Nos campos nevados, próximo da borda de uma grande floresta, correndo de seus perseguidores, foge a presa indefesa, carregando seu filhote. Iluminada pela luz da lua cheia, a escuridão da noite se esvai, revelando o rosto da pessoa embaixo da capa marrom bordô.
Um homem jovem, na casa dos 20 anos. Seu cabelo castanho amendoado curto, combinava com a cor de sua capa. Sua linha de mandíbula quadrada e sem barba. Suas sobrancelhas semiarqueadas, de aspecto forte, se curvam no final, escorregando em olhos rosa pérola claro, enquanto seus longos cílios e nariz empinado traziam um aspecto amável ao seu rosto. O olhar gentil e choroso que tinha no rosto, reluzia o clarão da lua com uma beleza entorpecente.
O frio da noite invernal era congelante, atravessando as camadas de roupas que vestia por baixo da capa. O casaco azul cobalto, sobreposto ao blazer marfim com abotoaduras duplas douradas e a camisa branca que vestia, exalam uma "aura" nobre. A calça, também cor de marfim, contrasta com a cor preta das botas para neve. Mesmo sua capa possuindo um encantamento de regulação de temperatura, ele sentia o frio drenar a força em suas pernas.
Não usava nenhum acessório além de um anel dourado, encrostado com robusto diamante rosa, no anelar de sua mão esquerda. Uma peça refinada, feita somente pelos melhores ourives.
"Haa... Haa." ele corre ofegante, sangrando pelo corte aberto em sua panturrilha direita, causado por uma grande lâmina. Seu movimento debilitado, o incapacitava de seguir a diante rapidamente.
"Au au au." os latidos abafados dos cães de caça que rastreavam o cheiro do seu sangue, se aproximavam rapidamente.
O rastro de sangue deixado na neve o impedia de despistar seus perseguidores, e se usasse magia para fugir, os rastreadores saberiam exatamente sua localização, o que só pioraria a situação. Mas isso não era importante. A única coisa que se passava em sua cabeça, era o que poderia fazer para salvar seu filho recém-nascido.
Movidos pelo vento frio, os galhos das árvores sem folhas, farfalham, derrubando a neve acumulada. Um par de coelhos que dormia sob um carvalho próximo, após serem acordados pelo despencar da neve, correm, fugindo em direções apostas.
Imprudentemente, visando somente a vida de seu filho, ele retira sua capa e o enrola apressadamente com ela. Mesmo sabendo que as roupas do bebê estavam encantadas com o mesmo feitiço em sua capa, seu pai fez isso como garantia. Touca, luvas, sapatos, pijama e o lenço de sua chupeta. Cada peça de roupa que vestia, fora feita especialmente por sua mãe, como sinal de cuidado e afeição. Todos brancos, como a paisagem que os cercava.
Seguindo até as árvores da floresta a sua frente, o abraça apertado, dando um último beijo em sua testa . "Sua mãe já vem t-te buscar, e-ela é uma mulher muuito forte. O p-p-papai vai tirar os caras maus daqui." sua voz tremia entre os soluços incontroláveis.
Fadado a tomar tal decisão, enojado pela própria fraqueza, buscando coragem na tentativa de desvencilhar-se de seu filho, repousa-o com todo cuidado atrás do tronco da árvore, sob o frígido leito da natureza.
"Adeus, Julienne."
Concentrando mana na sola dos pés, inicia uma pequena chama, "[carga explosiva]!" entoou, criando uma pequena explosão sob os pés, impulsionando-se para frente. Conseguiu cobrir cerca de 2 metros com um único impulso, mas ao custo de piorar o machucado em sua perna. Entretanto, nem isso o parou. A dor de ter que abandonar o próprio filho era muito pior que isso.
Executando continuamente a magia, se distancia rapidamente do robusto carvalho, ganhando, pelo menos, 1,5 metros com cada impulso. Entretanto, isso também se aplicava aos perseguidores, já que agora eles sabiam sua direção exata.
Impedindo-se de virar o rosto, deixando para trás suas lágrimas e esperanças, ele corre, em um caminho sem volta.
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Ponto de vista dos perseguidores.
Duas pessoas encapuzadas, completamente de preto, guiados por três cães de grande porte, semelhantes a raça pastor alemão. Os rostos cobertos por máscaras negras, apenas os olhos aparentes.
"Que inferno! Até onde esse maldito vai?" perguntou o homem a esquerda. Por debaixo do manto, um rapaz relativamente baixo, 1,65 metros, entretanto, seu corpo era magro e bem definido, com uma besta leve no braço direito e duas adagas atrás da cintura. A íris de seus olhos negras como piche.
"Não sei e não me importo." respondeu de forma curta e grossa. Uma mulher de mesma altura, a voz um pouco rouca. Não possui grandes "dotes", mas a roupa colada, revela um corpo definido, poucos músculos. O pomo de sua espada curta, entalhado com uma rosa, destacava através de seu visual modesto.
"Nossa como você é grossa, 026." disse sarcasticamente.
"Mesmo assim, não importa o quão longe ele vá. Eu já acertei uma flecha envenenada nele."
"Acho que você tá vendo demais, 027. Você errou todos os tiros até agora." ela replica ironicamente.
"No cara não! Na criança!" responde irritado.
"Quando isso?" perguntou surpresa com a resposta.
"Logo antes dele começar a correr. Atirei na sola do pé do pirralho. Nunca que ele descobre isso." se gabando, com o nariz empinado.
O_O ← Incrédula com a notícia. 'Como que alguém tão imbecil consegue fazer isso?' ela se perguntava.
Seguindo adiante, o som do vento e das árvores chacoalhando, é interrompido pelo comentário repentino do 027: "é inacreditável que sejam necessários dois esquadrões para conseguir despistar apenas uma pessoa."
"Ela não é 'apenas uma pessoa', ela é 'daquela família'. 40 pessoas é pouco, se você levar isso em consideração." 026 contestou.
027 concordou em silêncio, acenando com a cabeça.
"Au au au." os cães latiram após encontrar o sangue derramado.
Era claro, até mesmo através da máscara, eles se animavam mais e mais enquanto se aproximavam da presa ferida.
Não demorou muito até que o previsto acontecesse, ele usar magia para fugir. Menos de 1 minuto depois dos cachorros latirem, um sinal de mana percorre o ar, chegando até eles. Isso demonstrava o desespero de um animal indefeso, prestes a ser abatido.
Agora, sem precisar dos cães farejadores como guia, os dois, reforçando seus corpos com mana, disparam em alta velocidade, deixando-os para trás. 027 envolto de um brilho verde esbranquiçado, com sopros de vento circulando seu corpo, afastando a neve de seus pés. 026 brilhava fracamente em azul claro, sua mana era fluida e permeava facilmente entre as camadas de neve.
O vento criado pela investida rápida, levantara suas capas, revelando um brasão estampado em seus trajes furtivos, frente ao coração: a cabeça de um dragão branco de olhos vermelhos com chifres recurvos vindo da lateral da cabeça, estendendo-se até as têmporas, cercada por uma rosa negra entrelaçando os espinhos em torno do pescoço do dragão.
Não demorou mais que 1 minuto até que alcançassem e eliminassem rapidamente o alvo, entretanto, esse minuto de perseguição foi o suficiente para que eles se afastassem 1,2 km do alvo principal da missão, o pequeno Fioren.
Irritado com isso, 027 chuta violentamente a barriga da vítima sem nome, que apresentava três grandes ferimentos, um profundo corte no pescoço, uma perfuração no peito, atravessando o coração e a região inferior das pernas queimadas por magia.
"Porra! Aonde diabos tá o moleque?!" latiu, 027 com os nervos à flor da pele.
026 tenta acalmá-lo, sem sucesso.
Buscando pistas ao redor, algo vibra na parte de dentro de sua capa. 026 retira um relógio de bolso preto, do interior da capa. O relógio negro, adornado com platina, é sofisticado e elegante. Os detalhes em platina cuidadosamente trabalhados ao redor da borda da caixa, adicionam um toque elegante a peça.
O relógio vibra na mão de 026, que exita em abri-lo. Enquanto isso, um brilho lilás começa a emergir das pequenas frestas ao redor do mostrador fechado. O brilho parace ondular, irradiando mana do interior do relógio.
"O que a gente vai fazer agora?" 027 pergunta, aflito com a situação, andando de um lado pro outro.
"Eu vou dar um jeito. Agora trate de ficar calmo!"
"Mimimi, fique calmo... A pessoa tá quase tendo um piripaque e ela quer calma." ele retrucou à imposição de 026. Ao que parece ela ouviu, já que fui respondido com um belo chute na canela. Ela bufou e saiu, enquanto eu esfregava minha canela dolorida.
Voltando-se ao relógio que parecia brilhar ainda mais intensamente que antes, a tampa se abre após um leve clique, revelando o mostrador oculto até então. Os detalhes do mostrador agora são visíveis, destacando os pequenos pontos brancos que se assemelham a estrelas, enquanto os ponteiros em platina parecem brilhar com uma intensidade renovada sob o suave fulgor lilás contra o fundo negro profundo. Os ponteiros giram rapidamente até marcarem exatamente 12:00 da noite.
"Números 026 e 027 se apresentado." ela saúda o relógio.
Após a saudação, seguido de um breve chiado, a mana no mostrador do relógio se organiza. Trocam olhares confusos, esperando resposta do aparelho incomum. Entre chiados e estáticas, uma voz passa a se estabelecer, o que a pessoa do outro lado dizia era, de fato, incompreensível. Palavras desconexas, sons e zumbidos indecifráveis, davam formas as ondulações de mana acima do mostrador. Finalmente, após diversas tentativas falhas, a conexão é estabelecida e a mana acima do mostrador se estabiliza.
"Qual o -tus da missão?" a voz feminina séria, de tom áspero, ressoa através das ondas mágicas.
Ao que parece a densidade de mana da floresta ao lado, estava interferindo na frequência do comunicador. Não é pra menos, visto que aquela floresta era chamada por alguns de pulmão do mundo, tendo a vista a quantidade de mana e ar puro (já que é uma floresta) gerada ali. Não deixando de fora a energia espiritual abundante, circulando naquela região.
Relutantes em relatar o misterioso sumiço da criança, 027 salta em frente ao relógio, dizendo a primeira coisa que veio a cabeça. "A missão foi concluída com sucesso, mas... " revira os olhos de um lado pro outro, procurando uma idéia convincente, "Os cães estraçalharam o garoto além do recuperável."
"Que porra é essa?!" 026 gritava com os olhos, frente a tal mentira. Gesticulando com a mão, 027 pede silêncio, pedindo por cooperação na farsa.
"Além do re-perável, você diz?" perguntou, entre as falhas de comunicação. "Sim senhora." reafirmou de imediato. Ele mentia na cara dura, mesmo preocupado que o nervosismo o revelasse.
Após receber a confirmação que a missão havia sido concluída com sucesso, o remetente silenciou-se, mas não desligou a chamada. Os segundos de silêncio que se passaram ali, fizeram com que eles, assassinos treinados, suassem frio, tão frio quanto o vento da noite.
Esperando pela próxima ordem, rezando para não serem descobertos, o relógio brilha, ondulando pela mana as ondas sonoras da mensagem, "Retornem, as equipes Alpha e Beta executaram o alvo designado a eles."
'Suspiro aliaviado (x2)'
"E o que nós deveríamos fazer com os corpos?" perguntou 026.
"Deixe aí, alguma fera mágica deve cuidar da limpeza." o deboche era nítido. Subitamente, o relógio para de brilhar e a mana no mostrador rapidamente se dissipa, evidenciando que a transmissão terminou. Aliviada que a ligação havia finalmente terminado, ela suspira em alívio e fecha o relógio rapidamente.
"Puta merda, a gente escapou." 027 joga os braços pro alto em comemoração.
'DOOOOM!'
"OLHA, AQUI, SEU, MERDA!!" cada palavra, um passo, cada passo, menos tempo de vida restava para 027.
Pego pelo colarinho, ele é violentamente chacoalhado.
"Seu!" soco no rosto
"Desgraçado!" joelhada no baço
"Você!" chute no estômago
"Acha que!" rasteira e derrubada
"Nós!" chave de braço
"Não!" chave de perna
"Vamos ser descobertos?!" Jab jab direto.
"ME RESPONDE!"
Após extravasar toda sua raiva, ela percebe que 027 não poderia respondê-la, nem se ele quisesse muito. Ele está nocauteado, deitado sobre a neve, 026 sentada em sua barriga, posicionada para ter melhor ângulo antes de finalizá-lo.
"É um inútil mesmo. Faz a merda e não aguenta as consequências." percebendo que ele já estava inconsciente, levanta-se de cima dele.
"Aff... Vamos embora." disse 026, antes de erguer o companheiro desacordado e pô-lo sobre o ombro, partindo em retirada após outra missão bem sucedida, sumindo por entre a neve caindo a esmo.
¶ O que o inexpugnável descanso eterno trará a este mundo, que carece de originalidade? ¶