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Chapter 11 - 7 - Não fale com fantasmas!

Amanda não tinha ideia onde estava. Piscou centenas de vezes, confusa, os olhos um pouco embaçados. Tudo o que via eram uma estranha nuvem branca, espalhada por todos os lugares no seu campo de visão.

A garota gritaria algo, porém, viu uma mão em forma de luz estender à sua frente antes que pudesse reagir. Logo, sentiu como, dentro da sua cabeça entontecida, algo tivesse sido arrancando à força dela.

Um barulho alto chiou o ar e Amanda experimentou algo molhado passando por cima de sua cabeça. Toda a tensão que havia se acumulado nos últimos minutos foi liberada, e ela saltou da escuridão e do silêncio. Ela pulou para trás em choque, tossindo para fora de sua boca água e areia.

Novamente, Amanda não tinha ideia de onde foi, para onde estava. Tinha uma vaga sensação de que tudo aconteceu em um segundo. Esteve em um lugar claro como uma nuvem de algodão, agora... onde era aquele lugar?

Fechando os olhos, sentiu os dedos agarrarem algo esponjoso e molhado, e de longe escutava o que parecia o quebrar das ondas do mar. Abriu os olhos novamente, ergueu a cabeça em direção a uma praia banhada pela luz de um sol brilhante.

Franziu a testa e sentiu uma dor aguda na cabeça. Encolheu-se, gemendo de dor e levou o dedo até a nuca, onde ardia. Suas mãos ainda estavam meio amarradas, mas os nós estavam um pouco soltos. Quando trouxe seu dedo de volta à vista, estava sangrando.

Lembrou de ter batido a cabeça ao ser arremessada para trás, no meio do oceano por um peixe do tamanho de uma ilha. Colidiu em um pedaço de madeira desprendida do navio fragmentado em pedaços pelo enorme monstro do mar.

Bem, não tinha certeza se estivera sonhado, exceto que agora ela acordara em uma praia.

A noção de tempo era vaga, não sabia o quanto esteve à deriva no mar, quando seu corpo foi lançado para a areia. Junto dela, o mar levou ao naufrágio restos da madeira do navio, assim como restos de mercadorias e barris de bebida implodidos.

Amanda rodopiou na areia. Deitou de costas, fechando os olhos para clara luz do dia. Sua cabeça estava um caos, e doendo feito o inferno.

E quando ela pensou que finalmente estava tudo quieto, Amanda deu um pulo de surpresa. No meio da praia, ela ouviu alguns gemidos. Kevantou a cabeça na direção do som, mas sentiu sua respiração engasgar de medo.

Ela teve o vislumbre de uma pessoa.

Uma pessoa translúcida.

— Eu pensei que não iria me notar, Khasewet!

Amanda soltou um grito, se arrastando para longe em meio as ondas do mar batendo em sua cintura.

— Oh, sim, parece-me que é a primeira vez que está aqui — a criatura observou. — Vamos ficar calma, certo?

— Vo-você é... é um...

— Sim, sou um sheut, uma sombra abandonada na Floresta do Abismo — o que fosse aquela coisa, explicou com um tom orgulhoso. — Não me trate com preconceito, Khasewet.

Amanda sentiu o medo apertar em seu peito e respirou fundo, tentando combater o aturdimento. Sua boca entreabriu, embora custasse a acreditar que não estava em perigo. Muito cautelosa, piscou os olhos para entender o que estava vendo.

O fantasma, o que fosse, era um homem. Vestido em roupas que lhe lembravam ao Antigo Egito, embora com diferenças visíveis. Amanda sempre achou estranho que roupas também transformassem em fantasmas.

— Vo-você é... um fantasma... — ela conseguiu colocar as palavras para fora, assustada.

— Nunca ouvi tal palavra — a coisa respondeu. — Sou um sheut, uma sombra. Um dia, Khasewet, vai se parecer comigo. A única diferença é que... bem, eu não tive dinheiro para entrar no Aaru, e fui lançado para fora. Jogado na Floresta do Abismo, condenado a vagar até poder ajudar alguém importante.

Amanda franziu a testa.

— Onde estamos? — examinou, ainda mais cautelosa.

— Oh! Nem isso sabe, Khasewet ? — a criatura sacudiu a cabeça, com desaprovação. — Esta é a porta do Duat, a fina camada que separa o mundo dos vivos com o dos mortos.

Por um segundo, Amanda pensou que bateu a cabeça com força demais. Estava delirando, vendo fantasmas e ouvindo absurdos.

— Vamos lá, Khasewet, parece-me que sangra demais. Estava na praia, tomando um sol, e vi o mar trazer os restos de seu navio para cá, em seguida um corpo que era o seu, é claro — ele se mexeu no chão, animado. — É a primeira zophet que vejo há anos. A última que vi, era minha esposa durante a Guerra das Caveiras Vermelhas.

Amanda enrugou a testa.

— Fui condenado a vagar pela floresta, como disse. Já há mais de mil anos... Bem, não sei se é importante, mas posso te ajudar a encontrar um lugar para tratar esse ferimento feio — o fantasma apontou para si mesmo. — Eu sou Egbe. Um antigo nobre de Andra.

A garota tinha certeza que a batida em sua cabeça havia sido muito forte, e algo nada importante tornava alvo de sua curiosidade.

— Como um fantasma sai para tomar sol? — perguntou, sentindo dores de cabeça.

Egbe riu.

— É apenas um jeito de falar — ele explicou, em seguida.

Amanda o olhou de cima a baixo e o medo começou a se dissipar. Ela sentiu muita dor de cabeça outra vez, levando a mão até perto da orelha.

— Oh, você precisa de atendimento médico, Khasewet! — Egbe agitou as mãos. — Por favor, venha por aqui, irei de ajudar. Creio que existe uma vila de morfos aqui por perto.

Ela ponderou. Não se sentia assustada nem ameaçada, embora estivesse intrigada com a estranha situação. Despertando em Marte, sentiu a malícia humana em sua pele, como uma sensação esquisita que causava comichões em seu corpo. Aquela forma de luz, não parecia muito diferente de pessoas.

Se levantou, se encolhendo sobre uma velha contusão em seu abdômen, após passar dias apanhando de graça de criaturas que pareciam vir de um pesadelo.

Sim. Ela acreditou novamente que era tudo um pesadelo estranho. Ainda não tinha acordado, e até insistiu que seu telefone iria tocar em algum momento daquela insanidade.

Egbe apontou em direção a um lugar que ela facilmente vislumbrou como uma trilha em direção a uma floresta.

Amanda, manca por causa de vários ferimentos, pulou no primeiro degrau. Quando ouviu o rugido das feras na floresta, sentiu o mundo tremer. Os cabelos em seus braços eriçaram, quando ela deu um passo para trás.

— Não se preocupe, Khasewet , essas criaturas não irão te machucar — assegurou Egbe. — Eles gostam de exagerar um pouco, mas não são perigosas.

Amanda não tinha certeza. Ela colocou a mão na cabeça e sentiu os dedos molhados com o próprio sangue. Com aquele grito aterrorizante, pensou que devia ser uma fera faminta rugindo. Teve medo de que, se parecesse um tubarão, não sentiria o cheiro de seu sangue.

— Vamos, Khasewet , não se preocupe, vamos! — Egbe estingou. — Vamos, lá. A cidade não está muito longe.

Em dúvida, a moça abaixou a mão ainda presa nas cordas, cautelosamente colocando um pé após o outro.

Então, como não poderia ser diferente para sua grande sorte em todo aquele delírio, ela viu uma coisa gigante pular do interior da mata que circundava a praia atrás dela.

Amanda engasgou e soltou um grito de terror. Viu algo feio na frente dela. O que se esperava de uma fera extraterrestre. Sua grande boca cheia de dentes salivava, seguida de um rugido ensurdecedor destinado a paralisar sua presa no momento do ataque.

Em um reflexo, Amanda saltou para o lado, rolando na areia enquanto a criatura comeu areia e pedras.

Ela colocou a mão em uma pilha de areia e olhou para uma criatura, que parecia uma hiena com uma carapaça. Seu olhar estava vermelho como uma lâmpada de Natal.

Era um predador óbvio e faminto, e após seu ataque frustrado, virou com fúria na direção de Amanda com a velocidade e força de um jaguar.

Assustada, a moça correu para o meio da floresta. Ouviu as criaturas rugirem e quase as sentiu respirando atrás de seu pescoço. Gritou de dor e foi jogada para frente. No entanto, rapidamente se levantou e usou toda a sua força restante para seguir em frente.

Amanda sentiu o ar passar sobre sua cabeça novamente, quando virou à esquerda. As garras da coisa ficaram presas em um tronco de uma árvore muito esquisita. No entanto, a fera rapidamente se libertou e colocou sua força em suas pernas. Ela não conseguia descobrir como ela poderia estar a mais de dois metros de distância da criatura. Porque suas pernas e garras musculosas os tornavam bestialmente superiores a qualquer pessoa.

Numa bifurcação entre duas árvores, imediatamente parou e procurou um esconderijo. Antes que a coisa a alcançasse, ela viu um buraco parecido com uma caverna em sua direção.

Ela saltou no chão, rastejou ao longo dele e entrou em na pequena abertura, assustada.

Se arrastou até canto, encolhendo-se. Antes de conseguir bater em uma parede, a garra do predador bem atrás dela, prendeu em seu pé. Amanda gritou de dor.

Ele usou a outra perna para chutar as coisas, sentindo tanta dor que não parecia que teria fim. Seus pontapés afastaram a unha presa feito um anzol na parte interna de seu pé, e o monstro recuou. Novamente, atacou com a outra garra enquanto rugia como uma pantera.

Amanda se encolheu e recuou antes de ser pega outra vez. Segurou os joelhos e chorou de dor e medo.

Uma gota de suor escorria de seu cabelo já molhado e, enquanto pensava em uma saída, Amanda soltou um guincho de surpresa.

A fera rugiu, tentando pegá-la dentro do buraco. E, naquele momento de distração cega, outra fera, ainda maior que ela, abocanhou sobre seu corpo poderoso. Seu coração estava batendo em seus ouvidos. Quando ouvi os predadores lutando do lado de fora da pequena caverna, sentiu a garganta engasgar.

Então, houve apenas um silêncio curto e aterrorizante de uma luta amarga vencida pelos mais fortes. Dez segundos depois, Amanda viu a carcaça da fera bem perto de onde ela estava presa depois que caiu no chão. Assassinado com uma violência nunca vista na natureza terrena.

Contorcendo-se de terror, ela se perguntou se não estava vivendo o pior pesadelo de sua vida. Longo, louco, doloroso...

— Caramba...! — gemeu, levando a mão até ombro.

Os novos ferimentos ardiam como se tivesse rolado em brasas. O pé estava pior que suas costas. Não sabia se conseguiria correr se saísse daquele buraco, então, decidiu apenas parar um segundo para respirar e esperar a criatura lá fora ir embora.

Na verdade, ela desmaiou de pânico, dor e medo.

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Abrindo os olhos, Amanda sentiu algo pinicar em suas pernas. Ela saltou com um urro de dor.

Não tinha ideia onde estava, exceto que insetos estranhos estavam comendo o ferimento em seu pé. Sua pele estava ficando vermelha e quase esfolada.

Sacudiu a perna, se levantando enquanto batia na roupa cheia de estranhos insetos. A caverninha estava cheia deles, por todos os lados.

Assustada, se arrastou para fora da caverna, lembrando do que a levou para lá apenas quando estava ao lado dos restos do predador que quase a matou.

Se apavorou com o cadáver, procurando por perigos por todos os lados. Não encontrou nada além de uma floresta silenciosa, escura e uma lua escondida atrás de nuvens cinzentas.

A floresta estava estranhamente muito silenciosa, ela percebeu.

Caiu no chão, tentando escutar qualquer sonzinho que fosse de um grilo ou outros animais noturnos. Nada estava lá.

Suspirou, feliz que pudesse descansar e se aliviar um pouco. Sentiu a dor no pé, e caiu no chão aos pés de uma raiz de uma enorme árvore. E chorou. Chorou tanto que não conseguia pensar para onde ir ou se deveria ficar apenas ali.

Passando algum tempo retomando sua racionalidade, Amanda sentiu fome. E sede. Ela não tinha comida, não sabia se as bagas caídas no chão da árvore acima de sua cabeça eram comestíveis. Parecia que nada daquele lugar era comestível. As próprias flores eram transparentes, esquisitas como poderia ser de Marte.

Peraí, Amanda pensou, Marte tem florestas?

Sem resposta, ela gemeu com a fealdade do ferimento em sua perna. Mais cedo ou mais tarde morreria de uma infecção. Ela teve que se mover e encontrar um lugar fora daquele lugar.

— Egbe... — perguntou, procurando.

Amanda só podia estar ficando maluca, pensou de si mesma. Não existiam fantasmas. Seus próprios conceitos cristãos diziam isso. Lembrou de uma vez assistir um vídeo viral na internet, e se questionar com toda a sua racionalidade de uma estudante de exatas, por que as pessoas acreditavam em histórias de fantasmas.

A primeira explicação que buscou foi científica, dizendo que provavelmente eram energias ou delírio humano. Como alternativa, buscou na Bíblia: as Escrituras ensinavam que, ao morrer, o corpo volta à terra e o espírito volta a Deus.

Ela chegou à conclusão que fantasmas não existiam. E ela estava em um estado lastimável: fome e sede, dor, cansaço, confusão. Muita confusão.

Tão confusa, que a mente talvez estivesse desenvolvido algum mecanismo de defesa?

Aqueles que a agrediam, como os sacerdotes naquele templo se tornando monstros; ou, quem sabe, os reptilianos se tornaram répteis devido às teorias da conspiração que Rafael lhe contava e indicava vídeos. Gabriel também adorava inventar história. Sua mente estava lhe protegendo, para que pudesse absorver o impacto de todo aquele maldito trauma?

Talvez, Amanda fora sequestrada e agora estava delirando com medo de uma realidade fria e cruel?

Lágrimas frias escorriam por suas bochechas quando, ao contrário das suas teorias, não conseguia explicar onde estava.

Ela estendeu a mão ainda amarrada e viu o cadáver da criatura que tentou matá-la. Seu estômago roncou de fome.

Quando viu os restos de sua carne, rastejou até ele.Seu estômago estava pressionado contra suas costelas.

Ela ergueu a mão, puxando um pedaço de carne crua. Levou a boca, sentindo um gosto azedo e duro.

Mas tinha que comer ou suas condições apenas ficaria pior.

Quando estava satisfeita, ela se virou. Usou uma das presas da criatura para libertar suas mãos. Agora tinha que esperar até o sol nascer para encontrar uma saída.

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Glossário

Khasewet --- >é uma palavra inventada, que significa "estrangeira", usada geralmente para referir com educação a forasteiros. Reqa Khasewet é a forma para referir-se à uma nobre estrangeira. O masculino é Khasut (Reqa Khasut para nobres).