Theodore esperou que todos os jogadores tivessem saído do vestiário quando entrara segurando uma cesta de palha. Com o silêncio abundante, ele entrara tranquilamente para guardar os uniformes do time oficial nos armários.
Como assistente do time, Theodore era responsável por cuidar dos uniformes, por isso os recolhia no sábado e os lavava para devolver na segunda-feira. Além de também cuidar da alimentação dos jogadores em dias de partidas, entre tantas outras tarefas.
Entretanto, quando os rumores sobre sua sexualidade e classe começaram a se espalhar, sua tarefa se tornara mais difícil. Os jogadores simplesmente não ficavam mais à vontade com ele. Sempre o expulsavam do vestiário quando era final de treino, já que os rapazes tomavam uma ducha.
Para piorar, ninguém quis tomar o lugar de Theodore como assistente. Na verdade até queriam, mas os jogadores já estavam acostumados com os mimos que o ômega loiro dava à eles. Que pessoa iria levar uniformes para lavar? Ou então encomendar marmitas levando em consideração suas alergias? Ou ainda, observá-los com tanta precisão que saberia onde precisariam melhorar?
Ninguém superava Theodore como assistente.
Nicolas tivera de barganhar um meio termo para que o time continuasse a funcionar. Theodore não poderia interagir com os rapazes, e somente lhe era permitido entrar no vestiário quando todos já tivessem ido embora. A distância fora criada, e de certa forma o loiro acreditava ser melhor do que receber insultos.
O amistoso iria ocorrer no final de semana, e Theodore precisava resolver algumas pendências do time junto com Nicolas. Mas antes, devolver os uniformes lavados era sua missão.
Fechando o primeiro armário e separando o próximo uniforme impecavelmente dobrado, Theodore paralisou quando sentira um cheiro forte. Um aroma cítrico e predominante que deixavam suas pernas bambas. Em seguida ouvira som de chuveiro. Virando a cabeça em direção dos boxes, empalidecera diante da possibilidade em ser pego ali.
Isso seria uma quebra do acordo, não? Estaria ferrado na altura do campeonato.
Engolindo em seco, apressou-se em guardar os uniformes para fugir dali. Só que os malditos emperraram, não abrindo com tanta facilidade diante de seu desespero.
— Abra merda!
Mesmo com seus chingos frustrantes, Theodore se embananava em abrir a porta do armário. O desespero só aumentara quando ouvira o chuveiro ser desligado e o cheiro intenso de um alfa mesclado ao de sabonete se espalhava por todo o vestiário. Rapidamente o rapaz segurou a cesta de palha e correra para a última fileira dos armários sob tropeços onde poderia se esconder. Respirou fundo atentando-se aos sons, acalmando seu coração para que encontrasse a melhor solução.
Não deveria ser pego.
Respeitaria o acordo que seu melhor amigo criara. Além disso não queria que ninguém interpretasse como se estivesse dando em cima de alguém.
Som de passos saindo do box foram escutados. Theodore esticou a cabeça e ouvira atentamente aquele som aumentando junto do cheiro. Seu corpo começara a responder ao estímulo, suas pupilas dilatavam e o sangue se concentrava em um único ponto do seu corpo.
Seja lá quem fosse, estava se aproximando. Então, Theodore fora espiar quem poderia ser e onde estaria indo, tendo a surpresa e a infelicidade em constatar ser Milles. O rapaz alto estava com a toalha enrolada na cintura e outra sobre os cabelos molhados. Caminhava olhando para o chão.
O desespero voltara tal qual um furacão quando Theodore se dera conta de que se escondia na fileira de armários onde um deles pertencia ao Mckenzie. Rapidamente fora para a outra ponta, esperando o momento certo para fugir. Entretanto não importa o que fizesse, Milles o veria.
Ser pego já era um ideia ruim. Ser pego por Milles naquela condição era cumprimentar o diabo em um tour ao inferno.
Apertando a cesta contra o peito, Theodore já aceitava o destino de ser pego pela última pessoa com quem desejava ficar sozinho, quando um par de braços envolvera-lhe a cintura e o puxara repentinamente para trás.
Quando Milles chegara no próprio armário olhara em volta ao pensar ter escutado alguma coisa. Mas o vestiário já estava escuro e vazio. Esticando a cabeça olhando o imenso vaso de palmeira e a coluna, balançou os ombros despreocupado sem encontrar alguma coisa.
Rapidamente se trocou vestindo o uniforme escolar, jogando as toalhas molhadas no imenso cesto de canto. Puxara sua mochila do armário antes de encostá-lo e se direcionar para a saída.
Milles Mckenzie deixara o vestiário acreditando ser o último dali, mas não imaginara que tão perto de si haviam dois rapazes escondidos nas sombras, atrás de uma coluna e um vaso de palmeira.
Prendendo a respiração, Theodore estava em pânico. Seu coração batia tão acelerado que suas pernas chegavam a tremer. Além do medo óbvio de ser visto por Milles, a sua maior fonte de nervosismo foram as mãos quentes que lhe apertavam contra um rijo corpo.
Um braço lhe envolvia a cintura, com a mão espalmada em seu abdome. A outra mão lhe cobria a boca impedindo que proferisse quaisquer som que denunciasse a presença e o nariz para que não sentisse o cheiro de Milles. Como se não bastasse, uma respiração colada ao seu ouvido, lhe arrepiando o pescoço.
Seu coração não conseguia se acalmar em sentir aquela respiração tão quente perto de si. A força que aquelas mãos tinham certamente não contribuíam sua condição. Não era uma situação muito desejável, tampouco Theodore conseguia controlar o seu corpo de reagir.
Somente quando ouviram a porta do vestiário se fechar é que Theodore sentira o aperto afrouxar. Tendo a mão livre de seu nariz, pudera respirar novamente sentindo o aroma que conhecia e apreciara nas últimas semanas. Um aroma que lhe cobria por completo tornando a presença do ômega desprezível.
Lentamente o ômega virara a cabeça descobrindo a identidade do seu salvador, arregalando os olhos claros ao ver os olhos castanhos focados em si.
— G-Gabriel? — Rapidamente se afastando do rapaz alto, Theodore apertava a cesta com força contra o peito — Ainda está aqui?
— Estava conversando com o técnico até agora, estava prestes a tomar a ducha quando eu te vi.
Oh merda, não apenas seria pego por Milles como fora, de fato, pego por Gabriel. Engolindo em seco por se imaginar quebrando o seu acordo com o time de vôlei, o rapaz tentava encontrar a melhor desculpa para dar. Dava passos para trás, prestes a fugir daqueles olhos escuros que lhe fitavam tão profundamente.
O seu corpo ainda estava reagindo às sensações que sentira antes, e a última coisa que queria era ficar duro na frente do colega de classe.
— A-Ah certo, então eu irei sair pra que fique à vontade.
Dando as costas se preparando em fugir, Theodore fora parado quando Gabriel lhe segurou o ombro. Prendendo a respiração sem querer olhar para trás, o loiro permanecera parado no lugar só esperando.
— Nós podemos conversar? Prometo ser breve.
Theodore olhara sobre o ombro, mas não se virou. Ainda assim fora um sinal de que estava ouvindo o rapaz. Sem soltar o pulso do loiro, Gabriel então continuara.
— Eu queria saber quem é Jake.
A mera menção daquele nome fora o suficiente para Theodore congelar no lugar. Gabriel sentira a tensão no pulso do seu colega, quase o fazendo sentir pena e desistir de tocar no assunto. Entretanto havia prometido a si mesmo que escutaria os dois lados daquela história, sendo assim não soltaria Theodore de jeito algum.
Theodore, por outro lado, engolia em seco diversas vezes enquanto a confusão de memórias adocicadas invadiam sua mente. Assim como Nicolas havia dito antes, os Mckenzie deveriam ter contado aquela história para Gabriel. Isso não lhe agradou muito.
Com o resto de coragem que lhe restava, Theodore finalmente olhara nos olhos de Gabriel.
— Por que você quer saber dele, Gabriel?
— Sei que estou sendo bastante intrometido, mas Milles disse que era o motivo de me pedirem pra ficar longe de você. Não irei tomar decisão até saber da história por inteiro.
— Não precisa saber. — Respondia Theodore virando-se de frente para Gabriel.
— Por que não?
— Isso não vai fazer diferença, Gabriel. Não foi você quem disse pro Nicolas que era decisão sua com quem fazer amizades?
Gabriel soltara o pulso de Theodore sem desviar os olhos dele. Não fora capaz de argumentar contra as próprias palavras. Respirando fundo, o rapaz alto acariciou a própria testa.
— Devo estar cansado de ficar no meio dessa briga. Foi mal Theodore.
O loiro, então, aproximou-se de Gabriel afagando-lhe os cabelos ao lhe dirigir um sorriso gentil. Espantado com a ação do menor, o jogador petrificara sem saber como reagir diante de tamanho brilho que aquele sorriso irradiava.
— Não precisa se preocupar com isso, Gabriel. Você é livre para fazer o que quiser. Isso é um problema meu com os Mckenzie, tudo bem?
Estando prestes a sair, pela segunda vez Theodore fora impedido por aquela mão grande e quente. Agora, ele virara imediatamente para encarar o rapaz mais alto, mesmo que custasse em acelerar o seu coração.
— Tem certeza de que posso fazer o que eu quiser? — Sussurrava Gabriel.
Se julgasse Gabriel baseado nas suas impressões, o loiro diria que o aluno transferido era alguém calmo e carismático. Como uma pessoa que sabe boiar no mar agitado, pois é integro. Contudo naquele momento o que Theodore enxergava refletido nos olhos escuros era a mais tensa tempestade.
Sim, sim... Theodore percebera que seu colega de classe estava aflito com alguma coisa. Dera conta de que Sadie poderia ter pressionado o rapaz com a história de Jake. Pobre coitado, nem estava presente pra desfazer os maus entendidos.
Balançando a cabeça para abandonar os pensamentos inconvenientes, Theodore esboçara um singelo sorriso.
— Não mando em você. Acho que já está bem crescidinho para tomar as próprias decisões. Se te preocupa com essa história toda, então eu te aviso logo que ela não tem nada a ver contigo. Pode desprezá-la à vontade.
Sua intenção era apenas acalmar o rapaz. Sadie estaria fazendo uso de artimanhas para evitar que Theodore se aproximasse. Só restava saber se ela teria percebido o quão confuso Gabriel estava em ter que lidar com uma história que não lhe envolveria.
Bem... Ainda bem que o próprio Theodore notara, e já esclarecera as coisas. Assim Gabriel enxergaria o óbvio.
Acenando em despedida, Theodore se dirigiu para sair do vestiário ansiando o ar puro para acalmar seus instintos. Quando a mão tocara na maçaneta, ele ouvira aquelas palavras que soaram como uma promessa.
— Se lembre dessas palavras no futuro, Theodore. Porque eu já tomei a minha decisão.