— Mantenham o maldito foco!
A bola fora sacada para o outro lado e outro rally começara. Os rapazes na rede erguiam os braços criando o bloqueio tentando ler os movimentos do adversário. Milles esticara o braço para o lado impedindo que a sua abertura fosse usada pelo atacante. O bloqueio fora bem sucedido e assim o segundo ponto fora garantido.
O segundo set trouxera sorte para o time de Nicolas, que conseguira garantir um placar avantajado sem dar brechas ao adversário. E assim como haviam imaginado no primeiro set, eles começaram a jogar com mais garra por Nicolas estar em quadra.
Nicolas suava com seus cabelos grudados no rosto, completamente focado nas jogadas. Quando finalmente o rodízio o colocara na rede, usara e abusara de seu ataque rápido tendo de trabalhar junto com Gabriel. O ponto positivo era que o alfa moreno deixara sua briga para fora da quadra, cooperando com seu capitão pacientemente.
Usando tanta energia em quadra para pular além de sua altura, Nicolas já estava ofegando cansado na metade da partida. Enxugava o suor com o dorso da mão, sentindo sua pele ser pinicada pelos adesivos que injetavam os feromônios em seu corpo. Estaria esgotado antes do tempo por causa dos adesivo?
Os jogadores faziam a sua melhor performance para manter a vitória do segundo set. No entanto, apenas Milles percebia à tempo quando os adversários miravam em Nicolas. Seus ataques rápidos começaram a ficar mais lentos na medida em que o set chegava ao seu final.
Sem que o capitão notasse, Milles o acobertava lançando olhares para os demais jogadores os instruindo em campo. Todo o time funcionou como uma engrenagem que protegia seu capitão e o impediam de correr pela quadra com seus ataques rápidos. Os poucos segundos que tinha de descanso era o suficiente para Nicolas respirar fundo e garantir a energia necessária para marcar pontos.
Já o time adversário não conseguia ler os jogadores como fizeram no primeiro set.
Faltava apenas um ponto para encerrar.
Fora Thunder quem fizera o ponto da vitória, celebrando junto dos demais com o apito do árbitro. Nicolas fora o único a ficar de fora apoiando-se nos próprios joelhos. Seu corpo estava lento pedindo por descanso, e tudo o que poderia fazer era direcionar um olhar para o seu melhor amigo.
A troca de olhares entre eles fora significativa, Theodore fora a seu encontro o arrastar até os bancos o forçando a se sentar. Deu-lhe a toalha e a água, aproveitando para massagear suas panturrilhas.
— O que está acontecendo? Por que ficou mais lento?
— Os adesivos, deve ser efeito. — Ofegava Nicolas depois de beber um grande gole da água. — Não vai ser nada bom se eles perceberem isso.
— Não perceberam, Milles te encobriu.
— O quê?
Theodore mirou as pérolas azuladas ao amigo e sorriu para si. Um sorriso que obrigara o capitão a lembrar de sua conversa no almoço, o fazendo franzir o nariz em uma careta. A última coisa que gostaria de lembrar era de ter admitido aquilo.
— De qualquer forma, se os adesivos estão fazendo efeito agora, então irá prejudicar seu jogo. Isso nunca aconteceu antes.
Claro que nunca havia acontecido antes, porque seu corpo já não era o mesmo desde o momento em que beijara Milles. Agora nem mesmo os adesivos seriam capazes de conter seus instintos de ômega. Se ele estava cansado daquele jeito, logo seu cheiro escaparia e sua consciência estaria perdida.
— Culpa daquele maldito! — Resmungava Nicolas jogando a garrafa no chão, bagunçando seus cabelos irritado.
Gabriel se sentou ao lado de Nicolas ofegando de cansaço. Percebendo que o capitão não parecia feliz como os demais colegas de time, lançara um olhar inquisidor para Theodore, que por sua vez apenas negara com a cabeça. Não seria o momento ideal para discutirem qualquer assunto que não fosse a partida.
— Tá sentindo as pernas dormentes ainda?
— Eu to bem.
— Sabe que o técnico pode te substituir.
— É o terceiro set que irá decidir quem vai vai para a próxima rodada. Se perdermos seremos desclassificados.
— Olha, eu posso não ser de sua confiança, da mesma forma que eu detesto quando está perto do Theodore — Confessava Gabriel baixinho, encarando seu capitão sem tremer com seus olhos cansados e furiosos — Mas dentro da quadra você tem o meu apoio.
— Tá querendo me motivar é?
— Você é o capitão. Se quiser me dar uma lição de moral sobre alguma coisa, terá de vencer essa partida contando com cada jogador do seu time.
Gabriel deixara alguns tapinhas no ombro de Nicolas e se levantara indo até os seus colegas, não deixando de passar por Theodore afagando-lhe os cabelos loiros. Percebendo que seu amigo ficara completamente avermelhado, e o sorriso bobo nascia em seu rosto, Nicolas soltara um riso.
— Veja só como fica todo feliz por causa de um bosta como ele.
— Olha a boca Nico. — Ria Theodore continuando com a massagem na panturrilha do amigo. — Agora sabe que ele é uma boa pessoa.
Para o último set decisivo, Nicolas retornara à quadra respirando fundo. Fechava os olhos por um instante sentindo cada músculo de seu corpo. Nenhum doía, estavam em bom estado. Conseguia mover suas pernas e braços, mas sua cabeça parecia pesada demais.
Havia o desejo de deitar e dormir por longas horas. Seus olhos pesavam toneladas querendo permanecer fechados. O peso de sua cabeça era tanto que ela tombava para trás, se escorando em alguma coisa dura.
Não estava na quadra? Então de onde era aquela parede? Teriam suas pernas caminhado para algum canto sem que percebesse? Não, impossível.
O estranhamento se fora quando um cheiro forte lhe envolvera. Um aroma gostoso e viciante que Nicolas costumava sentir quando entrava no vestiário da escola.
O cheiro de um alfa.
Mais precisamente, de Milles.
Prestes a erguer a cabeça e abrir os olhos, sentira uma mão quente cobrir seus olhos impedindo seu afastamento.
— O que pensa estar fazendo, grandalhão?
— Como sabe que sou eu se estava com os olhos fechados?
A voz de Milles era brincalhona e baixa, como se sussurrasse apenas para si. O corpo de Nicolas reagira fazendo seu sangue pulsar cada vez mais rápido, tendo seus pulmões puxando o ar para sentir aquele cheiro profundamente.
— Teu cheiro. — Admitira baixinho sem perceber.
Milles arregalava os olhos para o capitão, engolindo em seco tentando manter sua própria sanidade. Seu corpo esquentava só de ter a cabeça do capitão apoiada em seu peito, e sua mão tocando seu rosto. Era o mais próximo que conseguia estar em um momento daqueles.
— Consegue jogar nesse estado? Apenas responda sim ou não.
Nicolas ponderou e não respondeu. Diria sim se ele não tivesse lhe envolvido com o cheiro, sendo uma certeza que se esvaíra em segundos. Mas quem queria enganar? Theodore dissera que Milles o acobertara no set anterior, isso significa que ele percebeu sua lentidão.
Seria questão de tempo que o outro time também notasse.
— Não.
— Era o que eu precisava saber.
Tirando a mão do rosto de Nicolas, vira seu capitão ajeitar a postura e olhá-lo desconfiado.
— Por que queria saber isso?
— Pra vencer, é claro.
Os jogadores se posicionavam na quadra mais uma vez, e o apito para o terceiro set iniciara. Nicolas se mantinha calmamente na quadra respirando fundo esperando sua hora de agir. Quando finalmente correra pela quadra, suas pernas responderam além do esperado.
Seus músculos pareciam mais leves e ágeis. Conseguira saltar ainda mais alto na hora de fazer seu corte e garantir o primeiro ponto. A leveza mesclara com a velocidade, e até mesmo seus colegas de time pareciam embasbacados.
E a mesma proeza parecera se repetir ao longo do set, que seguia empatado. Nicolas percebia que seu corpo reagia diferente desde o momento em que sentira o cheiro de Milles antes da partida.
Opa...
Farejando o ar Nicolas se dava conta.
Milles estava sempre por perto de Nicolas, fazendo seu cheiro cercar apenas o ômega. A influência daquele alfa ficava intenso nos momentos em que o capitão atacava para marcar pontos, como se abrisse espaço para o seu momento de brilhar.
O que mais surpreendia Nicolas era que seu corpo aceitara aquilo com naturalidade. Reagia exatamente como aquele alfa queria.
Se Milles tivesse mordido Nicolas e gerado a conexão entre eles, o efeito seria bastante similar. Um influenciaria o outro com sua conexão. Mas eles não tinham esse tipo de relação, então como aquele alfa era capaz de mexer tanto com ele?
Apesar de ser algo confuso e enjoativo para Nicolas, não reclamara. Continuou a fazer o seu jogo na quadra abusando da leveza em suas pernas para aumentar sua velocidade habitual para marcar pontos e garantir dois pontos na frente do placar geral.
Gabriel recebera a bola do líbero e levantara para Nicolas. O capitão encarava o bloqueio que o seguia ritmicamente sem desgrudar. Mudando a forma como seus pés se apoiavam no chão, o capitão conseguira saltar o mais alto que conseguia e aproveitar o ponto alto da bola para cortar.
O seu salto fora tão esplendoroso que mais uma vez ele ganhava atenção.
Depois de longos minutos de uma partida acirrada, Nicolas garantira a vitória e a classificação de sua escola.