—V, o que você tá fazendo em pé!?—Uma Victória desesperada adentrou os aposentos da capitã, a mesma vindo logo atrás. O Tríade havia atracado outra vez no porto de Staten Island.
—Vic...—A repreendeu instantâneamente quando viu Valery por cima de seu ombro encostada na porta de braços cruzados, ele estava sem máscara e ela havia acabado de dizer seu nome real.
—Não se preocupe, ela já me contou um pouco da história.—A capitã disse tentando tranquilizá-lo, o que não funciona nem um pouco, o olhar de repreensão que ele lança a ela mostrava isso.—Ela me poupou da maioria dos detalhes, mas deu pra ter uma noção de tudo, me fez prometer que não contaria a ninguém.
—Poderia nos dar um tempo a sós?—Mesmo com V a pedindo, Valery já planejava sair, não queria presenciar o bate boca daqueles dois e sendo assim ela saiu fechando a porta logo atrás.—Você enloqueceu!? Eu te falei que pra guardar segredo!—V exclamou assim que a porta foi fechada.
—Você quase morreu! Segredo nenhum vale a sua vida!—Victória começou a levantar a voz também e a discussão teve início.
—E daí se eu quase morri!? Qual a necessidade de contar pra ela!? Ela saber ou não, não me traria de volta à vida!
—Me escuta, quando a Valery lutou contra o Wallace, ele disse pra ela que você era o motivo dos Espadachins estarem sendo alvos de ataques das El Clonado e dos Insecter, eu achei que ela não ia acreditar mais eu vi, só por um momento, ela exitou, fiquei com medo dela acreditar nele então contei sobre você, disse que você um dia foi alvo deles e por isso estão sendo atacados.
—Desgraçado...—V cerrou os punhos ao descobrir que seu pior inimigo havia fugido.-Ele já sabe que sou eu atrás da máscara.
—Você não se esforçou muito pra se esconder pra sincera, seu disfarce é só um cabelo branco e roupas de cores diferentes.
—Eu forjei a minha morte, comigo estando "morto" as suspeitas sobre eu ser o mercenário mascarado deveriam ser zero, ainda mais que ele mesmo viu a réplica da minha cabeça decepada, pelo visto ele é mais esperto do que eu pensei.—Com sua mente divagando sobre várias perguntas, uma delas ele usou para quebrar o silêncio.
—Quem cauterizou meu ferimento?
—Fui eu, sorte sua a minha alabarda ser infundida com magia de fogo, do contrário você teria morrido em poucos segundos.
—O Wallace viu você me salvando?
—Não, estava ocupado demais tentando não ser morto pela Valery.
—Ótimo...—Um silêncio desconfortável se instaurou no lugar enquanto V pensava no aue falar a seguir.—Graças a você eu vou viver por mais um dia, só tente não quebrar meu disfarce da próxima vez ok?
Victória abriu um sorriso caloroso para ele, o tipo de sorriso que poderia derreter até o mais frio dos corações e apaixonar até o homem mais recatado de todos, se V não fosse apaixonado por Astrid com certeza estaria encantado com aquele rosto radiante.
—Você tem algum plano agora que seu disfarce já era?
Qualquer um se sentiria impotente diante de uma situação como essa, mas não V, ao invés de se frustrar ele exibiu um sorriso de orelha à orelha. Uma expressão tão calma e tranquila que acabou assustando Victória, ele ainda não havia desistido.
—Não se preocupe, ao contrário do que parece, está tudo sob controle.
V caminhou calmamente pelo quarto, pegando sua máscara em cima do criado mudo ao lado da cama de casal pertencente à Valery e a vestindo, ao longe, algumas aranhas haviam se amontoado na pilha de trapos que agora eram as suas roupas, tecendo, costurando, reparando. Não demorou até o manto real do príncipe dos Tecelões estar de volta em toda a sua glória e ele o vestir.
Pegou sua capa no caminho até a porta e guardou Orenmir em suas costas.
—Vamos? Temos muito a fazer.—Apontou com a cabeça para a porta aberta dos aposentos da capitã. Victória, ainda pasma com sua reação, o seguiu.
Não demorou para que Valery se juntasse a eles, dessa vez, ela e Victória conversaram bastante entre si, levando em conta que a mais velha agora sabia dos segredos, ou parte deles nesse caso.
V por sua vez não conseguia parar de pensar nas palavras escritas pelo Dracula, tirou a carta do bolso instintivamente enquanto ponderava sobre toda a situação, quanto mais pensava, mais sua cabeça girava, quem estava mentindo? Dracula, ou a máquina?
O lorde vampiro era a criatura mais antiga da terra, estando vivo antes mesmo da separação das raças, ele não mentiria sobre algo assim, não depois de V ter salvado sua esposa. Mas e se ele não se lembrasse de todos os detalhes corretamente? A idade poderia ter deteriorado sua memória, mas mesmo assim, os registros da máquina provavelmente foram escritos por alguém tão antigo quanto.
Essa situação parecia queimar seus neurônios, sua cabeça estava quente de tanto pensar, na verdade, que calor era aquele no elevador do prédio da Sra. Bright?
Foi com o calor que V despertou de seu transe, a carta que ele segurava estava em chamas, um fogo mágico na verdade, isso levando em conta a coloração daquela brasa, que alternava entre todas as cores do arco-íris, não demorou muito até o fogo consumir as palavras do Dracula completamente e se alastrar até sua mão.
—V!—Victória já se desesperava, mas ao notar do que se tratava logo se acalmou.—Ah, é só fogo.—E voltou a conversar com Valery como se nada tivesse acontecido.
A verdade era que nem mesmo V se sentia desesperado, diferente de todos os Monstros Insecter e Aracna, os Tecelões são completamente imunes ao calor, o que os torna praticamente imparáveis, já que não compartilham a mesma fraqueza de seus companheiros.
Aquela chama mágica tomou conta de sua mão esquerda completamente e queimou forte por mais alguns segundos antes de se apagar por completo, deixando uma estranha marca nas costas de sua mão, não era uma cicatriz pois a mesma ainda era visível quando V tirava seu exoesqueleto, era o símbolo de um morcego que, assim como o fogo, alternava suas cores.
—Isso é...?—Inko apareceu ao seu lado parecendo intrigado pela situação.
—Um presente mágico, era assim que os Monstros da antiguidade se presenteavam, esses presentes são todo o conhecimento sobre algum feitiço que o remetente conheça, o que faz com que o destinatário seja capaz de usar qualquer técnica que o remetente seja capaz de usar.
—E qual feitiço o Sr. Dracula lhe deu?
V tirou uma pedra de runa do bolso e a segurou com a mão esquerda.—Nunca vi um feitiço assim...—A chama multicolorida se ascendeu na pedra e continuou queimando até nem mesmo restarem cinzas.—Uma chama que nunca apaga, que queima até que nem mesmo a alma exista.
—Eu não sabia que algo tão poderoso existia...—Inko observava aquela brasa queimando vívida na mão do Tecelão com um espanto inexplicável, era como se aquele poder bruto o queimaria apenas de olhar para ele.
—Eu também não...—As portas do elevador se abriram e V foi o primeiro a sair, apagando o fogo em sua mão para que as outras duas não o vissem.
—Mas eu seria um tolo em não aproveitá-lo.