A misteriosa menina de pele pálida acabou de ser introduzida nesta loucura.
E diante de duas potências, existia um Sado com olhos de temor e bem arregalados.
"Quem é essa gente?", pensou brevemente, mas não ousou questionar para não mover a atenção da malévola que o perseguia para si.
Um pequeno silêncio noturno se instaurou entre eles, e o menino só escutava o som de seus batimentos cardíacos e respiração aguçada.
Parecia que algo realmente assustador iria acontecer por aqui.
Até que o silêncio foi quebrado quando...
— Então você está junto deste rapaz? Ele faz parte do seu bando? — questiona a mulher de preto.
— Não sei de que bando está falando. Até agora eu me virei muito bem sozinha.
A garota de cabelos brancos falava em tom de deboche e divertimento, parecia não temer a figura a sua frente.
— Oh, faça-me o favor... Os elementos arcanos estão sendo destruídos um por um, em uma velocidade alarmante nesta cidade. É impossível ser obra somente de uma pessoa.
— Sinto lhe dizer, mas sou só eu.
Um diálogo ocorria em frente a um Sado que olhou para os seus joelhos e percebeu que estava trêmulo.
Ele quase morreu.
Ele poderia ter morrido antes mesmo do fim desse ano. Era assustador demais para ele conceber.
— Fica tranquilo. Essa aí não vai te fazer mal. — assim falou a menina de cabelos brancos no intuito de lhe confortar.
Sado instintivamente levantou a cabeça recebendo das palavras dela, mas nada disse em troca pois sua garganta estava travada.
— Humpf. Eu não sou tola de tentar alguma coisa agora. Vou poupar você por enquanto. — disse a mulher de batom vermelho, no que apontou para o jovem. — Você teve sorte, anômalo. Mas cedo ou tarde, virei por sua cabeça.
Ela riu convicta e deu as costas.
Só esse gesto, seria motivo suficiente para atacá-la. Mas por que a menina de cabelos como a neve não o fazia?
— .....
Ela fitou concentrada a figura de preto desaparecer na escuridão do bairro, e só quando teve certeza de que ela realmente sumiu, exalou um suspiro de alívio.
— Que barra pesada, viu?
Coçando a cabeça, ela esboçava seu descontentamento.
Então, tendo a certeza de que nada mais ocorreria naquela praça, a jovem se virou.
— Ei, consegue se levantar? Ela já foi embora.
Sado, meio atônito olhou para a menina e mal conseguia ver seu rosto pelo escuro da praça sem luz.
Ele engoliu seco olhando novamente para a direção de onde estava sua perseguidora e meio aflito pergunta:
— Quem... Quem era aquela?
— Oh? Aquela lá? Não esquenta com isso não. Coisas malucas acontecem por toda parte não é mesmo? Vai ver era algum tipo de terrorista ou algo assim. Precisa de ajuda para se levantar?
A menina respondeu brevemente e mudou de assunto abruptamente. Não parecia nada convincente para Sado, mas era melhor se agarrar a essa verdade do que ficar pensando muito no ocorrido.
— Terrorista...? Certo... Sim. É. Existe isso hoje em dia...
Ele se ergueu do chão por conta própria e limpou suas roupas sujas de terra.
— Ahg... Minha mão, meu estômago, meu braço e a minha perna doem...
— Acho melhor você passar num hospital, que tal? Mesmo sendo ferimentos leves, o cuidado nunca é o bastante.
Ele olhou pra menina agora que estava de pé. Camisa branca... Jaqueta vermelha... Uma pele pálida como nuvem e uma franja reta.
E ela era bem menor do que ele.
Mesmo no escuro, era perceptível o tamanho dela em relação ao rapaz, onde a jovem era mais baixa do que a altura do pescoço dele.
"Uma menina assim me protegeu daquela vilã?"
Sado não pode deixar de soltar um sorriso sem graça, embasbacado com a sua própria ineficiência, onde agora dependia de garotas menores do que ele para o proteger.
Em relação a isso, a jovem conclui:
— Vejo que tu tá melhor agora, mano. Te cuida.
— "Mano"...? Porque começou a falar com esse dialeto pra cima de mim?
— Coé, mano. É assim que pessoas normais falam hoje em dia. E pode crê que eu sou tão normal quanto você. Há, há, há...!
Ela riu forçadamente com as mão na cintura magra.
Sado ergueu uma sobrancelha confuso quanto à esse tipo de reação, mas decidiu relevar.
— Bem. Tô indo nessa, te cuida aí, mano.
A jovem misteriosa se despediu com a palma e se virou as pressas para sair dali.
— E-espera!
Mas logo parou com o repentino chamado do menino. Ela virou a cabeça pra ele em posição de corrida como se estivesse congelada.
— Diga.
— O que acabou de rolar aqui...? A minha cabeça... Eu... Eu tô tão confuso...!
— Nada. Cê tá sonhando.
— Não tô não!
— Tá sim. Agora volte para sua casa e durma! Durma e esqueça de tuuudo isso! E volte para a sua vidinha de pessoa normal que não se envolve com nada incomum. Capiche?
— ........
Ele ficou com os olhos fixos nela que sorria pra ele. Era surreal demais. Era estranho demais. Fantasioso, bizarro e incomum.
Assim como um verdadeiro sonho.
— Eu só posso tá ficando louco...
Ele coçou a cabeça e fez cara feia com os olhos fechados. Então, quando os abriu...
— Ei, menina...? Heh?
...A garota havia desaparecido.
— Ela sumiu.
Nada restava ali naquela praça vazia e silenciosa. Apenas um Sado Yasutora confuso e com dor de cabeça.
Todavia, agora não estava mais no escuro pois as luzes dos postes ali perto se ascenderam posteriormente, assim que ficou só.
— Eu tinha certeza de que estavam todas apagadas... Ah, tanto faz. Só quero esquecer esse dia...
Ele decidiu voltar para a sua casa.
Até pensou em passar numa delegacia e fazer um boletim de ocorrência. Mas quem acreditaria nele quando perguntassem a aparência da figura que o atacou?
— Não quero passar chacota não...
O problema estava na sua baixa estima, entretanto, se ele fosse mais ousado, teria pedido ajuda dês do início.
— É tarde de mais pra se arrepender.
Sendo assim conclui que, tudo o que ele poderia... ou melhor, queria fazer agora era descansar.
A ferida na bochecha latejava assim como o resto do corpo. Dentro da cabeça existia uma pressão enorme fazendo-a doer mais e mais.
Embora, todo fatigado, ele conseguia ignorar tudo isso e voltar para o seu apartamento.
Voltou pelas ruas e seguiu rumo ao seu aposento.
Rumo a sua porta.
Rumo ao seu quarto.
Rumo ao futom.
— ......
...E dormiu se atirando nele. Que o resto seja delegado para o amanhã.
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Sado Yasutora estava em seu futom-cama, e ainda estava noite lá fora. De barriga pra cima, ele acordou.
"Ué? Pelo visto eu acordei no meio da noite. Não consigo dormir, é?"
Talvez mesmo com o corpo cansado, o seu cérebro parecia se manter em ativa. Mas Sado Yasutora não queria apenas se manter acordado. Amanhã seria mais um dia de escola e ele precisava estar bem descansado para seguir o dia.
Por isso tentou se virar e retornar ao sono.
"Ué? Não tô me mexendo."
Mas, subitamente seu corpo parou de responder.
"Oi! Se mexe!"
Ele forçava a sair do lugar onde estava, mas os músculos pareciam travados e os ossos rígidos. Nem mesmo sua boca ou olhos ele podia controlar. Estava a mercê de si próprio.
Sua liberdade havia sido tomada e nada podia fazer.
Era um pesadelo.
"...."
Porém, o pior viria a seguir, e não ter o controle do próprio corpo acordado nem se comparava aquela que entrou em seu quarto.
"Não... Você de novo não!"
— Eu disse que voltaria para te pegar, garoto.
Seus olhos se dilataram com o medo diante daquela figura de mulher. O brilho carmesim do seu olhar sádico era como se levasse Sado à loucura.
Ela estendeu a mão, segurando a sua longa lança e apontou para o peito dele a ponta no intuito de empalar o jovem.
"N-n-n-n-não! Se afasta! Ah, droga! Eu não consigo gritar! Não consigo sair! Alguém! Alguém! Qualquer um...!"
Ele estava desesperado e o medo subiu a cabeça, como um veneno que se prendia na alma.
Completamente indefeso e desprotegido, Sado Yasutora estava como um coelhinho na boca de uma serpente.
E a gélida lamina que ansiava por sangue e morte, como um ferrão de um escorpião, partiu para o bote quando foi direcionada para o peito dele.
Ele...
Ele...
— Aaaaahhhh!!!!!
...Ele saltou dos seus lençóis gritando como se fosse dar um pulo da cama.
— Arff... Arff... Arff...
Ensopado de suor, ele ofegava como se tivesse corrido uma maratona.
Rapidamente olhou para todos os cantos do seu quarto.
— Cadê!? Onde está!? Ela... Hein?
A luz do sol entrava pela janela e não havia nada de incomum e anormal dentro do quarto.
— Um sonho...? De novo?
Chegava a ser irônico para ele o quanto sonhou com pesadelos em menos de 24 horas.
Ademais...
— Não tem nenhum buraco no meu peito.
Viu que através da camisa, seu corpo estava intacto. O alívio foi tamanho que ele suspirou.
— E eu achando que ia morrer novamente.
Ele se aliviou tanto, que só percebeu o que acabou de dizer, segundos depois.
— Pera... "novamente"?
O gosto de estranheza não saía da língua. Quando sua mente ligou algum interruptor de memória, ele lembrou então que foi perseguido na noite passada e quase morreu três vezes.
— É mesmo! Aquilo... Aquilo não tem como ter sido apenas um sonho!
Ele ouviu da menina de cabelos brancos que era um sonho, e por algum motivo só decidiu se apegar a essa verdade.
— Mas de verdade não tem nada.
Era até preferível que essa fosse a verdade absoluta, já que ter alguém na sua cola não é nada legal, agora um assassino? Isso só poderia ser um pesadelo acordado.
Todavia, se for mentira, ele poderia começar a enlouquecer logo de uma vez por todas.
— Até parece. Eu não tô ficando louco!
Ele se ergueu as pressas da cama e foi até a cozinha a passos largos (logo em sua frente). E estando ali ele olhou para o teto, que estava esburacado, assim comprovando que os eventos da noite anterior eram...
— Não tá aqui.
...Eram apenas ilusão?
— Quê? Como!? O meu forro foi arranhado pela ponta da lança!
Mas não estava ali. Sua mente pode acusar de lembrar-se de algo mas quando seus olhos se deparavam com a realidade, deixava a mente de Sado confusa sobre essas "falsas memórias".
— Nada disso! Pois tem também a porta!
Se virando ele apontou com espontaneidade, como quem revela um prêmio, e assim que olhou para a porta do seu apartamento...
— Heh!? Não tem buraco nenhum...
Como revelado por ele mesmo, talvez uma forma de fazer ele se auto afirmar, não existia o furo feito pela lança daquela mulher sinistra.
Como isso era possível?
— O que raios... tá havendo aqui...?
Ele andou embasbacado até a porta, como se estivesse sido submetido a pior das pegadinhas, e tocou a superfície sólida.
— Mas foi aqui...! Eu vi...!
Seus olhos viram, ou ele achou que viu. Portanto, sua mente recordava, apesar do medo.
Mas... Nada no mundo palpável indicava que algo avia sido feito.
Estava tudo normal, assim como Sado era acostumado a ver todos os dias.
— ...É melhor eu me arrumar para o resto do dia.
Ele deu as costas e foi rumo ao banheiro.
Dentro de Sado existia um sentimento de inconformidade. Porque, por mais que a situação lembrada fosse horrível, se deparar com uma verdade totalmente diferente daquela que experienciou era ainda mais horrível.
Sendo tal, ele entrou no seu banheiro para escovar os dentes enquanto se queixava de dor na cabeça em frente ao espelho.
— Talvez um remedinho resolva... Pera. Isso é...
No seu rosto. Na sua bochecha. Ali havia um risco. Ou melhor...
— ...É o corte que eu levei daquela lança!!
Completamente boquiaberto, Sado sabia que não havia sido só um "sonho". Não tinha como ser. Como poderia?
— Então realmente aconteceu! Espera... Por que eu tô comemorando!? Aquilo lá foi insano de assustador!
Um mero corte seco e que estava no processo de cicatrizar denunciava toda a veracidade dos eventos da noite passada.
E se tudo era real, logo a lança, a mulher de olhos vermelhos como uma vampira e a menina de cabelo claro também seriam.
— Aquela menina...
Ela salvou a vida dele. Se não fosse por ela, Sado Yasutora já estaria morto naquela praça.
— Quem era ela? Não poderia ser só uma garota normal.
Ele se questionava no espelho.
E ele continuou se questionando ao escovar os dentes.
— Cabelo branco, é? Ela é o que? Um personagem de anime?
Isso ativou um desejo fetichista no seu interior que gostava do cabelo branco em donzelas. O que automaticamente fez aquela jovem ganhar mais um ponto com ele.
E ele continuou se questionando mesmo se ajeitando para o dia de aula.
— Aquela força... Não era normal. E eu duvido que foi só "coincidência" ela ter aparecido por lá.
Enquanto refletia, ele pega sua bolsa e se despede pra ninguém, assim saindo de casa.
O sol estava no seu estado morno de manhã comum, e o garoto se direcionou a estação de trem mais próxima.
Desatento e perdido nos pensamentos, ele continuou vagando.
— Qual seria o nome dela?
Por algum motivo, a menina de belos cabelos deixou uma marca maior do que aquela que tentou matá-lo.
Na estação de trem ele ficou reflexivo. E logo quando o trem veio para o embarque, ele ficou próximo a janela em seu estado pensativo.
— O que eu vivi foi bem real...
Mas então, porque tanta inquietação dentro de si?
Ele queria saber mais. Ele gostaria de entender aquele fato anormal.
— Será que tem algo estranho acontecendo na cidade neste exato momento? Tipo aqueles mangás de caçar criaturas anormais para proteger os cidadãos que nada sabem?
Sua mente viciada já começou a imaginar coisas exageradas, como era do seu costume costumeiro.
Ele riu disso pensando em como seria legal mas ao mesmo tempo tolo e nada coerente com o mundo real.
E voltou a visão para a paisagem. A vista da cidade em meio aos trilhos do trem passava rápido e os prédios no longe demorariam a passar.
Vendo tudo isso, ele só conseguia pensar que algo miraculoso poderia estar acontecendo na sua cidade monótona.
"Eu sempre quis que fosse como as histórias de mangá."
Mas não poderia ser. A sua vida de estudante do mundo real jamais mudaria.
Entretanto... Era por saber disso, que ele se apegou tanto ao evento de quase morte da noite passada.
"Foi horrível, foi. Mas é o mais próximo que eu tenho de ter vivido algo parecido..."
Era por isso que ele queria continuar.
Era por isso que ele gostaria de saber o final.
Era por isso que aquela garota não saía de sua mente.
Então o mundo parou.
— ....!?
Ou melhor... Pareceu ter parado.
Os olhos de Sado se arregalaram quando no momento seguinte em que estava perdido nos pensamentos, ele viu aquela jovem novamente.
Em cima da grade dos trilhos do trem, ela sentava olhando para alguma direção.
Cabelos brancos e pele pálida. Essa imagem extremamente chamativa ele não poderia confundir em lugar algum.
A paisagem parecia passar tão de vagar, e quando a menina se virou para olhá-lo nos olhos, tudo voltou a ficar rápido mais uma vez.
"É ela, é ela, é ela, é ela, é ela, é ela, é ela!"
Ele colocou as mãos na janela e observou a menina que se afastava. Ele não tinha dúvidas de quem era.
— Não foi um sonho...! Eu sabia!
Felizardo com essa realidade, o jovem foi tomado de euforia. Queria descer logo do trem e fazer perguntas mas...
— Ah, droga. A próxima estação é logo adiante... O que ela estava fazendo em um lugar tão perigoso assim?
Ela parecia estar distraída com algo, mas ele só viu sua feição de perfil.
— Desta vez eu irei conseguir ver o seu rosto...
Com isso em mente, ele esperou desembarcar na estação mais próxima.
Assim que o fez, Sado Yasutora foi para a parte mais afastada e olhou para os trilhos.
— Será que eu vou...?
Ele cogitou isso.
Ele olha para os dois lados e nada via. Era uma extensão vazia ferroviária e nenhum vagão parecia aparecer agora.
— Eu sei que eu só tô matando aula, mas... Eu quero tanto falar com ela. O que ela sabe? Quem ela é? Seu nome? E porque mentiu pra mim dizendo que o evento da noite passada era um sonho?
Eram tantas dúvidas que giravam em torno daquela menina, que Sado só não conseguia mais prestar atenção em nada a não ser isso.
Então...
— Que se dane eu sou maluco!
...Ele tomou uma ação arriscada e pulou nos trilhos do trem e saiu correndo enquanto duvidava da própria sanidade.
— Ei, garoto! É perigoso! Ei!
Um som de apito foi ouvido, e quando virou a cabeça para ver, era um segurança que chamava sua atenção.
Sado ignorou-o e continuou correndo.
— Ferrou! E eu que não gosto de chamar atenção!
Mas era por uma boa causa — ele pensava.
— Sim. Sinto que se não fizer isso, a chance pode nunca mais voltar!
Por isso ele correu desajeitado por causa dos trilhos que não foram feitos para locomoção humana e sim para servir de base para vagões.
Com o seu sedentarismo atacando novamente, ele chegou no local onde havia visto aquela menina.
— H-hein...? Arff... Arff... Não tá... Não tá aqui...
Ofegante, ele olha para todo os lados e não via nada. Ela havia fugido?
— Bem... Porque eu achei que ela estaria a me esperar? Há, há...
Logo entristeceu por ter seu esforço valido de nada.
— É... Eu já esperava que haveria essa possibilidade.
Então porque o desânimo?
Não era por matar aula ou ter corrido atoa. Era porque talvez essa tenha sido a última chance dele poder falar com ela.
— Eu sou um imbecil... Por quê eu quis acreditar nisso? Algo legal, arriscado e divertido? Com criaturas estranhas e mulheres psicopatas? Corta essa... É bom demais pra ser verdade.
Então ele suspirou e invejou os protagonistas de mangá e Light Novel.
— Bem. Vou pra escola.
— Não. Você vai me acompanhar, jovem.
— Uhg...
Se virando, Sado se deparou com o segurança de antes que aparecia com as mãos na cintura. Olhando agora, ele não parecia ter uma idade tão diferente da de Sado, e seu cabelo era loiro.
— Me chama de jovem, mas a gente nem deve ser tão diferente assim...
O guarda de camisa azul e gravata escura olhou para Sado com um rosto sério. Sado assim que foi recebido por esse rosto, engoliu seco.
— Sério? Caramba, há, há, há, há. E eu achando que tava mandando bem.
— Hee...
A autoridade riu e falou de forma amena, livrando Sado de toda a tensão o que o fez soltar um sorriso desajeitado.
— Mas isso não muda o fato de que andar na linha de trem não seja loucura, Sabia? Vem, vamos pro lado do parapeito.
O jovem guarda então colocou o pé na elevação da lateral dos trilhos e se segurou nas grades de ferro onde Sado tinha visto aquela jovem sentada.
Assim o segurança estendeu a mão para Sado que a pega e ambos sobem, assim subindo pela grade e parando no parapeito, fora da mira de qualquer trem.
— Não sabia que dava pra andar por aqui. — diz o Sado impressionado.
— E não dá. Aqui é só para manutenção ou quando o trem quebra no meio, antes de chegarem a alguma estação. Então existe esse caminho para os passageiros ou manutenção se locomoverem.
— Saquei... E é normal pessoas andarem por aqui?
— Absolutamente não. Só pessoas autorizadas. Afinal... — ele aponta para os trilhos. — Podem acabar tentando o suicídio ou... — Ele aponta para as costas. — Igualmente pularem desta altura.
— Eu vejo...
De um lado havia os trilhos do trem e do outro lado, a rua mais abaixo. Era sem dúvidas perigoso, e apenas uma grade em cada canto neste caminho estreito servia como proteção.
— Por falar nisso, jovem.
— Hum?
O garoto loiro colocou as mãos no seu cinto de utensílios e inclinou a face para Sado, como se quisesse adverte-lo.
— Não estava pensando em suicídio, hein? Querendo andar nos trilhos de um trem!? O que você acha que é isso, hãn!?
— E-eu não iria fazer uma loucura dessas! Prezo pela minha vida mais que tudo, senhor!
Se sentindo instigado, Sado abaixou a cabeça como forma de respeito e dar ênfase na sua justificação.
O segurança assentiu quanto a isso e pareceu satisfeito.
— E então? Posso saber o porquê de ter feito isso?
— Bem, eu...
Quando Sado ergueu o rosto de volta, ele pensou em o que deveria falar.
O jovem guarda estava o olhando com seus olhos escuros e cabelos amarelos, e Sado não tinha para onde correr senão dar-lhe uma resposta convincente.
"Eu sou descarado mas nem tanto."
Ele optou por não inventar coisas ou fazer desvios.
Ele disse:
— Eu vi uma menina de cabelos brancos sentada na grade e pensei que conhecia. Por isso vim ver o que ela estava fazendo aqui.
Apesar de ambos terem a mesma idade ou parecido, Sado foi capaz de ver este garoto como uma autoridade, portanto, desembuchou de forma séria.
Porém, o guarda ergueu a sobrancelha clara e parecia assimilar o que acabara de escutar. Talvez ele pensasse que fosse mentira ou uma forma de piada.
Mas Sado genuinamente gostaria que ele acreditasse em suas palavras.
Foi então que ele sorriu:
— É mesmo, é mesmo? Caramba. Sua amiga é bem esquisita.
— Ela não é minha amiga... Eu a vi poucas vezes, e queria saber o que ela estava fazendo.
— Um stalker então?
— Eu não sou nada disso!
— Há, há, há, há, há! Eu tô brincando, tô brincando.
O loiro ria enquanto dava tapinhas no ombro de Sado e o deixava levemente conturbado com essa comoção exagerada.
Então limpou a lágrima dos olhos e voltou ao normal.
— Bem, se eu ver sua amiga em algum lugar, eu faço questão de avisar.
— Hum... Diz que um tal de Sado passou por aqui. Quero que ela marque o meu nome.
— Tudo bem. Então você se chama, Sado é? Eu me chamo Kitogawa. Prazer em te conhecer.
O jovem guarda estende a mão para Sado que firma um aperto.
— Prazer em te conhece, Kitogawa... Uhh... Senhor?
— Ah, deixa disso. Eu só tenho 21 anos, ainda sou bem jovem. Você têm o quê? Dezoito?
— Acertou na mosca...!
— Hehe. Alguns dizem que eu tenho uma sorte sobrenatural. Sou o cara mais sortudo que você vai ver na vida.
— É mesmo? Bem... Eu sou o cara mais azarado que você vai ver na sua vida.
Kitogawa ri com o sarcasmo do menino de cabelos pretos e diz "gostei de você cara"...
— Vem, vamos sair daqui. Presumo que você está estudando agora, não?
— É isso mesmo.
— Lembro dos meus tempos de escola. Mas ah, dropei na quinta série.
— Na quinta série!? Você não queria mesmo ter futuro, hein.
— Nah, um futuro eu fui conseguindo ao longo da vida. Não precisava da escola pra ter essa garantia.
— Queria ser como você...
Kitogawa olha pra Sado com o mesmo sorriso de satisfação estampado no rosto.
— Lamento, mas não há ninguém como eu nesta Terra.
— .....
A respeito disso, Sado só teve uma conclusão quando fitou o jovem de perfil.
"Ele se acha demais!"
...A dupla seguiu rumo a estação de trem. Antes disso, o menino olhou para trás só para reaver suas certezas. E a garota de cabelos brancos não estava lá.