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Chapter 4 - Capítulo 4: Snow White, parte 1

O dia passou como um raio, quando percebi já estava no ônibus voltando pra casa. Não vi Karol o resto do dia, tenho certeza que ela não vai mais nos atacar mas todo cuidado é pouco, quem sabe do que aquela garota é capaz.

O ônibus parou e outra passageira entrou, estava a poucos quilômetros de casa agora, e minha mente ainda trabalhava sobre aqueles dois Fables.

O Flying Dutchman com certeza é relacionado às antigas lendas piratas sobre o Holandês Voador, o navio que navegava contra a corrente, seu usuário provavelmente tem conhecimento sobre história antiga, um professor? Ou talvez um arqueólogo? É muito mais provável deduzir que é uma pessoa comum que apenas ouviu a lenda quando criança, mas é melhor considerar todas as hipóteses possíveis.

Tem também o White Rabbit, esse eu ainda não entendi muito bem, o Fable é só um coelho "inofensivo"? Ou essa é só uma forma diferente desse Fable? Considerando que a Karol disse que ele desapareceu depois de correr pra trás de uma árvore e aí aquele livro apareceu, diria que o Fable tenha poderes ilusórios, ou talvez consiga alterar a realidade, mas duvido que alguém seria tão poderoso.

Mas o que eu ainda não entendi é o porquê do ataque.

Qual foi o motivo pra eles sumirem com os pais dela? Aliás, como diabos eles sumiram? Fables não são capazes de atacar humanos comuns, o que me leva a crer que talvez os pais da Karol também eram usuários.

Ou esses dois Fables são mais poderosos do que imaginei e de alguma forma conseguiram burlar essa regra.

Mas não para por aí, a pergunta anterior ainda continua, por que atacar justamente os pais da Karol? Qual é o objetivo deles? Talvez eles fossem o objetivo final, até porque a Karol nunca os encontrou ou ouviu falar deles depois disso, ou talvez eles só estejam se escondendo, mas se escondendo do que?

Da Karol? Pouco provável, seria impossível eles saberem que ela era uma usuária.

Mas parando pra pensar, o livro que a Karol achou naquele dia basicamente contava acontecimentos futuros que só foram impedidos porque ela despertou seu Fable, será que algum deles é capaz de prever o futuro?

—Com licença...—A passageira que havia acabado de entrar estava parada em pé ao lado do meu banco, me tirando de meus pensamentos.—Posso me sentar aí?

Eu aceno que sim com a cabeça e abro caminho pra ela, acabei que nem reparei nela quando entrou no transporte, a pele dela é bem pálida, um pouco mais e seria transparente, ela deve medir no máximo 1,65 de altura, sendo bem baixinha, ela tem os cabelos lisos tão negros quanto os próprios olhos tocando os ombros, tinha uma maquiagem digna de qualquer gótica, uma sombra preta nos olhos e um batom preto nos lábios, as roupas eram bastante chamativas, uma gargantilha preta no pescoço, uma regata preta por baixo e uma jaqueta jeans por cima, usava uma saía xadrez que cobria a maior parte das pernas, e resto era coberto por fishnets, as botas pretas de cano alto talvez fossem uma tentativa de parecer maior, enfim, outra beldade nessa cidade, só espero que ela não tente me matar igual a última.

—Então você é o usuário do Mad Hatter de quem o White Rabbit tem tanto medo?—Mas é claro que ela vai tentar me matar, já é a segunda garota bonita que me quer morto, só me falta vir uma terceira.—Muito prazer, meu nome é Isabella, sou a usuária da Snow White.

Assim que ela termina de falar eu chamo o Hatter que já aponta a arma pra sua cabeça, ela nem mesmo se mexeu, deve ser casca grossa.

—O que você esperava ganhar me dizendo seu nome e o do seu Fable?—Eu digo dando o meu melhor olhar mortal em sua direção, ela apenas ri.

—Minha intenção inicial era recrutar você, mas já vi que não é isso que você quer...—Ela diz tirando o celular do bolso da jaqueta.—Dá uma olhada.

Tinha um vídeo na tela do celular, eu dei play sem tirar os olhos dela e fiquei alternando entre ela e o vídeo, pra que ela não me pegasse de surpresa, era uma gravação da câmera de segurança do estacionamento do Gc Donald's no momento que eu dei as costas pra Karol e a deixei sozinha lá, alguns segundos após a minha saída essa tal de Isabella aparece e avança contra a Karol, e então o vídeo acaba.

—Você...—Os lábios dela se curvaram em um sorriso malicioso, aquele vídeo com certeza era verídico.

—Ela ainda está viva, se é isso que você quer saber.—Ela tirou o celular das minhas mãos e o guardou no bolso.—Esse ônibus vai parar no lugar onde estou mantendo ela, se quiser salvá-la é só me acompanhar.

Os olhos dela se desviaram para as portas do ônibus e a segui instintivamente, elas estavam abertas, aquela era a parada que deixaria em casa...

—Ou você pode sair por aquela porta, se fizer isso saberei que não é uma ameaça pros nossos planos e não vou mais te incomodar...—O sorriso dela se abriu, mostrando os dentes em uma expressão sádica, ela estava se divertindo com isso.—Mas então eu teria que matar a Karol.

Alternei meu olhar dela pras portas por um instante e me levantei, ela que se foda, eu disse que não a ajudaria e eu não vou mesmo. Caminhei lentamente até a porta com o Hatter logo atrás de mim apontando a arma nela, o sorriso psicótico dela não vacilava nem um segundo, assim que estava a um passo de sair dali, as palavras da minha mãe ecoam em minha mente, será que era isso que ela quis dizer?

—Sabe...—Ela chamou minha atenção.—Você não ouviu na hora porque eu abafei os gritos dela, mas enquanto eu a arrastava pra longe de lá, ela não parava de gritar o seu nome.

Assim que ela diz isso algo em minha mente estala, eu não posso deixar ela pra morrer desse jeito...

—Vai ser triste ver ela morrer sabendo que você podia tê-la salvo.—A gargalhada sádica dela ecoou pelo ônibus e não sei porquê, mas isso me encheu de fúria. Mas logo elas cessaram quando o som da arma do Hatter foi ouvido, a bala havia acertado a parede ao lado da cabeça dela.

—Saiba de uma coisa, assim que descobrir onde estão deixando ela...—Eu digo ao me sentar ao seu lado.—Eu vou acabar com você.

O sorriso dela aumentou ainda mais, tenho certeza que minha ameaça não foi nada pra ela, a Alice da Karol era praticamente invencível e mesmo assim ela a venceu, tenho que dar um jeito de vencê-la...

—Ótimo, isso vai ser muito divertido!—Tudo o que eu queria era atirar logo nela e tirar aquele sorriso idiota de seu rosto, mas se eu fizesse isso jamais encontraria Karol, tenho que ir na dela por enquanto.—Me diz, você tá afim de me fuzilar ou vai mirar direto na minha cabeça?

Ignorei o papo dela e me concentrei diretamente na estrada, eu precisava me segurar pra não matar ela aqui mesmo.

—Não tem graça se você não me responder.—Ela diz cruzando os braços em impaciência.—Eu posso muito bem ligar pros meus amigos que ficaram de guarda e mandar eles matarem ela já que você claramente não se importa.

Essa foi a gota d'água, agarrei seu pescoço com força, não preciso do Hatter pra matar ela.

—Agora eu gostei de ver.—Seu rosto já estava vermelho e mesmo assim continuava a me olhar de forma desafiadora.—Vamos lá, você pode fazer melhor que isso.

Tudo o que eu queria era matar ela, apertar seu pescoço até o corpo dela ficar mole e jogar seu cadáver na estrada, mas não posso, eu tenho que me segurar até pelo menos achar a Karol, depois vou poder acabar com ela. Eu a solto e a mesma puxa o ar com dificuldade.

—Você até que é bem forte pra alguém com seu porte físico, eu estava prestes a desmaiar sabia?—Ela respirava com dificuldade mas ria como uma criança.—Acho que você vai ser o melhor oponente que eu já enfrentei, mal posso esperar!

As portas do ônibus estavam abertas, nós aviamos chegado.

—Me acompanhe.—Ela se levantou e começou a andar, eu segui logo atrás.

Estávamos no meio do nada, havia um armazém abandonado bem a nossa frente o qual nós nos aproximamos em passos lentos, estava tenso, ela podia atacar a qualquer momento e eu deveria ser rápido se quisesse sobreviver.

O armazém estava vazio por dentro, seguimos mais a fundo e chegamos a uma espécie de elevador o qual ela chamou e segundos depois nós adentramos e ela apertou o andar mais baixo, ficamos um bom tempo descendo em silêncio, ela parecia animada com alguma coisa, provavelmente estava ansiosa pra me matar, mas não seria tão fácil quanto ela pensa.

As portas se abriram outra vez, estávamos em um corredor extenso com poucas lâmpadas no teto o iluminando, parece que esse é o fim da linha...

—Hatter!—Antes que ela tivesse tempo de reagir o Hatter acertou dois tiros a queima roupa em seu peito e um em sua perna e usei essa deixa pra correr pra fora do elevador.

Olhei pra trás por um instante e vi seu corpo jogado no chão do elevador com as roupas já encharcadas de sangue, parece que ela não era tão forte assim.

Cheguei ao final do corredor ofegante e já chutei a porta, encontrando uma pessoa amarrada em uma cadeira com um saco preto em seu rosto, só podia ser ela.

—Q-Quem tá aí!?—A voz desesperada dela perguntou, acho que não pouparam esforços pra assustá-la.

—Sou eu, vamos sair daqui.—Tentei mostrar o máximo de calma possível diante daquela situação, alguém provavelmente viria investigar a causa dos disparos, e eu não queria estar aqui quando isso acontecesse.

—Luke!? O que você tá fazendo aqui!?

—Me agradece depois.—Invoquei o Hatter e atirei contra a corrente que restringia seus braços e tirei o saco, encontrando uma expressão desesperada em seu rosto.

—Não Luke, você não entendeu, aquela usuária...

—Não se preocupe, eu matei ela.

—Você o que!?—O desespero dela apenas cresceu com essa informação.

—Não temos tempo, vamos sair logo daqui.

—A usuária Luke, ela não morreu, você só fortaleceu ela!

Assim que ela diz isso ouço passos pesados vindo do fundo do corredor, e então escuto uma lâmpada explodindo, depois outra, e outra, e outra.

Pude ver alguma coisa vindo na nossa direção, alguma coisa enorme...