Lauren se aproximou da porta da taberna e olhou para ambos os lados antes de sair, sendo acompanhada pelo grupo de Piratas. Seguiu-os até o cais localizado na praia da vila, onde várias embarcações do Reino estavam estacionadas com suas bandeiras balançando elegantemente em resposta ao vento fresco que soprava delicadamente.
A Princesa olhava para um dos transportes com os olhos brilhando, estava maravilhada em vê-los pela primeira vez, seus pais nunca a permitiram chegar perto das águas que cercavam o reino, dizendo que se ela se aproximasse demais seria raptada pelos Piratas e levada para uma ilha distante onde ninguém mais ouviria falar dela.
Mas não era ali onde o barco de Billy estava, ele e sua tropa passaram reto pelo cais, caminhando até as enormes rochas que enfeitavam a famosa Baia das Sereias, um lugar muito conhecido pelo Reino por seus moradores terem relatado terem visto belas criaturas metade humanas e metade peixes se reunindo em meio à um amontoado de conchas e pedregulhos solitário em meio ao mar.
— Para onde estamos indo? - Lauren perguntou preocupada, pensava em dar meia volta e voltar para a vila, mas Billy estava logo atrás de si e Klaus à sua frente sempre olhando por cima dos ombros para certificar-se de que ela ainda os seguia.
— És muito inocente, Alteza. - Klaus respondeu em tom de deboche, Lauren o olhou seriamente antes de lhe fazer sinal para continuar a falar. — Não achou que deixaríamos nosso navio à vista de todos no cais, achou?
— Bem, é lá onde todo o tipo de embarcação deve ficar para ser registrada a entrada e saída de visitantes do Reino. - a risada do jovem Bart ecoou por seus ouvidos, a deixando irritada. Lauren parou e cruzou os braços, Klaus virou-se para olhá-la melhor ainda rindo. — Oras, não sabe as leis deste Reino que tanto atormentas?
— Somos Piratas, minha querida. - Klaus deu uma voltinha, enfatizando a roupa desgastada que usava, era típico de piratas usarem roupas de couro nas cores pretas e vermelhas, mas ele usava uma camiseta branca de botões feita de algodão, calças pretas do mesmo material, botas elegantes mas judiadas pelo tempo e maresia e carregava em sua mão um chapéu preto com uma pena vermelha. — Se pararmos no cais, levam-nos para a forca imediatamente. Para evitarmos isso, descobrimos um ponto cego na segurança de seu Reino e é lá onde deixamos nossas embarcações quando viemos dar-lhes uma visitinha.
— Se essa visitinha consiste em saquear vilas, matar pessoas inocentes, incendiar tudo o que veem pela frente, acredito que seria melhor pararem no cais e aceitarem seu destino.
— É assim que vocês pomposos nos enxergam? Como ladrões, assassinos e criminosos? - aproximou-se de Lauren. Billy parou alguns centímetros da dupla, observando a cena com um olhar divertido.
— Na palavra criminosos já se encaixam as outras duas que citou, Piratinha. - a garota sorriu debochada, arrancando risos dos companheiros do Bart à sua frente. — E sim, nós pomposos vemos vocês como criminosos, por isso são renegados. Agora afaste-se, você está fedendo à álcool e alguém que nunca tomou banho na vida.
— A gatinha tem garras. - um dos homens sorriu malicioso para Lauren enquanto ela passava por Klaus.
— Se mais alguém me chamar de gatinha ou usar metáforas felinas contra a minha pessoa, enforcarei-o com as próprias roupas! Entendidos, palermas?! - exclamou irritada, assustando todos ali, que apenas acenaram positivamente. — Ótimo, agora vamos logo para o navio, meus sapatos estão enchendo de areia e meu cabelo já está ressecando só de olhar para essa água salgada.
— Fresca... - Klaus sussurrou para si mesmo, mas fora ouvido por Lauren.
— O que disse, Mini Bart?! - virou-se para o jovem atrás de si.
— Que a água ao menos está fresca para um mergulho. - sorriu forçado, a Princesa o olhou por alguns segundos antes de sorrir e voltar a segui caminho junto aos outros marujos. — Estamos condenados, essa garota é uma mesquinha pomposa com sérios problemas de mudança de personalidade.
— Acalme-se, Klaus. - Billy envolveu os ombros do filho, observando a garota se afastar. — Só precisamos que ela fique conosco até que Ophelia diga que ela está pronta. Agora pare de agir como se ainda tivesse quinze anos, já tens vinte e dois e está se irritando com uma jovem de dezoito.
Billy deu tapinhas leves no ombro do filho antes de voltar a seguir caminho em direção ao navio junto aos seus marujos e Lauren. Klaus ainda ficou alguns segundos observando a cena, ver a Princesa conversar animada com seu pai era a única coisa que ele não esperava vindo de alguém que passou a vida toda rejeitando e odiando Piratas por conta de histórias que contavam pelas vilas e Castelos do país.
Por fim, todos estavam no barco, sentados ao redor de uma mesa redonda de madeira escura em cadeiras estofadas com couro marrom muito bem tratado e sem sinais de envelhecimento ou de que alguém havia sentado ali antes.
Klaus juntou-se aos companheiros, sentando-se entre o pai e Lauren, estes conversavam sobre o treinamento da Elliot para conseguir se infiltrar melhor no grupo e quais eram os planos da garota para vingar o plano dos pais contra si.
— Bem, eu estava pensando em reunir o máximo de súditos que sabem sobre o reinado corrupto do meu pai e assim revelar toda a verdade para os outros, resultando na queda de sua posição. - Lauren deu de ombros e Klaus a olhou cético, Billy soltou uma risadinha. — O que houve? É o que tenho!
— Deixa eu ver se estou entendendo o que quer dizer. - o jovem pirata curvou-se para ficar mais perto da garota ao seu lado. — Os seus pais planejavam te matar no dia da sua coroação e como "vingança" você simplesmente vai explanar para todos o que eles são?
— Não é exatamente desse jeito. - a menor se afastou e começou a explicar: — O plano de meu pai era me matar na minha noite de núpcias com o Príncipe Benjamin, filho de seu melhor amigo, o Rei Logan. Porém ele descobriu que eu ouvi a sua conversa com eles durante o baile do meu aniversário e decidiu adiantar seus planos para aquela mesma noite e mandou o meu melhor amigo Oliver Duncan, neto da Ophelia, matar-me na floresta antes do toque de recolher e entregar meu coração para que ele conseguisse ter a vida eterna.
— E nós somos os psicopatas nesse Reino? Qual o problema desse cara? - Klaus bagunçou os cabelos em sinal de frustração e endireitou a postura, voltando a relaxar no encosto da cadeira.
— De qualquer jeito, precisará de outro plano se quer tirar o seu pai do poder para libertar o seu povo desse reinado corrupto. - Billy coçou a barba que começava a nascer em seu queixo, pensativo. — Todos do Reino sabem como o Rei Joseph é terrível, mas temem a ele, não vão aceitar a rebelião para tirá-lo do trono mesmo tendo a única verdadeira herdeira ao seu lado.
— E o que eu faço? - olhou para os homens ao seu redor, que se entreolharam com sorrisos malvados nos lábios, a deixando curiosa e confusa. — Pessoal? No que estão pensando?
— Não é a primeira vez em que o seu pai ameaça matar o meu... - Klaus se levantou e foi para atrás da cadeira de Lauren, segurando os lados enquanto a jovem o olhava. — Se o meu velho estiver pensando o mesmo que eu, a ajudaremos com essa vingança em troca de um pequeno favor da futura Rainha de Erelbron.
— Farei o que for, desde que esteja em meu alcance.
— E estará. Nós a treinados e faremos parte de seu exército para invadir o reino e tomar o trono, em troca, você nos dará a liberdade que tanto queremos. Só precisará cancelar a lei que seu pai criou que nos proíbe de viver uma vida como qualquer outro cidadão de Erelbron.
— Mas vocês são criminosos, incendiaram uma vila inteira, mataram vários inocentes e saqueiam qualquer lugar em que entram...
— Essa é a nossa forma de protestar, de tentar fazer com que nossas vozes sejam finalmente ouvidas e nossos pedidos atendidos. - Billy se colocou ao lado do filho, sorrindo vitorioso. — Agora, imagine: Kayla Elliot, a Princesa desaparecida volta ao Reino de Erelbron liderando um exército de Piratas, batalha contra a própria família para conquistar o que é seu por direito e por fim, ganha a Coroa, o Reino e nós poderemos finalmente voltar para nossos lares que fomos obrigados a abandonar e viver com dignidade, com empregos de verdade.
— "Exército"? Mal somos sete, há o total de trezentos Guardas trabalhando para o meu pai.
— Isso não será problema para o Espada Vermelha, o seu sucessor... e claro, a nossa aprendiz, a Rainha dos Piratas. - os olhos do mais velho brilhavam em esperança enquanto cruzava com o olhar de Lauren, que tinha o mesmo sentimento.
Ela finalmente poderia libertar o seu povo de todo o sofrimento que o seu pai causou ao longo de seu reinado. O máximo que teria de fazer era apenas lhes darem o que tinham direito: um lar e empregos dignos.
— Então, temos um trato, Alteza? - Billy estendeu a mão e Lauren se levantou, colocando-se de frente para o maior. O clima tenso se instalou profundamente no lugar, deixando todos com esperança e medo da resposta da jovem. Afinal de contas, o destino de ambos os lados estava nas mãos da Elliot.
— Espero que gostem da vista para a floresta que o Reino Central proporciona aos seus moradores. - apertou a mão do Bart e o grupo vibrou em comemoração.
— Não tens noção de quantas vidas estará salvando nos dando uma vida decente. - Billy sorriu para Lauren, que retribuiu o ato antes de virar-se para os homens que se abraçavam e exclamavam "vamos voltar para casa", "veremos nossas esposas e crianças" e "voltaremos a ser habitantes dignos em Erelbron".
— Por onde começamos, pai? - Klaus perguntou, começando a rodear a garota em sua frente. — Acho que as minhas roupas da adolescência devem servir nela, assim ficará mais fácil para ela lutar com as espadas.
— Quero que todos levem qualquer peça de roupa que não lhe sirva até os meus aposentos e depois vão para o convés. Partiremos em vinte minutos. - Billy ordenou e logo os piratas se espalharam pelo navio, vasculhando cada baú que encontravam.
Poucos minutos se passaram e logo todos estavam presentes no convés seguindo as ordens de Klaus para prepararem o navio para enfim zarparem e seguirem em rumo ao desconhecido. Lauren era auxiliada e orientada por cada um dos piratas, que explicavam e demonstravam para ela como teria de fazer cada coisa que o Bart a mandava fazer.
— Estão todos prontos para mais uma viagem? - Billy saiu de seus aposentos com um sorriso vitorioso no rosto, todos os marujos, inclusive Klaus e Lauren, exclamaram "sim" juntos e alto o suficiente para ecoar pela Baia das Sereias. — Então, todos à bordos e vamos zarpar!
O grupo vibrou novamente e se espalharam pelo convés, observando o navio deixar a praia lentamente.
Estar se afastando de Erelbron era para preocupar Lauren, afinal, estava saindo de seu país, o seu lar, o lugar em que nasceu e foi criada. Mas ela se sentia relaxada, empolgada, confiante, livre. Ela estava pronta para qualquer coisa e faria de tudo para conseguir recuperar o que é seu e libertar o seu povo das mãos de seu pai impiedoso.