Porque, de todos os lugares, tinha que ser aqui?
Quando O Dr. Kim entregou a chave do carro ao manobrista, olhando com atenção a fachada elaborada do Pérola, ele conseguiu perceber, ao levantar o olhar do letreiro em neon relativamente pequeno e discreto, a decadência do prédio de 5 andares onde a casa de shows ocupava parte do térreo. O doorman foi solícito e atencioso, observando sua entrada com curiosidade.
Ele intuía que o avô ainda queria lhe pregar peças.Vir encontrá-lo no Pérola não seria um problema, porque o avô falava tanto no lugar e em seus amigos que se reuniam ali, que Jun Hyeon tinha certa curiosidade sobre o local. Mas de todos os dia, tinha que ser hoje, quanto as rosas que mandara para a Cantora Nam como pedido de desculpas tinham sido entregues ali? Ele já estava embaraçado por antecipação.
Enquanto passava pelo corredor semi-iluminado com paredes forradas com um tecido espalhafatoso e desgastado, ele percebeu o cheiro de fritura vindo da cozinha, misturando-se com o perfume atalcado de um produto de limpeza.
A pequena orquestra podia ser ouvida suavemente através das paredes que separavam a entrada do salão, quando uma senhora antiquadamente elegante e composta veio sorrindo em sua direção, para recebê-lo. Ele logo entendeu, antes que ela falasse, que esta era a Sra. Song, dona do estabelecimento, que recebia os clientes pessoalmente, conforme o avô lhe contara.
Ela também parecia saber quem ele era, aparentemente, pois o cumprimentou pelo nome e outras palavras amáveis, que se acumularam no seu vaso de constrangimento. Kim Jun Hyeon, porém, não queria cometer nenhuma gafe perto dos amigos do avô que pudessem lhe valer mais um castigo como aquele, então usou seus melhores modos para corresponder a gentileza dela.
Enquanto atravessava o salão que era decorado com um estilo que parecia mais antiquado do que realmente vintage, Jun Hyeon captou com um canto de olho um homem muito idoso sentado solitariamente em uma poltrona perto do bar,voltado estrategicamente tanto para a entrada quanto para o palco, com uma expressão vazia típica de pessoas que não controlam seus músculos faciais. O cirurgião desconfiou que este pudesse ser o Sr. Song, pai da Sra. Song que o guiava até o avô, e fundador do Pérola. Um homem que tinha graves sequelas de um derrame cerebral há alguns anos, mas que nutria profundo apego e amor ao clube. Ou algo assim, segundo se lembrava.
Quando chegaram à mesa próxima ao palco, onde o seu avô estava, a Sra Song disparou algo que fez Kim Jun Hyeon querer desaparecer num buraco no chão:
"Ye Rim-ssi adorou as flores, Sr. Kim. Ficou muito surpresa e feliz."
O avô abriu um sorriso, ao ouvir isso, enquanto colocava a mão em seu ombro o guiando para sentar-se, após ser cumprimentado pelo neto.
"Imagino que ela vai gostar muito de saber que você está aqui, também. Pode avisá-la, Sra. Song?"
Kim resmungou entredentes, esfregando as mãos, e implorando baixinho para que o avô parasse de molecagens: "Por favor, chega!" O Sr. Go apenas deu de ombros, como se não estivesse entendendo o pedido.
Talvez a Sra Song tivesse percebido, mas não demonstrou ter tomado conhecimento disso, apenas os cumprimentou antes de retirar-se, oferecendo um drinque por conta da casa para o neto do Sr. Go. Jun Hyeon sentou-se, pensando em como sair sem maiores danos dessa pequena vingança de seu avô.
Ao contrário das palavras gentis da proprietária do Pérola, as flores de Kim Jun Hyeon para Nam Ye Rim não foram recebidas com enorme felicidade, mas sem dúvida, com surpresa.
"Hahh! Que homem engraçado é o neto do Sr. Go!" Foi a exclamação desdenhosa de Ye Rim ao conferir o cartão anexado ao enorme arranjo de rosas. "Este é o pior tipo, Sra. Song! E que mensagem é esta? Ele praticamente está dizendo que eu sou uma ajuhmma! Será que ele está querendo voltar àquelas insinuações estranhas, e pensando que eu estou dando em cima do avô dele?! Aishhh!"
"O que é isso, menina! Que bobagem é essa? Deixe-me ver." A senhora praticamente tomou o cartão das mãos de Ye Rim, que voltou sua atenção para as lindas flores. " Eu não odeio vocês, só esse Dr. Kim que precisava ter mais consideração.".
Após ler o conteúdo do cartão, a Sra Song amassou o cartão com um olhar frio, mas o manteve dentro do punho fechado. "Não se importe com essas palavras prontas do cartão. Deve ter sido uma terceira pessoa que escreveu, está nítido."
"Pior ainda: ele sequer escreveu pessoalmente, não tem a mínima sinceridade nessas palavras."
"Melhor assim, não é? Ele provavelmente não imagina que você é uma mulher que recebe mais flores que uma sala funerária; e que, a essas alturas, flores não a emocionam."
"Aishh, Presidente!" Ye Rim protestou, ofendida. " Não é como se fosse assim. Eu adoro receber flores. Eu adoro flores, adoro!"
"Então se não vai agradecer o gesto pela sinceridade dele, que não existe, agradeça porque são lindas flores." Foi o conselho um pouco ríspido de sua patroa.
"Ah, claro, claro. Eu vou agradecer." Ye Rim se inclinou e enfiou o rosto no arranjo, aspirando o aroma voluptuoso das rosas vermelhas, sussurrou abafada por elas: "Mas preferiria que fossem flores COM sinceridade inclusa."
"Como fui avisada pelo Sr. Go que o Dr. Kim virá esta noite ver você, acho que você deve decidir se gosta mais de flores ou de sinceridade."
A mulher mais jovem se endireitou, rosto corado com a novidade. Bufou nervosamente:
"Por que eu tenho que querer algo do Dr. Kim?"
A Sra. Song não estava mais ali para ouvir a resposta de Ye Rim sobre sua constatação, no entanto.
Depois de retocar seus lábios com o lipgloss, ela foi para o palco, sinalizando sua entrada para a banda. Ye Rim suspirou, reparando no estado lastimável do velho tapete sob seus pés. Sua vida não se tornou exatamente como a profecia boba daquela vela vidente não sei das quantas. Não tinha nada a ver com a emoção da fama e do glamour, ou ser paparicada nem nada remotamente parecido.
Mas era a única coisa que ela sabia fazer na vida.