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Chapter 9 - Um dia de Cinderela

A conversa girou depois da chegada de dona Glória, sobre os afazeres daquele dia. Ela manifestou seu desejo de ir também, para ajudar sua "amada" filha a escolher roupas e também compraria algumas peças para si.

_ Não mãe. Você não vai com a gente. – Andressa disse sem emoção, enquanto tomava seu suco. Nem mesmo olhou na face de dona Glória quando decidiu isso.

_ Você não tem poder de tomar essa decisão. Durante o almoço falarei com Andrey sobre seu comportamento. Não pode me tratar assim. Lembre-se sempre que fui eu quem a colocou nessa vida de luxo. – Dona Glória reclamou muito aborrecida. – Não entendo porque não deseja minha ajuda. Você está muito mudada...

_ Você me obrigou a mudar quando me vendeu para o traficante. Agora não reclame. Seu destino será decidido essa noite. Pode fazer suas compras sem ser comigo, basta que peça dinheiro a Andrey. – Andressa disse e fitou Francine para tentar lhe ver a reação. Estava boquiaberta e com os olhos esbugalhados expressando surpresa.

_ Como assim decidir meu destino? Meu destino é ficar perto da filha que me sobrou. Não pode tirar isso de mim. O que pretende realmente com essas atitudes? Sabe que não posso pedir dinheiro ao chefão, pois não tenho com o que lhe pagar!

_ Fico feliz em saber que seu desejo é ficar perto de mim. – Andressa disse misteriosa, ignorando todo o restante.

Naquele momento a conversa foi interrompida por Carla, que viera chama-las para o almoço, pois o chefe já havia chegado e estava com pressa, por causa de alguns compromissos. Elas se levantaram e se dirigiram para a copa, onde Andrey já estava sentado junto com alguns de seus homens.

Assim que as viu entrar, abriu um sorriso e sem sair do lugar, arrastou a cadeira ao seu lado e apontou para que Andressa sentasse ao seu lado.

Andressa se sentiu mais confiante ainda e o obedeceu. Sempre de olho nas reações de Francine. Ela estava calada. Seu semblante demonstrava que não estava se sentindo bem como a alegria que sempre transparecia em seu rosto. Andressa sabia que era ciúme e que ela devia estar reconsiderando naquele momento, o desejo de afoga-la na piscina.

_ Chefe... Eu gostaria de sua autorização para acompanhar minha filha nas compras de hoje. Além de eu lhe conhecer os gostos, também preciso de umas peças novas... E acho que ela vai ao salão. Eu também preciso de cuidar de minhas unhas e cabelos. – Dona Glória disse entre uma garfada e outra.

Andrey olhou para Andressa e essa negou com a cabeça. Ele então olhou de volta para dona Glória.

_ Isso é entre vocês duas... Não farei nada para obrigar Andressa a fazer o que não deseja. Por outro lado, creio já ter quitado minha dívida com você e não preciso ficar lhe comprando roupas e pagando salão. O que eu ganharia com isso? – Andrey disse e voltou-se para Andressa, esquecido por um momento de que estavam em público, mas precisava saber e cochichou-lhe ao ouvido: - Você ainda está sentindo dor?

Aquele gesto não foi bem recebido por Francine. Ela enxergou ali uma intimidade e um carinho que ele nunca dispensara a ela. E assim que Andressa lhe respondeu "não" ficando vermelha e abrindo um sorriso tímido, ela se levantou e se retirou sem dizer nada. Não sabia se ia embora e deixava de cumprir o combinado com Andrey que pareceu nem a ver naquele dia, ou se ficava e tentava descobrir mais sobre eles. Talvez Andrey perdesse o encanto por ela, entre a rotina do dia a dia. De qualquer forma, investiria mais forte agora, para que ele se casasse com ela. Depois se livraria da menina. E então, decidida a não se render e se deixar ser vencida por uma adolescente, voltou e se sentou novamente, conversando animadamente com dona Glória, com quem via agora como uma aliada e prometendo que lhe traria presentes. Via pelo canto dos olhos, que Andressa estava distraída, em uma conversa com Micão, enquanto Andrey observava ela com olhar misterioso, para não dizer sonhador. Francine, nem conseguia pensar na hipótese que lhe veio à mente quando viu Andrey olhando para Andressa daquela forma.

O almoço teve fim e Francine decidiu que devia cumprir sua missão de acompanhar Andressa em suas compras o quanto antes, pois tinha planos para ela e Andrey aquela noite, e falou sobre isso antes que todos se levantassem.

_ Se Andressa não se importar, gostaria de ir as compras agora. – Ela disse com voz meiga, sem deixar transparecer seus planos para aquela noite. No fundo ainda tinha algum apego a Andressa, e sentia muito ter que faze-la sofrer, ainda mais sabendo que a vida dela não tinha sido fácil até ali. Contudo, ela apreciava demais a companhia de Andrey. Ela o amava e tinha que lutar por ele.

_ Não me importo. – Andressa disse sem fazer ideia dos pensamentos de Francine, apesar de reconhecer o ciúme na voz dela, e se levantou.

_ E quanto a mim? – Dona Glória perguntou, esperançosa que Andressa a deixasse acompanha-la.

_ Ah! Claro! Já ia me esquecendo... Mamãe, já que quer ficar perto de mim, como disse mais cedo, não acho justo que tenha comida, cama e conforto sem trabalhar por isso. Cada um aqui, tem uma tarefa. Você também terá a sua. Vá até Carla e diga que eu mandei que ela lhe arrumasse uma posição nesta casa. Claro que terá seu salário. E nada de piscina nos dias de serviço. Contudo, pode aproveita-la nas suas folgas como todos os outros empregados dessa casa. Vai ser bom para você ter dinheiro para ir as compras e se vestir como quiser. – Andressa disse e se retirou deixando a todos boquiabertos. O que eles não sabiam era que Andressa sentia um misto de amor e ódio e por aquela mulher que conhecera como sua mãe e que lhe doía fazer aquilo por um lado. Mas por outro lado, sentia que estava vingando sua mãe biológica.

Andressa entrou no seu quarto e depois de escovar os dentes, se trocou. Foi o tempo para que Francine invadisse o aposento sem bater na porta.

_ Andressa! Fui tolerante com você até agora, pois sei que existe revolta em seu coração adolescente, mas foi imperdoável tratar sua mãe daquela forma. Não posso me calar diante de tanta covardia de sua parte! – Francine foi logo dizendo, a repreendendo com firmeza.

_ Francine, não me lembro de ter lhe pedido sua opinião. Se está se doendo tanto por ela, leve-a para sua casa e trate dela como lhe convir. Você não sabe da minha história, nem sabe o que sinto e nem vai saber. – Andressa respondeu tranquilamente.

_ ótima ideia. Levá-la-ei comigo. – Francine disse apertando os olhos com ódio. – E se vire para fazer suas compras. – Ela disse e já ia saindo quando Andressa deu uma risada irônica, incomum para sua idade.

_ Você acha mesmo que eu precisava de sua ajuda para fazer compras e ir a um salão? Sou pobre Francine. Não burra. Posso e prefiro fazer isso sozinha.

Francine a olhou dos pés à cabeça com desprezo.

_ Pelo seu jeito de se vestir, creio que me fará um imenso favor, se vestindo ao seu gosto.

_ Sim. Me vestirei ao meu gosto. Que não é esse que você vê agora. Esse é o gosto de alguma alma boa que doou suas roupas. Como era a única coisa que me servia, não tive opção. É até bom por um lado, pois sei que Andrey vai ter uma bela surpresa quando eu chegar das compras.

Francine a fitou com um brilho de zombaria no olhar.

_ Quem vai ter uma surpresa, vai ser você. – Ela disse quase cantando e se retirou.

Andressa deu um tempo e desceu as escadas. Decidiu, assim que não viu ninguém, e foi até a cozinha pegar um copo de água e determinada a sair e pedir que Micão a levasse as compras, imaginando que Andrey devia deixar algum dinheiro com ele para alguma emergência.

As empregadas a olhavam de esguelha, mas não lhe dirigiam a palavra. Foi então que Andressa sentiu falta de Carla e ignorando sua intuição de que as empregadas não queriam falar com ela, se aproximou de uma delas e ficou de frente com ela, deixando nítida a sua intenção de lhe falar.

_ Onde está Carla? – Andressa perguntou curiosa com o medo no olhar da empregada.

_ Estou aqui.

Andressa esqueceu da empregada e seu temor e se voltou para a porta da cozinha que dava para a copa. Carla estava elegante. Irreconhecível, na verdade. Ela usava um conjunto rosa claro de um terninho e além de soltar os cabelos, que trazia sempre preso, havia se maquiado. Andressa a achou bonita e muito mais jovem do que aparentava dentro daquele uniforme de empregada. Carla a fitou amistosamente e se aproximou.

_ Eu irei com você para fazer as compras e, caso você queira, lhe matricular na faculdade. Andrey me pediu para substituir Francine, pois ela disse que estava com muita dor de cabeça... E sua mãe, juntou as coisas dela e saiu junto com Francine. Pelo que entendi, iria se hospedar lá na casa de Francine. Então me ofereci prontamente para lhe acompanhar. Espero que isso não desagrade você. Andrey pareceu aliviado com a solução...

Andressa se adiantou e a abraçou com carinho. Depois se afastou com um brilho feliz no olhar.

_ Não poderia haver companhia melhor. – Andressa disse e ambas saíram para fazer as compras.

Enquanto esquadrinhavam uma grande loja em busca de algo que interessasse Andressa, esta percebeu que Carla estava um pouco tensa, olhando de tempos em tempos para os homens de Andrey que as acompanhava em distância discreta.

Carla pegou uma jardineira jeans e a mostrou para Andressa.

_ Acho que essa vai ficar bem em você. Precisa comprar roupas melhores para ficar em casa. Não vai querer que Andrey lhe veja sempre com esses trapos que usa...

_ Não. Eu queimarei todos esses trapos. – Andressa disse sorrindo enquanto tomava a jardineira das mãos de Carla e entregava para a vendedora que as seguia com um cesto cheio de roupas que ambas haviam escolhido. Contudo, ela comprou algumas roupas, exatamente iguais as que estava acostumada a usar, apenas com a diferença de serem novas.

Andressa se admirou ao perceber que se passaram quatro horas desde que entraram na loja. Ela não imaginava que escolher e experimentar roupas, pudesse ser tão divertido e prazeroso. Saíram da loja com as mãos cheias de sacolas, e ocuparam também as mãos dos três homens que as acompanhavam.

_ Para onde vamos agora? – Andressa perguntou, agora bem mais animada, pois sabia que não tinha limites para o que quisesse comprar. Dinheiro não era mais um problema pela primeira vez em sua vida.

_ Vamos para o salão, onde você deve cuidar dos cabelos e das unhas. Também deve se trocar, pois depois, vamos para a faculdade te matricular.

_ Não trouxe nenhum documento...

_ Andrey já havia pegado eles com dona Glória há algum tempo. Não se preocupe. Está tudo aqui na minha bolsa. – Ela disse dando um tapinha na bolsa bege em suas pernas. Depois olhou para os homens e seu sorriso desapareceu. – Quanto a vocês, espero que não tirem nossa privacidade dentro do salão, como fizeram na loja. Lá só tem mulheres e não vejo necessidade da presença de vocês.

Eles se entreolharam, e o motorista respondeu com alivio na voz.

_ Não entraremos lá. Mas ficaremos no bar em frente tomando cerveja enquanto arrumam a menina. O chefão teme pela a segurança dela. Você sabe melhor que ninguém que ele tem motivos para isso. – O homem disse para Carla em tom cansado.

Andressa olhou curiosa para Carla e ela havia recostado no banco com o semblante tranquilo e até, estranhamente para Andressa, feliz.

Chegando ao salão, rapidamente foram atendidas. Andressa teve os longos cabelos lavados e escovados enquanto outra moça lhe fazia as unhas. Depois foi para uma sala, onde as noivas se trocavam e trocou suas roupas, jogando as velhas no cesto de lixo. Quando se olhou no espelho de corpo inteiro, lágrimas lhe vieram aos olhos, porém ela as impediu que caíssem, desejosa de que Andrey a visse daquela forma. Ela nem se sentia aquela que refletia no espelho. Parecia que ela olhava para outra pessoa. Uma mulher linda e confiante. Coisa que ela não se sentia. Seus pensamentos foram interrompidos por Laura que chegou no espelho e sorriu para ela mostrando grande satisfação com o resultado.

_ Gostou Andressa?

_ Sim, mas... Não sei se devo aparecer assim para Andrey...

_ Porque não? Ele vai amar!

_ Por isso mesmo. Não posso vir aqui todo dia para me maquiar e ele vai perceber a diferença gritante entre hoje e os outros dias...

_ O que ele pensa te importa tanto assim?

_ Passou a importar... -Andressa disse pensativa. – Acho que sempre importou, mas eu não tinha escolha... Qual mulher quer se deparar com um homem como Andrey parecendo uma andarilha? Eu fiquei muito envergonhada quando o vi na minha frente pela primeira vez... Só não disse nada porque não queria que mamãe se sentisse culpada...

_ Você gosta muito dela né?

_ A amo como uma verdadeira mãe. Mesmo sabendo que ela não sente o mesmo por mim como filha. Pode não ser minha mãe verdadeira, mas ainda me lembro das brincadeiras e risos de infância que passei com ela. Ela não foi ruim o tempo todo. Contudo não a quero perto de mim. Porque por mais que eu tente ignorar a forma como ela me explorava e ela ter sido a mão que tirou a vida de minha mãe, lembro disse sempre que olho para ela. Que seja feliz. Mas nosso tempo juntas acabou.

_ E quanto ao teu pai?

Andressa mirou os olhos sérios de Carla pelo espelho e soube que era uma pergunta importante.

_ Gostaria de conhece-lo e saber o motivo pelo qual deixou que dona Glória me criasse...

_ E se eu lhe disser que pode fazer ambas as coisas agora?

Andressa se voltou para Carla e a encarou incrédula. Agora entendia o motivo pelo qual ela não queria que os homens de Andrey entrassem ali.

_ Ele está aqui?

_ Não fisicamente. Ele não pode correr esse risco. Ainda não sabe que dona Glória não te vigia mais. E ele pode ter outros motivos também...

_ Então como eu poderia conhece-lo?

Carla levantou e balançou o celular dela na frente de Andressa que ficou preocupada. Não desejava ser desleal com Andrey. E se seu pai só a quisesse usar como espiã?

_ Esta tarde... Melhor deixar para outro dia...

_ Este é o momento perfeito. Não sabemos quem e quantos são os inimigos de seu pai infiltrados entre os homens de Andrey. Depois de hoje, só poderá se comunicar com ele na escola. E só por mensagens. Nada que possa ser rastreado deve ser feito.

_ Não sei... Acho que não é bom. Vou sentir como se tivesse traindo Andrey...

_ Andressa! – Carla se admirou. – Eles são aliados. Não são amigos, ou Andrey não teria feito o que fez com você, mas se ajudam em tempos de guerra.

_ Está bem.

_ Mas não deve falar sobre isso com Andrey. Ele é muito inteligente e vai crer que se você burlou a vigilância para falar com seu pai, será capaz de qualquer coisa. Ele é, antes de tudo, muito desconfiado. E uma vez quebrada a confiança dele, acabou. Ele corta a pessoa da vida dele sem pensar duas vezes.

_ Faça a ligação. Será nosso segredo. – Andressa disse determinada.

Carla a olhou satisfeita e fez a ligação em vídeo, entregando o celular para Andressa, antes mesmo que a pessoa do outro lado atendesse.

O homem que atendeu do outro lado a fitou com os olhos da mesma cor que os dela, com emoção. Andressa acreditava que também devia estar aparecendo assim para ele. Quando pensava em seu pai, sempre imaginava um homem velho, mas aquele que começara a sorrir para ela, deixando que lágrimas caíssem por seu rosto, era relativamente jovem. Parecia ter uns quarenta e cinco anos, quando muito. Nem era grisalho como pensava. Mas via muita semelhança consigo mesma. Estava impressionava por não encontrar rugas em seu rosto. Era um homem belo. Com certeza devia ter muitas mulheres.

_ Minha querida filha! Não sabe como sonhei com esse momento! Você está tão bonita quanto sua mãe, apesar de ter herdado apenas as formas dela... Como eu gostaria de dar um abraço em você...

_ Porque só me procurou agora? Precisei tanto de um pai...

_ Lamento minha filha, por todos dissabores que deve ter passado por esses treze anos longe de mim. Mas se eu revelasse que estava vivo, sua vida correria perigo. Dei um jeito de saber de você como se fosse outra pessoa... Eu estava sem aliados o suficiente para manter você a salvo. Mas sei que está segura com Andrey.

_ Então não existe mais perigo? Porque estamos sendo discretos ainda? – Andressa perguntou desconfiada que o pai não lhe estava contando tudo.

_ Existem inimigos que vigiam Andrey de perto. Temos que manter distância e tomar cuidado, pois são inimigos meus também. Por isso precisamos ocultar que estamos nos falando. É difícil para mim, minha filha, não poder lhe dar um abraço. Mas o que me consola, é saber que você está bem cuidada por ora.

_ Você... Nós nunca vamos nos encontrar?

_ Vamos sim. Muito em breve. Estamos perto de pegar o traidor que caminha entre vocês... Se você soubesse quem está me ajudando, ficaria muito surpresa... Estou hospedado na casa dessa pessoa e logo darei um jeito para que venha sem que ninguém desconfie... Soube que vai começar a cursar faculdade...

_ Sim. Mas na verdade ainda não sei o que fazer...

_ Andressa... Sei que posso estar sendo inoportuno, mas seria muito importante para mim, que você optasse por fazer direito. E estudasse muito, pois teria que ser a melhor advogada do ramo.

_ Não entendo... Porque é tão importante que eu seja advogada?

_ Advogada não. Juíza. Mas seu serviço de advocacia seria aproveitado até que se tornasse uma juíza.

_ Bom... Eu farei o que me pede. Até porque me agrada a ideia de ser advogada.

_ Então devemos nos despedir por aqui. Esse celular, você deve usá-lo apenas em nossas conversas. Não deve ter outro contato nele e eu jamais te procurarei em outro número. Assim ficamos os dois protegidos de golpes e um possível rastreio.

_ Sim... Entendo.

_ Assim que estiver frequentando as aulas entro em contato com você. Sinta-se abraçada minha filha. Pena não ter mais tempo, mas os homens que lhe acompanha, já devem estar ficando inquietos com sua demora. Adeus. – Ele disse e enviou um beijo, desligando em seguida.

Andressa estava se sentindo feliz. Parecia que cinderela não era só um conto de fadas, pois estava vivendo uma história que considerava semelhante. Nunca pensou que o futuro lhe reservava tantas surpresas boas. Ela, que chegou a pensar que Andrey era o pior que tinha lhe acontecido, agora via totalmente o oposto. Depois que ele entrou em sua vida, somente coisas boas lhe sobreveio. Ela olhou em sua volta procurando por Carla, mas essa tinha saído discretamente da sala para que ela pudesse conversar a vontade com seu pai. Era uma boa amiga. Andressa pensou. Podia se casar com seu pai. Seriam uma família feliz.

Ela foi até a porta, lembrando de guardar o celular em sua bolsa recém comprada, que agora continha algumas notas de cem reais e logo teria que conter seus documentos também.

Carla estava distraída, em uma conversa com uma das moças que as atenderam e se voltou para trás, abrindo um genuíno sorriso ao vê-la.

_ Andressa, temos que ir. Deixaremos para fazer a matricula amanhã. Fiquei sabendo pelo grupo dos empregados de Andrey que Francine está vestida para matar, tentando convencer Andrey a sair com ela. Acho que eles tinham se programado para irem ir em algum lugar essa noite.

Andressa murchou como uma flor. Ela não sabia como poderia impedir isso com sua presença. Andrey tinha muito mais intimidade com Francine do que com ela. E ela era muito mais experiente e esperta também.

_ Não sei se poderei vencer essa batalha. – Ela disse enquanto Carla a arrastava para fora, mas parou de boca aberta ao ouvi-la e a ficou fitando como se não entendesse. – Como lhe disse antes, hoje tem a maquiagem para me ajudar, mas e depois? Uma comparação entre nós duas será inevitável. Eu saio perdendo. E não quero me iludir com algo que não poderá ser meu.

_ Andressa, nunca ouvi tantas sandices na minha vida! Primeiro a questão da maquiagem. Vou lhe ensinar a fazer uma leve maquiagem para o dia a dia. Comprei tudo de que irá precisar. Segundo a questão de Andrey. Você ganhou a batalha assim que ele pousou os olhos em seu retrato. Você não estava maquiada e mesmo assim, ele lhe desejou a ponto de quase enlouquecer... Andressa, você não estava maquiada na primeira noite que ficou com ele. Nem a primeira vez que se viram, e mesmo assim ele não deixou de desejar você. E terceiro, a ilusão. Querida, ele ainda não percebeu e pelo jeito você também não, mas estão irremediavelmente apaixonados um pelo outro.

Andressa recomeçou a andar em direção ao carro com aquelas palavras ainda retumbando em sua mente. Se Carla estivesse com a razão, não faltou nenhum detalhe para que sua felicidade fosse completa. Mas ela ainda tinha medo de deixar que a felicidade se soltasse dentro dela e de repente o carro virasse uma abobora.