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Chapter 60 - Brincadeiras perigosas

Um ômega.

Nicolas era um ômega.

— Não pode ser... Você não cheira a um.

— Que comece a parte chata da conversa.

— Está brincando com a minha cara, seu baixinho imprestável?

— Adoraria, é o meu passatempo preferido inclusive. Mas estou deplorável na sua frente, e eu não chegaria a esse ponto só pra te sacanear.

Certo, Nicolas tinha um ponto. Eles brigavam sim, sempre discutiam um com o outro. Não suportavam a presença do outro. Mas jamais Nicolas teria permitido Milles vê-lo vulnerável.

Jamais.

Era sempre forte.

Sempre em alerta.

— Então... Tu é um ômega? — Milles respirara fundo sentindo suas pernas tremerem subitamente. Precisou se encostar na parede para se apoiar e não cair pateticamente — Como eu nunca senti?

— Você sentiu. Não foi por isso que fez o seu showzinho ontem? Não adianta fazer essa cara de espanto, à mim você não engana.

— Te enganar?

— O que pretende fazer agora, bonitão? Espalhar pela escola toda que sou um ômega, fazendo as mesmas babaquices que faz com Theo?

Doíam as palavras que Nicolas lhe direcionava. E como doíam. Iguais a chuva de flechas direcionadas em seu coração, uma sobre a outra aprofundando os machucados. Um gosto amargo subia em sua boca, deixando claro para si que o caminho à sua frente seria complicado.

— Não pretendo fazer nada. — Admitira o rapaz, se sentando na beira da cama onde Nicolas se encontrava. Apoiando o braço entre as pernas do capitão, inclinou-se em sua direção. — Pretende continuar mantendo em segredo o fato de ser um ômega?

Nicolas engolira em seco sem fugir do alfa.

— Até onde eu conseguir.

— E o que pretende fazer caso alguém do time descubra?

Um sorriso malicioso surgira nos lábios de Nicolas.

— Há alguém nessa maldita escola que terá coragem de vir pra cima de mim, só por eu ser um ômega?

Milles rira baixo concordando com a cabeça. De fato, ninguém seria capaz de ir contra Nicolas, nem mesmo ele. Brigavam desde o momento em que se conheceram e até então jamais o vencera, da mesma forma que nunca fora vencido. Se alguém tentasse tornar a vida daquele baixinho um inferno, bem... Ele transformaria a escola no inferno e se colocaria como próprio diabo.

Porque esse era o Nicolas.

Alguém que jamais foge.

— Tá certo. Guardarei o seu segredo então, capitão. E Gabriel o fará também.

— Por quê?

— Porque ele gosta do Theodore.

— Não, estou perguntando o motivo de você aceitar guardar um segredo.

O rapaz respirara fundo aproximando seu rosto ao do capitão, e então esboçara seu sorriso malicioso que se alargava na medida em que assistia o rosto pálido do seu capitão ganhar cor novamente. Isso não seria um sinal de que ele não era o único a ficar mexido?

— Ainda temos uma disputa, Nicolas. Quem cairá de joelhos primeiro? Acho que hoje ganhei o primeiro ponto, já que o carreguei até aqui. Ah, mas espera... Ontem também ganhei pontos, já que te encobri durante a partida duas vezes... Estou na frente, capitão.

— Está querendo contar vantagem? Grandalhão, você caiu aos meus pés depois de sentir meu cheiro no vestiário.

— Não lembro de ter te visto fugir quando te beijei daquele jeito.

Nicolas soltara um riso incrédulo. Revirando os olhos ele, então, aproximou seu rosto perigosamente do de Milles. Ambos estando tão próximos, com o cheiro do alfa ainda no ar e um ômega sensível à sua mercê. Era um cenário preciso para declarar uma rodada vitoriosa para Milles.

No entanto, aquele capitão não estava preparado para perder.

— Já que é assim que quer brigar, então vou te ensinar uma lição, seu pedaço de bosta gigante.

Puxando Milles pela nuca, Nicolas beijara o alfa sem pudor algum. Um mover de lábios calmo e sensual, que brincava com a boca de Milles perigosamente. O alfa tinha todo seu corpo enrijecendo em um primeiro instante, e relaxando em seguida ansiando por mais.

A mão de Nicolas estava quente em sua nuca, agarrando em seus cabelos loiros o deixando sem saída. Ele ainda estava febril, lembrava-se Milles, porém o calor emanado de sua respiração e pele pareciam uma luxúria sem igual.

Por que, repentinamente, aquele baixinho parecia tão sedutor?

Sedento por seu beijo, Milles entreabrira os lábios retribuindo ao beijo e o intensificando. O músculo quente e úmido ia de encontro ao seu, travando outra batalha por espaço. O gosto de Nicolas explodia em sua boca, trazendo à tona um alfa ansioso pra tomar posse de seu ômega.

O barulho de suas bocas ecoava pelo quarto junto ao cheiro daqueles dois. Milles se inclinava cada vez mais naquela cama, contendo suas mãos que queriam apertar aquele corpo frágil e tomá-lo para si. Tudo graças às mãos quentes de Nicolas, que lhe apertavam contra si na medida em que o beijo ficava mais afoito.

Seu coração acelerava. O sangue pulsava em um só ponto. Alguma coisa ganhava vida em Milles, sedento e pulsante pra dominar aquele ômega. Mas a brincadeira acabou quando Nicolas desfizera o beijo, tendo as bocas ligadas à um fio de saliva.

No instante em que Milles abrira os olhos e contemplara aquela visão, fora difícil de controlar seus instintos. Nicolas respirava ofegante, com os lábios entreabertos vermelhos e molhados, seus olhos escuros miravam sobre si ainda se recuperando daquela onda de sensações.

As curtas unhas de Nicolas arranharam a nuca de Milles, fazendo o alfa prender a respiração em pura excitação.

O que era aquela atmosfera que se criava?

Momentos antes estavam discutindo como sempre faziam, e agora não conseguia pensar direito.

A boca de Nicolas fora de encontro ao pescoço do alfa, a ponta do seu nariz roçando seu lóbulo. Fora ali que o capitão passara a sugar a pele de Milles com vontade para deixar a marca roxeada tatuada.

Para Milles aquela fora a melhor sensação já sentida. Já havia sido beijado por tantas outras garotas, várias delas deixaram suas marcas para demarcar seus espaços e deixar claro que aquele alfa fora dominado. No entanto, Nicolas estava o provocando, o excitando com sua boca.

A respiração trêmula do alfa fizera o outro se afastar e abrir um sorriso largo e zombeteiro. Quando Milles abrira novamente os olhos para encará-lo, percebia que havia caído numa armadilha.

— Se quer brigar, jogarei sujo até que caia.

Iria retribuir. Não com palavras. Mas faria aquele maldito lidar com a ereção que ganhava vida entre suas pernas. Se Nicolas queria usar a boca para provocá-lo, deveria ensiná-lo a usá-la no lugar correto então.

E talvez até tivesse coragem de dominar Nicolas ali mesmo, porém a chegada da enfermeira no cômodo o obrigou a conter seus instintos e desejos. Enquanto ela reclamava do cheiro dando bronca, imaginando que os dois estariam brigando, Milles fora obrigado a se retirar da enfermaria antes que fizesse um grande estrago.

Milles não retornara para a sala de aula. Pelo contrário, fora para o vestiário tomar uma ducha fria e se masturbar fantasiando aquela maldita boca o chupando.

Dessa vez a vitória fora do seu capitão.

「 • • • 」

— Isso quer dizer que vocês estão juntos?

Theodore olhava para a garota baixinha, abrindo um sorriso leve ao concordar com a cabeça. Lilian soltara um gritinho dando alguns pulinhos em pura felicidade, fazendo seu mais novo amigo rir.

— Só estamos ficando.

— Mas você está feliz! Isso que importa. Uaaau, meu plano foi muito bom.

— Por favor, sem planos. Esse final de semana foi uma bagunça por causa disso.

— Mas convenhamos, ele não resistiu a esse Theodore 2.0. Olha só como está bonito...

Theodore coçava a nuca escondendo a pequena ponta de vergonha. Fora muito estranho que naquele dia, no instante que pisara na escola, os olhares foram para si. Olhares de surpresa. Theodore havia seguido as recomendações de Lilian em evitar usar moletom, e de dobrar a manga da camisa social até o cotovelo, além de deixar os dois primeiros botões da camisa abertos.

Dicas simples, de certa forma. Theodore ficara se questionando que diferença fariam aqueles detalhes são supérfluos.

Agora compreendia.

Os olhares iam para si. Estava acostumado em ouvir cochichos por onde passasse, agora encontrando silêncio. Até mesmo seus colegas de classe ficaram abismados em vê-lo diferente.

Mas a reação que mais fazia seu coração acelerar era de Gabriel. Seu colega de classe, e agora ficante, não parara de olhá-lo durante a aula. Até pensou que algum bilhete seria jogado em sua mesa, mas não viera. Gabriel o admirou em silêncio.

Certamente o evento do intervalo quebrara a atmosfera de doces sonhos de Theodore, mas era grato por ter feito Gabriel ficar perto de si. O alfa não saíra do seu lado enquanto estivesse na sala de aula.

Principalmente quando algumas meninas betas pararam em sua carteira, antes do sinal da saída, com seus rostos ruborizados e sorrisos bobos no rosto.

— Estamos votando em você, Theodore! Nossa torcida é sua.

— Oi?

— Você consegue!

— Ah, parece que terei de me esforçar mais um pouco. — Surgia Gabriel em meio à conversa com as meninas. — Sua atenção poderá ser roubada.

Theodore havia compreendido as palavras escondidas ditas por Gabriel. E por isso não abafara o riso fazendo as garotas suspirarem ainda mais encantadas pelo seu mais novo charme. Gabriel, por outro lado, segurou a mão do loiro sorrindo gentilmente pras meninas.

— Se me dão licença, o sequestrarei pra irmos ao treino. Não é... Assistente?

E assim Theodore fora sequestrado pelo seu paquera. Perceber a sombra do ciúme era algo que o ômega sempre temia em ver, mas que naquele dia saboreou como um doce.

Os dois rapazes tiveram de separar quando Theodore avisara ir na enfermaria saber de seu amigo. Já Gabriel iria pegar sua bolsa com uniforme de educação física que deixara na sala por engano.

No instante em que se separaram e Theodore passara a esperar por seu novo ficante, Lilian surgira sendo colocada à par das novidades. Parados no pátio onde os estudantes seguiam seus caminhos para casa, os dois amigos conversavam alegremente.

— Mas você parece saber bastante dessa coisa de... Moda? Não sei se devo chamar assim.

— Pretendo cursar moda um dia. De qualquer forma, aproveite minhas dicas enquanto estou disponível e anônima, porque quando eu ficar famosa me tornarei inalcançável.

— Oh, farei bom proveito sendo seu bonequinho de modelo.

— Gosto dessas palavras, querubim. Não há querubim mais bonito que tu.

— Esse anjo querubim já está ocupado. — Sussurrava uma voz doce e ameaçadora atrás de Lilian.

A garota dera um pulo se escondendo atrás de Theodore, que mantinha sua pose relaxada com as mãos no bolso mesmo com a chegada surdina de Gabriel.

— Te deixei sozinho por um instante e já ficam em sua volta desse jeito?

Theodore rira olhando para Lilian atrás de si, que lançava olhares ferozes para Gabriel. Era divertido ver aquilo. Tornando a observar Gabriel, arqueava a sobrancelha.

— Terminou o que tinha para fazer? — Gabriel erguera a bolsa esportiva em resposta. — Podemos ir então.

— Ei! Está levando meu querubim pra longe de mim? — Provocava Lilian com um bico manhoso nos lábios

— Eu te disse, ele já está ocupado.

Gabriel passara o braço em torno dos ombros de Theodore o guiando pelo pátio em direção do ginásio. Assistindo aqueles dois garotos ao longe, Lilian suavizara sua expressão relaxando os ombros.

— Faça o meu querubim feliz. — Respirando fundo, a garota girara sobre os calcanhares docemente, seguindo seu caminho para fora da escola em pequenos saltos. — Vamos para a segunda parte do plano, lalala.

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