Chapter 8 - Ilha Bart

O belo cenário que Erelbron era já não era mais possível ser visto, apenas o mar que os cercava estava à vista. O vento refrescante fazia com que Lauren suspirasse, sentindo a liberdade percorrer por suas veias.

A Princesa estava acostumada a sempre passar o seu tempo livre caminhando pelos jardins do Castelo na companhia de suas Damas de Companhia, seu Guarda-Costas e Oliver, raramente seus pais a permitiam visitar outros reinos ou sair de dentro dos muros do Castelo de Erelbron.

Somente o pensamento sobre Oliver fazia com que o coração da Elliot apertasse, estava preocupada com o amigo, não tinha certeza se ele conseguiu enganar seu pai e se está vivo e seguro no Castelo com o plano que bolara.

— Há algo lhe incomodando? - Klaus aproximou-se segurando uma luneta. Ele a estendeu e aproximou o rosto, tentando fingir não estar interessado na resposta de Lauren.

— Estou preocupada com Oliver, ele me ajudou a fugir do Castelo. Temo ele estar morto por culpa minha. - a garota suspirou, atraindo a atenção do pirata.

— E este tal Oliver seria o filho de um dos Guardas ao qual namora escondido?

— O quê? Não! Oliver e eu somos apenas bons amigos, crescemos juntos.

— Não confunda amizade com amor, minha cara. - Klaus guardou a luneta de volta, olhando diretamente para os belos olhos de Lauren. — Meu pai confundiu e perdeu a chance de ter uma vida digna. - virou as costas e voltou a acompanhar o progenitor, deixando a aprendiz para trás, confusa sobre suas palavras.

Passou a se perguntar se o que sentia por Oliver fosse mais do que apenas uma amizade, um carinho de quem passou a vida toda ao lado. E se a sensação de acolhimento ao estar com o rapaz fosse amor? Poderia esse ser o motivo pelo qual sempre queria estar ao lado dele e implorava para que seus pais permitissem para que dançasse apenas com ele nos bailes feitos? Estaria Kayla Elliot apaixonada por Oliver Duncan?

O estrondo de algo caindo na água e os respingos que caíram sobre seu corpo fizeram com que Lauren despertasse de seus pensamentos e olhasse para o mar, procurando o que fosse que tivesse caído para avisar aos outros. Não havia nada ali, apenas as ondas formadas pelo vento.

Ouviu o barulho novamente, dessa vez do outro lado do navio e correu para tentar ver o que era, mas apenas conseguia ver a movimentação que a embarcação fazia contra o mar sereno.

— É uma baleia! - Billy exclamou, atraindo a atenção de todos os tripulantes, inclusive seu filho. — Quer dizer que estamos perto do nosso destino!

O grupo vibrou em emoção, mas Lauren ainda continuava confusa. Nunca havia visto uma baleia ao vivo, apenas nas imagens dos livros e quadros do Castelo, então estava curiosa para ver como seria uma na vida real. Ela apoiou-se no parapeito do navio, ficando na ponta dos pés para tentar aproximar-se mais da água com o intuito de flagrar o exato momento em que o animal sai da água.

— Estás insana?! Apoiar-se assim em um navio é uma sentença de morte! - Klaus puxou Lauren bruscamente pelo braço, a assustando. — Essas águas são traiçoeiras, se quer sobreviver, fique longe das bordas!

— Klaus! Seja mais cuidadoso com nossa convidada! - Billy repreendeu o filho, aproximando-se lentamente da dupla. — Deseja ver as baleias, minha jovem? - Lauren assentiu animada, fazendo Klaus revirar os olhos. — Venha, lhe mostrarei a melhor vista que poderás ter.

O pirata estendeu a mão para a garota, que a segurou ansiosa. Lauren adorava os animais, gostava de passar o pouco tempo que tinha para si mesma lendo sobre eles, então apenas saber que poderia ver um de perto fazia com que ela deixasse todas as suas preocupações de lado.

Aproximaram-se do castelo de proa¹ e Billy lhe entregou uma luneta dourada com as iniciais L e M marcadas de forma torta. Lauren considerou perguntar ao Capitão à quem o objeto pertenceu antes de chegar em suas mãos, mas decidiu deixar a curiosidade de lado para evitar irritá-lo caso fosse um assunto sensível para o homem.

Olhando através das lentes, Lauren conseguiu avistar um movimento desconhecido perto do navio, algumas ondas e bolhas se formavam, como se algo - ou alguém - estivesse soltando o ar e se movimentando em direção à superfície da água para tentar respirar.

Alguns segundos a mais de espera foi o suficiente para que a garota finalmente visse uma baleia se aproximar da superfície e espirrar água em direção ao barco, molhando a jovem e o pirata ao seu lado. Billy pareceu irritado no começo, mas ao ouvir a risada de Lauren, ele passou a acompanhá-la na gargalhada.

— Isso foi incrível! Eu nunca vi uma baleia em toda a minha vida! - ela exclamava em animação ainda entre risos.

— Atenção! - Klaus exclamou, atraindo a atenção da dupla. Ele se encontrava no cesto da gávea² - Lauren chegou a se perguntar por alguns segundos como ele subira até lá tão rápido - e apontava em direção ao leste com um sorriso aconchegante no rosto. — Terra a vista!

Desviando o olhar para a direção dita por Klaus, era possível avistar uma pequena ilha que parecia estar intocada pela civilização. Apenas algumas pequenas casas estavam espalhadas pela praia, fora isso apenas a natureza comandava o pedaço de terra firme.

Billy correu até o tombadilho³ e agarrou o timão, conduzindo o navio a seguir em direção a ilha. Lauren rapidamente se reuniu com os outros tripulantes, os ajudando a preparar tudo para que o barco parasse assim que se aproximassem o suficiente da praia.

Assim que a âncora foi descida e a embarcação finalmente parada, Billy guiou seus companheiros até o bote, remando até chegar à parte mais rasa possível da água.

Lauren desceu com a ajuda de Christopher, um dos marinheiros, o permitindo segurar seu braço para lhe dar apoio para que saísse do barco sem cair na água. A sensação de pisar na areia junto a do mar molhando suas vestes era indescritível, sentia uma onda de felicidade percorrer por seu corpo em resposta ao estímulo, se estivesse sozinha, com certeza pularia de alegria e brincaria na água até o amanhecer.

— Bem-vinda a Ilha Bart, Senhorita Lauren. - Christopher sorriu para ela enquanto fazia um sinal de que ela deveria segui-lo.

— O que achas do lugar, Alteza? - Billy se aproximou com um sorriso orgulhoso no rosto e lhe ofereceu a mão. Lauren a segurou e assim passou a acompanhá-lo pela areia.

— Acredito que não é mais necessário usar esses títulos nobres comigo. - a garota olhou para o homem, que a olhava confuso. — Afinal, sou apenas Lauren Bart, sua sobrinha.

— Estamos longe do seu povo nestas terras, não é necessário esconder quem realmente é de nós.

O pirata sorriu caloroso e pela primeira vez desde a sua fuga, Lauren sentiu-se segura e acolhida. Estava se sentindo em casa naquele lugar, como se pertencesse àquela ilha e ali era onde deveria estar desde o início.

Billy a guiou até o aglomerado de pequenas casas perto da praia. Todas eram feitas de madeira que já estava desgastada pela maresia e o telhado era revestido por folhas secas, Lauren poderia ver a cena de destruição que um dia de forte calor poderia causar contra as construções.

Entrou em uma delas após receber um sinal positivo e se maravilhou com o cenário que vira. As paredes foram recentemente pintadas de branco, o chão era apenas a areia e o pouco de grama que crescia em alguns pontos do terreno. Uma pequena cama estava em um canto com um pequeno amontoado de cobertas aos pés e alguns travesseiros apoiados cuidadosamente na cabeceira, uma mesinha de canto estava logo ao lado com uma lamparina apagada e um jarro de barro tampado, um baú estava encostado na parede e aberto com algumas roupas para fora, no centro da casa havia uma pequena mesa com quatro cadeiras ao redor próxima a uma pequena lareira com lenha recém cortada ao lado.

Aquela vista fez com que o coração de Lauren se aquecesse e ela não hesitou antes de jogar seu peso na cama, sentindo o corpo ser abrigado pelo colchão aconchegante e a coberta quentinha.

— Vocês mesmos construíram todas elas? - a aprendiz perguntou sentando-se para poder observar melhor o homem.

— Cada um construiu a sua própria. - Billy puxou uma das cadeiras em direção a cama e sentou-se. — Klaus e eu construímos essa para caso Ophelia precisasse de um refúgio.

— Vocês dois têm um esplêndido gosto para roupas de cama. - deitou-se novamente, ouvindo uma risadinha do homem. — Onde compraram?

— Na verdade, tudo o que usamos para decorar as casas foram coisas que encontramos nos lixos do reino. Mas não se preocupe, todos os itens foram lavados antes de reutilizados.

— Bem, o lixo de um pode ser o tesouro de outro. Oliver sempre me dizia isso.

— Tem algumas roupas apropriadas para treinos naquele baú. Vista-se e me encontre na praia em dez minutos, temos muito o que fazer se quer ter o disfarce perfeito como uma Bart.

Billy saiu segundos depois, deixando Lauren sozinha para que pudesse se arrumar e ter alguns minutos para si mesma em meio a confusão que sua rotina ficara.

A aprendiz correu animada até o baú e começou a revirá-lo, olhando detalhadamente cada peça de roupa antes de colocá-la de volta ou deixá-la ao seu lado para experimentar.

Acabou que escolheu uma camiseta branca de botões, uma calça de algodão na cor marrom, uma jaqueta de couro da mesma cor que a calça, uma bota de cano longo com um salto pequeno na cor preta e pegou uma bolsa que encontrava nos fundos do baú que continha uma adaga, um frasco de metal e alguns rolos de pergaminho com escritas desconhecidas por Lauren.

Guardou cada um dos itens de volta na bolsa e a colocou, envolvendo seu ombro com a alça. Procurou por algum espelho no baú e encontrou um empoeirado aos fundos, escondido entre algumas mudas de roupas. Soprou o excesso de poeira antes de observar seu reflexo e sorriu ao ver os cabelos ruivos e os olhos acinzentados refletidos ao invés dos cabelos escuros e os olhos verdes.

Colocou o espelho de volta no baú e calçou as botas, pronta para deixar a casa.

— Você vem ou vamos ter de enviar uma carruagem? - Klaus abriu bruscamente a porta, assustando a garota. O Pirata a observou por alguns segundos, embasbacado com a aparência da aprendiz, que mesmo usando roupas da classe mais odiada de seu Reino, estava atraente e parecia brilhar.

— Você vem ou vou precisar colocar um balde para coletar sua baba? - encostou os dedos finos e longos no queixo do rapaz, que não havia notado que estava boquiaberto até o momento em que Lauren forçou levemente a mão para cima, o fazendo fechar a boca.Lauren estaria mentindo se dizer que não estava gostando de provocar Klaus.

Ela adorava ver as bochechas corarem, a fala falhar e a respiração do jovem falhar toda vez em que retribuía as provocações e os flertes na mesma moeda, mesmo sabendo que o garoto só fazia isso para se divertir.

Contudo, aqueles belos olhos azuis como o céu em um dia ensolarado a faziam repensar suas ações. Klaus a deixava confusa, ansiosa e talvez um pouco estressada por ser um panaca flertador que não saia de seu pé desde o momento em que o conheceu na taberna.

Klaus Bart era a confusão que Lauren faria questão de desconfundir.

Glossário:

¹: Modernamente designado como convés do castelo, é um termo náutico que identifica a estrutura acima do convés principal localizada na parte extrema a frente de um navio.

²: Local onde permanecia o marinheiro vigilante que terra avistaria. Também conhecida como caralho.

³: A parte mais elevada de um navio, que vai do mastro da mezena (o menor mastro, atrás do mastro principal) até a popa (parte de trás do navio).