Chapter 5 - A Vidente

Kayla adentrou na casa, sentindo o frio percorrer pelo seu corpo mesmo estando com calor. Tudo o que conseguia ver era uma mesa redonda, provavelmente de madeira coberta pelo mesmo manto que cobria a entrada, uma vela branca grossa queimando calmamente e iluminando parcialmente o local, uma bola de cristal estava ao centro da mesa posta sobre um apoio de ouro maciço, algumas almofadas estavam pelo chão como assentos e o cheiro de incenso impregnava o local, deixando a Elliot com uma leve enxaqueca e o estômago revirado.

— Bem-vinda ao meu lar, Princesa Kayla Elliot. - a senhorinha fez uma referência e sentou-se à frente da bola de cristal. — Sente-se, eu responderei as perguntas dessa sua cabecinha.

A Princesa sentou-se de frente para a desconhecida, que sorriu enquanto colocava um baralho na mesa e um saquinho de veludo preto ao lado. Kayla se perguntava em que tipo de situação Oliver havia a metido, ele havia falado sobre uma florista mas uma vidente a encontrou e sabia porquê ela estava tão longe de casa.

— Começaremos vendo o seu futuro, que tal? - a garota olhou para a mulher e assentiu, ainda sem ter certeza do que ela era.

Um leque de cartas fora aberto e a idosa pediu para que a Princesa escolhesse três e as virasse para cima. Kayla obedeceu, virando o trio que sua intuição pedia para escolher.

— Ora, ora, você terá uma ótima vida, estou vendo aqui. - a mulher passou os dedos pela primeira carta com um sorriso no rosto. — Vai encontrar um homem que vai mudar a sua vida. - Kayla sussurrou um "já encontrei, foi assim que terminei aqui", fazendo a mulher rir antes de continuar: — Esse rapaz não é desse país, vocês se casarão pouco tempo depois de se conhecerem... Ou já se conhecem?

A desconhecida debruçou sobre a mesa e olhou atentamente para Kayla, que engoliu em seco. "Como assim eu já conheci esse homem?" ela se perguntava enquanto ainda era assistida atentamente.

— Sim, você já o viu. No baile de ontem a noite. - os olhos acinzentados da Princesa arregalaram, a deixando curiosa, vira muitos homens no baile, mas todos eram do seu país, apenas viviam em cantos diferentes. — Oh! Não, não! Isso é melhor do que eu pensava! Não era o seu destino, era o pai dele!

— O pai de quem? - Kayla perguntou curiosa, mas a mulher apenas deu uma risadinha. — Você sabe quem é?

— Isso eu não posso contar nem para você, Alteza. É um segredinho entre as cartas e eu. - deu mais uma risadinha antes de recolher as cartas e tocar levemente na bola de cristal. — Então está aqui porque está fugindo da sua família? Os Reis corruptos?

— Sabia dos planos do meu pai?

— Minha cara, até suas Damas de Companhia estão envolvidas. Rei Joseph a queria fora do trono de qualquer maneira.

— Mas por quê? O que eu fiz de errado?

— Não é algo que você conseguirá consertar sozinha, o reinado dos seus pais é pior do que imagina, Alteza. Há muita corrupção e sangue nas mãos da sua família, pode ser considerado um milagre eles ainda estarem reinando o País de Erelbron.

— Então não há nada que eu possa fazer?

— O Universo preparou algo para você, assim que conhecer o seu destino, estará pronta para resolver isso e libertar o reino. - a senhora se levantou e fez sinal para que Kayla fizesse o mesmo. Aproximou-se da jovem e segurou ambas as mãos. — Esse país conta com você, Alteza. Estará segura nesta vila enquanto eu estiver viva, ninguém a encontrará aqui.

— A senhora disse que responderia todas as minhas perguntas, ainda tenho tantas...

— Nós nos encontraremos novamente, minha jovem Lauren.

— Lauren?

— Precisará de um nome para completar o seu disfarce. Não gostou?

— Eu adorei! Obrigada...

— Ophelia Duncan.

— Você é a avó do Oliver!

— Ora, fico lisonjeada em saber que meu doce netinho falou de mim para a realeza. - Ophelia riu, cobrindo uma das bochechas coradas com a mão e guiou Kayla, agora Lauren, para a entrada novamente. — Espero vê-la novamente em minha porta ao meio-dia no domingo, Lauren.

— Estarei aqui, Ophelia.

— Aproveite sua estadia na vila. - afastou o manto e Lauren atravessou, vendo apenas o sorriso da senhorinha em meio a escuridão ao olhar para trás.

— Espere! Os olhos! - parou na entrada ao lembrar-se do prometido e ouviu alguém lhe sussurrando ao ouvido para olhar a janela.

Deu alguns passos até a janela mais próxima e sorriu com o que viu. Os olhos acinzentados agora estavam verdes, assim como os de sua mãe. Estava satisfeita com o que estava vendo, agora seria mais fácil para se infiltrar na vila e não ser pega desprevenida pelos guardas caso começassem as buscas por ela.

Com um sorriso enfeitando os lábios, Lauren começou a explorar o comércio que se formava no centro da vila, comprando diversas coisas para poder se manter por mais um tempo sem se preocupar em ficar saindo da cabana.

Os habitantes a receberam bem, todos sorriam para ela e eram simpáticos. O povo adorava visitantes inesperados, então sempre os recebiam de braços abertos. Lauren sorria ainda mais a cada presente ou desconto que conseguia com os mercadores.

Chegara de volta na cabana com flores, pães quentinhos, bolos de diversos sabores, variados tipos de bebidas, alguns tecidos que poderia usar como cobertas por um tempo e um par de sapatos de couro. Guardou tudo em seu devido lugar e se sentou na cama, sentindo o estômago reagir ao cheiro irresistível do bolo de chocolate. Percebera que não havia tomado café da manhã e decidiu pegar um pedaço, deliciando-se com o gosto de chocolate e avelã invadindo seu paladar.

Resolveu descansar um pouco e deitou-se, enrolando o corpo com os tecidos que comprara e se encolhendo, sentindo o corpo aquecer-se e o frio desaparecer.

Não sabia quanto tempo passou, muito menos que horas eram, mas acordara com o barulho das rodas de uma carruagem e o relincho dos cavalos passando por perto. Lauren descobriu-se rapidamente e correu para fora, olhando para os lados do corredor antes de sair e seguir para as ruas.

Um amontoado de pessoas se encontrava à frente de uma floricultura, alguns cochichavam entre si e outros soltavam lamentos e choravam no ombro de parentes ou amigos. Toda aquela cena deixou a garota ainda mais curiosa, a incentivando a fazer seu caminho até estar de frente para o muro da construção.

Lauren soltou um grito mudo de surpresa e medo. Olhar aquela pintura era como estar olhando para si mesma no espelho. Os longos cachos ruivos caindo sobre seus ombros, os olhos cinzas brilhando, os lábios avermelhados e as bochechas coradas, tudo aquilo era dela. Seu coração apertou, para estar sendo procurada, o plano de Oliver não havia dado certo, teria de procurar outro lugar para ficar.

— Ouvi as Damas de Companhia dela dizerem que ela fugiu com um plebeu. - ouviu uma mulher comentar ao seu lado e a olhou. Não a reconhecia, muito menos tinha algum traço que a lembrava de alguém, mas mesmo assim ela estava ali, falando consigo. — Garota tola, ela tinha tudo para ser Rainha e agora é uma Pirata.

— Oras, cale a boca, Celina! - outra mulher exclamou e a que estava ao seu lado fez cara feia. — Se estão procurando pela Princesa quer dizer que ela ainda não é uma Pirata. Com certeza o Espada Vermelha a sequestrou, a pobrezinha foi vista pela última vez nos jardins do Castelo depois do baile.

— Coitada, sequestrada na noite do próprio aniversário. - um senhor fungou, secando as lágrimas com a manga das vestes. — Os Reis devem estar morrendo de preocupação.

"Isso aconteceu rápido demais..." Lauren pensou consigo mesma, pensando em hipóteses para que a notícia de seu desaparecimento corresse por todo o reino rapidamente.

Era estranho os cartazes espalhados tenham ficado prontos tão rápido e todos descobrissem o que supostamente aconteceu da noite para o dia. Tudo aquilo estava suspeito demais para Lauren, mas apenas ela parecia notar.

— Houve um decreto do Rei Joseph, irão interrogar cada um dos habitantes do País de Erelbron. - ouvira uma mulher sussurrar para sua amiga. — Se alguém estiver escondendo a Princesa, será levado para o calabouço pelo resto da vida.

— Acho que vão começar por nossa vila. - começara a outra mulher. — Encontraram os sapatos dela no rio perto da entrada, com certeza ela deve estar se escondendo na casa de alguém.

— Quem seria capaz de esconder a Princesa Kayla?

— Provavelmente foram aqueles piratas imundos na taberna do Senhor Flint, estão dando dor de cabeça ao Rei há uma semana já.

— Atenção, povo de Erelbron! - o mensageiro real abriu caminho pela multidão, atraindo a atenção de toda a vila presente ali. — As investigações do desaparecimento da Princesa Kayla Elliot começarão imediatamente! Todos os habitantes de todo o Reino terão de prestar depoimento! Qualquer pessoa que tiver comportamento suspeito será levada presa para o Castelo! Haverá uma recompensa de vinte moedas de ouro para cada informação sobre o paredeiro da Princesa! Ordenamos que todos voltem para suas casas e não saiam até a segunda ordem!

— Mas precisamos sair para trabalhar! Não podemos ficar sem comida! - um comerciante protestou e toda a multidão concordou.

— Há Piratas nessa vila e eles estão com a Princesa! As ordens do Rei foram claras: olharemos casa por casa, comércio por comércio, até a encontrarmos e levá-la em segurança de volta para o Castelo. O processo durará poucas horas, por isso as ordens são de todos permanecerem em suas casas até terminarmos.

A multidão foi se separando. Cada habitante seguia as ordens, indo para suas casas ou seus comércios. Lauren olhava ao redor, completamente perdida.

Não poderia voltar para a cabana, encontrariam seu vestido de baile e a levariam de volta para o Castelo, onde poderia ser condenada por seu pai.

— Ora, minha netinha, está perdida? Você apenas saiu para comprar pão. - Ophelia riu enquanto entrelaçava seu braço ao de Lauren, a puxando para dentro de sua casa. — Tenham um bom trabalho, Senhores Guardas.

— Obrigada, Ophelia. - a Princesa sorriu, sendo retribuída pela senhora. — Eles não podem encontrar a cabana, meu vestido ainda está lá.

— Ora, deveria tê-lo queimado quando tivera a chance, sua pateta. - estapeou levemente a cabeça da jovem, que riu. — Se o encontrarem, saberão que está aqui e não darão paz para os moradores até saber onde você está.

— E o que devo fazer? O disfarce pode ser perfeito mas uma hora vão desconfiar de uma forasteira chegar ao Reino na mesma noite em que a Princesa desapareceu.

— Vá até a taberna, não olhe para trás e se algum Guarda a chamar, corra o mais rápido que conseguir. - a mulher vasculhou brevemente em uma caixa de jóias acima de um balcão e retirou um colar com um pingente dourado em forma de espada. — Um velho amigo me deve um favor, assim que chegar, saberá para quem mostrar esse colar. - olhou pela janela, os Guardas estavam se aproximando da casa vizinha. — Passe pelos fundos e corra até a taberna da praia. Estará segura com quem encontrará lá.