A família Mckenzie era muito conhecida naquela pequena cidade. Não seria para menos, uma vez que um pequeno garoto que sonhava em viajar pelo país crescera e tivera a ideia de criar uma rede de hotéis espalhado pelo território brasileiro. Mesmo que a prosperidade agraciasse a família Mckenzie, aquele homem – que um dia fora um garoto sonhador – não abandonou suas raízes no interior.
Por ter tamanho prestígio carregado em seu sobrenome, Sadie fazia questão de manter a dignidade da família até na sua respiração. Pagasse o preço que fosse, nada poderia sujar o sobrenome. Dedicaria cada esforço seu para que a prosperidade advinda do sonho de seu pai apenas aumentasse.
Justamente por visar um futuro brilhante, é que seus maquiados olhos castanhos recaíram sobre um alfa inteligente e dedicado que combinava exatamente com seu sonho. Gabriel Jones era o cara ideal para fazer parte do seu futuro.
Sadie já havia namorado outros caras, mas nenhum deles parecia ter agradado a sua família. Quando seus pais torciam o nariz e mantinham-se em silêncio quando chegavam aos seus ouvidos os rumores de namoro da ômega, Sadie já compreendia que era o momento de terminar o relacionamento.
No final do seu primeiro ano do ensino médio já se sentia frustrada por não saber exatamente que tipo de rapaz seria ideal para trazer em sua família. Não que seus pais estivessem lhe pressionando para namorar, muito pelo contrário incentivavam-na a estudar ao invés de paquerar. Porém ela queria correr em direção do seu objetivo de vida o quanto antes.
E fora no meio dessa frustração que ela finalmente compreendeu o que chamou de sinal divino.
— Tenho certeza de que os Jones serão capazes de nos ajudar por aqui. — Ouvira o pai dizer para sua mãe durante o café da tarde — Com eles na gerência, esse pequeno problema que tivemos será resolvido e esquecido. Nunca recebi um relatório ruim dos outros gerentes sobre esse casal.
— Mas será que estão preparados para serem gerentes? Ela pode ser a chefe das camareiras, mas ele... É um cargo importante, meu querido.
— Sim, sim, eu sei. Estou com grandes expectativas neles e comecei a motivá-los a fazer o melhor por nosso hotel.
— Que comecem os mimos.
O homem de cabelos brancos soltara um riso abafado e divertido ao olhar para a esposa ômega.
— Ouvi dizer que o filho deles é bastante dedicado aos estudos, além de ser promissor. Ofereci uma bolsa de estudos para o jovem na mesma escola que nossas crianças.
— Não acha que exagerou nisso, papai? — Questionava Milles, o filho mais velho, enquanto surrupiava um biscoito da bandeja sobre a mesa. — Parece que está subornando eles.
— Tenho a esperança de que o jovem garoto possa ser uma boa influência para você já que ambos são alfas.
Milles revirou os olhos mordendo o biscoito, preferindo não responder.
— Para que possa colocar juízo na cabeça de meu irmão será necessário alguém que seja pior do que ele.
— Cala a boca, pirralha.
— Não me chame de pirralha, sou apenas um ano mais nova que você.
— Pirralha.
— Crianças, discussões sobre a mesa não é nada agradável.
— Desculpa mamãe.
— De toda forma, ano que vem o filho dos Jones entrará na escola de vocês. Quero que sejam educados e ajudem o rapaz a se acostumar com nossa pequena cidade.
O pedido do pai fora simples. Sadie, na verdade, esperava que seu irmão cuidasse do assunto ao se amigar com o garoto, contudo Milles não dera tanta importância assim. Uma vez que imaginava que o garoto em questão seria um nerd baixinho com sardas, Milles já dispensara a ideia de ser amigo de um alfa fraco e chato.
Sadie, de início, também torcera o nariz sobre a possível aparência do tal garoto. Isso logo mudara quando acidentalmente ela encontrara o seu perfil na rede social Orkut. Imediatamente seus olhos brilharam e seu coração disparou.
Um alfa bonito, alto, aparentemente bastante popular já que seu perfil continha vários depoimentos.
E o melhor de tudo... Seu pai o aprovava.
Era sua única chance.
Naquela noite, Sadie logo enviara solicitação de amizade ao rapaz e aguardou ansiosamente para conversar com ele. Demorara dois dias para que ele aceitasse conversar consigo e passasse seu MSN para Sadie, da qual ela imediatamente o adicionou e chamou para conversar.
Aproximar-se de Gabriel Jones já era uma missão de sucesso, o próximo passo era fazê-lo se apaixonar por si.
Tarefa essa que ela tentava arduamente desde o primeiro dia em que conversaram pela internet, e que até então não surtira efeito. Gabriel era um alfa difícil se comparado com seus ex's. Sadie aproveitaria cada oportunidade que surgisse, principalmente quando notara sua proximidade com Moss.
Sadie simplesmente odiava Theodore.
Assim que o treino de vôlei terminou, Sadie agarrou o braço de Gabriel e fez questão de levá-lo para longe do garoto ômega. Tampouco se importara com a rusga de seu irmão mais velho com o capitão do time, ambos foram deixados para trás pela garota. Seu único objetivo naquele momento era manter Gabriel longe de Theodore.
Sob o pretexto de levá-lo para casa, o alfa não teve escapatória. Teve de acompanhá-la pela rua ao final da tarde, com Sadie agarrada ao seu braço. Apesar de conversarem amigavelmente, ela notava que o rapaz tinha as sobrancelhas arqueadas como se pensasse em algo.
Inclinando a cabeça para olhá-lo melhor, Sadie cutucou o braço do rapaz.
— Há alguma coisa errada? Parece preocupado.
Gabriel a olhou por um instante e então engolira em seco antes de desviar o olhar e suspirar.
— Apenas me perguntando o motivo de sua briga com Theodore.
A mera menção do nome do ômega fizera a garota desfazer o sorriso e dar lugar à uma carranca. Fora sua vez de suspirar pesado, mas de maneira alguma ela soltara Gabriel do abraço.
— Aquele moleque é mau carácter. Assanhado e sem vergonha.
Surpreso com as palavras de Sadie, Gabriel pareceu mais interessado no assunto.
— Por quê? Aconteceu alguma coisa?
A garota soltou o braço de Gabriel para caminhar um pouco na sua frente. Virando-se de costas para o caminho, e de frente para o alfa, ela sorria docemente.
— Ele destruiu o vida do meu querido primo.
Aquela frase dita com sorrisos surpreendera o rapaz, que arregalou os olhos curiosamente.
— Como assim?
— Eu tenho um primo alfa que é da mesma idade que Milles. A gente cresceu juntos e ele era da nossa escola. Mas quando ele conheceu Theodore... acabou sendo expulso de casa.
Gabriel simplesmente parara de caminhar. Percebendo ter jogado uma bomba sobre o rapaz, Sadie aproximou-se dele segurando sua mão delicadamente o convidando a continuarem seguindo caminho.
— Por quê? O que houve para isso acontecer?
— Não precisa saber disso, Gabi. Apenas saiba que não implico com ele sem um motivo. Theodore criou uma ruptura em minha família por causa do egoísmo dele. Ele merece todo o ódio dos Mckenzie.
Gabriel parecia atordoado com a pequena história, apesar de não saber os pormenores. O restante do caminho para sua casa fora silenciosa, ele não ousara dizer uma única palavra. Apenas ouvia Sadie tagarelar sobre o quão divertido era sair com seus amigos, convidando-o para ir em uma festa no final de semana.
O rapaz apenas aceitara o convite sem nem prestar atenção nas palavras de Sadie. Quando estava prestes a entrar no portão de sua casa, teve seu pulso segurado pela garota. Erguendo os olhos para encarar Sadie, ele percebia um leve sorriso medroso.
— Não pense que estou sendo egoísta em pedir que se afastar de Theodore. Eu gosto de você, e por isso não quero que se torne a próxima vítima dele.
— Não sei se estou te entendendo, Sadie. Até agora Theodore não me fez nenhum mal, muito bem pelo contrário ele tenta fugir de mim.
— Isso é bom. Por enquanto ele está com medo justamente por você estar comigo. Irei te proteger a todo custo, Gabi.
Foi então que Sadie ficara nas pontas dos pés para beijar a bochecha de Gabriel, se virando para ir embora. O rapaz a assistia se distanciar sem saber o que pensar daquela conversa.
Mas de uma coisa ele tinha certeza: haviam mais coisas naquela história do que ele imaginava.