VOCÊ ESTA LENDO (O REINO TRIBAL)
Capítulo 3: O Fluxo de Potencial
Após descobrir que a mana — ou éter, como era chamada pelos povos tribais — existia neste mundo, minha mente foi tomada por uma empolgação difícil de conter. Era como reencontrar uma velha amiga, algo familiar que eu já sabia usar, mas que agora parecia mais intenso e pulsante. Eu sentia a energia fluindo em mim, chamando por ação. Não podia desperdiçar essa chance.
— "Vó, posso ir até o rio pegar alguns peixes?" — perguntei casualmente, tentando esconder a ansiedade que borbulhava sob minha pele.
Judith ergueu o olhar, podendo enxergar além da minha intenção. Seus olhos verdes carregavam a sabedoria de alguém que já havia vivido muito, e sua resposta veio em uma mistura de carinho e advertência.
— "Peixes? Eu sei que você parece mais forte do que sua idade sugere, mas não subestime os perigos. Monstros de éter selvagens muitas vezes espreitam pelas florestas e se aproximam dos rios. Tome cuidado, garoto. Não arrisque sua vida por algo tolo."
Embora sua preocupação fosse sincera, eu sentia que poderia lidar com qualquer coisa. Não era presunção; era a certeza de que o éter fluía em mim de maneira vibrante, quase como uma segunda pele. Com um aceno respeitoso, agradeci e me despedi.
As margens do riacho eram serenas. A água clara refletia os últimos raios de luz do dia, e o som constante do fluxo quebrava o silêncio da floresta. Aquele ambiente tinha algo especial, uma energia tranquila, abundante. Observei atentamente ao redor, procurando sinais de perigo antes de me concentrar na tarefa.
A primeira coisa que precisei foi de uma ferramenta. Logo, encontrei uma pedra lisa e resistente e comecei a trabalhá-la. Usando uma segunda pedra, lasquei a primeira com cuidado, criando uma borda afiada. O som seco do impacto ecoava pela floresta, cada batida trazendo à tona memórias de profissões similares no meu mundo anterior.
— 'Os artesãos realmente devem ter uma vida difícil.' — divaguei em pensamentos, enquanto trabalhava.
Com minha lâmina improvisada, caminhei até uma árvore robusta. Escolhi um galho grosso o suficiente para funcionar como uma lança e comecei a cortá-lo. O trabalho foi árduo; minhas mãos doíam a cada golpe, mas, depois de algum tempo, consegui moldar a ponta até que ficasse afiada o bastante para perfurar.
— "Pronto. Uma lança improvisada..."
— murmurei para mim mesmo, admirando minha criação.
Antes de começar a pescar, decidi fazer algo que estava adiando: testar o fluxo do éter dentro de mim. Sentei-me à beira do rio, fechando os olhos e deixando minha respiração se alinhar com os sons ao redor. Foi nesse momento que senti o poder latente.
A energia fluía em mim como um fluxo invisível, percorrendo caminhos que eu nunca havia sentido tão claramente antes. Era diferente de tudo o que lembrava do meu mundo anterior. Não era apenas uma fonte de poder; era quase como uma extensão de quem eu era.
— 'Impressionante!' — pensei, sentindo o coração acelerar. — 'Este corpo tem uma afinidade absurda com mana!'
Decidi intensificar o fluxo, empurrando o éter através dos canais internos do meu corpo. No começo, foi apenas uma leve pressão, mas logo a dor veio, intensa e implacável. Parecia que minhas veias estavam sendo esmagadas por dentro.
Tossi, sentindo o gosto amargo de sangue na boca. Uma substância escura começou a sair dos meus poros, misturando-se ao suor que escorria em abundância. Meu corpo protestava, mas eu sabia que era necessário. Esse era o processo de purificação, de abrir os canais obstruídos que limitavam o movimento do éter.
Quando a dor se tornou insuportável, finalmente parei. Minha respiração estava pesada, mas algo havia mudado. O fluxo estava mais livre, mais intenso. Era como se um rio antes preso por represas finalmente tivesse encontrado o caminho.
— 'Consegui...' — pensei, exausto, mas satisfeito. — 'O primeiro passo.'
Eu havia alcançado o estágio de "Fluxo Manativo", a base para qualquer manipulador de mana. No meu mundo anterior, doenças no meu corpo físico limitavam meu potencial, mesmo que eu fosse considerado um prodígio. Agora, sem essas amarras, eu podia vislumbrar um futuro sem limites.
— 'Desta vez, não cometerei os mesmos erros. Não jogarei fora a minha segunda chance.'
Depois de descansar, voltei ao rio para um novo objetivo: pescar. Com os sentidos aguçados e o corpo mais forte, o trabalho se tornou incrivelmente fácil. O movimento dos peixes na água era tão claro quanto se estivessem saltando diante de mim. Em pouco tempo, havia capturado nove peixes grandes, cada um com a força para desafiar uma criança comum, mas que agora parecia insignificante para mim.
Enquanto caminhava de volta à casa de Judith, não conseguia conter a excitação. A floresta ao meu redor parecia diferente, mais viva. Era como se o éter que fluía em mim me conectasse ao mundo de uma nova forma.
— "VÓ!!!" — gritei assim que avistei a pequena casa.
Judith surgiu na porta, com a expressão franzida.
— "Garoto, por que está gritando assim? Quase derrubei a panela!"
— "Desculpe, vó..." — respondi, tentando parecer arrependido, mas o sorriso no meu rosto entregava minha animação.
Ela olhou para os peixes que eu segurava, surpresa.
— "Nove peixes? Não me diga que roubou isso de alguém."
— "Claro que não! Pesquei todos sozinho!"
Judith estreitou os olhos, avaliando minha resposta, mas, depois de um momento, balançou a cabeça numa risada.
— "Você é mesmo uma criança peculiar, Khargas..." — sorriu, satisfeita.
Depois do jantar, enquanto Judith se retirava para dormir, aproveitei a tranquilidade da noite para meditar. Sentei-me do lado de fora, onde a brisa noturna acariciava minha pele, e fechei os olhos. O éter ao meu redor parecia pular, como se estivesse esperando que eu o chamasse.
Cada respiração aprofundava minha conexão com aquela energia primordial. Era como estar cercado por um oceano invisível, pronto para ser explorado.
— 'Neste mundo, posso alcançar algo que nunca consegui antes. Não sou mais limitado pelo passado. Agora, sou Khargas.'
Com esse pensamento, deitei-me e encarei novamente o teto de palha, vendo o grande céu estrelado pelas frestas. Ele parecia sussurrar promessas de glórias e desafios ainda maiores.