Na manhã da terça-feira o outono viera com uma brisa gentil que balançava os cabelos loiros. O cheiro adocicado de um ômega era espalhado por todo lado, pois ele estava feliz não escondendo de ninguém. Mesmo com todos os olhares sobre si, Theodore adentrava na escola de ombros erguidos.
Fora para o seu lugar preferido, o gramado abaixo da tabebuia onde costumava ler livro ou escutar música enquanto esperava a chegada de Nicolas. Apesar que seu amigo havia ligado no dia anterior avisando que faltaria, já que sua febre não baixava.
Deveria visitá-lo depois da aula?
Abrindo a mochila para pegar seu livro, Theodore sentira o peso de olhares sobre si. Arqueara a sobrancelha olhando em volta, encolhendo os ombros em perceber todos no pátio o observar e cochichar.
O que era aquilo?
Seu rosto estaria sujo? Lisa tinha brincado com a geleia no café da manhã. Theodore até verificou sua camisa branca sem encontrar alguma mancha. Encostando-se no tronco da árvore, o rapaz suspirara incomodado com tanta atenção.
Fora difícil ficar ali por mais tempo.
Mesmo lendo o livro tentando se concentrar, quem passasse por si sempre o encarava e resmungava alguma coisa. Fechando o livro bruscamente, Theodore pegara sua bolsa e se levantou.
Os últimos dias foram um verdadeiro sonho. Nada o abalaria, pois tivera um excelente começo de semana.
Passando pelo corredor tentando fugir do frio daquela manhã, o ômega fora surpreendido quando pares de mãos puxaram o seu braço o obrigando a entrar em uma sala cheia. O rubor tomara conta de suas orelhas ao perceber ser o centro das atenções naquele cômodo, reconhecendo apenas alguns rostos ali presentes.
— Ahn...
— Alvo capturado com sucesso! — Dizia um rapaz alto batendo continência para Lilian, que se encontrava na frente dos estudantes.
— Bom trabalho, cadente! — Elogiava a garota, rindo em seguida. — Bom dia querubim.
— Bom dia, eu acho...
— Turma, esse é o nosso representante, Theodore. Codinome querubim. Querubim, essa é a turma que está representando no concurso.
Concordando com a cabeça, o rapaz erguera a mão acenando para as dezenas de cabeças que lhe cercavam. Nunca fora cercado por seus colegas de escola, principalmente quando lhe olhavam ansiosos o enchendo de perguntas que mal conseguiria discernir. Ficara perdido com as vozes e cheiros em sua volta, desistindo de tentar pedir calma.
— Galera! Calma, temos um assunto para definir antes.
Theodore movera os lábios agradecendo mudo para Lilian, que apenas concordara com a cabeça.
— Deve ter percebido que geral está te olhando, não é?
— Desde ontem, mas era a sua intenção não?
— Hoje é diferente. — Sorria Lilian ficando parada em frente à Theodore com os braços para trás. — Percebeu algo?
— Não... Deveria?
— Agora você está nos holofotes, então tem que estar atento. Imaginei que não teria visto já que anda beeem ocupado sonhando acordado.
— Isso é uma reclamação?
— Apontando fatos.
— Ok, continue. — Theodore se encostara em uma mesa, cruzando os braços.
— Desde domingo um tópico surgiu na comunidade da escola, lá no orkut.
— Não entrei esses dias, que tópico apareceu?
Os olhos claros de Lilian brilharam em perspicácia, trazendo um arrepio na espinha de Theodore. Quando a garota tinha aquele olhar, o loiro compreendia que era um plano ardiloso surgindo no horizonte.
— Uma história. Um romance, precisamente. — Lilian passara a andar de um lado para outro na frente de Theodore. — Um romance entre Theodore e Gabriel.
— O quê?! Acho que escutei errado... Espera...
— Uma conta anônima publicou um romance falando de você e Gabriel.
— Uma conta anônima? Isso é...
— Um plano nosso, é óbvio. Mas ninguém deverá saber disso. Estamos publicando esse romance pra saber como será a reação dos estudantes.
— Isso é perigoso! — Alertava Theodore, sentindo sua cabeça doer repentinamente. — E se os professores souberem disso? Eu e Gabriel podemos nos ferrar.
— Por que iriam? Os professores não tem o direito de se intrometer na sua vida pessoal. Se for assim, deveriam falar alguma coisa sobre aquela foto com Sadie.
Theodore engolira em seco nervoso.
A escola toda já sabia do seu segredo, nem deveria chamar dessa maneira. Uma história sendo publicada na internet poderia transformar os seus doces sonhos em um inferno mais uma vez. Tudo estaria voltando a acontecer, tal como um ano atrás.
Gabriel seria colocado em uma posição complicada, provavelmente os seus colegas tirariam sarro dele e se afastariam. Justamente o que tanto alertara Gabriel estaria prestes a acontecer e por culpa sua.
Lilian aproximara tocando o ombro de Theodore, o despertando dos próprios pensamentos.
— Que tal ler o que escrevemos?
— Tem certeza de que isso é algo bom? Digo, isso pode ferrar as coisas, Lilian.
— Estou almejando algo muito maior que o concurso. Nossa turma está disposta a correr o risco por você. Confie em mim.
Segurando a mão do garoto, Lilian o guiara entre os estudantes até o notebook ligado sobre uma carteira. Sentando-se, Theodore percebera o suposto tópico aberto no Orkut que continha a dita história.
Respirara fundo antes de começar a ler. Deveria saber o que estava sendo dito à seu respeito, não é mesmo? Mesmo com medo, o ômega começara a sua leitura, sem esboçar reações.
A história era bem escrita, mostrando a narração de uma garota que suspeitava sobre dois colegas da escola tendo uma relação secreta. A forma como a história fora narrada era suave e doce, mostrando a imaginação fantasiosa de uma garota adolescente.
Theodore ficara surpreso quando finalmente o seu nome surgira junto de Gabriel. Os momentos em que os dois estavam juntos durante os treinos, na sala de aula ou então no ginásio no último final de semana estavam todos narrados com detalhes.
Não chegava a bater com a realidade, os diálogos e algumas situações foram criadas para a aquela história. Ainda assim Theodore se encontrava encantado quando terminara de ler.
Virando-se para o aglomerado de estudantes, ele apontara para o notebook.
— Quem escreveu?
Os alunos entreolharam-se nervosos, receosos em dizer o responsável. Porém, Lilian dera uma cotovelada em uma garota tímida de cabelos castanhos, a empurrando para se destacar.
— Foi você? — Perguntara Theodore, vendo a garota concordar sem ter coragem alguma de encará-lo. — Você escreve bem. Deveria pensar nisso seriamente.
— Hm?
A surpresa não era apenas da tímida garota, mas de todos da sala. Theodore soltara um riso nasalado.
— Estou dizendo que curti sua história. Me colocou como alguém descolado, e nem sou assim.
— É claro que é! — Apressou-se dizer a tímida garota. — No começo fiquei em dúvida quando Lilian disse em escolhê-lo pra nos representar no concurso. Mas agora entendo ela... Você é legal.
— Valeu. Mas vocês tem certeza de continuar com essa história?
— Por que é tão contra, cara? — Questionava outro aluno, com as mãos no bolso.
Theodore se levantou cruzando os braços na frente dos outros. Eram um ano mais novo que ele, mas pareciam ter mais coragem. Theodore se considerava um covarde em desconfiar do plano daquela turma inteira.
— A galera do segundo e do terceiro já sabe sobre minha classe e orientação sexual. Apesar de eu detestar, estou acostumado com os cochichos à meu respeito, mas Gabriel não. Não seria natural eu tentar protegê-lo?
— E você pretende proteger ele até quando? — A pergunta do mesmo rapaz deixara Theodore sem palavras. — Se ele gosta de você irá enfrentar o mundo, não iria?
Nicolas não havia dito algo parecido? Theodore rira com tamanha coincidência. Deveria considerar algum tipo de sinal do universo? Preferia o fazer. Aceitaria humildade aquele sinal.
— Estão testando os sentimentos dele por minha causa?
— Será um concorrente à menos no concurso.
Theodore coçava a nuca ainda receoso com o plano daquela turma. Lilian estava de braços cruzados sorrindo enquanto o observava interagir com seus colegas. Percebendo o silêncio dela, o ômega sabia que ela seria perspicaz em planejar outra coisa caso continuasse a negar aquele plano.
Onde havia se metido?
— Darei cobertura pra vocês. Não deixem descobrirem a senhorita escritora.
Os estudantes sorriam satisfeitos abraçando uns aos outros. Lilian correra até Theodore o abraçando apertado.
— Não vai se arrepender, querubim. Tudo vai valer à pena.