A ideia era simples, como eles teriam que cuidar de si mesmos e esse "deus" aparentava ser "benevolente" ele não recusaria uma oferenda dada em gratidão pela sua ajuda na luta, mesmo que essa fosse algo tão pequeno quanto uma pedra ou tão revoltante quanto corpos semi-apodrecidos de monstros. Afinal oque eles poderiam dar como oferenda quando eles precisavam de toda comida que pudesse conseguir?
Óbvio que os aldeões em geral não gostaram da ideia, mas uma parte deles também estava curiosa, até que ponto eles poderiam... "contar com a benevolência dele" antes que ele se irritase com eles, e se sua irritação seria limitada apenas aqueles que o ofenderam diretamente ou a todos. Algo extremamente perigoso se quer de se pensar quanto mais de praticar, eles também viram os raios caindo do outro lado do vilarejo, ainda assim tinha alguma coisa os instigando a testar os limites mesmo se colocando em perigo e até aqueles que não tinham qualquer relação com isso, talvez fosse uma parte intrínseca dos humanos, se arriscar com algo perigoso mesmo sabendo que as coisas podem acabar mal.
Por isso embora os que se oposesem a ideia absurda de Quiria fosse indiscutivelmente a maioria, não eram todos e era verdade que já estavam ficando preocupados em como lidar com os restos dos goblins. Eles só conseguiam queimar 110 e mandar para a... "decomposição natural" 30, totalizando 140 goblins dos mais de 300 que atacaram. Como eles ainda tinham que pensar em como separar a parte da madeira usada para queima-los e para preparar as refeições, além da rotação que tinham que fazer há cada dia para as pessoas responsaveis pela "limpeza" não acabassem sofrendo com a fumaça e o cheiro de goblins queimando, não era de espantar que eficiência não fosse grande mas também não era pouca.
"Se eles quiserem se arriscar muito bem, oque nós podemos fazer para impedir?"
Alguém falou, conseguindo várias vozes de concordância.
"Vocês sabem que não se deve testar a paciência de ninguém, ainda mais de que ajudou você. E concerteza não a paciência de um Deus."
Outro falou conseguindo ainda mais concordância.
Os argumentos eram sempre os mesmos e não levavm a lugar algum, só alimentando o incomodo de muitos, que a qualquer momento podia virar uma disputa de forças. Gerard e Ivan estavam prestes a entrar no meio para tentar amenizar a situação e tentar, embora ambos suspeitassem que seria inútil, dissuadir o grupo com os goblins.
Mas antes que pudessem dar dois passos mais perto dos grupos.
"Deixem eles fazerem isso!"
Uma voz que ninguém esperava soou alto e claro, fazendo todos pararem de gritar uns com os outros ou tentar avançar. Simplesmente porque essa voz veio do grupo que impedia os insatisfeitos de avançar, não só isso mas também veio de alguém que ninguém esperava que "ficasse do lado" do grupo de pessoas que queria fazer uma blasfemia.
"Oque foi que você disse Hannah?"
Um dos aldeões perguntou achando que tinha ouvido errado ou que talvez tivesse sido outra pessoa que tivesse falado.
"Eu disse para deixá-los fazerem oque querem. Preciso me repetir outra vez?"
Mas não, nem ele, nem ninguém tinha ouvido errado. Hannah, uma das reconhecidas figuras que era mais devota desse deus sem rosto, estava dizendo em alto e bom som que o grupo de aldeões que queria "oferecer" um monte de carne podre de monstro para esse mesmo Deus, deveria ser deixado de lado e permitido fazer isso.
"Vo-Você? Você enlouqueceu?!!!"
Alguém perto dela explodiu, mas antes que esse alguém pudesse fazer qualquer coisa para inflamar ainda mais os demais, ainda duvidando dos próprios ouvidos, uma nova voz inesperada apareceu.
"Se a Hannah diz para deixá-los, então eu também concordo."
Constance disse se aproximando vinda do proprio altar de pedra com o prometido Dan. Assim que há viram vários abriram caminho para ela quase como se ela fosse da realeza, oque deixava ela, Dan e vários que a conheciam, bem desconfortáveis.
Uma coisa era Hannah dizer algum absurdo, mesmo sendo reconhecida como uma das principais seguidoras 'dele', muitos não a consideravam grande coisa. Ela conseguiu uma "posição" melhor na visão de todos por ter se jutado a luta contra o goblin monstruoso, usando a espada que 'ele' havia mandado e testemunhado de perto um dos "milagres dele".
Mas ainda era considerada pouco mais que uma jovem que sabia como usar uma espada. Perigosa e respeitável, sim. Venerável a ponto de sua voz ter peso em uma situação dessas, não muito (pelo menos para os recém chegados e alguns dos aldeões originais).
Constance por outro lado era vista quase como uma representante 'dele' entre as pessoas, por isso o peso doque ela dizia tinha tanto valor para eles quanto oque o chefe do vilarejo (para os residentes originais) ou mesmo Dan (para os recém chegados).
Isso do ponto de vista deles, Constance sabia muito bem que no máximo ela tinha sido sortuda com várias conhecidencias, mas se tinha alguém aqui que poderia ser considerada particularmente perto 'dele' seria Hannah.
Na primeira vez que 'ele' manisfestou algum tipo de poder matando o nobre que a atacava e os seus lacaios e logo depois salvando seu irmão, foi só depois que Hannah entrou em cena. Ela tinha visto como Hannah tinha se comportado quando Matt tinha sido ferido e Sofi disse que ele provavelmente não aguentaria. Hannah foi a primeira pessoa que começou a rezar naquela hora, só depois que ela mesma viu e a imitou os outros seguiram o exemplo, por envolver ela e o irmão muitos acabaram colocando ela como foco quando na verdade seria Hannah, coisa que a mesma parecia não ligar na verdade até preferir assim.
E a situação atual mostrava bem o porque, a atenção ao que uma simples frase provocava era pesada de mais. E por mais que Hannah aparentase ser forte e decidida (oque ela era), ela nunca gostou da sensação de estar sob o olhar dos outros, por isso também ela deixou de praticar a esgrima que a mãe tinha ensinado, só para não chamar atenção.
Contudo isso não importava agora, o importante era que Hannah, que Constance acreditava ter mais ligação com 'ele' que qualquer um, disse que não havia problema em oferecer os goblins como agradecimento pelos aldeões, e se ela dizia isso Constance confiava.
"Mas senhorita Constance você tem certeza disso?"
Um dos aldeões perguntou.
"Eu? Não."
Ela disse decisiva, oque rendeu vários olhares de 'oque' e 'hein' de todos, incluindo de Gerard, Ivan e Liem, mas não de Sofi, ela já tinha entendido oque iria acontecer.
"M-mas então porque?"
"Porque eu acredito que não tem motivo para ele fazer alguma coisa contra nos por causa disso"
Isso rendeu mais olhares de 'oque' e 'hein' dos aldeões. Como não teria motivo para fixar com raiva se depois de ajuda um bando de aldeões contra uma orda de monstros e como agradecimento receber carne podre de goblins? Isso concerteza daria um ótimo motivo para qualquer pessoa ficar com raiva.
Mas isso do ponto de vista humano deles. E eles estaria em certos, se isso acontecesse na vida real de Tyler, ele ajudar um grupo de pessoas e essas darem para ele carne podre como agradecimento a primeira reação dele (e de qualquer um nessa posição) seria choque, seguida de nojo e por fim raiva. Mas para Tyler isso não passava de um jogo e toda oferenda que eles davam rendia para eles mais exp, poder divino e até moedas de sacrifício, portanto sim. Mesmo carne podre de monstros poderia ser considerada um sacrifício para ele... provavelmente.
Mas isso era outra coisa que ele não podia controlar, ele só podia esperar que eles oferecem os goblins e rezar para que o jogo os interpretasse como sacrifícios para ele. Pra testar ele disse mais para si mesmo que não teria problema eles oferecerem os goblins, mas nunca imaginaria que uma parte doque ele disse seria ouvida por alguém, muito menos por um NPC num jogo, mas foi exatamente isso que aconteceu.
Minutos atrás Hannah tinha ouvido uma voz masculina que nunca tinha ouvido antes, mas ainda assim soava familiar, oque imediatamente a fez pensar nele. Então imaginou se não seria ele mesmo que estava falando com ela, e o único jeito de testar isso era deixar que esse grupo claramente hostil fizesse aquilo que queria. Ao menos dessa vez.
"Eu sei que vocês não entendem o porque, nenhum de nós entende o porque, dele ter nos ajudado do nada e continuado nos ajudando desde que aquele nobre apareceu." Constance disse, mostrando um bom talento como oradora.
"Mas o fato é que ele vem sim nos ajudando e se ele quisesse ele poderia ter nos deixado de lado facilmente mas ao invés disso ele continuou nos ajudando. Mesmo contra aquele goblin monstruoso, por essa simples razão. A razão dele ter ajudando de forma ativa contra aquele inimigo que ele sabia que nos dizimaria, eu não acredito que ele queira nosso mau."
Ela disse num tom decisivo.
"Mas não é só por isso que eu também digo que devemos deixar eles tentarem. Digo isso por que a Hannah acredita que devemos deixar."
Isso rendeu um burburinho entre todos, porque importava se Hannah dizia que deveriam deixar?
"Simplesmente porque dentre todos aqui, Hannah é a que mais tem conexão com 'ele' e digo isso por eu mesma já ter visto sinais varia vezes. Muito antes 'dele' se manifestar matando aquele nobre."
Mais murmuios e olhares de soslaio para Hannah, que por sua vez encarou Constance com um rosto que dizia.
'Voce sabe que eu não gosto de atenção!, porque fazer isso?!'
E Constance respondia com um olhar que dizia.
'Porque e o único jeito de fazer oque ele quer sem que eu tenha que convencer eles sozinha. Por favor me ajude!'
Nisso a única escolha de Hannah era entrar nessa brincadeira boba de influência.
'Aaaahhhhhh por que eu fui levantar da cama hoje?!!.'