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Chapter 58 - Observando de longe

Na segunda-feira a escola estava em polvorosa pela vitória do time de vôlei em suas primeiras partidas. No instante em que Milles pisara no pátio e se sentara na fonte, fora cercado pelos demais estudantes que o parabenizavam fazendo convites para festas. E é claro, não faltaram as garotas passarem cantadas descaradas elogiando o bom desempenho do atleta.

Seria um alvoroço corriqueiro para o alfa, da qual responderia com suas brincadeiras e piadas. No entanto ele não conseguia se sentir confortável em estar tão envolvido com cheiros diferentes. Era enjoativo.

Para não levantar suspeitas, vestira a máscara do atleta em ascensão dando atenção para os seus colegas.

— Votarei em ti para ganhar o concurso, Milles!

— Opa! Eu agradeço, seria de grande ajuda pra galera da minha sala tentar não me matar.

— Você e sua irmã deveriam ganhar, duvido muito que alguém tente competir com vocês.

— Que isso, o nosso time também tem seu representante bonitão.

— Aaaah é verdade! Ele é tão gentil, tem um sorriso bonito.

— Aquele garoto alto, não é? Ele me ajudou a carregar os meus livros um dia desses.

— Mas ele não está namorando a Sadie?

— Eles ficaram na festa da Fabi, foi o que postaram no orkut.

— É, Milles, parece que você vai perder a coroa pro teu futuro cunhado.

O alfa loiro escutava a conversa tentando ao máximo não transparecer o desconforto. Lembrava-se da conversa que tivera com o seu amigo na noite passada, onde Gabriel contava que realmente estava com Theodore.

Quando Gabriel disse ter ficado com Theodore, Milles já esperava que eles continuassem com a relação. Era nítido desde o começo do ano que eles se gostavam. Até acharia engraçado a situação de seu amigo estar interessado em outro cara, se isso não fosse o seu caso também. Milles era a única pessoa que poderia compreender Gabriel.

Além de ser o único culpado por aqueles estudantes acharem que Gabriel e Sadie teriam algum lance. Ora, fora Milles quem lançara o desafio naquela noite. Teria de assumir a responsabilidade sobe aquilo? Ou deveria deixar com Gabriel pra lidar com aquela situação.

— Sadie não tá afim daquele cara — Alfinetava Thunder com sua carranca enciumada. — Eu já perguntei pra ela, e ela disse que não era bem assim.

— Até parece que ela seria caruda de dizer o contrário. É natural uma mulher se fazer de difícil.

— Natural meu ovo.

— Chega vocês dois — Reclamava Milles, intercedendo na pequena discussão. — Isso diz respeito à minha irmã, por isso não metam o bedelho. Ao invés disso, votem em mim que sou um pobre coitado com sua coroa em risco de cair na cabeça de outra pessoa.

Conseguindo reverter o assunto na grande roda, Milles tornava a se sentar na fonte onde encontrara uma brecha para a tabebuia já sem flores. Sentado no gramado estava Theodore como sempre fazia, porém ao seu lado estava o baixinho que roubara a atenção daquele alfa naquele ano. Escondido em seu moletom, parecendo dormir escorado nos próprios joelhos estava Nicolas.

Oh, então ele teria vindo... Pelo andar da carruagem imaginava que Nicolas faltaria a escola só pra fugir de si. Levando em consideração a personalidade do seu capitão, parecia bem incoerente.

Nicolas jamais baixaria a cabeça para Milles.

Era por isso que o alfa sorria satisfeito.

— O assunto chegou! Eaí Gabriel!

— Quanta gente... Como estão?

Thunder abraçara os ombros de Gabriel, abrindo um sorriso falso. O alfa moreno não transparecera ter percebido, apenas usava sua gentileza costumeira para não ser mau educado. Milles deveria aprender com ele a fingir daquela maneira?

— Graças à você estamos conseguindo votos para tirar o rei do seu trono. — Thunder olhara de canto para Milles, que apenas erguera o dedo do meio o fazendo rir.

— Graças a mim? Não fiz nada...

— Como não, o jogo de ontem foi muito intenso. A segunda partida então...

Gabriel coçara a nuca ficando envergonhado com a legítima felicidade da garota beta que comentara sobre a partida.

— Pra ser sincero eu fui um mero coadjuvante ontem. Nosso capitão foi o melhor...

— Sem os seus levantamentos, ele não teria sido tudo aquilo. Então não fode, aceite a coroa.

O sinal tocara dispersando o grupo de estudantes ao redor da fonte. Restando apenas os dois alfas, o loiro percebera que seu amigo não parecia ter percebido o sinal tocando.

— O que foi, Biel?

Gabriel respirou fundo acenando para alguém. Seguindo seu olhar Milles percebia que seu amigo estava mais interessado no ômega do que em si. Ficando atrás esperando seu amigo acordar para a vida, Milles acabara por observar Nicolas que o fuzilava como um morto.

Que estranho. Era comum o seu capitão parecer um zumbi após as partidas, mas suas olheiras pareciam maiores do habitual. O encarava com tamanha raiva que tudo o que Milles fizera fora sorrir ladino.

Ora essa, seria necessário mais que uma carinha enfezada para Milles desistir de sua mais nova ambição.

Abraçando o ombro de Gabriel, o puxara para dentro da escola independente de seus resmungos.

— Qual foi, Milles?

— Eu sei que tu quer ficar de grude com teu cara, mas não tô afim de ficar de vela.

Gabriel franzira a testa para o amigo, se afastando do alfa para caminhar direito ao seu lado.

— Sei... Vou passar o intervalo com o Theodore, então não precisa ficar de vela.

Recebendo um cutucão em sua costela, Gabriel se despedira do amigo e entrara em sua sala. Milles seguira o corredor para ir até a classe do terceiro ano, suspirando pesado antes de entrar. Precisava sorrir e acenar, naturalmente como sempre fazia.

Mesmo que durante as primeiras aulas sua mente divagasse recordando daquele baixinho o olhando completamente entregue com a boca úmida de saliva, Milles precisava manter a sua naturalidade. Vez ou outra um papel era jogado em sua mesa, seus amigos queriam brincar como sempre faziam, ou falar sobre alguma garota que tentaria a sorte com o alfa.

Só que isso não era mais interessante.

Para não parecer desanimado, usara as eliminatórias como desculpa. Sorte a sua que os garotos eram tapados e aceitaram sem discutir.

Dando por encerrado aquela discussão, Milles poderia voltar a relembrar aquele momento no vestiário. Seus dedos compridos tocavam sua boca sendo possível ainda sentir Nicolas retribuir ao seu beijo.

Um sorriso escapara de seus lábios. Aquele capitão era a pessoa mais interessante naquele momento.

Queria vê-lo novamente.

Se Gabriel fosse passar o intervalo com Theodore, isso significaria que Nicolas estaria sozinho? Geralmente ele não se dava bem com outras pessoas, sem desgrudar do seu melhor amigo. Nesse caso Gabriel estaria lhe fazendo um favor em dar uma brecha.

O sorriso só aumentara junto com a ansiedade em chegar o intervalo. Quanto mais esperava o tempo passar, maior era a sua lentidão. Milles balançava a perna impaciente debaixo da carteira, olhando de um lado para outro sem o menor interesse em prestar atenção na aula.

Tentara rabiscar seu caderno, mexer no celular, dormir, mas nada era capaz de fazer o maldito tempo passar. Uma verdadeira tortura quando se queria ver aquele baixinho miserável.

No instante em que o sinal tocara e os alunos deixaram a sala de aula, Milles dispensou os convites para lancharem em grupo. Jogara a desculpa de tirar um cochilo já que estava morto de cansaço da partida. Mais uma vez seus amigos aceitaram a desculpa esfarrapada do alfa sem questionar.

Esperando a sala de aula e o corredor ficarem vazios, o alfa caminhava com as mãos no bolso de sua calça social escura olhando em volta tentando não ser visto por conhecidos. Não queria ir para o pátio, e pela janela pudera ver Theodore conversar com Nicolas em um canto isolado.

Droga, onde estava Gabriel? Não havia dito que passaria o intervalo com Theodore?

Espionando pela janela, o alfa cruzava os braços bufando irritado que sua tentativa de abordar o seu capitão tivesse sido furada. Theodore erguia a mão encostando na testa de Nicolas, roubando a atenção de Milles. O ômega olhava para o seu amigo parecendo preocupado, deixando o alfa cada vez mais em alerta.

— O que está fazendo aí?

Milles olhara para Gabriel, cerrando as sobrancelhas prestes a xingar o seu amigo.

— Não tinha dito que ia passar o intervalo com Theodore?

— Ah... Vim procurar a enfermaria. — Milles erguera os ombros no mesmo instante. — Theodore disse que Nicolas não parecia bem, então me dispus a ver se tinha alguém na enfermaria...

— Nico!

A voz abafada de Theodore fora escutada pelos dois alfas que se viraram para a janela. O ômega loiro segurava o amigo de uma maneira estranha, o chamando e olhando em volta desesperado.

Imediatamente os dois alfas correram em busca da saída para alcançarem aqueles dois. Milles sentia seu coração se despedaçar na medida em que podia ver os olhos de Nicolas fechados e a tez pálida. Daquela maneira ele parecia tão frágil quanto um pedaço de papel que seria rasgado por qualquer toque.

Assim que os dois chegaram, Milles fora incapaz de dizer qualquer coisa. Só conseguia encarar o baixinho escondido em seu moletom suando frio. Um calafrio passara por seu corpo, transformando o mundo em sua volta lento demais pra compreender.

— O que aconteceu? — Questionava Gabriel indo ao lado do ômega o ajudar a segurar Nicolas.

Milles se aproximou tocando o rosto de Nicolas, sentindo a quentura em sua pele. Enrugando a testa também ajudara os dois a segurarem o baixinho, jogando o peso dele sobre seus braços.

— A gente tava conversando e de repente ele desmaiou. Temos que levá-lo até...

Theodore não terminara sua fala, pois Milles aproveitara a discussão entre os amantes para pegar Nicolas no colo e correr para dentro da escola.