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Chapter 39 - A Nova Ordem

A chuva caía pesada lá fora, um trovão acordou o pequeno Matteo com um susto. Seu quarto era iluminado apenas pelo clarão dos raios, ele tinha medo da escuridão mas a luz e o som estrondoso o assustava mais ainda. Se levantou devagar vestindo as pantufas e caminhou até a porta em passos lentos, assim que saiu, outro estrondo rasgou o céu.

O menino cobriu os ouvidos e correu em direção ao quarto dos pais. Abriu a porta com urgência, buscaria abrigo sob os cobertores dos pais sim, ninguém o diria que estava grandinho demais para dormir com eles. Aquela tempestade era assustadora demais!

Mas só com outro clarão que ele percebeu: Seus pais não estavam ali...

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—Matteo.—O rapaz despertou de seus pensamentos com V o chamando.—Podemos contar com você?

—Meu alvo principal está morto, mas ainda não acabei, restam outros cinco alvos, vocês planejam matar todos eles, então por hora temos interesses em comum.—O Silludino respondeu sem emoção alguma na voz, era quase assustador a maneira como ele parecia e agia como uma máquina.

—Só espero que quando seus interesses já não forem os mesmos que os nossos você não decida nos esfaquear pelas costas.—Garren estava certo, todos tinham o mesmo receio desde o momento que V o apresentou ao resto do grupo, a maneira como ele descrevia as maiores atrocidades que já cometeu com tamanha naturalidade era assustadora.

—Vocês não tem o que temer a não ser que planejem se livrar de mim futuramente, nesse caso eu seria forçado a comer todos vocês.—Nessa hora até mesmo V sentiu um calafrio subir por sua espinha. É verdade, aquele diante deles não era um monstro "normal".

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Outro estrondo soou pela casa, mas este não era o estrondo de um trovão. Era o estrondo de alguém sendo empurrado violentamente contra uma parede, o pequeno Matteo desceu as escadas só a tempo de ver seu pai, seu amado pai...

Batendo o crânio de sua mãe violentamente contra o batente de madeira da porta da cozinha...

O olhar enraivecido daquele homem... Daquela coisa, não era o mesmo olhar da pessoa que o levava para longos passeios no parque, que assava os melhores biscoitos no café da manhã, que uma vez usou suas mãos sujas de sangue para enxugar suas lágrimas. Não, aquele olhar era de um assassino com sede de sangue.

A mulher já havia perdido a vida a muito tempo, mas Marquês não parou de esmagar seu crânio nem mesmo quando viu pedaços ensanguentados de sua cabeça espalhados pelo chão e pelas paredes, sua raiva era tanta que ele TINHA que descontar no cadáver.

Quando a raiva finalmente cessou e ele finalmente percebeu o que tinha feito, percebeu o sangue manchando suas mãos já era tarde demais, ela já estava morta e seu filho de pouco mais de três semanas havia ido junto.

Foi então que percebeu uma movimentação nas sombras, tinha mais alguém ali.

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—O que você disse que ele era mesmo V?—Gabriel perguntou quando Matteo saiu para resolver algumas pendências. V ponderou por alguns segundos, talvez se perguntando se era a melhor ideia revelar a verdade sobre o silludino.

—Já ouviu falar sobre os assimiladores?—Ele assentiu. V continuou—Monstros parasitas, eles se escondem no corpo de outros monstros absorvendo só o mínimo necessário para sobreviver e não serem descobertos, quando o hospedeiro morre esses monstros preservam suas consciências e trazem o corpo de volta à vida, eles se tornam outra espécie de monstro chamada simbionte.

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Matteo correu para a floresta completamente desesperado, ouvindo os passos de seu perseguidor logo atrás, seu pai não o havia reconhecido e mandou seu servo atrás do "intruso". Quem quer que fosse, não poderiam haver testemunhas.

Quando o pequeno Matteo pensou estar seguro, escondido do homem, com seu coração batendo, encharcado pela chuva e completamente apavorado. Foi quando sentiu algo pressionar contra sua nuca...

Um estrondo...

Matteo sentiu dor, muita dor. Seu corpo caiu sobre a terra sem nenhum movimento. Um zumbido alto era tudo que ouvia. Ele estava... Morto?

"Mas que pena. E logo no seu aniversário..."

Uma voz soou em sua cabeça, uma voz muito parecida com a sua, mas muito mais, maliciosa? Animalesca? Feroz? 

"Quanta desgraça em uma só noite, é injusto, não acha?" Uma risada soou em sua mente. "Eu posso te salvar, nós podemos sair dessa juntos. Eu posso te manter vivo, posso te deixar mais forte, a única coisa que eu quero em troca é o seu corpo, me deixa morar aqui, me alimente e todo o poder será seu."

O homem que o havia matado ficou em choque ao descobrir que se tratava de Matteo, estava de costas quando o garoto se levantou lentamente, a bala em sua nuca sendo espremida para fora, o buraco se fechando como se ele nunca tivesse sido baleado, não era mais o mesmo Matteo, talvez ele nem sequer estivesse vivo, o homem à sua frente não era nada além de comida.

Sua boca salivava, seu estômago roncava, estava faminto. Suas asas bateram, estava nas costas do homem em questão de segundos, o grito estrondoso ecoou por toda a floresta quando Matteo mordeu seu pescoço com toda a força e arrancou um pedaço de sua carne sem nenhum esforço. 

Seus dentes agora eram muito mais afiados, ótimos para cortar a carne.

O homem cambaleou com o pequeno demônio ainda mastigando sua carne. Matteo não gostou daquilo, ele não gostava de ser perturbado enquanto comia. Quase como um instinto, uma cauda que ele não tinha antes se enrolou no pescoço do homem, a ponta era como a cabeça de uma lança, extremamente afiada, ela parecia ser feita do mesmo material de seu exoesqueleto, não demorou muito até sua comida cair no chão, morta pela falta de ar.

Contou vinte segundos, e então soltou seu pescoço. E sem se preocupar em se sujar, voltou a comer.

Ele já não era mesmo um silludino, agora ele era um predador sem sentimentos. Ele era um monstro faminto por carne.

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V adentrou a sala de reuniões, sua aparência estava de volta ao que era antes de ter se tornado Ahzidal e ele já não usava a máscara. As espadachins o olhavam em silêncio total aquela não era a maior surpresa do dia mas com certeza as surpreenderam. Bright assistia o vídeo em seu celular, o corpo de Marquês boiando na água aparecia por alguns segundos e então V aparecia,—ainda como Ahzidal—e dizia com todas as letras:

—Meu nome é Ahzidal, eu sou o líder do grupo de assassinos chamado Wraiths, às 7:43 de hoje nós matamos Marquês von Held, o conselheiro dos silludin. Ainda há outras pessoas como ele saindo impunes de seus crimes contra a minha espécie e todos eles serão mortos também. Este não é um aviso, é uma promessa: Nós vamos matar todos vocês.

Ao fim do vídeo, Bright olhou para o tecelão totalmente incrédula. Todos ali estavam, até mesmo V.

—Discurso agressivo, né? O David que escreveu, eu só ia admitir o crime mas como ele adora um bom drama...

—É só isso que você tem a dizer?—Victória também estava ali, nem mesmo ela sabia qual era o plano dele.

—É melhor vocês se sentarem, essa é só a ponta do iceberg.—Gabriel adentrou a sala e tomou seu assento, V se sentou logo em seguida sendo seguido por Victória.

—Vamos começar do começo, meu nome é V, sou o príncipe dos tecelões, vocês me conheceram pelo nome Ahzidal. Meu objetivo é só um: Justiça. Algumas pessoas fizeram tudo que podiam para tornar a minha vida um inferno e por isso sentirão o aço da minha espada.

—Sabíamos que tinha seus próprios interesses mas isso é ridículo, no final não passamos de peões no seu plano, não é!?—Hanako se levantou furiosa já sacando sua espada e apontando para seu pescoço.

—Vocês não teriam aceitado minha proposta se soubessem de todos os detalhes desde o princípio, eu precisava mostrar a vocês do que eu sou capaz, ganhar a sua confiança.—O anel de prata deslizou por seu dedo, colocou na mesa.—Eu não sou um espadachim e reconheço isso, mas por que vocês tem que ser também? O que eu quero dizer é... Alguma de vocês acha que todo esforço, todo o sofrimento realmente vale o dinheiro que vocês ganham?

Conflito estava presente no olhar de cada um ali, valia mesmo a pena viver lutando quando essa luta não leva a nada?

—Alguma vez algum dos seus trabalhos foi grande o bastante para fazer valer todo o esforço? Meu objetivo é algo grande de verdade, vocês sairiam da mesmice, chegariam ao topo de verdade.

—E quem é você pra nos dizer isso? Acha que é diferente de...—Hanako se calou, V tinha um maço de notas de cem nas mãos, o bastante para atrair a atenção das mercenárias.

—Não sou só eu que quero essas pessoas mortas, eu tenho... Digamos que é um patrocinador, e ele paga muito bem, bastante pra resolver os problemas de todas vocês, vêem agora? Não é só fama que vocês ganham.

O som do anel quicando sobre a mesa de vidro ecoou pela sala, era o anel de Valery. A mesma tinha um sorriso confiante nos lábios enquanto se levantava, V pensou ter escutado um suspiro de alívio vindo de Gabriel assim que a mesma se aproximou dos dois, mas decidiu fingir não ter percebido.

—Que pirata deixaria uma oportunidade dessas passar? Minha tripulação é sua pequenino.—Os dois trocam um rápido aceno antes da capitã se posicionar em pé ao seu lado.

—Mais alguém?—Tereza foi a próxima, retirando o anel com certo receio. Bright e Hanako a olharam incrédulas.

—Me desculpem... Eu ainda sou procurada, com todo esse dinheiro eu poderia limpar a minha ficha.—E eu ainda não desisti desse novinho... Tereza deixou a última parte apenas em seus pensamentos.

As duas mercenárias restantes estavam completamente boquiabertas, jamais imaginariam que suas colegas se venderiam assim tão fácil. Hanako deu as costas para as traidoras.

—Podem ir então, não precisamos de vocês, podemos nos virar muito bem sozinhas.

—Hanako, eu não menti quando disse que simpatizo com você, eu descobri que a sua irmã trabalha como guarda-costas de um dos meus alvos, se nos ajudar vocês acabariam ficando um passo mais próximas de se reencontrarem.—Hanako estava guardando sua espada quando ouviu as palavras do tecelão. Seu corpo inteiro congelou, como ele havia descoberto sobre ela não importava agora, sua irmã havia sido encontrada!

—Por que não disse antes?—A asiática foi parada por Bright, o olhar da negra era cheio de preocupação, ela não a deixaria certo?—Bright... Vem com a gente, nós podemos nos afastar de tudo depois que isso acabar, podemos ser só eu e você outra vez.

Um olhar cheio de esperança, Hanako segurava os braços da "amiga", tentava mostrar um futuro perfeito para as duas, ela iria de qualquer jeito mas queria Bright ao seu lado. Mas o olhar culposo da negra a desmotivou.

—Eu devo tudo o que eu tenho aos espadachins, não sou nada sem eles...

Hanako sabia que acabaria assim, sempre soube que, apesar de Bright a amar, a empresa sempre viria em primeiro lugar. Ela sempre soube que no final não haveria espaço para ela naquele relacionamento.

—Eu sabia que não abandonaria os espadachins tão facilmente, se mudar de ideia, sabe onde nos encontrar.—V já estava na porta, seus novos aliados o acompanhando logo atrás.

Hanako ficou ali encarando Bright por longos segundos, ela não queria sair, por mais que precisasse. Sua boca se abriu mas logo se fechou, não sabia o que dizer. Não, ela sabia sim: "Eu te amo", "me perdoe". Qualquer coisa seria apropriado, mas não conseguia. Porra! Ela não conseguia!

Foi só quando percebeu que não ouvira uma palavra sequer dela também, que Hanako decidiu ir embora, não havia mais nada ali para ela. Quando virou suas costas, não pôde ver Bright fazer o mesmo, ela não queria sentir a dor de ver alguém que ama partir.

E para se auto torturar ainda mais, o dia em que se conheceram passou em sua mente como um maldito flashback.

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O sol nascia pacificamente em Osaka naquela manhã, as pessoas vestiam coloridos yukatas se preparando para o festival mais tarde, o carro da Sra. Bright passava pelas ruas lotadas pelo povo animado da cidade, haviam muitos turistas também, aquela época do ano era abarrotada de oportunidades, tanto para uma empresária quanto para uma mercenária.

O carro parou em uma rua afastada de todos, Bright saiu e logo o veículo sumiu de vista. Ela geralmente não vestia sua roupa de negócios com frequência, tanto que se sentia um pouco estranha quando se olhava no espelho, a pena do chapéu balançou com o vento quando ela correu na direção do prédio onde do prédio onde o alvo se encontrava, a cor escura da roupa a escondeu nas sombras graciosamente enquanto ela avançava pelos corredores do prédio.

Ao se aproximar do escritório, a primeira coisa que ouviu foram vozes, o alvo discutia com alguém, uma mulher. 

Aquilo era estranho, lhe foi dito que o alvo era solteiro e que dificilmente encontraria uma mulher naquela missão, então quem era? Decidiu ouvir a conversa. Seu japonês estava enferrujado, mas dava pro gasto.

—Você disse que eu a encontraria lá!—Pela tom na voz aquela era uma jovem mulher batendo boca com o homem.

—Informações sempre podem estar equivocadas, mas se me der mais algum tempo eu a encontrarei dessa vez.

—E acha que eu vou continuar trabalhando pra você depois de você me passar a perna outra vez? 

—Você sempre acaba voltando docinho, agora, se não tem mais nada a dizer, eu tenho uma reunião daqui a vinte minutos.

O som de algo de vidro se quebrando ecoa pela sala e então sons de passos, alguém se aproximava da porta!

O primeiro instinto da empresária foi sacar sua espada e se preparar para um possível confronto, mas quase deixou sua arma cair quando percebeu não só se tratar da garota em questão, mas da garota mais bela que já havia visto. Os olhos lilases, o pixie cut preto, a pele pálida e delicada, os lábios pintados com um batom vermelho vibrante.

A asiática teve um sobressalto com a surpresa de alguém apontando uma espada para si, mas após o susto inicial, Hanako analisou a situação, aquela mulher provavelmente estava ali por ele, e julgando pela falta de profissionalismo daquele MB...

Que mal teria em deixar as coisas rolarem naturalmente?

Tendo isso em vista, ela apenas deu espaço para Bright passar, a mesma acena com a cabeça antes de adentrar o escritório.

O que se seguiu foi um grito de morte vindo do empresário e Bright saindo enquanto limpava o sangue na espada. Um sorriso radiante eu seu rosto enquanto dizia:

—Valeu por não me entregar, senhorita...

—Hanako.

—Que nome bonito, me diga Hanako-san, o que eu posso fazer para agradecê-la?—Com a lâmina limpa, Bright guardou a espada na cintura.

—Não precisa me agradecer, eu mesma teria matado o desgraçado mais tarde se você não tivesse aparecido.—A asiática dava as costas para sair mas é segurada pela espadachim.

—Bem, se esse é o caso, pelo menos me deixe te ajudar a sair daqui, princesa, tem um carro me esperando para a fuga.

—Por que eu iria querer...—Um alarme soa alto pelo prédio, cortando a fala de Hanako—Mas o que...?

—Alarme automatizado, ele dispara toda vez que os sistemas da torre detectam pessoas não autorizadas, consegui desligar antes de entrar, mas era só temporário.

Hanako olhou do corredor à Bright, antes de concluir:

—Vai na frente.

Bright sorriu antes de correr pelo corredor sendo seguida pela asiática, alguns metros à frente, guardas armadas às esperavam apontando para as duas assim que as vêem.

—Pra trás!

Hanako estendeu a mão, um brilho lilás se estendeu tomando a forma de uma katana, fechou a mão fazendo a luz se dissipar deixando sua espada com a bainha no lugar.

As armas foram disparadas, Hanako sacou sua lâmina e correu na direção das guardas balançando a espada no ar, as balas eram cortadas em uma velocidade sobre humana jamais presenciado em uma pessoa, quando estava perto o suficiente, a Lótus Negra foi de encontro ao coração de uma das mulheres a matando na hora, Hanako se virou rapidamente cortando outras balas antes de abrir um corte profundo no peito de outra guarda e logo depois cortou o pescoço da última ainda em pé que o tateou em uma tentativa fútil de parar o fluxo de sangue antes de colapsar sem vida.

Bright assistiu ao massacre completamente chocada, seria aquela mulher realmente humana? Ainda ofegante, Hanako quebrou seus pensamentos:

—Vamos!

Após o breve susto, as duas voltaram a correr, guardas que apareciam pela frente eram facilmente aniquiladas pela Lótus Negra, Bright tentava ajudar, mas era evidente que Hanako não precisava de sua ajuda. As duas correram pela rua até finalmente pularem no carro blindado e escaparem com os tiros ainda soando atrás delas.

Quando finalmente estavam fora de perigo, Bright decidiu finalmente perguntar:

—Como você fez aquilo? Eu nunca vi uma humana se mover tão rápido!

Hanako permaneceu em silêncio, aquele não era um segredo que ela se sentia confortável em compartilhar, e por muito tempo permaneceu assim. Depois daquele dia, Hanako entrou para os espadachins e se aproximou cada vez mais de Bright. Uma noite, após outra missão bem sucedida, Hanako aceitou o convite da negra para beber, as duas já estavam descontraídas, rindo e jogando conversa fora. Uma única pergunta seria o que mudaria a relação das duas para sempre:

—Você nunca falou muito sobre si mesma, como é a sua família?—A resposta veio na forma da mudança imediata de humor de Hanako, a felicidade dela havia acabado ali e a culpa de Bright havia acabado de começar.—Desculpa, é um assunto difícil pra você?

—É, mas você merece saber, estamos lutando lado a lado a tanto tempo e você não sabe nada sobre mim...—Hanako respirou fundo e então começou a contar sua história.

"Meu pai era um oni, minha mãe era humana, eles se apaixonaram muito cedo mas tiveram que manter a relação deles em segredo, suas famílias jamais aceitariam sua união. Quando minha mãe ficou grávida, tornou-se impossível manter o segredo e eles foram descobertos. Seus pais os expulsaram e cortaram seus laços, eles viveram pobres por muitos anos até finalmente encontrarem o sucesso como ferreiros, foi aí que minha mãe me deu a luz. Em comemoração, meu pai forjou uma espada especial que futuramente seria minha, a Lótus Negra. Eles me amavam e eu amava eles com todo o meu coração, minha mãe me ensinou a dançar, meu pai me ensinou a lutar e ambos me ensinaram a ser eu mesma e jamais abaixar a cabeça pra alguém. Aos quinze anos, eu vi o meu pai morrer lentamente em uma cama de hospital, a morte dele me abalou profundamente, mas eu ainda tinha a minha mãe, eu tinha que cuidar dela do mesmo jeito que ela cuidou de mim. Ela tirou a própria vida dois meses depois do meu pai morrer."

Lágrimas embaçam sua visão, mas não havia terminado ainda.

"Ela me abandonou, me deixou pra me virar sozinha em um mundo onde as únicas pessoas que eu amava haviam sido arrancadas de mim, as únicas lembranças que eu tinha era a Lótus Negra e uma carta que a minha mãe havia me deixado antes de morrer, ela confessou pra mim que eu tinha uma irmã mais velha, da gravidez que entregou a relação dela aos pais, quando eles descobriram tentaram força-la a um aborto, quando ela recusou foi expulsa de casa, meus pais moraram em um abrigo em todo o período de gestação mas não queriam aquela vida pra minha irmã, então eles a deixaram sobre os cuidados de parentes distantes do meu pai que não haviam os cortado de suas vidas, eles a chamaram de Alexa, ela era humana assim como eu, mas depois de um ano eles perderam todo o contato com a nova família e não sabiam onde a minha irmã estava."

Hanako limpou as lágrimas que corriam por seu rosto incessantes, ela nem percebeu quando Bright a envolveu em um abraço caloroso e solidário.

—Eu estou tentando encontrar ela, minha irmã é a única coisa que me restou, a única família que eu ainda tenho, que ainda não me deixou.—Bright fazia o possível para reconfortar a menor, mas era uma difícil tarefa.

Os dedos ásperos e firmes da negra seguraram o rosto da asiática gentilmente focando seus olhos nos dela. Havia chegado o momento, o momento de dar esperança à sua garota.

—Você não perdeu tudo ainda, porque a mim você nunca há de perder.

Até mesmo Bright se surpreendeu com o que disse mas não se importou nem um pouco, aquela era a verdade: Estava apaixonada por Hanako. Seus rostos se aproximaram até que pudessem sentir a respiração uma da outra, seus corações batiam forte no peito conforme suas bocas se aproximavam mais e mais, iniciou-se um beijo suave e doce, um que acalmou o coração quebrado da asiática. Quando enfim se separaram, as lágrimas ainda estavam lá, mas agora não eram mais lágrimas de tristeza, mas sim da mais pura e verdadeira felicidade.

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Como ela podia ser tão tola? Uma empresa? Riqueza e uma vida confortável? Pro inferno com tudo aquilo! Ela havia feito uma promessa a sua garota, e estava na hora de mostrar que a cumpriria. Quando seus olhos sairam da janela, focando apenas nos anéis jogados de lado na mesa, ela soube o que fazer, se para ter uma vida ao lado de quem ela amava ela teria que dizer deixar tudo para trás, então que seja!

O anel dourado, pertencente à antiga líder daqueles mercenários, se juntou aos outros na mesa. Bright sabia que eles haviam pegado o elevador, então não era uma opção, ela deveria descer alguns andares.

Parou em frente a porta do elevador no décimo quinto andar e surpreendeu a todos com sua presença.

—Espero que tenha espaço pra mais uma.—A espada na cintura balançando quando ela foi adentrando a cabine.

—Bright...—Hanako estava prestes a chorar pelo visto, um sorriso caloroso se formou nos lábios da negra, as duas trocaram um rápido beijo.

—Fiz isso por você Nako-chan.—Um beijo em sua testa a acalmava, era a sua garota, ela jamais a deixaria.—Qual é o próximo passo?

O sorriso caloroso que V tinha no rosto se transformou em um malicioso, aquela era a sua nova equipe, sua ordem de assassinos, era hora de declarar a guerra.