Bertha dormira por horas e perdera a noção do tempo, até que a porta se abriu e Wilfried entrou.
Desesperada, tentou correr de dentro do quarto e foi impedida pelo mordomo, que a segurou pelo braço.
– Pelo amor de Deus, eu quero sair daqui! – gemeu, entre soluços.
– Lágrimas não se fazem necessárias, jovem! – Retrucou Wilfried. Eu fui até a sua casa pegar seus pertences e dizer que você ficará conosco e os visitará brevemente. Tudo está bem.
– Depois dessa noite, eu posso lhe assegurar que a senhorita jamais sentirá novamente o desejo de ir embora.
Ao chegar à sala, Bertha viu Eule sentada na mesma poltrona. Parecia mais bela do que nunca, com seus cabelos rubros adornados por uma tiara de diamantes.
Ao seu lado, um enorme cão negro parecia guarda-la.
– Vamos para a mesa, minha pequena. – disse Eule, olhando docemente para Bertha.
–Nesta noite, começarão as suas tarefas!
A criada não sentia nenhuma vontade de comer.
Queria estar na simplicidade do lar, com os pais. Mas havia passado o dia dormindo.
Teria que se alimentar. Precisaria de forças para mais tarde sair dali. Então foi novamente para a mesa de jantar com os dois estranhos.
Após o jantar Eule novamente olhou para a criada e disse:
– Vamos ao meu quarto, tenho instruções a lhe passar.
E Bertha atendeu a ordem da patroa, de olhos baixos, sem esboçar nenhuma reação. Sabia que não poderia escapar.
A presença do cão negro fazia com que sentisse mais medo. E ele ia ao lado de Eule.
A bela senhorita abriu a porta, demostrando todo o luxo que havia no quarto.
Uma grande cama de lençóis de cetim vermelho era acompanhada de um toucador com perfumes que deveriam ser muito caros. Bertha nunca havia visto nada parecido nem em sonho.
Tapetes vermelhos cobriam o assoalho.
– Eu preciso de auxílio no meu banho. Essa será sua primeira tarefa como minha dama de companhia– a voz de Eule quebrou o silêncio dos pensamentos de Bertha.
Nesse momento, a criada só conseguiu pensar em como seria esse auxílio.
Durante a sua vida, ele apenas tomara banho nas cachoeiras e rios próximos à sua casa. Mas obedeceria.
Eule então caminhou até o banheiro. O mais estranho, é que toda a sujeira dos anos parecia ter sumido por encanto.
Uma banheira de porcelana branca, com adornos dourados, estava cheia de água espumante.
– Ajude-me agora! – a voz de Eule fez-se ouvir novamente.
E Bertha foi. Timidamente, começou a desabotoar os botões do vestido de da patroa.
– Senhora, eu a ajudarei a despir-se a esperarei no corredor. Se houver necessidade poderas ordenar, que virei.
– Não! Ficaras aqui, porque precisarei de ti todo o tempo.
Então, lentamente, ante os olhos da criada, surgiu o corpo branco e desnudo de Eule.
Bertha jamais vira uma mulher, um homem, qualquer ser humano nu. Era filha única, educada pelos pais a preservar a intimidade e a decência acima de tudo. Mesmo em seus banhos solitários havia roupa.
Eule entrou na banheira e começou o seu banho. Seu corpo submergiu na espuma perfumada, da qual Bertha podia sentir o aroma.
Depois de minutos que pareceram intermináveis para a moça, Eule perguntou:
– És pura? – E como o silêncio foi a resposta, pois Bertha não entendera a pergunta, completou:
– Deitaste com algum homem?
– Não. – Retrucou a criada. Durante toda a minha vida, convivi com minha mãe e com o meu pai, o único homem com quem troquei palavras durante o tempo em que vivi, antes de vir para cá. – lágrimas então rolaram pelo rosto rosado de Bertha.
–Não chores minha pequena! Será recompensada por essa pureza!
Eule então emergiu da banheira, com a espuma a escorrer pelo corpo molhado e caminhou até Bertha, que se encolheu.
Afagando os cabelos louros da moça, tomou seu rosto entre as mãos.
O medo tomou conta de Bertha. Ela sabia muito pouco da vida. Sua mãe um dia dissera que chegaria um dia em que ela teria um marido e algum contato físico com ele. Mas seria com um homem. Eule era uma mulher!
– Não temas! –Serás a mais feliz das criaturas! – O doce sussurro de Eule deixou-a tonta.