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Chapter 9 - Capítulo 8: Jasper

O ar cheirava a cinzas, conforme eu me aproximava daquele Fable a temperatura a minha volta aumentava drasticamente, Jasper parecia perder a coragem a cada passo meu, até que finalmente começou a flutuar na direção contrária.

—Hatter.

Meu Fable estendeu a o braço vestido com a manopla na direção dela, senti o calor aumentar ainda mais, era quase insuportável mas me mantive firme, Jasper parou vendo uma parede de fogo a sua frente, Hatter fez um único movimento circular com os dedos da manopla fumegando, a parede se estendeu formando um círculo à nossa volta, éramos só nós e ela agora.

—Vê se controla esse fogo, ou vai acabar matando nós dois!—Olhei Hebron nos olhos por um único instante, foi o suficiente pra que ele se calasse.

Voltei minha atenção à palhaça, havia medo no seu rosto, mas ainda tinha valentia, era como um animal encurralado e ferido pronto pra lutar pela vida se preciso.

—A garota, onde ela está?—Jasper franziu o cenho, mostrou surpresa e fechou a cara em uma carranca de ódio em uma fração de segundos, parece que agora ela entendeu.

—Vocês não vão tirar ela de mim!

Foi como mágica, o lugar todo escureceu e ela se escondeu nas sombras, ótimo, hora de ver do que esse braço novo é capaz.

—Hebron, sente o cheiro dela?—Acho que ele finalmente percebeu que ainda estava aqui quando eu gritei seu nome.

—Sim, esquerda!

O calor no braço do Hatter se intensificou, partes do metal brilharam em um laranja intenso, pude ver a movimentação da Jasper a minha esquerda e decidi lançar um ataque, o Mad Hatter estendeu seu braço na direção dela. Senti o calor aumentando na palma da minha própria mão enquanto a do Hatter concentrando o calor no seu, toda a temperatura se transforma em fogo e um projétil disparado da manopla acerta Jasper em cheio.

Quando ouvi os gritos da palhaça ecoando pelo lugar, sabia exatamente onde ela estava, estendi o poder do fogo para o ambiente, ao nosso redor a escuridão foi se esvaindo, vários pequenos pontos brilhantes iluminam pelo salão, bolas de fogo, centenas delas.

Agora eu podia vê-la claramente e podia ver a marca negra no peito onde a bola de fogo havia acertado, ela observava cada uma daquelas bolas incandescentes a sua volta com apreensão, eu percebi isso de imediato, ela esperava o ataque a qualquer momento.

—Vou te perguntar outra vez: onde está a garota?—Permaneci calmo, apesar de estar queimando em pura raiva, se essa coisa fez alguma coisa com a garota...

—Ele me falou de vocês... O Flying Dutchman... Ele disse que queriam fazer mal a ela, que viriam procurar ela aqui...—Seus olhos não desviavam de mim, ela claramente quer me matar, mas acho que isso tudo não passou de um mal entendido.

—Pois então ele te enganou, não queremos machucar ela, só queremos ter certeza que está bem.—Eu disse mas discretamente criei um portal perto do Hebron e fiz um sinal discreto com a mão, tenho certeza que ela não vai acreditar na gente tão fácil.

—Eu não acredito em você.—Ela ainda está muito alerta, acho que no final não temos escolha.

—Pois então vamos ter que continuar lutando.

Hatter levantou seu braço, pronto pra mandar as bolas de fogo em sua direção, ela já se preparando pra se esquivar, era a hora de agir, enquanto ela esperava o ataque de cima eu abri a saída do portal do Hebron atrás dela.

Ela deve ter sentido que algo estava errado mas já era tarde, no momento que a palhaça se virou foi recebida por um soco do Big Bad que a jogou no chão, mas ao invés de cair desacordada apoiou-se no chão e se arremessou na direção do Big Bad, acertou seu rosto, Hebron sentiu aquele golpe, vi sua boca jorrar um pouco de sangue.

Mas não havia terminado ainda, tive que me segurar pra não rir dela usar o rosto do Big Bad como impulso pra se lançar na minha direção.

Bem, chega de brincadeira.

Abri um portal pequeno ao meu lado e lancei uma bola de fogo através dele, o fechei logo depois, não iria precisar dela agora. Hatter se moveu a minha frente e cruzou os braços na frente do rosto pra se defender, quando o pé dela acertou seus braços eu o comandei a abri-los o que a lançou no ar aberta a um golpe, concentrei brevemente o calor no punho e acertei um soco forte em sua barriga.

Seus gritos encheram o salão quando o impacto a arremessou longe, mas logo pararam, ela não estava mais lá, tinha desaparecido em pleno ar.

Ouvi o som de uma respiração ofegante atrás de mim, olhei por cima do ombro e lá estava ela me olhando com uma raiva incontrolável no olhar, os dentes afiados como navalhas curvando os lábios em uma carranca de ódio assustadora, eu me surpreendi pela primeira vez naquele dia, não consegui prever esse movimento.

Mas não durou muito, era a hora de usar a minha carta na manga, abri um portal atrás dela e assisti enquanto a bola de fogo a acertava pelas costas e a tirava o equilíbrio, deslizei meu pé pela areia do chão atrás de mim e preparei meu punho, Hatter acompanhou meu movimento com a manopla do Daredevil, afundando a sola da bota na terra, usamos o impulso do giro pra acertar o rosto dela com toda a nossa força.

Percebi a sua tentativa de repetir o mesmo golpe que havia usado contra o Hebron e antes disso comandei o Hatter e o mesmo pisou em seu pescoço. Ela agarrou a perna dele, arranhando desesperadamente com suas garras, mas me mantive firme mesmo com o sangue escorrendo das feridas na minha perna, ela ficaria ali até se acalmar.

—Quanto mais você resistir mais forte eu vou pisar.

Ela apenas sorriu, como alguém pode sorrir numa situação dessas? Logo entendi, ela usou aquele poder de teleporte outra vez, mas não se teleportou pra trás de mim, ela foi atrás do Hebron.

—Atrás de você!

Ele ainda se recuperava dos golpes que havia recebido, não daria tempo, o Big Bad era lento demais...

Ela levantou as garras e sorriu olhando diretamente pra mim enquanto levantava as garras e assistia o desespero dele.

Suas garras desceram com tudo e o sangue espirrou pra fora da ferida.

Hebron parecia surpreso, mas Jasper também, ela não havia atingido ele, havia um portal em suas costas.

Meu corpo cambaleou um pouco, a ferida não estava tão profunda, mas tive que mandar o Hatter me segurar pra não dar de cara no chão, merda, isso vai deixar uma marca...

Senti gosto de sangue, tossi um pouco e vi sangue escorrendo pelo canto dos meus lábios. A luta havia parado, Jasper parecia surpresa demais pra querer atacar o Hebron e vice-versa.

—Você é maluco por acaso? Eu podia ter acertado o seu coração...

Abri a boca pra respondê-la, mas acabei tossindo outra vez.

—Nem mesmo eu sei, meu corpo se mexeu sozinho antes de eu conseguir sequer pensar.

Consegui ficar em pé com muito esforço, olhei bem no fundo dos olhos do Hebron e depois passei pros da Jasper, acho que tenho a resposta.

—Mas pensando melhor nessa questão, tem uma pessoa inocente se recuperando de uma facada que ela levou por culpa minha, é eu acho que isso mesmo...—Agarrei o que havia restado da minha camisa e a arranquei, tive que conter um grito de dor depois de ordenar o Hatter a cauterizar a ferida, deixando uma marca permanente no meu corpo.—Eu prefiro morrer do que ter que ver mais alguém se machucar por minha causa!

O Hatter já estendia a mão na direção dela e concentrava o calor quando passos foram ouvidos ecoando pelo lugar, não eram de nenhum de nós três, alguém se colocou entre nós, uma garota.

Os olhos castanhos tinham uma coloração quase avermelhada na luz, a combinação dos olhos e a pele pálida lhe dava um ar delicado, como uma boneca de porcelana perfeitamente moldada pelo melhor artesão do mundo, os cabelos negros em um pixie cut com uma franja ondulada sobre o olho esquerdo, tinha um batom vermelho sutil nos lábios finos e um delineado preto complementam a beleza natural, ela aparentava ter a mesma altura que eu e provavelmente também era filha de algum CEO porque as roupas que ela vestia eram simplesmente deslumbrantes, um vestido tomara que caía vermelho vibrante com detalhes pretos floridos ao longo da saía, um salto vermelho, muito provavelmente o motivo de ter a mesma altura que eu, um colar enfeitado com três jóias vermelhas e brincos de cruz, a elegância em pessoa.

Por trás de todo aquele visual estava a garotinha da minha visão, não havia dúvidas, e ela parecia viva e bem, bem até demais pra ser sincero.

—Não se preocupe, ninguém mais vai se machucar hoje.

Sua voz era suave, serena, quase inebriante, o conjunto da obra aparentava ser uma jovem humilde que havia crescido envolta de luxos e privilégios, mas lá no fundo era possível sentir a malícia sedutora de uma cobra, ela é a definição do dicionário de uma femme fatale.

—Mika...

—Já chega Jasper, eles não são quem aquele homem disse que eram, eu sinto isso.—Voltou seu olhar pra mim.—Estavam me procurando?

—Estávamos seguindo o cheiro do Flying Dutchman e acabamos chegando aqui.

Ela parecia surpresa ao ouvir o nome daquele Fable maldito, abriu a boca pra dizer alguma coisa mas...

—Mika!—Uma voz ao longe, fora da lona, uma mulher chamando por seu nome.

A garota se virou na direção da voz e tive um vislumbre da tatuagem nas costas dela escondida parcialmente pelo vestido, notei algo estranho, uma máscara de carnaval cobrindo seu rosto que não estava lá a um segundo atrás, deslumbrantes detalhes dourados no tecido vermelho, possuía alguns enfeites lembrando o chapéu de um bobo da corte, os buracos dos olhos eram cobertos por um tecido branco pontilhado a fim de escondê-los ainda mais.

—Ela me achou, não posso ser vista aqui.

Vi isso como uma brecha e abri um portal ao seu lado. Ela me olha com uma interrogação no rosto.

—Você primeiro.

Ela ainda parecia meio excitante mas logo o atravessou, sinalizei pro Hebron atravessar e assim que ele o fez, abri um portal acima da minha cabeça e fiz as bolas de fogo flutuando ao redor o atravessar, podem acabar sendo úteis, sabe?

—Você não vem?

Jasper teve sobressalto com a minha pergunta, até eu estava surpreso pelas minhas ações, aquela criatura que a anos assombrava meus pesadelos agora ganhara minha simpatia? Talvez por ela ser importante pra garota, não sei ao certo, mas agora não é hora de ponderar, mas de fugir.

Assim que atravessei e fechei o portal atrás de mim, vi o rosto dela sem a máscara dessa vez, os raios de sol da tarde iluminava seus olhos os dando aquela ilusão de serem vermelhos, contrastando com o azul do meu olho esquerdo, não sei porque mas...

Eu me sinto atraído por aqueles olhos como uma mariposa é atraída pela luz.