Ao cair da noite, uma jovem mulher de longos cabelos vermelhos, vestida de freira, trajando uma espingarda presa às suas costas, para diante de um prédio em ruínas, com janelas completamente quebradas e cercado pela escuridão.
"Então, este é o prédio abandonado?", indaga a mulher enquanto se dirige à entrada do edifício.
Antes de adentrar, ela observa o entorno minuciosamente e, por fim, entra no prédio pisando em cacos de vidro.
"Este lugar está imundo... Nem mesmo uma fonte de luz", comenta a mulher, colocando a mão esquerda em sua cintura.
"Um prédio abandonado entre pequenas casas, cercado por um poderoso ressentimento amaldiçoado. A vizinhança relatou ter escutado diversos ruídos estrondosos, como se algo estivesse golpeando as paredes com a intenção de destruir tudo", diz a freira enquanto sobe os degraus do prédio, um por um, como se sentisse a presença de algo atraindo-a para si.
"Amelia Nun, da Agência de Conjuradores, é meu dever exorcizar essa maldição para que ela possa encontrar a paz eterna." Amelia sacou um rosário do bolso enquanto subia a escada que levava ao refeitório.
Ruídos de passos e vozes aterrorizantes começaram a ecoar pelo refeitório, fazendo com que a escuridão parecesse ainda mais opressiva, mesclando-se a uma aura maligna.
Amelia fechou os olhos, uniu as palmas das mãos em frente ao peito, ainda com o rosário entre seus dedos, e proferiu uma prece.
"Eu acredito em Deus Pai Todo-Poderoso, o Criador do Céu e da Terra; e em Jesus Cristo, Seu único Filho, Nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Nasceu da Virgem Maria, sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao mundo dos mortos. Ressuscitou no terceiro dia. Subiu aos céus, onde está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. Eu acredito no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém." Amelia recitou, e então, uma luz dourada surgiu ao redor de seu corpo.
A maldição materializou-se como uma mulher vestindo um longo e branco vestido até os joelhos. Ela apareceu e se fundiu à parede, olhando para Amelia. Possuía três cabeças: a do meio era de uma mulher com cabelos longos, a da direita era de um homem e a da esquerda era de outra mulher.
Quando Amelia abriu os olhos, estendeu o braço esquerdo e uma corrente dourada emergiu de suas costas, voando em direção à maldição com uma velocidade impressionante. No entanto, a maldição se desviou e a corrente acertou em cheio a parede com uma força avassaladora. "Ela é ágil!", exclamou Amelia.
A maldição começou a se mover freneticamente por toda a sala, numa velocidade tão intensa que nem mesmo os olhos de Amelia conseguiam acompanhar. A velocidade lançava as mesas pelo ar e as janelas se quebravam, criando um barulho ensurdecedor.
A mesma corrente dourada se soltou da parede e retornou às costas de Amelia. A maldição ainda girava ao redor da sala, como se sua intenção fosse causar uma bagunça para limitar o alcance da corrente e os movimentos da freira. "Ela é inteligente!", afirmou Amelia, erguendo novamente o mesmo braço e enviando a corrente em direção à maldição. No entanto, a corrente acertou as mesas que a maldição arremessava em sua direção.
"Apenas uma corrente não será suficiente?!! Não tenho outra opção."
A corrente dourada retorna para as costas de Amelia.
"Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje; perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal." Outra corrente dourada emerge de suas costas.
"Em toda a minha jornada como exorcista, nunca precisei usar mais do que duas correntes. À medida que o número de correntes aumenta, sua velocidade dobra. Isso também se aplica à força", disse Amelia, estendendo os dois braços com o terço em seu pulso.
As duas correntes emergem de suas origens e dirigem-se novamente à maldição, quebrando todas as mesas em uma velocidade surpreendente, como se ganhassem vida. Uma das correntes, então, agarra o pé da maldição, fazendo-a parar de se mover; Amelia, com o braço esquerdo, realiza um movimento contrário, puxando a corrente em sua direção junto com a maldição.
"Te peguei!", exclama. A outra corrente começa a se enrolar em torno do corpo da maldição, deixando-a completamente imobilizada.
Amelia arregaça as mangas de sua roupa e retira das costas uma espingarda, mirando na cabeça da maldição e puxando o gatilho para efetuar um disparo rápido.
O tiro é lançado em direção à cabeça do meio, mas a maldição se curva um pouco para o lado, desviando a bala e atingindo a cabeça esquerda.
"Será que ela está protegendo a cabeça do meio?!" Amelia realiza mais um disparo.
A maldição mais uma vez se desvia e o tiro atinge a cabeça da direita.
"Então é a cabeça do meio que te preocupa?! Ela não tem mais as outras duas cabeças, não há como se defender! Agora!" Amelia dispara novamente.
A maldição com uma força avassaladora destrói o próprio corpo, deixando apenas a cabeça livre das correntes.
"O quê?!!" Dispara mais cinco vezes.
A maldição se esconde atrás das mesas durante os disparos e consegue se proteger.
"Acabaram as balas." Vai em direção à mesa com passos lentos enquanto recarrega a espingarda.
Ao se aproximar o suficiente e com a espingarda carregada, ela corre e pula por cima da mesa realizando uma acrobacia, e ao ver a cabeça da maldição, põe o dedo no gatilho e de repente é surpreendida por um grito ensurdecedor que a joga contra a parede; a parede se quebra, arremessando Amelia para fora do prédio.
"Que incrível poder!!..."
Amelia utiliza as correntes para se prender nas paredes do antigo prédio e as utiliza como teias para se balançar em direção à janela do refeitório e voltar para lá. Ela se balança e, com seu pé, quebra as janelas do prédio, assim, está de volta ao refeitório.
Ao retornar, enquanto os vidros ainda estão caindo, ela não percebe mais a presença da maldição.
"Onde ela está?!" Amelia começa a correr para todos os cantos do prédio em busca da maldição, ainda com sua espingarda em mãos.
"Eu irei te eliminar! Eu irei te eliminar!" O sussurro maldito ecoava através dos corredores, penetrando na mente de Amelia.
Amelia se posiciona para a batalha, se preparando para o que estava se aproximando no fim do corredor, onde a luz piscava intermitentemente.
A luz piscou diversas vezes. E apagou novamente.
Quando voltou a acender, a maldição surgiu com todo o seu corpo regenerado e as outras cabeças em uma velocidade aterradora.
"Se recuperou?!!" Amelia arregalou os olhos e disparou todas as balas restantes, mas a maldição esquivava-se como uma serpente rastejando.
A maldição estendeu seus braços e tentou acertar um golpe no rosto de Amelia, porém esta desviou.
A maldição trocava golpes poderosos, destruindo tudo o que tocava.
Amelia corria em direção ao fim do corredor.
Ela encontrou uma escada no final do corredor, a qual levava ao terraço do prédio. Sem hesitar, ela subiu e encontrou a porta fechada.
"Está trancada!" Amelia recua e, com o pé direito, destroça a porta, derrubando-a, e corre até a beirada do terraço, criando uma distância segura.
A maldição surge diante da entrada do terraço e passa a língua entre os lábios.
"Nunca imaginei que fosse ser encurralada até esse ponto... Não tenho alternativa", pensou Amelia, enquanto avançava em direção à maldição, diminuindo progressivamente a distância entre elas.
Amelia corre com as mãos para trás, como uma ninja, enquanto a maldição rasteja como uma cobra prestes a devorar sua presa.
Então, Amelia pega a espingarda que segurava na mão direita e a arremessa para a esquerda. A distância entre a maldição e Amelia tornava-se perigosa. Em seguida, ela lança a espingarda contra o rosto da maldição, interrompendo seu movimento.
Amelia, mais uma vez, salta por cima da maldição com uma acrobacia impressionante e usa uma corrente para perfurar o corpo da maldição.
A maldição solta um grito de dor. Seu grito é imenso e aterrorizante, fazendo com que os corvos que estavam presentes naquele momento se afastem.
Enquanto estava executando sua acrobacia, Amelia fixou com firmeza os dois pés no chão. De suas costas, uma outra corrente se projetou em direção à cabeça principal da maldição, perfurando-a finalmente.
"Que Deus tenha misericórdia desta pobre alma!" exclamou Amelia, puxando todas as correntes de volta para si. A maldição desapareceu como fumaça.
A luz dourada ao redor de seu corpo some.
"O que está acontecendo com as maldições ultimamente? Elas parecem estar se fortalecendo cada vez mais", indaga Amelia.
De repente, os corvos voam como se estivessem fugindo de algo, alertando Amelia novamente.
"Ah, é você, Cristopher", suspira ela.
"Fiquei sabendo que você veio para exorcizar uma maldição. Pelo estado do prédio, parece ter sido uma batalha intensa", comenta Cristopher, subindo as escadas que levam ao terraço com as mãos nos bolsos.
"Não foi nada fácil. Sinto como se as maldições estivessem se tornando cada vez mais poderosas...", diz ela, olhando para a palma da mão e abrindo e fechando-a.
"Não é somente você, Amelia. Todos estamos percebendo isso", afirmou Cristopher.
"O que você quer dizer com isso?", questionou Amelia, com uma voz trêmula.
"Os dias de trevas estão se aproximando", disse Cristopher, aproximando-se da beirada do terraço e observando as nuvens que cobriam o céu por completo.
"Dias... de sombras", murmurou Amelia, cerrando o punho.
"Muitas crianças e pessoas inocentes serão envolvidas nesse dia. Tornei-me um exorcista para proteger minha filha e minha esposa", explicou Cristopher enquanto o vento soprava contra o terraço.
"Os dias de sombras não têm uma data para terminar, apenas sabemos quando serão iniciados", afirmou Cristopher, com um olhar vazio enquanto observava uma tempestade no horizonte.
"E quando será iniciado?", perguntou Amelia.
"Quando o anticristo chegar... E ele já está entre nós", disse Cristopher, encarando ameaçadoramente os céus.