suas comidas, simples, mas incrivelmente reconfortantes, eram um dos raros prazeres que quebravam minha rotina austera.

A cada dia que passava, ficava mais evidente o quanto Judith era essencial em minha vida. Sua presença e cuidado eram a base do meu progresso. Até então, tudo parecia tranquilo demais. Não havia cruzado com nenhuma criatura de mana ou enfrentado grandes desafios, o que, de certa forma, era um alívio. Sabia que ainda não estava totalmente preparado para confrontar esses seres sozinho.

Mas a paz, como sempre, foi interrompida.

Estávamos à mesa, desfrutando de um almoço comum. Então um grito cortou o ar, vindo de fora da casa. O som era agressivo, carregado de ódio e desprezo, abalando a calmaria do momento.

— "SAIA DAÍ, SEU ÓRFÃO MEDROSO!"

Judith levantou os olhos da refeição, claramente confusa e perturbada.

— "O que foi isso, pequeno?"

Tentando acalmá-la, forcei um sorriso descontraído e brinquei:

— "Nada, vó. Deve ser só algum mosquito gritando em seu ouvido."

Mas outro grito ecoou, mais ameaçador que o primeiro:

— "SE NÃO SAIR DAÍ, VAMOS JOGAR FOGO NESSA CABANA IMUNDA!"

Meu sangue ferveu. As palavras cruas, o tom de ameaça e a afronta direta eram impossíveis de ignorar. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que crescia dentro de mim. Sem demonstrar muito, voltei-me para minha avó:

— "Fique tranquila, vó. Deve ser apenas um grupo de idiotas querendo chamar atenção. Vou lá fora conversar com eles."

Judith, ainda desconfiada, meneou a cabeça. Seu olhar mostrava preocupação, mas também uma aceitação de que não havia muito o que fazer.

— "Está bem, garoto. Mas resolva isso sem confusão, por favor..."

Mal sabia ela que minha mente já estava tomada pela fúria. A ideia de alguém ousar desrespeitá-la ou ameaçar nossa casa me consumia por dentro. Quem quer que fosse, pagaria caro por essa insolência.

— "Vózinha..." — chamei, desta vez com um tom mais sério.

— "O que foi, filho?"

— "Não se preocupe com o que eles estão falando. Vou lá fora ensinar uma boa lição a esses rapazes."

Minha voz carregava uma determinação sombria, e Judith percebeu isso. Apesar de relutante, deixou que eu fosse, murmurando algo sobre eu não demorar.

Quando saí pela porta, avistei uma figura familiar. Doeny, o adolescente arrogante que já havia cruzado meu caminho antes, estava ali, liderando um grupo de dez rapazes. Ele parecia maior do que eu lembrava, mas sua expressão de superioridade era a mesma. Assim que me viu, soltou uma gargalhada debochada que ecoou pelo ar.

— "Olha só quem saiu da toca! O ratinho órfão!" — zombou, sua voz carregada de escárnio.

Olhei para os rostos ao redor dele, observando cada um com calma. Não me intimidei. Já tinha enfrentado coisas muito piores em minha vida anterior.

— "E aí, não vai dizer nada? Ficou com medo do meu grupo?" — continuou, provocando.

Sua risada estridente era idêntica à de uma gaivota barulhenta, um som que só servia para aumentar minha irritação. Mas, em vez de me abalar, sorri.

— "Doeny, cale a boca antes que eu resolva quantos de vocês vou precisar carregar para o curandeiro hoje."

Minha resposta fez o sorriso em seu rosto desaparecer. O orgulho ferido dele estava evidente, e a raiva que brilhou em seus olhos mostrou que minhas palavras haviam atingido o alvo.

— "Você é um miserável! Mesmo diante de nós, quer bancar o valente?" — ele rosnou, cerrando os punhos.

— "Valente?" Não, eu sou realista mesmo. Nem preciso da minha lança para acabar com vocês." — respondi, mantendo o tom frio e confiante.

O grupo ao redor de Doeny começou a trocar olhares incertos, e eu podia ver o medo crescendo neles. Mas Doeny era orgulhoso demais para recuar. Ele gesticulou para três de seus capangas avançarem.

— "Acabem com esse verme!" — ordenou, sua voz cheia de ódio.

Os três avançaram sem hesitar, no entanto, meu olhar permaneceu firme. O confronto se aproximava e não seria apenas físico; era uma batalha de força e mente. O treinamento árduo dos últimos dias me preparou para qualquer situação. A lança que eu mantinha comigo não era só uma arma, era a extensão da minha vontade. Se eu a usasse, ninguém sairia vivo, por isso a guardei.

E enquanto eles se aproximavam, respirei fundo, sentindo a familiar energia da mana começar a fluir pelo meu corpo. O mundo ao meu redor parecia desacelerar, e tudo o que eu podia ouvir era o som da minha respiração e o leve chiado do vento.

Com a tensão no ar, aguardei o primeiro movimento. Eu não planejava me defender; estava decidido a mostrar a Doeny e a todos ali que não sou alguém com quem se pode brincar.

Os gritos de desonra que iniciaram o dia estavam prestes a se transformar em gritos de arrependimento. E isso, eu garantiria pessoalmente!