VOCÊ ESTA LENDO (O REINO TRIBAL)
Capítulo 12: Rostos na Escuridão
— "No torneio que acontecerá na próxima semana, participarão vinte e quatro competidores. O prêmio, se não me engano, será composto por três lingotes de ouro e uma espada longa banhada a prata! A competição será realizada aqui na vila Rokura, na recém-reformada arena de entretenimento. E, para tornar tudo ainda mais especial, o chefe da vila, Gálior, estará presente para assistir ao grande espetáculo!"
Após essa longa explicação, Niko sorriu, parecendo satisfeito.
— "Tentei resumir o melhor possível, garoto..."
— "Muito obrigado, senhor!" — respondi com sinceridade.
Ele fez um gesto despreocupado e respondeu:
— "Eu que te agradeço pela ajuda. E, por favor, não seja tão formal. De agora em diante, me chame de Niko!"
— "Ótimo, senhor Niko. Espero que nossa amizade dure para sempre!" — falei, com um sorriso genuíno.
Apertamos as mãos, selando aquele momento de respeito mútuo. Saí da loja alegre, satisfeito por ter conseguido as linhas de lã e, de quebra, feito um novo amigo.
Ao me aproximar novamente do grande portão, percebi que o movimento tinha diminuído. O fluxo de pessoas estava bem menor, e as tochas da vila começaram a ser acesas. A agitação anterior havia cedido lugar a um silêncio mais tranquilo.
— "Todos já devem estar voltando às suas casas..." — murmurei, levantando os olhos para o céu.
A tarde começava a se despedir. O pôr do sol pintava o horizonte com tons dourados e alaranjados, criando sombras gigantescas das montanhas ao longe. A paisagem era tão bonita que me peguei por um momento absorto em sua grandiosidade.
Sacudindo a cabeça para me recompor, decidi continuar a caminhada de volta, mesmo sabendo que o cair da noite tornaria o caminho mais perigoso.
Depois de algumas horas de trilha solitária, o céu finalmente se transformou em um manto escuro, pontilhado por estrelas brilhantes. O silêncio noturno era mais profundo do que o tardio. Apenas interrompido pelos sons de meus passos e pelo canto ritmado dos grilos, junto dos ocasionais pios de corujas escondidas entre as árvores da floresta.
A calmaria da noite era reconfortante. Apesar da escuridão turva, sentia-me em paz. Longe de conflitos e da brutalidade do mundo, aproveitei o momento de tranquilidade, algo raro em minha vida.
No entanto, essa paz foi rapidamente interrompida quando uma luz amarela, semelhante ao brilho de uma tocha, surgiu mais adiante no caminho.
— "Que estranho..." — murmurei, estreitando os olhos para enxergar melhor.
Logo, duas figuras sujas emergiram da escuridão, vestindo trapos esfarrapados e segurando adagas com tochas. A luz de suas chamas dançava, revelando rostos que exalavam malícia.
— "Ei, Jergo! Aponta essa tocha pra lá, rápido!" — disse um deles, em tom ansioso.
Não tive tempo para me esconder. Em segundos, a luz da tocha iluminou meu rosto, revelando-me nas sombras.
— "Hahahaha!" — riu o homem maior.
— "É só um garoto perdido! Não precisa ter medo, Fouba!"
O grandalhão parecia relaxado, enquanto o outro, um homem magricela e nervoso, deu um suspiro aliviado.
— "Pois é, Jergo! Achei que fosse uma matilha de lobos famintos..."
Entediado com a conversa desimportante, fiquei em silêncio, observando os dois com atenção.
— "Certo, Fouba..." — continuou Jergo, com um tom casual. — "Vamos matá-lo e saquear o que tiver, ou capturá-lo para vender como escravo?"
O magrelo pensou por um momento antes de responder:
— "Melhor a primeira opção. Provavelmente é um garoto de classe miserável. Olhe o estado dele."
Avaliaram-me de cima a baixo com olhares vulgares:
— "Assim, seremos rápidos, já que a noite está cheia de monstros. Não quero morrer por causa de um moleque qualquer."
— concluío Fouba, perspicaz.
— "Hahaha! Sempre posso contar com o irmão!" — sorriu Jergo.
Ao compreender suas intenções, retirei minha lança da mochila e a posicionei firmemente em minhas mãos.
— "SEUS VAGABUNDOS!" — gritei, minha voz ecoando pelo caminho.
A dupla parou, visivelmente surpresos. Estavam prestes a rir.
— "Sabem que interromperam minha preciosa paz, certo?" — continuei, encarando-os com frieza.
Fouba, o magricela, reagiu imediatamente, soltando uma risada curta. Meu atrevimento o fez perder sua pouca paciência e, com raiva na voz, afrontou-me:
— "Cale essa boca, moleque maltrapilho! Antes que a gente te esquarteje!"
Jergo apenas riu, aparentemente despreocupado. Mas o brilho em seus olhos e seu constante sorriso mostrava que ele não subestimava tanto minha postura.
Cansado de ouvir muita conversa inútil, posicionei a lança à frente do corpo e, sem hesitar, corri na direção de Fouba, que parecia ser o mais fraco dos dois. A batalha estava prestes a começar, e eu não tinha nenhuma intenção de recuar.