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Chapter 33 - Chuva

—Eu tô quebrada...—A taverna Recanto da Guerreira em Temiscira sempre ficava lotada à noite, apesar de toda a aglomeração (E do fato dela ainda não ter idade para beber), Astrid gostava daquele lugar.

O motivo era simples, ela podia ver fêmeas e machos interagindo entre si, agora que os homens estavam de volta as fêmeas podiam focar em outra coisa além do treino, o que ela queria mesmo era pegar dicas com as outras: Quem sabe eu não possa usar com o V. Ela pensou.

Observou quando um dos garçons se aproximou da mesa de uma alfa só para ser puxado pela mesma para a cadeira ao lado, os olhos vermelhos do macho fitaram-na em um misto de medo e constrangimento apesar da fêmea ser bem menor que ele.

—E aí...—Ela fez uma pausa lendo o crachá com o nome dele.—Jericho, alguma dessas fêmeas tá te incomodando?

—N-Não senhora...—Desviou o olhar para o chão, não sabendo como reagir à aproximação da fêmea.

—Senhora?—Uma leve risada escapou de seus lábios.—Não precisa de toda essa formalidade, pode me chamar só de Claire, me diz uma coisa, por que você não senta comigo e bebe um pouco?

—M-Mas, o meu trabalho...

—Tenho certeza que a sua chefe não vai se importar, e mesmo que se importe é comigo que ela ficaria brava.—Puxou-o pela cintura, colando seus corpos.—Mas se por acaso ela te der problemas só me fala e eu acabo com ela, tenho certeza que eu consigo.

Eita, gostei, ela tem atitude...

Um som alto vindo do balcão a tirou de seus pensamentos, Ragnar estava alí, imobilizando uma fêmea em cima do balcão.

—Tá bom! Tá bom! Eu já entendi! Não vou mais dar em cima de você, eu juro!

Ragnar a soltou e a mesma saiu dali correndo.

—Partindo corações Ragnar?

—Já é a terceira só hoje, parece que algumas delas não entendem a palavra não.

—Deu pra ver, fazem só alguns dias que a Leona permitiu a entrada dos machos em Temiscira e as garotas já estão se empolgando.

—Ouvi que alguns garotos vão começar a usar gargantilhas ou coleiras pra tentar afastar as outras fêmeas, talvez eu use alguma também.

—Ainda assim, é perigoso sem a Victória pra te proteger, tem certeza que não quer que eu ou a Verônica te acompanhe?

—Você tem o treino com a Leona e a Verônica tá ocupada ajudando na luta contra as El Clonado, agradeço a preocupação mas vocês deviam pensar em si mesmas agora.

—Não consigo, sinto que estaria falhando como mulher se deixasse um garoto passar por essas coisas, eu tenho um irmão, um pai e um namorado, jamais iria querer que eles passassem por isso.

Um sorriso terno se forma nos lábios do macho, Astrid tinha algo que muitas mulheres ultimamente não tinham: empatia.

—Quer saber, acho que foi isso que a Leona viu em você.—Sentou ao lado dela no balcão antes de continuar.—Mesmo sendo uma fera você ainda tem um lado humano.

—E é por isso que aquela velha está errada sobre você.—Uma voz familiar soou atrás dos dois.

—Clisyne...—Astrid respirou fundo para conter sua raiva, a fêmea à sua frente tinha aquele olhar desafiador irritante em seu rosto.

Durante os poucos dias que esteve treinando com Leona, muitas foram as pessoas que questionaram a decisão da rainha de treinar pessoalmente uma fera urbana, mas nenhuma delas era tão ousada quanto Clisyne, a beta com seus quase dois metros de altura, a infame cicatriz atravessando o olho esquerdo (ferimento esse que a havia deixado cega daquele olho.), e uma implicância quase obsessiva pelo fracasso de Astrid, Clysine era a pedra no sapato da grisalha.

A paciência curta de Astrid já estava se esgotando com aquela fêmea, na mesma hora que seus olhos se encontraram com os da gigante beta, Astrid já estava de pé a encarando de frente, não seria a primeira vez que encararia alguém muito maior, e com certeza não seria a última.

—O que você quer agora?—Astrid quase rosnou quando viu os cantos dos lábios de Clysine se curvaram em um sorriso vitorioso, tudo que a outra queria era tirar uma reação da outra e Astrid havia lhe dado exatamente o que ela queria.

—Só quero mostrar a verdade pra todos, inclusive pra você.—Abriu os braços e se virou para encarar o resto das pessoas no bar que a essa altura já haviam se calado diante de toda a confusão.—As outras podem até não dizer nada, mas vão concordar comigo, você é uma fera urbana, uma que só se descobriu recentemente e já está sendo treinada pra se tornar a próxima rainha, eu não acho isso muito justo, você nem uma Alfa é ainda, o que te torna diferente de todas nós?

Clisyne sorriu vitoriosa outra vez, as feras no bar podiam até não ter coragem para ir contra Leona, mas ela podia ver, bem lá no fundo todas elas concordavam com suas palavras, após isso, continuou:

—Ele diz que é por você ainda ter uma parte humana, mas é exatamente isso que te torna a última pessoa digna do trono, e se algum dia os urbanos decidirem nos atacar? De que lado você estaria nessa guerra?—Clisyne havia se aproximado demais, Astrid tinha seus punhos cerrados, cravando as unhas nas palmas de suas mãos para tentar conter sua raiva.—Que tal decidirmos isso de uma vez por todas? Proponho uma luta perante o trono, sem magia, apenas garras e presas, a vencedora se provará não só perante a rainha, como também perante toda Temiscira, a perdedora...—Se aproximou do ouvido da rival antes de continuar.—Será executada na frente de todos.

Clisyne se afastou com um sorriso cínico, que logo morreu quando viu Astrid rindo. A mesma se afastou até o balcão e terminou o suco de laranja que estava bebendo, chamou Ragnar e os dois se dirigiram até a saída.

—Ei! Aonde você vai!?—Perguntou uma Clisyne confusa, Astrid apenas a olhou por cima do ombro.

—Eu não tenho que provar nada pra ninguém.

E os dois saíram, deixando Clisyne frustrada e furiosa, extremamente furiosa. Astrid aceitaria seu desafio de um jeito ou de outro, porém, o que Clisyne faria em seguida a condenaria a um destino muito pior do que a morte.

A fêmea enraivecida seguiu os dois de uma distância segura, e quando Astrid seguiu um caminho diferente de Ragnar, ela atacou.

O macho foi empurrado por ela para um beco escuro, quando suas costas bateram contra o concreto e seus olhos reconheceram Clisyne, a surpresa se tornou raiva.

—Que porra você acha que tá fazendo? A Astrid já disse que não vai lutar com você.

Tentou passar pela fêmea não sabendo o que ela planejava, a mesma apenas o empurrou de volta para a parede.

—A Astrid não tem nada haver com isso, eu tô bastante irritada com ela, você vai aliviar meu estresse se é que entende.

Por um instante Ragnar ficou confuso, mas ao processar as palavras dela por um instante, a raiva pela fêmea apenas aumentou.

—Você só pode ter ficado louca, eu estou  noivo e mesmo que não estivesse, eu não ficaria com você nem se fosse a última mulher da terra!—Clisyne se aproximou do macho em passos lentos fazendo com que ele se afastasse um pouco, mas como se tivesse recuperado sua coragem, ele parou e a encarou nos olhos sem nenhum medo, apenas para encontrar o olhar predatório da fêmea e sentir um calafrio subir pela espinha.

—Quem disse que você tem escolha?—Ao ouvir aquelas palavras, Ragnar não pensou duas vezes antes de transformar seu braço esquerdo na pata de urso e a lançar rapidamente contra o rosto da fêmea, apenas para vê-la nem sequer se mexer com o golpe.—Essa é a resposta errada.

Foi a vez da fêmea atacar, um soco no estômago do macho foi o suficiente para tirar todo o ar de seus pulmões, apesar do forte golpe, Ragnar continuou de pé protegendo a barriga, tendo seu pescoço agarrado pela fêmea com força, seu corpo foi jogado contra a parede e levantado acima do chão. Os punhos do macho acertavam o braço o privando de ar com toda força que tinham, sem nenhum efeito.

Seus olhos já rolavam e seu corpo estava mole quando a fêmea o soltou, caiu de pé a sua frente tentando recuperar o ar.

—Viu só como seria fácil de te matar? Não resista e isso vai acabar logo.

Apesar de estar apavorado e da dor aguda que sentia, Ragnar ainda não havia desistido.

—V-Vai pro inferno!—Tentou acertar um chute nas costelas da fêmea, mas foi lento demais e teve sua perna restringida por ela.

—Não me deixa escolha.

Com o cotovelo, a fêmea acertou o joelho do garoto, o som de ossos se quebrando foi acompanhado do grito de dor do macho, que finalmente caiu no chão junto de toda a sua coragem. Clisyne levantou sua cabeça pelos cabelos e lhe acertou um forte soco no rosto, seu cabelo foi puxado outra vez sendo obrigado a olhá-la nos olhos.

—Por acaso vou ter que te bater mais ainda?—Os braços de Ragnar levantados para defender o rosto eram resposta o suficiente. Rasgou as roupas do macho com facilidade e o agarrou pelas bochechas.—Resistência gera violência, então é melhor que eu não veja mais nenhum pelo crescer no seu corpo ou eu vou te espancar até que nem mesmo a sua noiva te reconheça mais, entendeu!?

Não havia mais nada que o macho podia fazer, Astrid não veio por ele e o medo e a dor o impediam de resistir, Ragnar apenas esperou a fêmea terminar e quando ela o deixou sentado alí, com a perna quebrada e o sangue jorrando de sua boca, quando a chuva começou a cair sobre ele...

Foi quando ele começou a chorar...