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Chapter 3 - 02 - Cidade do vinho

A rua principal é composta por um longo corredor de casas feitas de madeira e pedra moldadas que se estendem até o centro da cidade.

Helena e Secilia passam lado a lado por entre as casas.

— O que acha de irmos até a Senhorita Ana?

Helena pergunta para sua filha com um leve sorriso, que concordou com um aceno enquanto se aproximam do centro da cidade.

O centro da cidade se mostra bem movimentado; no centro, encontra-se uma fonte com uma estátua moldada para lembrar um anjo encapuzado com uma lança. A estátua divide a rua principal em uma encruzilhada, cada lado da rua possui diversas construções e abriga rotas para outras ruas da cidade. Na área principal do centro, estavam as lojas fundadoras da cidade: o atelier, a floricultura, o armeiro e outros, porém o que mais se destacava era o salão da Guilda que se encontrava em uma esquina paralela com a taverna central; em frente ao armeiro, um grande palco esta sendo montado.

Enquanto andam pelo centro, Sicília e sua mãe percebem uma movimentação diferente dos dias do resto do ano e típico dessa época; diversos mercenários se inscrevem para o torneio com alta premiação dada diretamente pelo duque com colaboração dos comerciantes. Ao chegar na florista, elas veem a senhora Ana preparando alguns buquês de rosa e colocando a exposição do lado de fora da loja.

— Olá senhora Ana, como se sente?

Secilia faz uma breve reverência com as mãos na lateral do vestido, a senhora de cabelos ruivos responde com o mesmo comprimento e um sorriso largo; após isso, ela entrega uma rosa branca para cada.

— Estou bem, Alina tem me ajudado a tomar conta da loja e com a chegada do festival Kronblade, as pousadas já estão lotadas!

A senhora responde com uma risada leve ao falar sobre as pousadas.

O festival Kronblade, ou festival das pétalas brancas, é um evento anual que acontece durante 20 dias e reúne pessoas de todos os reinos, sejam humanos ou não, servindo como uma comemoração à vitória do Herói sem nome, representado na estátua do anjo, sobre o Feiticeiro possuído pelo corruptor. Além de servir de reunião anual por diversos representantes do mundo, um festival no qual todos são permitidos se reunir, embora nem todos os reinos se reúnem. Um festival repleto de comidas, rosas e tecidos brancos espalhados pela cidade; barracas de iguarias de vários cantos do mundo se reúnem ali e nos acampamentos que rodeiam a cidade, transformando Riou em um lugar quase tão importante quanto as capitais, o Ducado Laffrey é o responsável por sediar e organizar o evento desde a fundação da cidade.

— Ah, senhorita Helena, o Duque Bargosa estará no festival?

A senhora pergunta com um sorriso no rosto enquanto arruma um buquê de flor branca, Helena por sua vez desviou o olhar para sua filha que parecia distraída com um grupo de mercenários entrando na guilda; ela soltou um suspiro e se aproximou cochichando no ouvido de Ana.

— Melhor não comentar sobre ele agora, mas sim… ele está vindo com seus cavaleiros. 

Secilia olha de relance para sua mãe e a senhora, depois retorna a olhar para as pessoas da cidade trabalhando na organização do festival.

"Vocês falam como se eu não soubesse de nada… é mais como se eu não pudesse fazer nada a respeito"

Aldery Aldena Bargosa, o segundo príncipe do Reino de Aldena, devido a seu irmão ascender ao trono, ele possuía duas escolhas: Ficar na sombra de seu irmão sem poder político e territórios próprios ou se tornar responsável pelas terras de sua mãe, devido a isso, se tornou o Duque do principal porto de Aldena, Sifx.

Após alguns segundos, Secilia se vira para as duas com um sorriso, ela observa a forma como a senhora estava séria.

— Aconteceu algo, senhora Ana? Está se sentindo bem?

Diz Secilia se aproximando dela, mas antes de poder acolhê-la, a senhora balança a cabeça pegando um regador de madeira e começando a regar as flores.

— Estou bem, só um pouco cansada, que tal você ir para casa e descansar um pouco? O festival começa em dois dias, você deve aproveitar bastante ele.

Ana indica com um sorriso menos aberto que antes enquanto rega as plantas. Secilia assentiu um pouco, mas entendeu que ela devia estar cansada de tanto trabalhar.

— Não exagere! Se precisar, pode me chamar!

A garota sorri abertamente colocando a mão direita no peito e a esquerda na barra do vestido, realizando uma reverência simples.

Dizer aquelas palavras fez sua mãe cruzar os braços e abrir um sorriso diabólico no rosto.

— Você tem outras coisas para fazer, Secilia, não se esqueça que fugiu das aulas de história, dança e música hoje.

Helena andou à frente da garota olhando para a mansão mais ao fundo da rua com uma expressão um tanto séria e com um olhar distante. Por um instante, Secilia se lembrou de seu irmão mais velho, Teodor, e o dia que ele se juntou à ordem do rei, ela sempre se sentiu sozinha desde que ele se mudou.

— Vamos, o que será que Katherine possui neste ano? Talvez algum comerciante trouxe algo de outras terras e vendeu para ela. 

Helena se vira para a garota abrindo um sorriso e mantendo os olhos levemente fechados; pouco após, retomou seu olhar rumo a encruzilhada, porém para o outro lado da fonte, onde se encontra um prédio de dois andares que ocupava um espaço considerável da esquina, embora não ocupasse toda a quadra, em sua frente uma fachada com "Kattepels" escrito e uma pata de gato ao lado.

As duas mulheres seguem calmamente até o outro lado da calçada, cumprimentando os caçadores e comerciantes de vários lugares que passam por elas, inclu

indo um grupo de Elfos vestidos com túnicas brancas que olhavam atentamente Secilia.

Helena abre a porta para sua filha que, por um instante, se distrai olhando na direção dos elfos.

— Eles fazem parte dos diplomatas, irão se encontrar com seu pai e os outros em breve. Vamos entrar, não é gentil ficar encarando pessoas.

Helena diz com a voz calma observando sua filha que responde com um sorriso e aceno de cabeça ao virar o rosto para sua mãe a acompanhando.

Ao entrar na loja, ambas se encontram em uma sala de recepção com dois arcos dando passagem para outras salas, um sem porta no lado direito e um com uma porta vermelha nos fundos atrás do balcão; próximo às paredes, algumas roupas comuns que eram compradas diariamente pelas pessoas. Em frente ao balcão, uma jovem garota estava guardando as roupas tradicionais e trocando por modelos mais delicados e belos.

— Ah, sejam bem vindas senhoritas Laffrey! O que desejam hoje?

A jovem loira com camisa branca comum e um colete azul escuro se vira para elas com um sorriso aberto, fazendo uma breve reverência.

— Olá Victoria, sua mãe não está hoje?

Helena pergunta com um sorriso leve, respondendo uma reverência simples junto de Secilia.

— Não, senhora, ela saiu para ajudar o senhor Tales a organizar os estandes dos visitantes, mas posso ajudá-las hoje.

A garota retoma a colocar no cabide o vestido amarelo que carregava e então aponta para o arco sem porta. Helena e Secilia seguem em direção ao outro lado, observando um grande acervo de roupas, desde comuns a roupas mais finas.

— Algum comerciante trouxe roupas de outras regiões?

Helena pergunta, olhando algumas roupas com um sorriso no rosto, enquanto passa os dedos sobre um vestido cor de vinho.

— Sim, deseja vestir algo diferente este ano?

A jovem ficou parada próximo à porta observando as duas mulheres.

— Não, como sempre sou eu que quero algo diferente, você sabe como minha mãe é.

Respondeu Secilia com um sorriso cínico no rosto e Victoria concordou com uma risada baixa.

— Talvez eu arrisque algo este ano, o que tem para nos mostrar?

Helena soltou o vestido que observava e virou para a recepcionista, que por sua vez, indicou para elas seguirem em direção à porta vermelha na sala anterior.

Após as três chegarem no local, era possível ver algumas roupas, tanto femininas quanto masculinas, ambas robustas e detalhadas.

— Ainda não as colocamos em vitrine, então me desculpem trazê-las ao depósito.

Victoria diz retirando o lacre de algumas caixas com roupas distintas em estilo ocidental (lembrando o estilo chinês e japonês tradicional).

— Não tem problema, devíamos ter vindo amanhã, mas aproveitei que Secilia havia saído para… espairecer.

Responde Helena com uma pequena bufada, abrindo um sorriso de canto do rosto. Victoria solta novamente um sorrisinho enquanto Secilia se mantém quieta sobre o assunto.

— Esse ano as cinco ilhas resolveram se juntar à comemoração, eles estão em um acampamento na área norte da cidade; minha mãe aproveitou a confirmação de presença e pediu algumas roupas tradicionais.

Enquanto a garota falava, Secilia pegou um kimono branco com um desenho de raposa nas costas.

— Percebi que muitos mercenários de Bessua vieram esse ano, mais curiosos querendo explorar o descanso e procurar a tal "Estátua de jade"?

Helena pergunta enquanto observa o interesse de sua filha pela estranha roupa.

— Provavelmente, Merida informou que ouviu uma conversa de um grupo sobre a lenda da estátua… Francamente, de onde eles inventaram que existe uma estátua totalmente feita de jade perdida na região sul do descanso do herói? Se houvesse já teriam encontrado.

Victoria colocava a mão direita sobre a testa, soltando um suspiro.

— Ao menos isso faz os mercenários continuarem aparecendo e procurando pela estátua.

Diz Secilia devolvendo a roupa branca e pegando uma vermelha com detalhes verdes e dourados.

— De qualquer forma, pedi que ela ficasse de olho nos trilhadores; ouvi boatos sobre o surgimento de uma união de ladrões em Navali, já não bastava os mercenários, agora ladrões.

Helena retirou seu leque e o pôs frente ao rosto.

— A guarda foi notificada? Seria bom colocar alguns guardas próximo ao muro exterior sul da mansão; algumas árvores ficam muito próximas dele… seria fácil para alguém entrar por ali.

Helena olha de relance para Secilia quando a garota diz aquilo. Ao perceber os olhos de sua mãe, a garota se vira para ela, colocando a roupa pouco à frente do rosto, deixando apenas seus olhos visíveis e desviando o olhar para o chão.

— N-Não é como se eu já tivesse usado isso alguma vez… eu só percebi isso. Ah! Eu gostei desse, vou querer levar ele.

Secilia ergue a roupa, cobrindo completamente seu rosto. Por trás do tecido, ela solta um suspiro audível por ambas as mulheres. Victoria solta uma risada, enquanto Helena fecha o leque e o usa para bater levemente contra a cabeça de Secilia.

— Vou querer um vestido especial para a cerimônia; esse ano será a vez da Secilia se apresentar.

— Pode deixar! Irei preparar tudo e enviar para a mansão.

Secilia e Helena, após se decidir, seguiam em direção à porta de saída quando Victoria aparecia sobre a bancada chamando por Helena.

— Eu ia esquecendo! Fiquei sabendo que alguns alunos da academia Kalamit e quem vai acompanhá-los será a professora Auderin.

Helena esboça um sorriso feliz no rosto e agradece com um aceno antes de sair com sua filha.

— Vamos, seu pai já deve estar agoniado nos esperando.

Secilia suspira e segue ao lado de sua mãe, observando seu sorriso de felicidade, o que deixa ela com uma pergunta: Quem é Auderin?

As duas seguem calmamente em direção à rua principal que leva do portão diretamente à mansão. Quanto mais próximo da mansão, mais desanimada Secilia se demonstra.