Parecia que ele tinha saído de um sono pesado e desconfortável, direto num pesadelo infernal, anos sem realmente ouvir a voz dela, anos apenas sentido a emoção de sua voz pelas vibrações que passavam pelo cristal e sua carcaça quase moribunda. Apenas por um momento de felicidade logo ser trocado por mais uma luta e novamente mesmo ganhando ainda perdia alguma coisa, a coisa mais importante agora.
Mas não só ele, Liem via a angústia e dor no rosto de todos ao redor, Sofi como sempre era amada aqui, como tinha sido em vários dos lugares por onde viajaram com os amigos séculos antes. Mas ela sempre contava a se sentir indigna desse afeto dps outros, sempre tentando provar sua existência, sempre tentado afastar os fantasmas da antiga família que nunca a deixavam.
E agora onde essa necessidade levou. Claro, Liem sabia que isso não era internamente verdade, sabia que ela tinha feito as coisas que fez por simplesmente gostar desse lugar e das pessoas nele, mas mesmo sabendo disso a dor de perde-la ainda corroia sua mente e ele não parava de pensar em formas de tentar remediar isso.
Ele não era o único todos pensavam a mesma coisa, uns pensavam em pegar todas as ervas da casa de Sofi e juntar com as poções que 'ele' tinha mandado, talvez assim o efeito aumentaria e ela voltaria ao normal, outros achavam que deveriam simplesmente misturar as poções e oferecer mais algum tipo de sacrifício para o altar para que 'ele' aumentasse sua potência. Enquanto outros simplesmente pensavam em qual seria a forma de deixar Sofi partir das maneira mais confortável.
Essas 3 eram as ideias mais presentes e que tomavam força na mente da maioria. Exceto nas mentes de um pequeno grupo, Hannah, Matt, vários dos lanceiros e até mesmo Constance e Dan (que provavelmente apareceram junto da multidão quando viram o clarão que o ataque de Sofi causou) pensavam quase a mesma coisa.
'Temos que pedir a ajuda dele'
Isso era fácil, pedir sem dar nada em troca, mas assim como foi com Matt antes ninguem tinha tempo para se preocupar com esse tipo de detalhe, então eles oraram, oraram do com força para ele. Quando Liem olhou para oque essas crianças estavam fazendo por um momento ele sentiu uma onda de raiva, Sofi estava morrendo e eles não faziam nada além de abaixar as cabeças e juntar as mãos?! Até mesmo os garotos com que eles tinham lutado para trazer aquele goblin mutante ao chão estavam fazendo isso?! Eles não tem noção do que é gratidão?!!!!
Mas tão rápido quanto esses pensamentos vieram eles foram embora e Liem lembrou da breve conversa que ele e Sofi tinham tido antes de saírem para lutar, sobre como ao pedir por um milagre dias antes para salvar o jovem arqueiro algum ser realmente tinha oferecido um método. Embora esse método já tenha se provado inútil, ninguém tinha "pedido" pela salvação da Sofi do jeito certo.
Honestamente ele ainda tinha um pouco de hesitação em confiar em um Deus novamente, mas como ele mesmo já havia admitido ele estaria disposto há trocar sua alma se precisa-se sem problemas para salva-la e no mínimo tentar compensar todo que ela já tinha feito por ele. Então ele também abaixou a cabeça e orou.
Era irritante o quanto ele ainda se lembrava das velhas doutrinas do como se deveria fazer um pedido há um Deus, desde o colapso geral dos templos ele havia considerado esse tipo de coisa um conhecimento inútil do qual havia desperdiçado grande parte da vida para adquirir.
Liem também ficou espantado pela forma como esses garotos faziam a oração, pelo que Sofi havia dito a influência e boa parte da credibilidade dos templos essencialmente foi varrida desse mundo agora, e portanto como se deveria fazer orações também é um conhecimento muitas vezes esquecido. Ele presumiu que todos gritariam olhando para o céu ou alguma pintura mau desenhada no chão ou nas paredes, mas não, eles estavam orando do mesmo modo que ele de forma silenciosa mas intensa.
Uma das únicas coisas constantes que ele aprenderá e que tinha se provado real era o fato de discursos em templos serem ditos em voz aura para os crentes ouvirem e fortalecerm sua fé, mas as orações sempre deveriam ser em silêncio porém com vontade.
E vontade era algo que ele e esses jovens tinham de sobra. Por vários agonizantes instantes a única mudança que acontecia era o quanto do corpo de Sofi continuava há ser petrificado e quando mais rasa era sua respiração, quando ela já estava petrificada até o pescoço e Liem considerou parar essa força e começar a insultar os céus, eles finalmente responderam.
Hannah já havia rezado muitas vezes antes, todas sem nunca conseguir resposta, oque há fez e há vários outros há basicamente abandonar a ideia de ajuda de "forças maiores" com alguns dos "padres errantes" entoavam quando passavam de vilarejo em vilarejo, de aldeia há aldeia, de cidade em cidade, de reino há reino. Como eles conseguiam suportar a névoa fora para irem para outros reinos? Eles diziam que era o poder de sua fé, mas até o mendigo de rua mais burro sabia que eles provavelmente teriam algum tipo de amulo que os permitia isso.
De qualquer forma desde de criança ela nunca realmente acreditou em deuses ou poderes sobrenaturais que sua mãe contava que encontrava em suas viagens, ela sempre teve certeza que eram apenas histórias para impressiona-la. Até alguns dias atrás quando ficou escancaradamente óbvio que os deuses e "poderes maiores" realmente existiam.
Porém Hannah tinha um pequeno segredo que não contará nem para sua melhor amiga Constance, mesmo antes daquilo que aconteceu com o nobre, sua certeza da inexistencia de "poderes maiores" tinha começado a vacilar. Ela não sabia bem quando mas há pouco mais de 1 mês ela tinha sentido uma sessão estranha nos ouvidos uma espécie de zumbido baixo mas constante como o zumbido de uma abelha mas muito mais baixo.
Ela tinha achado que estivesse com algum tipo de problema nos ouvidos mas estranhamente quando ela sentia essa sensação os pouco aldeões que frequentemente escapavam do trabalho iam para Sofi dizendo sentirem dores fortes inesperadas quando estavam "tirando um tempo para contemplar a natureza". Ela até brincou com ela mesma dizendo que isso era obra dos espíritos dos antepassados deles os assombrando por serem preguiçosos, mas quanto mais o tempo passava e essas concidencias continuavam ela começou e se questionar sobre qual seria verdade.
Ela teve a resposta dias atrás, quando o nobre(porco) e os cavaleiros (bastardos) morreram ela teve a impressão se ter ouvido algo como, "–... vocês estão condenados". Obviamente ela nunca teve oportunidade ou coragem de falar com ninguém sobre isso.
E porque ela se lembrava disso nesse momento, simplesmente porque ela ouvia essa voz outra vez mas bem mais nítida dessa vez, ainda que não mais alta que uma brisa suave.
"– é uma aposta... não tem outra opção... seje oque..."
Ela só conseguia ouvir esses trechos sem nexo de uma voz que parecia masculina mas ainda não conseguia ter certeza, mas for ela se refir a entidade por 'ele' que se popularizou esse pronome no vilarejo.
Logo depois que ela sentiu essa "voz" se afastar uma luz branca brilhante e cegante envolveu o corpo de Sofi, vinda de um feixe direto do pequeno altar de pedra do outro lado do vilarejo. A luz formou um casulo envolvendo o corpo de Sofi e lentamente há levantando, enquanto todos olhavam boquiabertos ao que acontecia, ninguém mais espantado que Liem que pela primeira vez na vida via uma prova tão irrefutável de um milagre.
Segundos ou minutos depois o casulo com Sofi brilhou com força mais uma vez e abruptamente se contorceu de costas, quase como se fizesse um mortal para trás mas assim que ele voltava a posição original o casulo simplesmente sumia revelando Sofi por dentro.
Fisicamente não havia mudanças nela, o mesmo cabelo loiro brilhante, o mesmo corpo esguio mas ainda forte, o mesmo rosto delicado com uma beleza intoxicante. Mas as roupas e o "ar" que ela exalava estavam totalmente diferentes, ao invés de um vestido de algodão simples com um casaco, agora ela usava uma mistura de túnica branca com armadura, botas e uma espécie de calça por dentro da saia que era possível ver das fendas abertas nas pernas. Uma armadura em todo seu tronco e um capacete reluzentes feitos doque parecia ser aço ou mesmo prata e um cajado com uma ponta adornada por bronze e prata.
Sofi sempre exalara um ar de autoridade mas agora além dele ela também parecia exalar magneficiencia, oque aumentava ainda mais sua beleza natural. Quando ela abriu os olhos todos puderam ver que além do verde característico de sua iris ela agora também tinha uma espécie de anel em forma de estrela dourada contornando sua pupila.
Sofi olhou para todos ali, olhou para si e só então percebeu que estava flutuando por finas assas de mana branca que sumiam nas extremidades, mas não se desesperou em vez disso calmamente aterrissou sem nem produzir um som, olhou primeiro para Liem que ainda estava ajoelhado e disse.
"Bom, acho que não vamos precisar nos despedir tão cedo." Disse sorrindo.
Liem por sua vez também sorriu enquanto derramava lágrimas de felicidade.