Chapter 5 - 2 - O Templo

Amanda acordou, se é que havia desmaiado, sentindo uma sensação nauseante. Estava deitada com o rosto no chão, tremendo-se como se estivesse deitada sobre gelo...

Seu corpo doía, especialmente a cabeça. Sentiu como se estivesse com uma enxaqueca forte e coisas aleatórias se acumulavam em sua mente. Se perguntou o que havia a acordado tão cedo depois de um sonho estranho e assombrara-se.

Ela viu luzes por todos os lados, luzes fortes como neon. Passou a mão nos olhos, sentindo-os arder.

Estonteada, virou o rosto para o lado. Um fio de suor desceu por entre seus cabelos, pingando quando Amanda avistou um enorme salão.

O lugar estava um pouco escuro. Grandes luminárias em formas de bolas estavam penduradas de um lado de cada uma das dez colunas de arenito e iluminavam e revestiam tudo com um brilho azulado. Os tecidos finos coloridos no teto dançavam na luz bruxuleante entrando por estranhos arcos de pilares retangulares nos lugares de janelas, as luzes do dia também alcançavam o piso de porcelana. As cortinas foram adornadas com bordados com imagens estranhas e joias.

Chocada, Amanda não lembrava de ser dia, e se perguntou mais uma vez se estava dormindo. Olhou novamente para todos os lugares após esfregar os olhos com as mãos, percebeu outra dança de luzes ao seu redor. Para sua confusão, uma cor azul brilhava no piso como água refletida em um espelho.

Espiou por cima do ombro, e seu coração disparou. Bem atrás dela, enxergou o que lhe parecia uma porta redonda. Uma passagem em arco, que parecia tão velha, rachada e desmoronando que Amanda ficou impressionada em ver que a coisa ainda estava de pé. Temeu que caísse em cima dela, e se arrastou no chão, espantada.

Ela se apoiou nas mãos no chão atrás dela, ainda em horror. Depois de um tempo, percebeu que no centro do arco, uma cortina ou véu preto, estava tremendo levemente onde não havia brisa, como as águas de um lago ondulante.

Amanda deixou uma palavra feia escorregar, estreitando os olhos para o arco disposto no que lhe parecia um altar. A plataforma era acessada por escadas que se abriam em formas triangulares, e todo o seu piso estava coberto por imagens que pareciam hieróglifos de uma linguagem que ela não conhecia. Todas as paredes estavam enfeitadas com símbolos, como se ela tivesse acabado de ser transportada para um templo de alguma civilização antiga.

Primeiro, ficou confusa, depois franziu a testa em busca de lógica.

— Quem está aí? — disse a voz repentina e abrupta, ecoando no outro lado do salão.

Assustando-se, Amanda se encolheu para o lado, escutando o coração bater em seus próprios ouvidos.

— Quem é você? — a voz transformou-se em uma pessoa, saindo da parte escura do salão perto de uma porta.

Amanda piscou algumas vezes, sem entender o que estava acontecendo. Ela não tinha certeza, mas a pessoa estava vestida em roupas estranhas. Uma coisa que lhe pareceu uma túnica com detalhes dourados, com golas altas e ombreiras de chapa douradas. As solas de sua sandália batiam no piso de porcelana.

As sobrancelhas de Amanda voltaram a se franzir. Debaixo da túnica cobrindo o corpo daquela pessoa, não parecia vestir nada além de uma saia preta, costurada nos mesmos detalhes.

Ela começou a acreditar que enlouquecia, ou aquele era o sonho mais longo e esquisito que já tivera em sua vida.

— Eu fiz uma pergunta! — a pessoa voltou a indagar, e ela sentiu uma sensação estranha que lhe alertava que devia correr. — Quem é você e o que está fazend...

Quando a pessoa colocou seu rosto completamente na luz, Amanda notou ter uma forma retangular e era uma mulher. O tom de pele era moreno de sol, com traços do oriente médio. Os cabelos estavam raspados, e desenhava uma espécie de tatuagem em sua testa — um desenho religioso ao que se parecia.

— De onde você veio? — indagou a mulher, jogando os olhos em direção a menina. — Do Portão das Estrelas?

Seus olhos escuros, debaixo de uma das sobrancelhas enfeitadas por maquiagem que parecia ouro, ergueram-se em direção ao monumento de pedra atrás de Amanda. Sua boca, pintada de batom vermelho, abriu-se por completo.

— Quem abriu o portão para você? — a voz da mulher agora estava em um tom afiado como uma navalha.

Amanda piscou, confusa, olhando por cima do ombro em direção ao arco de pedra. O seu coração estava pulando freneticamente, pensando que aquele era o sonho mais esquisito que já tivera em vida.

— Eu... Eu não sei... — ela conseguiu murmurar, embora sua voz não estivesse nada composta. — O quê... Onde eu... Isso é um sonho?

Aproximando-se um passo adiante, a mulher, que parecia um tipo de sacerdotisa, afastou a túnica que cobria seus membros. Com o movimento, sacou de uma bainha presa ao cinto de sua saia, uma adaga de lâmina curva.

— Sonho? — ela questionou, o tom ainda mais hostil. — Quem é você e quem abriu o portão para passar até nós?

Apontando sua faca em direção a moça, Amanda engoliu em seco, erguendo as mãos.

— E-eu me chamo...

— Itis! — exclamou outra voz, entrando pela porta. — O que está acontecendo aqui?

A cabeça de Amanda começou a doer ferozmente naquele momento. Várias outras pessoas começaram a entrar na sala.

— Alguém abriu Seba en Ankham — Itis respondeu, enquanto várias vozes falavam em simultâneo. — Senti o templo tremer, e vim conferir se o Portão estava bem, então, encontrei essa pessoa aqui.

O homem grande e usando uma túnica parecida com a da mulher, porém com um tecido feito de penas, ergueu os olhos em direção Amanda. Seu olhar foi tão violento que fizera a moça retesar.

— O Portão abriu-se só? — perguntou o homem. — Impossível!

Confusa, Amanda se encolheu para trás, até bater as costas contra um pilar.

— Olhe para roupa dela, Hem-Neter Sisena — Itis apontou para a moça.

Amanda olhou para si mesma, vestida em seu pijama com a estampa de um gato.

— Não pertence a Tammera — Itis observou, o nariz dilatando enquanto respirava rápido.

Todos soltaram um uníssono "oh" ao mesmo tempo, embora, pareceu a Amanda sentiu-se em perigo, feito uma bruxa condenada por feitiçaria. Um dos homens que lhe olhava, até mesmo bateu no peito com certa indignação.

Ela não tinha ideia do que estava acontecendo.

— Heresia! — gritou uma daquelas pessoas.

— Não precisamos de ankhamu!

— Um ankham é vindo apenas após rituais sagrados, ninguém fez nenhum ritual.

— Já houve algum portão aberto por conta própria?

Após aquela pergunta, Amanda olhou em direção ao homem mais alto, que parecia um líder. Seus olhos estavam tão severos, que ela se encolheu de medo outra vez.

— Espera um momento... — tentou falar, mas a voz forte do homem atravessou a sua:

— O único chamado por si, tornou-se um ante-ankham.

Eles novamente se espantaram com outros "oh" coletivo.

— O Grande Pai Divino precisa tomar conhecimento! — disse o homem, erguendo a mão para seus companheiros. — Rápido, chamem Sinistre Ayi. Enviem o Escriba!

— Por favor, eu... — Amanda ergueu a mão. Os homens se encolheram para trás, com medo dela. — Calma, não vou machucar ninguém... Só... Não tenho ideia do que está acontecendo, eu...

— Silêncio, mulher! — o que parecia o líder gritou para ela, agarrando a roupa de outra pessoa. — Rápido — gritou para um rapaz face a face. — Mande chamar Ayi!

Assim que o menino vestido naquela linda túnica negra com detalhes dourados saiu pela porta, o olhar do líder era frio como uma pedra de gelo em direção a Amanda.

— Às vezes, Sekhdaya envia seus desgarrados para nos assombrar.

Amanda franziu as sobrancelhas para ele.

— Levem-na para algum lugar, e não a deixem sair até que Ayi tenha chegado — ergueu a mão para os outros.

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Glossário

Sinistre - é um título, algo como Sumo Sacerdote.