— Até o soro terminar e a febre baixar ele deve ficar aqui em observação. Pedirei para ligarem à mãe dele, então por favor avisem ao professor que o aluno irá se ausentar.
— Mas você sabe o que ele tem? — Questionava um Milles preocupado, intercedendo o caminho da enfermeira escolar.
A mulher beta olhara sobre os ombros em direção de Theodore, que negara com a cabeça. Milles engolia em seco ao perceber aquela troca de olhares, cerrando os dedos em punhos pra controlar a súbita raiva em ser deixado para trás em alguma coisa.
— Não precisa se preocupar, conversarei apropriadamente com a mãe do estudante. Então, com licença.
A enfermeira deixara os estudantes sozinhos na enfermaria, em uma atmosfera tensa e silenciosa. Theodore olhara para o amigo soltando um suspiro cansado, recebendo um afago em seu ombro de Gabriel.
— Ele vai ficar bem, não há com o quê se preocupar.
Theodore virou a cabeça sorrindo para o ficante.
— Ele sempre fica bem.
— O que é que ele tem? — Finalmente questionava Milles, em pé em frente a cama onde Nicolas adormecia. — Ontem o capitão estava bem.
— Ontem? É claro que ele não estava bem. — Ria Theodore fuzilando o alfa loiro com frieza. Milles atentou-se ao deboche do ômega, cruzando os braços para ele — Por que ainda está aqui?
— É assim que agradece depois de receber ajuda?
— Muito obrigado por ter carregado Nico até aqui, mas pode voltar pra sua sala que eu ficarei aqui.
Milles revirou os olhos soltando um riso nasalado. Não acreditava que aquele ômega ousava ser tão direto consigo depois de ter recebido sua ajuda. Fitando seu colega de time, aguardou Gabriel dizer alguma coisa, mas ele se limitou a deixar as mãos no bolso encarando o capitão acamado.
— Theodore, você disse que colocou adesivos no capitão, isso seria...
— Ei!
Milles espreitava os olhos castanhos com a reação repentina de Theodore em impedir que o alfa terminasse sua fala. Adesivos? O que seria isso? Não conseguia pensar em alguma coisa que pudesse deixar Nicolas tão mal e febril.
— Desembucha! — Ordenava o alfa ainda de braços cruzados para o ômega. — Não arredo o pé daqui enquanto não saber.
— Se você souber, o que pretende fazer?
— Farei nada, apenas quero entender o que está acontecendo com ele.
Theodore suspirava balançando a cabeça. Estava tão sério que chegava a ser estranho sua reação naquele assunto. Geralmente era um ômega considerado dócil, fácil de conversar pelo que Gabriel dizia. Milles achava aquilo uma bela mentira, pois o ômega claramente sentia algum ódio de si.
Bem, não deveria agir como hipócrita em não saber o motivo.
Milles, então, fora ao outro lado da cama de frente à janela onde poderia sustentar o olhar de Theodore e mostrar o quão sério estava sendo naquele momento. Não sairia dali até descobrir a verdade.
— Direi a mesma coisa que disse ao Gabriel. O segredo não é meu pra contar. Se o capitão não te contou, é porque não confia em você.
— Não confia?
— Devo te lembrar das maravilhas que já disse para mim?
— Calma, Theodore. — Apaziguava Gabriel, segurando a mão do loiro. — Não fiquem discutindo perto de uma pessoa doente. Deixem o capitão descansar.
Milles sabia que Gabriel tinha razão, mas a sua raiva precisava ser ouvida. Ou melhor, ela queria ouvir todos os detalhes que pudessem esclarecer o motivo daquele capitão irritante estar doente daquela maneira.
Preferia Nicolas saudável, falando palavrão, acertando as bolas em sua direção, o xingando e sendo debochado consigo. Era assim que as coisas deveriam ser, não era?
Contudo, o capitão estava ali deitado de olhos fechados. Sua respiração era baixa e sua boca estava pálida. Tão vulnerável e indefeso que chegava a ser irritante. De maneira alguma Nicolas deveria aparecer assim para os outros.
Nenhuma outra pessoa deveria ver sua vulnerabilidade.
A tormenta de seus pensamentos faziam o cheiro do alfa ser exalado em grandes quantidades dentro da enfermaria. Gabriel imediatamente cobrira o nariz e a boca de Theodore, soltando um suspiro pesado encarando seu amigo.
— Ei, controle o seu cheiro. Tem um ômega aqui.
Milles não dera ouvidos à reclamação de Gabriel. Não seria fácil apaziguar tamanho descontentamento e fúria. Não quando, ao mesmo tempo, questionava o motivo de se sentir dessa maneira.
Perdido nos próprios pensamentos, o alfa mais alto sobressaltava quando sentira uma mão gélida segurar seu pulso firmemente. Os três híbridos aprumaram-se em torno da cama, observando o capitão abrir os olhos escuros em direção do loiro.
— Que merda é essa?
O alfa erguera um sorriso ladino em ouvir aquele palavreado. Isso, era isso o que queria ouvir. O seu mau humor rotineiro. Nada poderia ser diferente.
— Nico! — Theodore chamara abafado, ainda tendo a mão de Gabriel lhe cobrindo a face. — Como está se sentindo? Precisa de alguma coisa?
Nicolas girou os olhos pelo quarto atentando-se à todos presentes em sua volta. Então soltara um riso nasalado erguendo o braço, tendo visto o acesso do soro perfurado sua pele.
— Ah isso tá virando um circo dos horrores. Estou bem, só preciso dormir. Será que dá pra parar com esse cheiro?
— Sinto muito, mas não controlo o meu cheiro tão facilmente assim.
Nicolas revirara os olhos impacientemente.
— Milles, pelo bem de Theodore... Ele é um ômega.
— Estou com raiva justamente por causa desse ômega, então meu cheiro não para até eu ficar calmo.
Theodore cerrava os dedos controlando a sua raiva. Seria a sua vez de exalar um aroma, porém Gabriel o abraçara por trás deixando que seu cheiro envolvesse apenas o ômega para mantê-lo calmo. O alfa moreno lançara um olhar afiado para o amigo, uma mensagem clara para se controlar ali.
Milles realmente não tinha como controlar os seus instintos. Quanto mais aflorada forem suas emoções, mais sincronizados eram com seus instintos. E aquela discussão com Theodore não acalmava em nada, trazendo o efeito contrário. Seu cheiro se intensificava.
— Milles, por favor.
— Tem sorte de te respeitar por estar com o meu amigo. — Resmungava Milles, prestes a se esforçar em conter seu cheiro.
— Quer dizer que se eu não estivesse com Gabriel, iria pouco se importar comigo? Bem, não é novidade, tem feito isso por um longo tempo.
— Estou com dor de cabeça e sem paciência pra ouvir a discussão de vocês dois. — Rosnava Nicolas fitando o teto imóvel. — Grandalhão, pare com essa merda. Dá pra respeitar um ômega?
— Até tu?
— Estou falando de mim, seu imbecil.
Milles congelara no lugar, arregalando os olhos para aquele capitão que mirava as pérolas escurecidas em sua direção enquanto se sentava na cama. Até mesmo Gabriel parecia surpreso, apertando Theodore em seus braços.
— O que disse?
— Eu disse que sou um ômega.
— Está zoando comigo? Só pode... Precisa chegar à esse nível só pra proteger teu amigo?
— Isso não é um problema seu. Estou cansado demais pra discutir.
O alfa loiro então virou-se para o ômega loiro, ansiando que ele dissesse alguma coisa. Theodore, por outro lado, apenas levantou-se da cadeira em que estava sentado e segurou a mão de Gabriel.
— Estamos voltando pra sala de aula. Avisarei ao professor que você irá embora daqui a pouco.
Nicolas nada disse para o amigo, apenas piscara lentamente o assistindo deixar a enfermaria junto com o aluno novo. Ficando sozinhos na enfermaria, Milles se percebia ansioso.
Não havia sentido alguma coisa estranha com Nicolas desde o momento em que se beijaram na quadra? Ficara encucado com o possível segredo que aquele maldito estaria escondendo de si, que responderia a pergunta do porquê Nicolas mexer tanto consigo.
Agora a resposta parecia ter caído em seu colo de paraquedas.