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Chapter 22 - Sol após a tempestade

No sábado de manhã o galo cantava às seis da manhã, mas não fora o pobre animal que despertara Theodore de seu sono. O motor barulhento da caminhoneta fora quem o trouxera à realidade.

Girando no colchão macio, o rapaz ponderava em dormir até tarde e descer só para almoçar. Por outro lado ficar o dia todo preso no quarto só para evitar seu pai parecia uma ideia bem injusta. Quem tinha lhe convidado fora Maggie, e a ômega parecia ansiosa para que se dessem bem.

Então, com um resmungo preguiçoso Theodore se obrigara a levantar da cama e tomar um banho gelado para descer até a cozinha.

O seu maior problema era ter alguma discussão com o pai, como na outra vez. No entanto não poderia fugir da realidade, pois era concordar que ele estava errado.

Theodore não achava que estava errado.

Descendo as escadas, chegara na cozinha sem encontrar ninguém. O rastro do aroma de café e pães frescos levavam para a porta dos fundos, onde havia uma varanda com mesa posta com o café da manhã. Lá estavam sentados seu pai e Maggie de mãos dadas conversando enquanto olhavam a paisagem natural.

Não haviam notado a sua presença, e Theodore optara em observá-los por um instante. Enquanto não houvesse tensões, silêncio e mágoas, seria daquele jeito que seu pai sorriria para a sua jovem noiva? Eles pareciam cúmplices que segredavam sussurros. Combinavam, de certa forma.

Maggie virou a cabeça para trás alargando o sorriso ao chamar Theodore com a mão.

— Bom dia, Theodore. Venha, resolvemos tomar café da manhã aqui fora pra aproveitar a brisa fresquinha.

Theodore se direcionou até o casal, evitando olhar para o pai. Maggie puxou sua cadeira para ficar entre os homens estendendo uma xícara para o loiro, que agradecera baixinho.

— Gosta de café puro?

— Na verdade só tomo com leite...

— Imaginei, igual a mim. Aqui querido, leite fresquinho. Nossa Mimosa concedeu um pouco hoje de manhã.

— Mimosa?

— Ter uma vaca holandesa e não chamá-la de Mimosa é um verdadeiro desperdício, não acha? — Ria a mulher ao servir do leite dentro da xícara de porcelana.

Bebericando um gole do leite com café, Theodore também passara a olhar a paisagem do sítio. O gramado verde bem cuidado, as árvores folhosas que proporcionavam uma sombra gostosa e fresca. O som dos pássaros e dos animais. Ao longe conseguia ver algumas cabeças de gado soltos.

Por um instante ele sentira uma paz de espírito ali.

Até ver alguém se aproximando.

Theodore não reconhecera a figura que caminhava em direção deles, mas percebera ser um rapaz jovem. Usava roupas típicas de um peão, não se esquecendo do chapéu característico. Baixando os olhos para a xícara em suas mãos quando ouvira o pai pigarrear, Theodore tentava não mostrar nenhum interesse.

— Bom dia Bill, Maggie — Cumprimentava o rapaz, baixando a cabeça em um aceno. Logo arqueando a sobrancelha para o jovem loiro de cabeça baixa — esse é...

— Meu filho — Sorria Maggie, passando o braço no ombro de Theodore, fazendo o loiro erguer a cabeça para fitar o rapaz desconhecido. — Theo esse é Beto, filho do meu compadre e nosso peão.

Theodore acenava com a cabeça em cumprimento silencioso, arrancando sorrisos do tal Beto.

— Sabia que tu tinha filho desse tamanho não.

— É filho do Bill, então é meu também. Estamos nos conhecendo melhor.

O peão logo notara os belos traços de um jovem garoto. Seus olhos claros, a pele branquinha de alguém que se esconde do sol e os cabelos loiros. Bastante diferente de seu chefe, que tinha a pele bronzeada e os olhos castanhos claros. Beto olhava para Bill, que cruzava os braços e cerrava o cenho para si.

— O que veio fazer tão cedo por aqui?

— Trabalhar, ora essa. A festa da colheita será hoje à noite, pediram pra matar alguns leitões pra festança.

— Veio pedir ajuda é?

— Que isso patrão, eu dou conta. Sou homem de força.

Bill abrira um sorriso ladino carregado de deboche, e então assentira com a cabeça ao se levantar da cadeira.

— Deixa isso comigo. Vá cuidar do gado, logo o sol ficará forte.

— Sim senhor!

Virando-se para a noiva, Bill lhe afagara os cabelos suavemente.

— Volto pro almoço.

— Tudo bem... Até mais tarde.

Prestes a sair da pequena varanda, Beto arqueara a sobrancelha apontando para o adolescente que permanecera sentado na cadeira.

— Ué, patrão... Vai levar o menino com você não?

Arregalando os olhos diante do convite surpreendente, Theodore começara a suar de nervoso.

Era um tanto quanto comum que os pais levassem seus filhos para ajudarem no trabalho, com a intenção de mostrá-los o que fariam no futuro. Trabalhar em sítio costumava ser algo passado de geração em geração, chegando a dar briga quando o patriarca vinha a falecer. Então a pergunta de Beto não era estranha.

No entanto, causara estranheza.

A última coisa que gostaria de fazer era ficar sozinho com seu pai em um silêncio constrangedor. De maneira alguma deveria ficariam ficar sozinhos.

— Vá logo fazer o teu trabalho.

Beto coçara a nuca e acenara antes de seguir o seu caminho silenciosamente. Bill também deixara a varanda, fazendo com que os outros dois suspirassem aliviados pela surpresa.

— Essa foi por pouco...

— Tome mais um pouco de café com leite, você parece pálido de susto. — Oferecia Maggie, empurrando a leiteira para o rapaz que se servia.

— Hoje vocês tem compromisso?

— Festa da cooperativa. Apesar de conhecer as pessoas de lá, minhas amigas não estarão. Segundo motivo pelo qual te convidei pra vir aqui.

Theodore rira contra a xícara.

— Acha que é uma boa ideia eu ir? Digo... É o local de trabalho do meu pai. Ele não deve me querer por lá.

— Farei companhia para você, então não precisa ter medo. Ah, geralmente essas festas vão até tarde, os homens adoram beber muito. Então descanse bastante de tarde, viu?

— Eu trouxe dever de casa, então acho que vou estudar um pouco...

— Ah eu vou deixar o meu notebook no seu quarto caso queira usar. Enquanto isso farei compras na cidade, tudo bem em ficar sozinho por um tempinho?

— Tudo bem, pode ir tranquila.

E assim fora feito. Depois do café da manhã Maggie saíra com o seu pequeno carro para a cidade deixando Theodore em casa sozinho. Quando retornara para seu quarto encontrara um notebook Dell sobre a escrivaninha, provavelmente deixado enquanto o rapaz fora lavar a louça.

Sem muita vontade para estudar de manhã,o loiro ligara o notebook e abrira o navegador para acessar o seu perfil no Orkut.

Havia uma solicitação de amizade que não saía de sua página. A foto de perfil do garoto de cabelos escuros e o sorriso gentil fizeram o coração de Theodore bater acelerado afastando as tempestades emocionais. O nome de Gabriel parecia brilhar na tela do computador.

Não havia aceitado o seu convite até então, pois imaginava que não iriam se aproximar depois do trabalho que fizeram na biblioteca. Mas no final das contas o jogador continuava a estar sempre do seu lado, e ainda quase haviam se beijado no dia anterior.

Só de lembrar a proximidade deles, e o toque do polegar de Gabriel sobre seus lábios... Ah, poderia sonhar acordado.

Então ele aceitara a solicitação de amizade, e Gabriel se tornara seu amigo na rede social.

Ficou um tempo navegando nas comunidades do orkut, em especial a de web novelas fakes que tanto gostava de perder suas horas lendo. Escolhendo uma nova história mau escrita pra acompanhar, surpreendeu-se quando uma janela do chat subira em sua tela.

— Oh céus.... Ele me chamou no chat. O que eu faço? O que eu faço?

Clicando para abrir o chat, Theodore lia a mensagem com a mão no peito.

"Oi Theodore, pode me passar seu msn?".

— MSN... Ok... Respira fundo.

Theodore respondera a mensagem enviando o seu email para o amigo, porém logo se lembrou de não estar logado em sua conta. Rapidamente abrira o programa no computador, saindo da conta de Maggie.

— Me desculpe, Maggie, prometo deixar tudo no lugar depois que eu terminar de usar.

Assim que entrara em sua conta, recebera o convite vindo de Gabriel. Tão logo aquela manhã já fizera o seu coração acelerar à todo vapor, graças a uma única pessoa. Mordendo os lábios, Theodore não chamara o amigo para conversar, aguardando sua iniciativa com ansiedade.

Logo a janela se abrira, e mais uma vez um sorriso bobo crescia no rosto de Theodore.

"Gabriel diz:

Oi de novo! Aqui é melhor pra conversar. Como está?

Theodore diz:

Estou bem, e você? Acordou cedo

Gabriel diz:

Dia de limpeza, fui feito de escravo pela minha mãe. Você também levantou cedo...

Theodore diz:

Sou um bom garoto, levanto cedo sempre.

E o treino ontem, deu tudo certo? Semana que vem sai a chave das eliminatórias.

Gabriel diz:

Finalmente entendi porque Milles chama o capitão de capiroto. Ele pegou pesado no treino ontem, mas estou vivo."

Arqueando a sobrancelha sem entender direito, logo Theodore se lembrara o motivo, ou possível motivo, para seu melhor amigo ter ficado bravo. Suas bochechas ficaram vermelhas enquanto os dedos se apressavam em digitar.

"Theodore diz:

Ele falou alguma coisa contigo ontem?

Gabriel diz:

Não. Deveria?

Theodore diz:

Claro que não! Só estou perguntando mesmo

Gabriel diz:

Por acaso ele brigou com você? Por estar comigo?"

Theodore mordia os lábios novamente ao pensar em uma resposta. Poderia dizer a verdade, que Nicolas havia pedido para não gostar de Gabriel, mas isso soaria como uma confissão romântica, não?

Balançando a cabeça, o rapaz logo tornara a digitar.

"Theodore diz:

Sabe da briga que ele tem com a Sadie, então Nico sempre pede pra eu ter cuidado.

Gabriel diz:

Que merda, também ficam pressionando você?

Theodore diz:

Como assim?

Gabriel diz:

Vou ser sincero contigo, já que somos amigos agora.

Estou ficando de saco cheio de ficarem me pedindo pra me afastar de você. Entendo que rolou alguma coisa no ano passado entre você e o primo da Sadie, mas eu não tenho nada a ver com isso.

Já disse que se eu quiser ser o seu amigo, eu vou ser. Ponto."

Encostando-se na cadeira da escrivaninha, Theodore relia a mensagem se questionando o que teria acontecido na tarde anterior para Gabriel parecer tão irritado. Não seria por culpa sua? Por eles dois serem vistos juntos?

Será que Gabriel estava sendo pressionado por culpa de Theodore?

Se não bastasse aquela pequena culpa em seu peito, a palavra amigo era como um espinho.

Como ele poderia considerar Gabriel apenas um amigo, quando desejava ser abraçado e beijado por ele?

Rindo de si mesmo pateticamente, o ômega então tornara a digitar.

"Theodore diz:

Não precisa ficar irritado com esse tipo de coisa. Quando as pessoas descobrem sobre mim, elas já pensam que irei seduzir todo homem bonito que vejo pela frente. Então seus amigos estão sendo cuidadosos com você, assim como Nico é preocupado comigo.

Tente ver o lado positivo disso, eles se importam com você.

Gabriel diz:

...

Então você me considera bonito o suficiente para seduzir?"

Imediatamente Theodore se engasgara com a própria saliva, tossindo alto dando leves batidas no peito. O rubor não somente tomara sua face, tornando até as pontinhas das orelhas quentes.

— Mas que merda você está pensando?

Sem acreditar no que lia, Theodore enterrara o rosto entre as mãos, choramingando de felicidade e vergonha. Ficara alguns minutos sem conseguir voltar a encarar a tela do computador, sendo obrigado a fazê-lo quando a janela da conversa tremera chamando sua atenção.

Respirando fundo, ele voltara a responder.

"Theodore diz:

Estou aqui, não precisa chamar minha atenção seu grosseiro.

Gabriel diz:

Hahaha foi mal, não resisti

Pensei que tivesse te deixado com vergonha e que fugiria de mim.

Theodore diz:

E eu tenho alguma chance de fugir?

Gabriel diz:

De mim?

Não mesmo :)"

— Se ficar me procurando enquanto tento fugir, como não seria capaz de apaixonar por você? Seu idiota.

Com um sorriso nos lábios, Theodore continuara a conversar com Gabriel por toda a manhã. Só saíra de sua conta quando ouvira Maggie voltar das compras, e logo descera para ajudá-la a preparar o almoço.