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Chapter 57 - Decisões pós partida

Que domingo intenso!

Quando acordara naquele dia, Gabriel esperava ficar nervoso por conta das partidas oficiais que disputaria pela primeira vez. No entanto, o universo parece ter conspirado para que o jogo fosse o menor de seus problemas.

Admitia que estava gostando de Theodore, principalmente depois do encontro secreto após a primeira partida.

Odiava ter Nicolas sempre tocando o ômega loiro, criando uma defesa para repudiar sua aproximação. Justamente ele que se encontrava necessitado de sentir aquela sensação mais uma vez.

A forma como abordara o loiro fora completamente desesperadora, porém eficaz. Enfim tivera a resposta de Theodore sobre o que achava dele, se o desejava. Seu coração quase pulara fora do peito tamanha a sua felicidade.

E o cheiro de Theodore? Pelos céus, que viciante!

Depois de sair do vestiário, Gabriel tinha certeza de uma coisa apenas. Deveria ver Theodore. Queria saber o que seriam daqueles dois após aquele conturbado domingo. Iriam ficar juntos? O que esperavam um do outro? Seria a primeira vez que o alfa pensava seriamente em alguém, e isso o deixava ansioso em demasia.

Correndo pelos corredores alcançando a saída, seus olhos buscavam a cabeleira loira a encontrando sozinho perto de algumas árvores. Um sorriso brotara nos lábios de Gabriel, que correra em direção de Theodore, ansiando por vê-lo.

Quando sua presença fora sentida, o ômega virou a cabeça em sua direção com surpresa.

— Gabriel, por que estava correndo?

— Já está indo embora?

Theodore arqueava a sobrancelha ajeitando a bolsa sobre os ombros.

— Minha mãe vai demorar um pouco ainda, e estou esperando Nico... Por quê?

— Podemos conversar?

— Claro.

Gabriel segurou a mão de Theodore e o puxara para o jardim do ginásio. As árvores folhosas e os arbustos arranjados para criar uma paisagem bonita para turistas servira como um excelente esconderijo para aqueles dois garotos.

Theodore parecera receoso em estar longe dos olhos curiosos, por isso Gabriel esboçara um sorriso terno para lhe acalmar. Não faria nenhum mal à ele, apenas queria privacidade para um assunto que dizia à respeito somente a eles.

Ninguém mais teria o direito de escutar.

— Eu queria entender o que aconteceu na segunda partida. — Theodore franzira a testa em confusão, tendo Gabriel respirar fundo para ser mais preciso — Quando olhei pro banco me deu a impressão de que você estava... Com o Nicolas...

Imediatamente as bochechas de Theodore ficaram vermelhas, seus olhos esbugalharam em vergonha.

— Mas é claro que não! Por que raios eu faria aquilo no meio de todo mundo?

— E-Eu não sei, por isso fiquei surpreso. Deu a impressão.

— Nico estava te provocando porque eu contei que a gente ficou. Eu te disse mais cedo.

Gabriel calou-se limitando a concordar com a cabeça. Não tinha como contra argumentar, de fato os dois amigos tinham sido claro que era apenas uma provocação. Só que o calção de seu capitão estava todo bagunçado, e ele fizera questão de fazer parecer que algo havia ocorrido.

Só de lembrar Gabriel sentia a raiva crescer.

— Mas estava acontecendo alguma coisa ali, não estava?

Theodore fizera uma careta soltando a mão de Gabriel para deixá-las no bolso da própria calça. O súbito rompimento daquele toque deixara o alfa com a sensação de vazio.

— É, até que tava rolando. Talvez Nico estivesse provocando Milles também? Não me olhe desse jeito!

— Estou tentando entender o que está dizendo, Theodore. Digo, você realmente estava com a mão... Lá?

— Quase lá.

A descrença de Gabriel ficara nítida em sua fisionomia. Como assim quase lá? Teria perdido alguma informação que o fizesse interpretar erroneamente? Só poderia!

— Theodore, você tocou o Nicolas no meio de um ginásio e na minha frente? E ainda diz que foi apenas uma provocação?

— Que tipo de pensamento você está tendo? Eu já disse que não fiz aquilo, eu apenas coloquei o maldito adesivo debaixo do calção dele!

— Adesivo?

Gabriel espreitava os olhos percebendo que Theodore se arrependera de dizer aquela palavra. O ômega comprimia os lábios e fechava os olhos afastando-se do alfa, lhe dando as costas como se precisasse respirar fundo antes de encará-lo. Gabriel dera a volta para ficar de frente ao ômega, segurando suas mãos novamente.

— O que estava acontecendo? Não quero me sentir enciumado desse jeito de novo.

Theodore descera os olhos para suas mãos junto a de Gabriel. O alfa não o segurava com força, era cauteloso para deixá-lo confortável. A última coisa que desejava era Theodore escapar de si por causa de mau entendido.

Ele parecera ponderar em silêncio, então suspirara alto.

— Olha, isso é algo que diz respeito ao meu melhor amigo e eu não irei contar à ninguém sem a sua permissão. Se você acredita ou não no que eu digo, irá depender do quanto confia em mim.

Estaria forçando a barra naquele assunto então? Theodore estava sendo leal ao seu amigo, e isso era admirável. Confiava naquele ômega, e esse seria o momento ideal para mostrá-lo.

Meneando a cabeça, Gabriel aproximou-se de Theodore segurando sua mão de maneira que seus dedos pudessem ficar entrelaçados. Erguendo os olhos para encará-lo, o alfa pudera contemplar aquele ômega tentando se manter sério mesmo que suas orelhas ficassem vermelhas.

Que adorável.

— Tudo bem, eu entendo.

— Era isso que precisava saber?

Mordendo o lábio, Gabriel negara com a cabeça. Como deveria abordar aquele assunto? Até mesmo em seus pensamentos tudo parecia desorganizado.

Theodore não havia se afastado, e reagia aos seus toques. Mesmo que segurasse sua mão, sentia a mesma ficar gelada em sinal de nervosismo, tampouco ousara desfazer o toque. Mantinha a distância entre eles e o olhava corajosamente.

Ele havia dito que Milles estava certo sobre uma coisa. Que Theodore estava gostando de Gabriel. Apesar de ter confirmado aquilo quando seus desejos estavam prestes a explodir necessitando o toque de Theodore, ainda era uma afirmação.

Deveria reafirmar então?

Não... Se ele negasse por sentir vergonha, Gabriel ficaria decepcionado. Ele fugiria de si, e o alfa não poderia permitir tal coisa.

— Sendo muito sincero, essa é a primeira vez que sinto algo assim. — Admitia o alfa quando tomara coragem para enfrentar aquelas pérolas azuladas que pareciam analisar sua alma. — Ainda mais por outro cara. É muito intenso e difícil de controlar, eu realmente não estou conseguindo resistir a nós dois.

— O que você espera de mim? Seja sincero Gabriel. Gosta de mim? Seria por isso que fica irritado quando estou com Nicolas?

Engolindo em seco, Gabriel se obrigava a organizar seus sentimentos. Sim, ele preferia Theodore consigo do que com Nicolas. Não gostava quando o ômega era tocado por outra pessoa, e até mesmo a garota de mais cedo lhe irritava.

Porque simplesmente parecia que Theodore vivia feliz em um mundo onde Gabriel não estava presente.

Seu peito apertava só de admitir aquilo.

Isso seria gostar de alguém?

Milles disse que estava claro que era esse o caso.

Comparando com qualquer outro tipo de relacionamento que já tivera, Gabriel tinha de ser sincero que ninguém lhe deixava daquela maneira? Enciumado, possessivo, desejando alguém ardentemente. Veja só naquele mesmo momento, precisava segurar as mãos de Theodore, se não se sentiria vazio.

Segurar as mãos!

Algo tão simplório que parecia pesar toneladas.

Até mesmo no almoço ficara preocupado que o ômega compreendesse errado aquele cenário com Sadie. E de fato ele pareceu chateado. Por que iria se preocupar que Theodore ficasse chateado se não gostasse dele?

Era óbvia a resposta. Só não havia tido coragem para admitir.

— É... Estou gostando de você Theodore. — Os dedos de Theodore apertavam os de Gabriel, também prendera a respiração sem piscar para o alfa sustentando seus olhos. O moreno, então, dera um passo estando mais perto do loiro. — Eu quero ficar com você, mais e mais.

— Se ficar comigo, a escola irá te tratar de uma maneira diferente. Como fazem comigo.

— Não me importo.

— Seus amigos poderão se afastar por te considerar nojento.

— Saberei quem são os verdadeiros amigos aqueles que ficarem ao meu lado.

Theodore respirara fundo finalmente, fugindo o olhar ao virar a cabeça. Gabriel o olhava atentamente se sentindo cada vez mais nervoso. Observava os detalhes daqueles brincos e dos cabelos loiros que formavam cachos perto de sua orelha.

Mais uma vez prestava atenção em Theodore por inteiro, e só conseguia pensar que o ômega estava muito bonito daquele jeito. Descolado e atraente. Poderia se passar por alfa facilmente e atrairia a atenção de todos. Ainda mais com aqueles olhos azuis.

Queria beijar seu lóbulo. Poderia descer seus lábios por sua mandíbula demarcada, chegando até o pescoço onde queria morder. Ali onde poderia sentir o seu cheiro.

— Tudo bem. Então... Não vai ser mais uma mera curiosidade sua, não é?

— Não. Eu realmente quero ficar contigo. Você quer?

Theodore abrira seu largo sorriso mostrando as presas pontiagudas. Ah, como adorava aquele sorriso. Se perderia nele por horas.

— Eu quero.

O próprio Gabriel não escondera sua felicidade e alívio em ter uma resposta. Se Theodore continuasse a manter a distância entre eles, seria sufocante. Teria de encontrar outra maneira de lidar com a situação. No entanto agora não seria mais necessário.

Eles ficariam.

E para celebrar aquele começo tão desejado, Gabriel soltara uma mão de Theodore para tocar-lhe as bochechas quentes e beijá-lo ternamente. Diferente de antes onde estava carregado de desejo e pensamentos eufóricos, o alfa se continha.

Pois beijar aquele ômega era o suficiente.

Sentir seu gosto e sentir seu toque, era o suficiente.

Quando se afastaram, os dois rapazes sorriam envergonhados sem saberem muito o que fazer em seguida. Tendo o momento entre eles ofuscado pela ligação da mãe de Theodore avisando terem chegado, o casal teve de sair do pequeno esconderijo para irem até o estacionamento.

Sem darem as mãos em meio a tanta gente, Gabriel tinha de se contentar em estar do lado do ômega loiro. Parecendo inquieto olhando para todos os lados, Theodore resmungava ajeitando a bolsa no ombro.

— O que foi? Está procurando sua mãe?

— Não, Nico está demorando.

— Ele vai embora com você?

— Vai dormir lá em casa. — Respondera naturalmente, olhando imediatamente para o alfa apontando o dedo — Não pense besteiras!

Erguendo as mãos em rendição, Gabriel sorria ladino.

— Nem ousei. Pediu que eu confiasse em ti, e é o que pretendo fazer.

Mais uma vez aquele largo sorriso fora direcionado para si, obrigando seu coração a se virar para sobreviver. Theodore tinha noção de que aquele sorriso era uma arma letal? Deveria avisar pelo seu bem, não é?

Os dois conversariam mais um pouco quando um baixinho escondido no capuz do seu moletom passara por eles tempestuosamente.

— Vamos embora, Theo.

Puxando o ômega pelo pulso e indo em direção do carro estacionado atrás do ônibus da escola, Gabriel assistia os dois amigos entrarem apressadamente.

O que teria dado naquele baixinho marrento, pra sair tão eufórico? Gabriel estranhara.

— Veja só como ele parece um rato escapando da armadilha.

Virando a cabeça sobre o ombro, percebia Milles com um largo sorriso se aproximando de si. Teria saído do ginásio agora? Sendo que ele fora o primeiro a se banhar?

— Tá sabendo de alguma coisa? — Questionava Gabriel, recebendo o olhar repleto de significados escondidos. Cruzando os braços o alfa virou-se de frente pro amigo — O que aprontou dessa vez?

— Eu disse que o capitão não me escapava. — Milles dera alguns tapinhas no ombro do amigo e seguira em direção contrária a do ônibus — To indo embora com meu velho. Te vejo amanhã na escola.

Mesmo depois de Gabriel subir no ônibus para voltar à escola e ir para casa, o alfa imaginava que aquela semana seria diferente.