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Chapter 13 - Karol Nancy III

[Aviso de gatilho: Assédio e estupro.]

Imaginem a minha surpresa quando o Sunrise se encheu de clientes logo pela manhã. Imaginem então quando vários estudantes me cercaram pedindo meu número e fazendo várias perguntas como: "Você é solteiro?" "Está livre essa noite?" "Qual é o seu tipo?" Foi uma ótima jogada ter aberto a loja perto de uma faculdade, mas já estou vendo os efeitos negativos disso.

Em contrapartida, a Karol parece ter se adaptado bem. Pra falar a verdade, eu acho que qualquer coisa era melhor que o último emprego dela né? Como somos nós dois, pedi pra que ela ficasse de garçonete enquanto eu trabalho no balcão. Apesar do fluxo grande de clientes pela manhã, o resto do dia foi mais tranquilo, com alguns clientes aqui e a ali. Eu sorria como um bobo vendo ela sorrindo e os atendendo radiante. É claro, sempre tem a parte ruim, os jovens estudantes com os hormônios à flor da pele não paravam de direcionar olhares sugestivos a minha funcionária favorita.

"Ah Luke, mas ela é sua única funcionária!" Caguei! Eu não vou ficar aqui parado vendo esses punheteiros comendo ela com os olhos! Toda vez que eu pegava algum deles olhando ela desse jeito, direcionava o meu melhor olhar mortal e eles logo baixavam a bola. Ninguém tem o direito de sexualizar a minha amiga!

Além de mim às vezes...

Enfim, falta pouco pro fim do expediente, o movimento era quase nulo agora, eu e a Karol esperamos pacientemente sentados no balcão. Ela usava a internet no celular-que eu a deixei usar pois sou um patrão muito gente boa-enquanto eu preparava um café em honra ao nosso primeiro dia de serviço. Foi quando ouvi o sino da porta tocando. Me virei e dei de cara com um homem alto e bem vestido se sentando em uma das mesas com uma garota jovem vestindo roupas um tanto... vulgares, eu diria: a mini saia mal cobria alguma coisa da cintura pra baixo, o tomara que caia deixa evidente a ausência de um sutiã, eu nem consigo imaginar como alguém consiga ficar em pé com aquele salto alto, não sou de julgar as pessoas pela aparência mas com roupas assim essa garota deve atrair muita atenção indesejada.

Essa cena chamou minha atenção, a disparidade entre as vestimentas, idades, trejeitos é no mínimo suspeito. Um homem bem vestido e uma rapariga mirim? Na mesma mesa? Eu dúvido muito que eles sejam um casal em um encontro, na verdade esses dois parecem um cafetão disfarçado tentando prender uma jovem em uma vida de prostituição. Acho melhor ficar de olho só por precaução. Mas quem está realmente de olho nesses dois é a Karol. Caramba, ela parece até paralisada em pé encarando os dois. Ela tá bem?

—Karol?

Ela não me responde. Ela desperta apenas quando toco em seu ombro, mas o jeito que ela age, o olhar que ela me direciona... medo. Ela abraça o próprio corpo e se afasta quase instantaneamente, tem alguma coisa errada.

—Você tá bem?—Tento me aproximar estendendo a mão pra tocar seu rosto mas ela se afasta outra vez, ela tá tremendo...—O que foi? Sou eu, Luke.

Só percebo o quão séria é a situação quando lágrimas começam a rolar por seu rosto. Acho melhor ajudá-la.

—Vai lá pra cima, toma um banho, se troca e tenta se acalmar, eu já te encontro.

Ela só acena em resposta e passa por mim de maneira apressada. Assim que a porta se fecha eu chamo o Hatter. Me aproximo junto dos dois e finjo anotar seus pedidos enquanto comando o Hatter a pegar a carteira em seu bolso lentamente, ele não percebe e nem vê meu Fable, então já sei que é uma pessoa comum. Fiz o Hatter guardar a carteira em meu bolso e saio em direção a cozinha. Peguei a identidade, Steve Miller. Acho que já ouvi esse nome, foi julgado e inocentado em 2018 por diversas acusações de cafetinagem, tráfico humano, estupro, trabalho escravo e muito mais no Brasil.

Como sei disso tudo só com um nome e rosto? O caso foi um grande escândalo, haviam inúmeras provas concretas contra o Miller, além de várias testemunhas. Não havia sido a primeira vez que ele era acusado de crimes tão sérios, ele havia sido inocentado dos mesmos crimes três anos antes no mesmo país. Foi um dos maiores exemplos da justiça falha no Brasil. Esse homem é a chave pra talvez destruir uma das maiores redes de tráfico humano do mundo todo, não esperava que a ela estivesse no meio disso tudo aparentemente ela foi mais uma vítima do desgraçado.

A Karol me disse que é brasileira, que acabou sendo forçada a fugir do pais mas nunca me disse se foi por ter matado o irmão ou por algum outro motivo. Acho que agora eu descobri a verdade, mas não estou nem um pouco feliz com esse conhecimento...

Dane-se esse merda, eu preciso ajudar a Karol.

Subi a escada correndo, ouvi o som mórbido do seu choro vindo do vestiário, um choro descontrolado e desesperador. Bati na porta e chamei seu nome, pude ouvi-la permitir minha entrada e assim o fiz, mas o que encontrei do outro lado era completamente diferente do que eu imaginava. Sua aparência estava totalmente diferente, a pele antes clara como o dia era negra como a noite, os olhos azuis claros eram um verde água, os cabelos ruivos de fogo eram agora de um loiro mel que aparentava ser totalmente natural e na altura dos ombros, a ondulação dos cachos era um pouco mais leve, os lábios antes finos eram mais carnudos e acentuados, seu corpo era o que mais havia mudado, possuía curvas muito mais acentuadas e em um formato ampulheta, bem diferente do corpo oval antigo. Ela parecia ainda mais bela que antes, mas não parecia feliz com isso.

As lágrimas rolavam de sua face incessantemente. Ela estava péssima, apesar de estar tão linda. Sentada num banco no canto da sala entre os armários.

—Eu não queria que me visse assim...—Pude distinguir entre os soluços.—Você já sabe né?

—Juntei as peças.

Me sentei ao seu lado em silêncio, estava um pouco afastado pois sabia que ela provavelmente não gostaria de nenhum contato no momento. Ela escondia o rosto nas mãos, parecia ter vergonha dessa aparência, apesar de parecer a forma original. Não perguntarei nada, a esse ponto eu tenho certeza que ela me contará de qualquer forma.

—Eu era só uma criança, eu só tinha 15 anos...—Ela não focava o olhar em algum ponto aleatório na parede, evitando meu olhar. Ela pega algo dos armários, um porta-cigarro, tem o símbolo de uma rosa em uma das abas, parece desgastado com o tempo, ela tira um e coloca na boca antes de se sentar ao meu lado outra vez.—Pode acender?

Não sei se deveria apoiar esse hábito, ainda mais quando ela parece ter sofrido ou ainda sofre com o vício, mas sinceramente? Que mal isso traria? Ela está abalada, acho que um único fumo não faz mal. Aproximei meu indicador da outra ponta e criei uma pequena chama na ponta dele. Seu rosto relaxou assim que a ponta do cigarro se ascendeu e a nicotina invadiu seus pulmões. Ela expeliu a fumaça longe do meu rosto após um longa tragada.

—As vezes eu sinto que eu mereço essa vida de merda...—Ela traga um pouco mais antes de continuar.—Eu menti pra você, meu nome verdadeiro é Alícia Andrade e eu vim do Brasil, eu resolvi mentir sobre isso por ter certeza que você tentaria pesquisar sobre mim caso soubesse, mas acho que você precisa saber a verdade agora...

Eu só havia percebido agora o seu corpo moreno completamente nú, percebi que o braço esquerdo era fechado em tatuagens, a que mais me chamou atenção foi a mais alta, uma rosa em uma cápsula de vidro e uma faixa logo abaixo com os dizeres: Lost Cause, havia outra na lateral da panturrilha, um coração realista entrelaçado pelas raízes tomadas de espinhos de uma rosa e outra faixa: No Love, a mais chamativa era a que cobria inteiramente as suas costas, uma espada envolta nas mesmas raízes e com várias rosas crescendo nelas e outra frase: No Future. Como não havia visto nenhuma delas é provável que ela também seja capaz de esconde-las com o poder da Alice.

—A história que eu já havia te contado é verdadeira. Depois que eu fugi, comecei a usar meus poderes pra sobreviver sozinha, eu roubava e usava meus poderes pra mudar de aparência e não ser pega, quando tinha 15 anos, eu conheci o Steve.

Os olhos pareciam perdidos, focados no nada, eu sabia que as memórias vinham em sua mente a cada palavra.

—Ele tem um jeito galante, uma lábia sem igual, disse que eu era linda, que queria me chamar pra ser modelo, eu acreditei em cada palavra dele, foi ai que ele pagou minha passagem pros Estados Unidos. Depois disso a minha vida se tornou um inferno.

Ela terminou o cigarro e estava prestes a pegar outro quando tirei o porta-cigarro de suas mãos. Seu rosto expressou surpresa pelas minhas ações, ela logo entendeu e recuou, desistindo de continuar com o hábito.

—Ele roubou meus documentos e meu passaporte e me disse que agora eu tinha uma dívida com ele, se quisesse meus pertences de volta eu teria que "trabalhar". Ele me forçou a vender o meu corpo e ai o tormento começou, eu era obrigada a vestir as mesmas roupas que aquela garota lá em baixo veste, era forçada a fazer o que os "clientes" exigiam, por mais nojentos que fossem os hábitos, não me lembro de um dia em que eu não voltava pra casa com hematomas.

—Isso tudo com 15 anos?—Ela apenas assentiu.

—A gota d'água foi quando eu fui estuprada pelo próprio Steve e outros três homens um ano depois...—Ela não conseguiu mais lutar contra as lágrimas, elas rolavam de seus olhos enquanto eu tentava conforta-la com um abraço.—As coisas que eles fizeram comigo... embrulham meu estômago até hoje, eles me espancaram, apagaram cigarros na minha pele, me enforcaram até eu quase desmaiar e isso é só um pouco do que fizeram, depois disso eu desmaiei e fiquei desacordada por três dias inteiros e quando acordei tinha essas tatuagens, mas não eram bonitas assim, eram palavras humilhantes como: Puta, vadia, vaca, piranha, vagabunda e por ai vai, além de vários símbolos e frases humilhantes. Eu fugi nesse mesmo dia pra essa cidade e pedi pra cobrirem as tatuagens mas...

Fiz o Hatter criar um portal e peguei um chá de camomila que eu havia deixado em uma jarra na cozinha e a ajudei a tomar, ela parecia se acalmar lentamente, mas ainda faltava um pouco mais da história. Ela se levantou e caminhou até seu armário, onde se olhou em um espelho.

—Os boatos me seguiram, as pessoas me tratavam com hostilidade ou nojo e eu não conseguia emprego, me fizeram odiar minha aparência!—O som do vidro se partindo foi ecoou pela sala, seu punho ensanguentado ainda tinham alguns fragmentos do espelho quando corri em sua direção e envolvi sua mão com as minhas, eu me assustei com a sua agressividade.—Eu tive que mudar de nome! Mudar minha aparência! Mudar quem eu era, só pra ter um pouco de paz!

Meus braços a envolveram em um abraço firme, ela estava um pouco menor que eu agora então pôde esconder o rosto no meu peito, eu consigo sentir toda a sua dor, o sofrimento dela agora é o meu sofrimento, já chega disso! A partir de agora ela não vai mais sofrer, eu não permitirei!

—Alícia, me escuta.—Me afastei um pouco pra olhar em seus olhos, segurei seu rosto e limpei suas lágrimas.—Lembra do que eu te falei ontem? Lembra do que me prometeu? Pois eu te faço uma promessa agora: Eu não vou deixar ninguém encostar um dedo em você, nem que pra isso eu tenha que matar ou morrer, enxugue essas lágrimas e mantenha a cabeça erguida porque eu vou lutar por você.

Alícia não esboçou reação alguma por longos segundos, tentando processar minhas palavras. Sem aviso, ela me puxa com tudo pelo avental e toma meus lábios pra si. Acabo me surpreendendo, mas retribuo sem pestanejar. Segurei firmemente sua cintura e a grudei em meu corpo, já sentindo ela se arrepiar da cabeça aos pés, os braços em volta do meu pescoço me aproximavam dela com desespero, ela me queria pra si, e é o que teria. Só nos separamos quando o ar faltou.

No meio da respiração ofegante pude ouvir seu pedido:

—Quer namorar comigo?

Meu coração explodiu de felicidade, ela confiava em mim o suficiente pra querer algo a mais!

—Com certeza, of course, tout à fait, qualquer resposta que preferir, se está realmente pronta pra isso eu também estou.

—Eu ESTOU pronta, tudo que eu recebi dos homens que passaram na minha vida foi desprezo e humilhação, nunca tive alguém que realmente se importou comigo como você então eu quero pelo menos tentar, mesmo que no final eu quebre a cara.

Ela deve estar mesmo carente pra querer namorar tão cedo, apesar de já termos passado por poucas e boas juntos, mas quem sou eu pra reclamar não é? É estranho dizer isso, mas eu tenho uma namorada! Quase não acredito, nessa realidade, ela tá tão diferente de antes e mesmo assim eu ainda sinto a atração que eu sempre senti por ela na forma antiga é tão surreal que não consigo evitar de acariciar seu rosto com o polegar. Mas eu agradeço por ela ter esquecido um pouco o passado, minha vontade é segura-la em meus braços pelo resto da vida. Mas acho que essa é a parte em que eu dou uma de cuzão, sabe, pra não perder a pose. Suspiro bem próximo do seu ouvido:

—Agora vai tomar um banho sua porquinha, você tá fedendo a suor e cigarro.

Sua expressão se fecha na hora, ela se afasta quase me da um leve tapa no ombro. Acabo rindo da sua reação, ela já esqueceu completamente do passado com a minha brincadeira então cumpri meu objetivo.

—Você sabe ser um puta de um cuzão as vezes, hein? Já tô começando a pensar duas vezes nesse relacionamento.—Ela diz dando as costas, mas é nítido o divertimento na sua voz.

Ela caminha pela porta e mais uma vez acabo lembrando que ela estava nua o tempo todo quando ela caminha jogando os quadris de forma sugestiva, o sorriso malicioso que ela me lança por cima do ombro antes de sair pela porta só confirma que ela fez isso pra me provocar. E sinceramente? Funcionou muito bem. Eu tive que me segurar pra não segui-la no chuveiro.

A única coisa que me fez mudar de ideia foi aqueles dois no andar de baixo. Eu não quero o Miller na minha loja, eu não quero ele perto da Alícia, mas também seria ruim arrumar briga com esse cara, ainda mais agora que estamos juntos. Melhor achar uma desculpa pra expulsar eles daqui.

Desci as escadas e encontrei os dois ainda sentados no mesmo lugar, essa menina é uma desmiolada se acha que esse homem vai transformar ela em uma modelo ou coisa assim, eu até a ajudaria se pudesse, mas ela provavelmente não vai me escutar.

—Senhor, vou ter que pedir que se retirem.—Ele me olha como se tivesse um abacaxi na cabeça, claro, eu sou o esquisito, não é como se tivesse um traficante de pessoas na sala não é?

—Por que!?—O tom hostil, os punhos cerrados, o rosto ficando vermelho, pelo jeito o Miller tem um pavio curto.

—Este é um estabelecimento familiar senhor.—Disse estendendo o olhar pra garota que apenas rola os olhos em resposta. O Miller se levanta e chega bem perto, tentando me intimidar com o tamanho, ele realmente é alto, mas não estou nem um pouco assustado e meu olhar indiferente mostra isso muito bem.

—Você vai mesmo expulsar alguém que tá pagando pra estar aqui?—Ele sussurra em outra tentativa patética de intimidação.

—Terno bonito, comprou recentemente?—Sussurro de volta mostrando a etiqueta do terno que tirei sem ele ver, ele parece surpreso e recua um passo pra trás.—Dê o fora da minha loja antes que eu decida sujar ele com o seu sangue.

Dito e feito, ele chama a menina e os dois saem, não antes de eu devolver a carteira que eu havia roubado.

—Língua afiada, hein?—É Alícia, ela saia já vestida da cozinha enxugando os cabelos com uma toalha.

—A lábia é o meu forte, mozão.

—Mozão?—O sorriso de lado e a sombrancelha arqueada.—Ave Maria boy! Mal começamos a namorar e você manda essa? Atirado você hein?

Não sei se é efeito da forma original dela ou coisa assim, mas posso perceber o sotaque baiano nas suas palavras, acho que já sei de qual estado brasileiro ela veio. Seu caminhar em minha direção era mais como um desfilar ousado, com uma jogada de quadris quase exagerada e a mão apoiada na cintura, nunca vi esses trejeitos dela antes, acho que ela começou a se soltar mais na minha presença. Me sinto feliz com isso, saber que ela confia realmente em mim. Envolveu meu pescoço e olhou nos meus olhos.

—Pega a visão beinho, que tal a gente dar o gás? Curtir um pouco agora que a gente tá junto?—Acabo rindo do jeito que ela fala, se tivessem me dito que a Karol casca grossa que eu conheço é uma baianinha arretada eu jamais teria acreditado.—Que foi?

—Seu sotaque é fofo.—O rosto dela escurece, suas mãos cobrem sua boca, acho que ela nem percebeu o jeito que acabou falando.

—Meu Deus, e-eu falei com meu sotaque?—Eu só aceno ainda rindo um pouco.—Jesus que vergonha, eu achei que eu tinha parado...

Agarrei sua cintura firmemente e a colei no meu corpo, seus olhos se arregalaram com o movimento repentino.

—Pra que se envergonhar mozão? Eu acho muito fofo. Mas respondendo sua pergunta, acho que só uma noite de Netflix na sua casa já tá ótimo.

—Oxe, a minha tv não tem Netflix...—Acabo sorrindo me lembrando da surpresa que eu havia preparado e isso a confunde ainda mais.

—Feche os olhos, eu tenho uma surpresa pra você.—Mesmo confusa, ela o faz e se vira de costas pra mim.

Abri um portal pra sua casa e o atravessei com ela.

—Pode abrir.

Eu quase consigo ouvir seus olhos se arregalando e sua boca se abrindo em um perfeito o quando vê os móveis novos, eu substituí praticamente a casa toda. O sofá agora não quebraria suas costas quando sentasse nele, o fogão não a mataria de tétano, a geladeira realmente manteria sua comida fresca agora e ela poderia finalmente ter uma boa noite de sono com a cama de casal. Sem falar na smart tv de noventa e duas polegadas na parede. Agora sim isso parece uma casa de verdade.

—Você... comprou isso tudo?

—Não acho que você merece morar naquelas condições depois de tudo que você passou.

—Quando foi que você comprou essas coisas? Pra onde foram os móveis antigos?

—Você chama aquelas tralhas velhas de móveis?—Me surpreendi com a aproximação rápida dela, Alícia parecia irritada por algum motivo.

—Pois fique sabendo que eu tenho muito orgulho daquelas "tralhas", antes delas o único conforto que eu tinha era um lençol velho que eu usava pra me esquentar a noite, antes daquele colchão desconfortável eu dormia no chão de um armazém velho com medo de ser estuprada e morta, essa era a minha vida antes dessas "tralhas".

Acabo tendo uma epifania, ela não tinha nada, então o pouco que ela tinha era uma vitória...

—Desculpa, eu entendo como aquelas coisas eram importantes pra você, não vou mais fazer pouco caso das suas conquistas.—Meus dedos tocaram sua face tão gentilmente que quase nem sinto a maciez da sua pele.—Mas eu também não vou ficar parado enquanto você passa por dificuldades, ainda mais agora que estamos juntos.

Senti seus dedos delicados em minha mão enquanto ela a segurava, trazendo-a mais pra perto do seu rosto, ela parecia fechar os olhos enquanto apreciava a sensação. Quando estava prestes a beija-la, senti uma sensação familiar.

Familiar, mas não boa...

A coisa que saiu do Jefferson, aquele demônio, ele tá aqui!