Batucando os dedos sobre a mesa de estudos, Gabriel ponderava sem desgrudar os olhos do perfil de Theodore no Orkut. Havia enviado a solicitação de amizade que até então se mantinha pendente, o que lhe incomodava.
Já havia dado uma olhada no perfil de Sadie, visitando o perfil de cada pessoa cujo sobrenome fosse Mckenzie. Havia encontrado um rapaz jovem e bonito que tinha amizade tanto com Sadie quanto com Theodore. Jake Mckenzie parecia ser bonito, mas aos olhos de Gabriel ele era a encarnação do capeta.
Seus cabelos eram platinados e tinha olhos claros, sendo o típico garoto alfa que as meninas surtariam por puro prazer. A principio não concluíra o seu desgosto ao primo de sua amiga, mas ao ler os depoimentos mais antigos no perfil de Theodore, o desgosto fora concretizado como uma lei universal.
"Se você acordar
E Estiver
Sendo Carregado
Por Um Monte De
FORMIGUINHAS..
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Bem Feito!
Quem manda VC ser
esse DOCE de PESSOA...!!!
te adoro!!! ;-)"
Pelo jeito que Sadie havia contado mais cedo, imaginava que Theodore e o tal Jake poderiam ter brigado ao ponto de trocarem socos e jurarem a inimizade eternamente. Como duas gangues que ocupam o mesmo espaço e vivem brigando para demarcar o seu território. No entanto, aquele maldito depoimento dizia o contrário.
Eles eram amigos.
Amigos muito próximos.
— Mas que merda.
Jogando a cabeça para trás, Gabriel fechava os olhos tentando controlar o calor que subia em seu peito. Não conseguia imaginar outra coisa que não fosse Theodore sorrindo docemente para o sujeito de cabelos platinados. Um sorriso encantador enquanto recebia um afago na cabeça.
Sua mente fora maldosa em continuar a imaginar a cumplicidade que aqueles dois poderiam ter. Algo da qual não lhe era permitido.
Desde que chegara na escola, Theodore não havia baixado sua guarda para Gabriel. Mal o aceitava como amigo. Só conseguiam conversar direito quando tinham algum trabalho para fazer. Imaginá-lo sorrindo tão abertamente para outra pessoa era...
Sufocante.
— O que está acontecendo contigo, Gabriel? — Resmungava o alfa para si mesmo, apertando a testa com as pontas dos dedos — Você não é assim, cara.
Ainda assim não conseguira se desfazer daquela sensação. Tanto que fora para a escola, no dia seguinte, de mau humor. Fora a primeira vez que seus colegas de classe o viam carrancudo e monossilábico. Ignorando os convites para irem à algum lugar ou então as conversas sem sentido sobre garotas e peitos.
Mesmo antes da aula, enquanto estava sentado na fonte junto de seus novos amigos, Gabriel não desviava os olhos da tabebuia amarelada onde um ômega loiro estava sentado lendo. Antes que fosse pego o fitando, o moreno baixara os olhos e suspirara baixo.
— Qual é cara, levou um fora de alguma menina pra tá com essa cara de acabado?
Diferente de si que estava pra baixo, Milles era todo sorriso. A alegria daquele pequeno grupo de amigos eram as gargalhadas e brincadeiras do jogador. Recebendo um abraço ladino do mais alto, Gabriel apenas respirara fundo erguendo a cabeça.
— O que te faz pensar que eu levaria um fora?
— Uh... Tá todo murcho como uma bola velha, quer que eu cante uma música pra te afundar na deprê?
— Cai fora — Ria Gabriel ao dar uma leve cutucadela na costela de Milles, o fazendo soltar do abraço — Não estou deprimido por causa de uma garota.
— Tua cara me diz que tá sim. Sofrendo por amor.
Revirando os olhos e sorrindo, Gabriel não respondera à brincadeira. É claro que ele não estava sofrendo por amor... Por que estaria? Não fazia sentido.
Principalmente quando a causa daquilo tudo nem era uma menina... Mas sim um garoto.
Mais precisamente, um garoto que estava alguns metros de distância, sentado debaixo de uma tabebuia lendo Crepúsculo.
Não havia a menor chance de Gabriel gostar de outro garoto.
「 • • • 」
Infelizmente Gabriel era completamente incapaz de esquecer o assunto.
Ainda assim, esforçou-se para manter o sorriso no rosto fingindo que tudo estava bem. Ou era isso, ou teria de aguentar Milles dizendo sobre ter levado um fora.
Sua angústia fora guardada para ser extravasada no momento certo. No treino de vôlei. Nem mesmo as broncas de Nicolas o incomodaram, muito pelo contrário, aumentaram sua curiosidade ainda mais.
Segurando a bola debaixo do braço enquanto esperava o aquecimento terminar, Gabriel mordia o lábio inferior indeciso em ir falar com o seu capitão ou não. Sentia que se fosse questioná-lo, ele iria brigar consigo sem dar a resposta que queria. Mas se não fosse... Bem, quem mais poderia saber?
Estava fora de cogitação em questionar próprio Theodore. Pelo menos por ora.
— Qual é cara, tu tá com essa cara o dia todo.
Assustando-se com a chegada repentina de Milles ao seu lado, Gabriel suspirou baixando a cabeça. Ele era irmão de sua amiga, provavelmente também saberia o que teria acontecido entre Theodore e o primo... Mas estava receoso com a reação dele caso questionasse. Erguendo os olhos para fitar o capitão novamente, Gabriel estava prestes a escolher a quem perguntar.
Milles seguira o seu olhar, e espreitara os olhos quando percebia Nicolas desenhando alguma coisa na prancheta do treinador.
— Ele te fez alguma coisa?
— Não! — Respondia Gabriel de imediato. — Por que ele faria alguma coisa comigo?
— O porteiro de maquete é um marido bem ciumento com a sua esposa.
Apertando os olhos em frustração, Gabriel fitara o novo amigo.
— Por que fala desse jeito?
— Que jeito?
— Esposa, marido... Eles são amigos, não são?
— Oh.. Eles estão sempre juntos e eu tenho certeza de que Theozinho é passivo daquele beta metido.
Gabriel engolira em seco ao perceber que a orientação sexual de seu colega de classe era de conhecimento de Milles. Desde a sua chegada e do momento em que Theodore dissera ser ômega gay, não ouvira nenhum rumor sobre o assunto. Ainda mais sobre o motivo da rusga entre ele e Sadie.
Ou era ele mesmo que não teria percebido sobre a escola inteira saber do assunto?
Percebendo o silêncio do amigo, Milles se surpreendeu em vê-lo pálido.
— Vai me dizer que tu não sabia dessa? — Gabriel apenas erguera os olhos para o amigo, que logo continuara. — Pensei que minha irmã tinha contado.
Imediatamente Gabriel erguera os ombros diante da chance que brilhava para si. Apertando a bola em suas mãos, aproximou-se do ouvido de Milles para lhe sussurrar.
— Ela só me pediu pra ficar longe de Theodore, porque não queria que repetisse o que aconteceu com seu primo.
Fora a vez de Milles empalidecer. Estando tão perto do jogador, Gabriel percebia a mandíbula dele ficar tensa. Sua reação só aumentara a sua curiosidade, o fazendo se questionar o quanto deveria insistir no assunto. Para a sua sorte, e surpresa, o próprio Milles lhe respondera.
— E ela não contou o que aconteceu?
— Não. Ela disse que eu não precisava saber. Mas eu não tenho motivos para não ser amigável com Theodore.
— Nós temos.
— Isso não se aplica a mim, Milles. É o que eu quero dizer. Theodore sempre foi um cara bacana comigo, não tem porque eu odiá-lo do jeito que sua irmã deseja.
O cotovelo de Gabriel fora segurado pelo mais alto, sendo apertado em seguida.
— Ela está apenas preocupada contigo, cara. Nós sabemos que gente como Theodore não presta.
— Terá de ser mais claro se quiser me convencer disso.
Os dois rapazes trocaram olhares até que Milles suspirara derrotado. Puxando Gabriel para um canto afastado, logo lhe segredou.
— Theodore passou o cio com o meu primo na casa dele.
Pela segunda vez Gabriel empalidecera, todo seu corpo ficara rijo como pedra diante de tal confissão. Não conseguia imaginar o garoto loiro na cama com alguém, Theodore parecia ser gentil demais para isso... Ou inocente demais.
Mas as palavras íntimas daquele depoimento no Orkut assombravam sua memória. Descartar a possibilidade de que os dois fossem íntimos o suficiente para dormirem juntos seria burrice...
— Como é?
— Os dois transaram. Meu tio acabou chegando na hora e deu a maior confusão. Só sei que depois disso meu primo foi emancipado e se mudou pra capital do estado. Meu pai proibiu a mim e a minha irmã de perguntarmos como Jake está.
Jake.
O perfil que vira na noite anterior brilhava em sua mente. Sua intuição estava correta sobre o rapaz. Era ele quem causara a discórdia entre Theodore e Sadie. O gosto amargo surgia em sua boca, tendo Gabriel fazendo careta ao súbito nervosismo que lhe surgia.
— Eu sei que é bem nojento isso cara. Mas acredite, Theodore foi responsável pela briga entre meu primo e tio. E eu gostava daquele cara, era gente boa pra caralho. — Dando tapinhas no ombro de Gabriel, Milles lhe dirigia um sorriso de conforto — Eu sei que tu é maneiro e quer amigar com o pessoal aqui. Mas o conselho de minha irmã é válido, fique longe de Theodore se não quiser se tornar a próxima vítima.
Deixado sozinho no canto, Gabriel fechara os olhos por um instante. Já havia ficado surpreso quando Theodore lhe dissera na cara sobre ser ômega e gay, e tivera uma longa noite de pensamentos ao ponto de ignorar tal informação. Afinal, recebera a sua ajuda porque Theodore era gentil, não porque tinha segundas intenções consigo.
Só que agora as coisas haviam mudado de figura.
Gabriel ficara irritado.
E não era por Theodore ser gay.
Mas o motivo ainda lhe era um segredo.