VOCÊ ESTA LENDO (O REINO TRIBAL)
Capítulo 15: Infarto a Caminho
A viagem de volta para casa foi tranquila, sem nenhum imprevisto.
Assim que cheguei à frente da humilde habitação, uma sensação estranha me invadiu.
— "Pera lá..." — murmurei, franzindo o cenho conforme observava ao redor.
Algo parecia errado, mas eu não sabia dizer exatamente o quê. Até que finalmente percebi:
— "Haa!!!"
Minhas mãos ainda estavam cobertas de sangue seco, resultado da batalha contra os bandidos.
— "Não posso aparecer assim, ou minha vó vai desmaiar de susto!"
Caminhei até o poço próximo ao curral e lavei as mãos com cuidado, esfregando cada centímetro até remover todo vestígio de sujeira.
— "Ufa... agora posso entrar sem causar um infarto nela."
Com um suspiro de alívio, me preparei para abrir a porta. Mas, ao me aproximar, ouvi vozes vindas de dentro da casa.
— "Mais um dia ensolarado... vou abrir a casa e tomar meu cházinho abençoado, hahaha!" — a voz animada de Judith ecoou.
Empurrei a porta devagar, o rangido leve anunciando minha entrada.
— "E aí, vó! Bom dia?" — cumprimentei, acenando para ela com um sorriso descontraído.
O que aconteceu em seguida foi tão repentino que me pegou completamente desprevenido.
— "KYAaAaAaAaAaAaAaAaAaHhH!!!"
Judith, sem sequer processar minha presença, soltou um grito agudo antes de desabar no chão como uma pedra.
— "Boom!!!"
— "MINHA NOSSA, VÓ!!!" — exclamei, o pânico tomando conta de mim.
Num impulso desesperado, corri até ela e a segurei no colo.
— "Meu senhor... só posso ter amaldiçoado minha vó querida!" — lamentei, sentindo uma pontada de culpa.
O rosto de Judith estava pálido, e seu corpo parecia frio como o gelo. Ela estava inconsciente, e eu não sabia o que fazer.
Lágrimas começaram a brotar em meus olhos enquanto eu chamava por ela sem parar.
— "Sniff! Vó, por favor... sniff! Me responde!"
Os minutos pareceram horas, cada segundo preenchido por uma mistura de desespero e arrependimento.
De repente, um milagre a fez acordar. Os olhos de Judith se abriram abruptamente, arregalados.
— "Coff! Água... Coff! Coff! Água! Ah!!!"
— "Hã?" — respondi, confuso, sem entender o que ela dizia.
Com uma força inesperada, Judith gritou:
— "ME DÁ ÁGUA!!!"
E ainda me deu um tapa certeiro na cabeça.
— "Slaaap!"
— "Ugh!!!" — exclamei, recebendo o impacto.
O tapa me trouxe de volta à realidade.
— "Me desculpa, vó! Já vou pegar água agora!" — falei, correndo apressado para a cozinha.
Encontrei um jarro de barro e o enchi com água o mais rápido que pude. Voltei para ela ainda suando frio.
— "Tome, vovó!"
Judith segurou o jarro firmemente e começou a beber grandes goles, quase engolindo a água de uma vez só.
— "Glup! Glup!! Glup!!!"
Quando finalmente terminou, soltou um longo suspiro de alívio.
— "Shaaaahhh! Que coisa boa!"
Então, ela me encarou com uma expressão furiosa e apontou o dedo na minha direção.
— "SEU MALUCO!!! QUER ME MATAR DE INFARTO???"
— "Por favor, vózinha, me perdoa! Sniff! Foi sem querer! Eu não sabia que isso ia acontecer!" — respondi, tentando me justificar enquanto lágrimas escorriam pelo rosto.
Ela bufou, cruzando os braços numa expressão de falsa indignação.
— "Nunca faça isso de novo, ouviu bem?"
— "Sim, vó... sniff!"
Judith, mesmo irritada, tinha uma doçura natural que a impedia de ser severa por muito tempo.
— "Espero que tenha aprendido, pequeno!"
Depois do susto nos sentamos juntos na frente de casa, para tomar seu famoso cházinho da manhã e conversar admirando o belo dia.
— "Achei que você passaria a noite na vila..."
— comentou ela, saboreando calmamente a bebida.
— "Vó, eu pensei que daria tempo de voltar no mesmo dia. Não tem nada demais sair à noite por um tempinho."
Judith balançou a cabeça, desapontada.
— "Você não tem medo da morte, não é? Já te avisei várias vezes para nunca sair ao anoitecer na floresta."
Ela suspirou profundamente, o peso do mundo estava em seus ombros.
— "Ó vossa divindade Rhudit... veja bem? Agora ele quer me matar de preocupação..."
Não consegui conter uma risada ao ver suas caretas exageradas.
— 'Definitivamente, essa é minha vó Judith. Meiga, amável... e um pouquinho doidinha.'
— pensei, observando-a com carinho enquanto tomávamos o chá.