Chereads / Monster Boy: V / Chapter 35 - Fúria

Chapter 35 - Fúria

De repente, Astrid acordou em um sobressalto, ela ainda estava de pé falando com o médico.

Eu podia jurar que tinha perdido o controle...

Afastou os fios brancos grudados no rosto, limpou o suor da testa com as costas da mão e esfregou o rosto, estava exausta, ela só queria saber como Ragnar estava e tentar dormir um pouco, se é que sua mente a permitisse tal privilégio.

-Você está bem?-O médico a olhava com um semblante preocupado, provavelmente se perguntando se deveria preparar outra maca, Astrid não parecia nem um pouco bem, na verdade.

-Sim, só preciso descansar um pouco, você dizia?

O rapaz a analisou um pouco mais e logo voltou a falar.

-Eu dizia que assim como a maioria dos casos a culpada não se importou em deixar material genético na vítima, pegamos ela em breve, já o Ragnar vai ter que passar por acompanhamento psicológico, o trauma é grande pra todo mundo.

-Claro, vou fazer o possível pra ajudar, posso ver ele agora?

-Claro, mas ele está dormindo agora, sugiro que não o acorde.

Astrid passou pelo médico com seu cheiro ainda invadindo suas narinas, foi só quando chegou ao corredor principal que a mesma pode respirar aliviada, como o médico sabia que ela podia apenas seguir o cheiro do Ragnar o mesmo nem ao menos explicou em qual quarto o menor residia, e assim Astrid fez.

O cheiro dele era inconfundível, o cheiro de pinheiros agradável e convidativo que poderia acalmar o coração da fera mais raivosa de todas, vindo do último quarto.

Porém, enquanto caminhava a mesma captou outra fragrância vindo do mesmo lugar, estava muito mais fraco que o dele, mas este era um cheiro que Astrid conhecia bem, o cheiro de sangue.

Só uma fera naquele lugar cheirava constantemente a sangue, Clysine.

Ela apertou o passo e abriu a porta do quarto com urgência, Clysine estava mesmo ali, sentada logo ao lado da cama em que dormia um Ragnar tranquilo e sereno, um sorriso de orelha a orelha enquanto observava o menor, olhar esse que passou para a maior em pé a sua frente.

Astrid sentiu seu sangue ferver no momento em que seus olhos se encontraram com os dela, fez menção de avançar sobre ela mas se levantou primeiro e se aproximou da cama onde Ragnar descansava, tirando uma mecha de seu cabelo em sua testa.

Astrid estava muito longe, Clysine o mataria antes dela sequer se mexer, e lançar eletricidade acabaria o acertando, estava a mercê dela.

-Se eu soubesse que ele era tão gostoso teria fodido ele antes.-Seu sorriso cresceu ainda mais quando Astrid cerrou os punhos e trincou os dentes se segurando pra não avançar nela.-Por que está com tanta raiva? É pra isso que eles servem não é?

Astrid cerrou os punhos instintivamente, se Clysine vacilasse por um segundo sequer, ela avançaria e acabaria com ela.

-Sabe, houve uma época em que essas coisas eram frequentes, mas com a gente.-Disse apontando si e para Astrid alternadamente.-Uma época onde eles estavam no comando e éramos nós quem observavam caladas, época sombria essa, não acha?

Recebendo apenas o silêncio, Clysine continuou.

-Agora a natureza determinou quem realmente deve ficar no poder e quem deve obedecer calado, agora podemos dar a esses vermes um gostinho do próprio veneno, é por isso que vínhamos lutando.

-Você é doente...-Astrid rosnou entre os dentes serrados.-Nunca foi sobre vingança, foi sobre ter os mesmos direitos que eles!

-E onde isso levou!?-Clysine rosnou de volta, as duas estariam rolando no chão se não fosse Ragnar.-Mesmo tendo os "mesmos direitos", nós continuamos sendo tratadas como fracas e esses vermes matavam e estupravam milhares de nós todos os dias!

De repente, Astrid teve uma epifania. O discurso daquela mulher era repetido todos os dias pelas principais inimigas das feras e MBS, as El Clonado, talvez existiam mesmo espiãs delas escondidas em Temiscira e ela estava diante de uma.

-Alguém tem que colocar eles em seus devidos lugares, deixamos eles comandarem o mundo por tanto tempo e olha no que deu! Guerras, fome, morte e desgraça por todo o lado, agora que estão de volta é só questão de tempo até tudo voltar a ser como antes!-Agora Clysine mostrava sua verdadeira face, ela não era uma Fera, ela não passava de um eco dos discursos de ódio das El Clonados.-Para pra pensar um pouco, não seria melhor se eles fossem contidos? Alguém tem que protegê-los de si mesmos ou o ódio dentro deles vai acabar os destruindo e levando todos a sua volta com eles, você com certeza não iria querer isso pra ele não é?-Disse se referindo à Ragnar.-Mas tenho certeza que não iria querer isso pra ele.

Aquela foi a gota d'água, seu pai, seu irmão ou V, a quem quer que ela se referia, Astrid não iria deixar ela falar deles assim.

As luzes da sala começaram a piscar, as telas dos aparelhos médicos piscaram e falharam, lá fora, a tempestade piorou e os raios começaram a cortar o céu, atrás de Clysine, uma tomada disparou uma descarga elétrica em sua direção, a mesma gritou ao sentir a corrente elétrica atravessar seu corpo o fazendo ter espasmos involuntários.

Astrid avançou, transformando seus braços e pernas e a agarrando a outra pela cabeça, saltou pela janela ainda agarrada nela e a arremessou em uma árvore próxima assim que atingiu o chão, a chuva já encharcava seus corpos conforme ambas se preparavam para avançar outra vez, Clysine se levantou e se transformou completamente, revelando a forma de uma hiena e avançou em Astrid que também se transformou, a ursa acerta uma patada no rosto da outra e a jogou no chão, as duas rolavam no chão, rugidos e risadas ecoam por Temiscira.

Após arranhões e mordidas, Astrid forçou Clysine a voltar a forma humana e mordeu seu pescoço, arrancando um pedaço da sua jugular, Clysine urrou de dor revidando o golpe com um soco no estômago, um que não foi tão forte assim por conta da dor.

Astrid se afastou limpando o sangue em sua boca, o pescoço da outra sangrava sem parar por conta da ferida e mesmo assim se manteve de pé.

-Desgraçada! Esses são os vermes que você defende!-Os olhos da outra tornaram-se vermelhos, e então Astrid viu imagens em sua mente, imagens de uma era passada, mulheres sendo estupradas e mortas brutalmente.-Esses animais têm nos massacrado a milênios, nós finalmente temos a chance de revidar, dar a ele um gosto do próprio veneno!

Assim que as imagens desapareceram e Astrid percebeu que os pesadelos que estava tendo eram obra da outra, isso a encheu de raiva, um ódio descontrolado se apossou de seu ser, acima delas, a tempestade rugia clareando a noite, se intensificando cada vez mais.

Avançou contra Clysine com suas órbitas brilhando, uma corrente elétrica atravessando seu corpo, não estava mais no controle.

Sua oponente levantou os braços em posição de defesa, mas logo foi quebrada quando o punho da ursa encontrou sua pele e uma descarga elétrica tão poderosa quanto um raio a atingiu, lançando-a longe.

Sem dar-lhe tempo para respirar, Astrid correu em sua direção, sentiu a eletricidade a cobrir outra vez e logo viu seu corpo se tornar energia pura e viajar na forma de um raio, estava a frente da outra em segundos.

Agarrou sua cabeça com as duas mãos firmemente, a outra se debateu e tentou soltar-se do aperto da ursa, de nada adiantou, a energia no corpo de Astrid começou a atravessar Clysine, sentindo uma dor intensa por todo o seu corpo, a mesma gritou em desespero.

Seu grito foi cortado.

Tudo havia sido cortado, a chuva havia parado, nem sinal das nuvens e dos raios, tudo estava em um estranho silêncio.

Não havia corpo, não havia sangue, não havia sequer um vestígio do que já foi Clysine.

Foi só aí que o som arrebatador fora ouvido, em seu excesso de fúria, Astrid liberou uma quantidade tão grande de energia que o corpo da outra fêmea havia sido vaporizado com a liberação de uma forte onda de energia que ao mesmo tempo repelia completamente a chuva.

Foi só aí que Astrid se lembrou de um detalhe importante que havia percebido no meio da luta, Clysine tinha uma marca no pescoço bastante peculiar, uma marca que mais parecia um código de barras.

Astrid teve então certeza de que aquela não era uma fera, mas sim de um clone, pois a mesma conhecia apenas uma pessoa com uma marca tão estranha no pescoço.

Verônica.