Enquanto o time usava os vestiários para se banharem e se prepararem para retornar ao ônibus, Nicolas fora o único que permanecera no lado de fora esperando. Os adesivos já não faziam mais efeito.
— É melhor voltar comigo, se não poderá dar problemas no ônibus.
— Tem razão. Pode avisar ao técnico por mim?
— Que desculpa devo dar?
— A de sempre, que o cansaço me deixou mau humorado e quero dormir.
Theodore rira do amigo lhe dando um afago nos ombros.
— Vou ligar pra minha mãe e te encontro lá na frente.
Assentindo para o seu melhor amigo, Nicolas acenara para ele. Pouco tempo depois da saída do ômega, Gabriel saíra do vestiário com seu moletom escuro e a bolsa esportiva.
Os dois se entreolhavam sem dizer uma palavra, gerando uma tensão entre eles. O dia tinha sido corrido e cheio de emoções para aqueles quatro híbridos, e Nicolas já estava com preguiça de tocar no assunto.
— Eu queria pedir desculpas. — Começara Gabriel, surpreendendo o seu capitão que o olhara com seus olhos cansados — Pelo o que disse antes. Eu sei que é preocupado com Theodore pelo o que aconteceu ano passado.
— Ele te contou? Sobre Jake?
Nicolas espreitara os olhos ao ver a careta de Gabriel quando o nome do outro alfa fora mencionado.
— Não muitos detalhes, mas sei por cima. É compreensível que seja arisco, mas não consigo controlar.
Precisaria tocar naquele assunto novamente? Já estava ficando repetitivo. Mesmo tendo avisado Theodore dos problemas que poderia ter só por gostar de Gabriel, ele continuou sendo fiel ao que sentia e até ficou com o alfa. Não adiantaria dizer mais nada quando seu melhor amigo parecia decidido sobre o caminho que queria seguir.
Só deveria estar do seu lado.
— Não vou impedir Theodore de ficar com você. Mas se eu souber que o fez chorar, farei questão de fazê-lo cuspir sangue na frente do mundo.
— É justo. — Sorria Gabriel — Não tenho nenhuma intenção de zombar de Theodore. Não sou esse tipo de pessoa.
— Seus amigos são, e são eles que me preocupam. Farei a mesma pergunta que fiz à Theodore... — Nicolas se desencostou da parede olhando diretamente para o alfa. — Se alguém descobrir sobre vocês o que pretendem fazer?
— Eu ainda estou tentando entender o que estou sentindo...
Queria xingá-lo e ser debochado, fazer aquele garoto ficar longe de Theodore. Como poderia ele ter beijado seu amigo sem ter ideia do que sentia? Era algum tipo de brincadeira?
Mas havia combinado consigo mesmo que não iria impedi-los mais. Mesmo que isso o irritasse.
— Que seja. Theodore foi lá pra frente, avise ele que logo chego.
Virando as costas para Gabriel, o capitão entrara no vestiário quando ninguém mais saiu de lá. Imaginara que todos os jogadores já teriam ido para o ônibus, e o silêncio no local corroborava.
Escolhendo um armário para guardar seus pertences em última hora, Nicolas se despira retirando os adesivos e enrolando a toalha em sua cintura. Fora para uma ducha livre e trancara a porta conseguindo se banhar calmamente.
Com a água quente batendo em seu corpo, todos os músculos relaxaram e então começaram a doer. O cheiro de Milles no último set o esforçara além de suas capacidades, não sendo estranho seu corpo reclamar daquela maneira. Ainda assim era incomodo sentir dores.
Enrolara-se no banho dando tempo para seu amigo aproveitar o seu ficante. De qualquer forma a água quente era o melhor lugar para um corpo dolorido como seu, e Nicolas queria aproveitar bem. Mas depois de longos minutos, precisou sair do box enrolado na toalha.
Quando vestira a boxer e a calça de moletom, Nicolas fora surpreendido por uma voz vinda atrás de si.
— Que marcas são essas, capitão?
Virando-se bruscamente contra os armários, puxando a blusa para cobrir seu corpo desnudo, Nicolas fitava Milles encostado de braços cruzados com um sorriso ladino.
— Que porra é essa, Milles? Quer me matar do coração?
— Não sentiu minha presença? Normalmente você é bem arisco.
Franzindo a testa, Nicolas se repreendia em mente por não ter notado sua presença. Teriam os adesivos afetado até seus sentidos?
O capitão se desencostou do armário prestando atenção em sua camisa a vestindo.
— Deveria estar junto com os outros para ir no ônibus, o que faz aqui me seguindo?
— Eu estava indo, mas senti um cheiro bom que tive de seguir.
Mais uma vez o corpo de Nicolas enrijecera. Cheiro? Bom? Para um alfa sentir um cheiro bom seria de um ômega, certo? Isso significa que seu cheiro estava escapando?
— Suas cocotinhas estão lá fora, não aqui dentro.
— Não são delas. — Milles desencostara da parede aproximando do capitão farejando o ar — Está vindo de você.
Nicolas engolira em seco sem coragem de olhar o alfa. Propositalmente Milles exalava seu típico aroma para sobrejulgar um ômega. Os instintos outrora calados ressurgiam berrando desesperados na mente de Nicolas, desejando puxar aquele alfa.
Queria ir contra seus desejos insanos. Bastasse pegar suas coisas e sair daquele maldito lugar. No entanto estava cansado demais, não tinha forças para mais nada. Queria apenas dormir por horas à fio. Seu corpo doía.
A mão fina e comprida fora até a camisa do alfa, fechando os dedos ali. No instante em que sentira o tecido grosso, Nicolas se dava conta de que sua fraqueza estava dando abertura para seus instintos. E Milles sorria como um verdadeiro vencedor daquele pequeno embate. Antes que fosse descoberto, empurrara Milles o obrigando a dar alguns passos para trás.
— Vaza, não to com paciência pra suas brincadeiras.
Seu pulso fora segurado por Milles, que o prendera contra os armários segurando firme seu corpo. Nicolas erguera os olhos escuros para o rosto do alfa que estava tão perto de si, farejando o ar.
Droga, não queria ser descoberto daquela forma, muito menos por aquela pessoa.
— Você se sentiu bem naquela hora, não é? — Sussurrava um alfa com suas pupilas dilatadas na medida em que sentia mais daquele aroma vindo de Nicolas. — Seu corpo reagiu bem ao meu cheiro, não é capitão?
— Não viaja, Milles.
— Eu consigo sentir na ponta dos meus dedos o seu sangue pulsando forte nesse momento.
A ponta do nariz de Milles fora de encontro à curva do pescoço de Nicolas, onde aspirou profundamente o aroma. Aquele cheiro doce vinha dele, não tinha erro. Nicolas fechava os olhos em desespero pra manter seus instintos no lugar.
Não cederia.
Não era ele.
Milles não era sua alma gêmea.
De maneira alguma seria ele!
"Seu ômega".
Calado!
"É o ômega desse alfa".
— Gosto desse cheiro, por acaso está me desejando capitão?
— Cala a boca.
— Está dizendo isso com essa cara? — Ria Milles segurando a cintura de Nicolas encostando seus corpos por completo. — Se não está me desejando, então abra os olhos e me diga na cara.
Fora difícil de abrir os olhos quando se sabe que os instintos estão querendo aquele alfa. Mas Nicolas não queria ser visto como fraco, e muito menos ser descoberto. Seu orgulho o fizera abrir os olhos e encarar as pupilas dilatas do alfa.
— Bom garoto.
A risada maliciosa de Milles irritara Nicolas, tentando o empurrar para afastar o alfa. A distância não mudara, e muito menos a força fora reduzida. Nem o desejo de um ômega e de um alfa.
— Eu não sinto nada por você, Milles.
Apesar das palavras espinhosas de Nicolas, o alfa não se abalara. O cheiro do ômega se intensificara quando os dedos de Milles se afundaram em sua carne o puxando fortemente, tendo seus lábios roçados um no outro.
Naquele mísero e infame contato, ambos perderam suas consciências. Apenas instintos de um alfa e de um ômega controlavam seus corpos. Se restava algum pudor neles, fora belamente ignorado quando Milles beijara a boca de Nicolas com sede. Seus lábios ansiavam desesperadamente os do seu capitão, movendo-se agressivamente.
Principalmente quando Nicolas retribuíra ao beijo.
Milles passeara a ponta da língua por entre os lábios de Nicolas, e a abertura dada fora o suficiente para aprofundar o ósculo. A boca do seu capitão era quente e úmida, um tanto quanto pequenina, mas deliciosa. Na medida em que suas línguas travavam uma árdua batalha, arrepios passavam pela espinha de Milles.
O ômega mau sabia como reagir ao imenso mar de sensações que seu corpo experimentava. Aquele alfa parecia mais experiente fazendo questão de lhe guiar naquela brincadeira maldosa. As mãos se agarravam à camisa branca do alfa, sem saber se o afastaria ou se puxava para mais perto.
Sentira as mãos quentes de Milles tocarem a suas costas por debaixo da camisa recém vestida. Seu corpo estava quente e com os dígitos do alfa parecia pegar fogo.
Nicolas estava perdido naquelas sensações tão gostosas, mesmo quando Milles desfizera do beijo afastando-se para olhá-lo com um sorriso largo no rosto.
Uma das mãos deixara o corpo quente do ômega para tocar-lhe a face. O polegar deslizara sobre o lábio inferior úmido e inchado, limpando a saliva.
— Se fizer essa carinha, capitão, não conseguirei me conter.
Mesmo sem forças para retrucar, Nicolas chegara a uma conclusão.
Milles era um demônio.