— Pegou as chaves?''
— Peguei.''
— Fala pessoal! Estamos em um dos maiores parques aquáticos da América Latina! Bom, vou apresenta-los como é um dia lá junto do pessoal...''
...
Bairro Luz do Sol:
Na penumbra da noite, das inúmeras pessoas dormindo juntas do frio gélido da madrugada, em uma das inúmeras casas do bairro miserável, vozes femininas discutindo alto o suficiente para que seus vizinhos ouvissem são ouvidas novamente.
Duas vozes.
Duas mulheres.
— Para, para, para...! Cale-se! Diga-me, o que fiz para merecer isso?! Meus Deus!
Enquanto brigavam, em um dos cômodos da casa, em frente à janela de vidro; uma pessoa estava debruçada no chão frio. Com fones de ouvido, assistia vídeos em que adolescentes ricos aproveitavam a vida com muito dinheiro.
— Poha! Você realmente não entendeu nada...?! Eu faço o que desejar! Caralho! Me deixa em paz, sua doida!
Seus olhos na tela tremiam a cada grito de sua família. O volume ao máximo de seu celular não era o suficiente para obscurecer seus gritos e como ele buscava o silêncio de suas vozes, desesperadamente, o silêncio em qualquer lugar.
— ...Você...! Você Simplesmente não pode fazer nada a respeito disso! Nada, ouviu?!
*Boom!!*
O berro é acompanhado pelo impacto da porta contra a parede de madeira, o que foi ainda mais estridente em seus ouvidos.
Uma sensação latejante crescia em seu peito, obstruindo sua garganta, ele já não entendia mais o que sentia. Emoções tão complicadas... A amargura era como um latido de sua alma, o ressentimento era o cheiro que exalava, a raiva era o seu caminho, a tristeza o guiava, com o pânico ele se cobria e certamente no desespero ele se deitava.
''Eu não aguento mais...''
Seus olhos estavam vidrados; estava cansado de tudo isso - seu mundo perdeu a cor há muito tempo.
Com apenas uma solução para aliviar sua angústia - uma que assombrava sua mente, mas que parecia ser a única alternativa no momento. Lágrimas escorrem pelo seu rosto.
O vazio que sentiu no peito foi preenchido com uma frieza venenosa.
Ele havia se decidido. Gradualmente, se ergue do chão frio, sentindo as juntas rígidas por ter permanecido na mesma posição por muito tempo.
''Cruel...''
''Como este mundo se tornou tão degradado...?''
— Haahahaa...
Uma fraca risada esvoaçava de seus lábios ao chegar a essa linha de raciocínio.
''Esperanças...''
''A maior desilusão já criada pela humanidade.''
O quarto mal iluminada, em sua visão cinza monocromática, parecia estagnado. Seu coração batia forte, seu peito arfava. Seus dedos pressionam a lâmina enferrujada, mas ainda afiada mesmo em sua aparência envelhecida.
Sua mão segura firmemente o cabo da lâmina quebrada; quase inexistente e mais pesado do que ele se lembrava. Seus braços erguim-se e o que acabaria com sua vida também.
A dor latejante em seu peito só aumentou, cada vez mais loucamente.
–Yuna...
Mas logo seus movimentos que poriam fim ao seu sofrimento cessam, assim como o som inaudível que escapa de sua boca...
Gradualmente, seus olhos se dilatam enquanto ele agora continua a olhar para um ponto fixo no chão. Lá estava, acima de uma velha jaqueta empoeirada, um velho retrato de cabeça para baixo.
Era uma fotografia, tirada há muito tempo, mas que já não correspondia à realidade: aquela família feliz já não existia, nem mesmo a cor de outrora.
Aos poucos, uma rachadura se desdobra em sua determinação, acompanhada por uma hesitação rastejando em seu olhar. Em sua mente, havia o medo de que aquela que o abraçava fosse esquecida e eternamente morta após sua deixa deste inferno.
'' Ren! Ela se foi...! O que eu fiz? Eu não fiz nada! Nada, aahh! Todos estão me deixando! O que aqueles dois fizeram de novo está se repetindo! ''
Mas com um grito de sua mãe, a hesitação que viera tão repentinamente desapareceu tão rapidamente quanto viera.
Olhando para o retrato naquele momento, o único sentimento que surgiu foi de pura raiva, o ódio mais espesso que poderia atravessar o manto de sua consciência.
—Ela não deveria ter morrido! Sua voz se ergue-se junto de sua raiva —Ela não deveria! Todos vocês deveriam ter desaparecido deste mundo, seus porcos imundos!
Como se o tempo tivesse diminuído a velocidade, as sombras agitavam-se; afundando o quarto cada vez mais em uma escuridão apavorante. Um vento frio percorria seu corpo mesmo com o quarto fechado.
E então, logo, a lâmina afunda em seu peito.
''Aquela...''
'...Em uma próxima vida...'
''Nãoo!!!''
Sua mãe entra no quarto assim que a lâmina afunda em seu peito. Mas ele não pareceu notar, naquele momento viu a cena mais linda de sua vida.
Uma das cores que ele pensou que nunca mais veria em sua vida, aparece em sua visão em forma de lótus ao retirar a lâmina, mas tão diferente daquela em suas memórias ...
''Tão... Lindo...''
As forças em seu corpo diminuem lentamente e de repente seu corpo atinge o chão. Ele tenta levantar a mão, mas não consegue reunir forças para admirar o sangue que manchavam seus dedos finos e logo seu braço cai ao seu lado...
O vermelho escarlate ao redor dele parecia brilhar, destacando-o neste mundo cinza, este mundo cinza escuro que ele viveu por sete longos anos.
De repente, um arrependimento o oprime completamente.
''Porquê...?''
Suas costas encontram o chão e sua cabeça bate na beirada da cama, abrindo um corte profundo em sua testa.
Antigas memórias passam por sua mente...
O sangue cobrindo-o até que a última cor que enxergasse nesse mundo opaco fosse esse vermelho sangue intenso.
Até... que não conseguisse respirar... e seu batimento cardíaco cessasse...
Seu corpo, afundado no concreto frio, foi afogado em sua própria poça de sangue.
Enquanto isso, a luz do luar o envolvia junto da escuridão das sombras que era impossível do luar conseguia penetrar...
''....''
Sua mãe caminhou em sua direção como um robô com baterias fracas. E ao seu lado desabou como uma marionete que teve seus cordões cortados.
Uma lembrança inesquecível seria para quem viu o momento, tão belo, o sangue vermelho aceso ao luar.
''....''
Lágrimas caem de seu rosto e se misturam na poça de sangue vermelha.
—Ren...
''Não...''
—REN...! Droga! Eu não vou permitir que você me largue também!