Chapter 14 - Capítulo 14

A rejeição de Aleph a consumia Rachel. A humilhação era ainda maior por não ter conseguido cumprir as ordens do rei Hayden de afastar o cavaleiro de Letícia. Rachel, movida por uma mistura de raiva e desejo de vingança, decidiu agir por conta própria. Na calada da noite, após certificar-se de que Hayden havia dispensado os guardas do corredor, dirigiu-se aos aposentos do rei. 

 

— Aquele maldito cavaleiro me rejeitou! — esbravejou, sem preâmbulos. — Sir Aleph me desprezou! 

 

— Se a abordagem direta não funcionou, use métodos mais sutis — aconselhou Hayden, com um sorriso frio. — Faça com que ele seja expulso do castelo! Destrua a amizade deles... — Então pensou. —"Se Laurenn considerar que esse cavaleiro é inadequado para Letícia, ele a impedirá que a acompanhe. E então eu poderei colocar um dos meus homens ao lado dela." 

 

— Ele será expulso, custe o que custar — declarou Rachel, os olhos brilhando de fúria. 

 

Rachel deixou os aposentos do rei antes do amanhecer, o plano de vingança tomando forma em sua mente. Hayden, porém, observou sua partida com um olhar calculista. 

 

— Espero que não cometa nenhuma estupidez — murmurou, pensativo. — Caso contrário, terei que me livrar dela também. 

 

No outro dia no período noturno, Rachel seguiu Aleph até seus aposentos. Esperou que ele entrasse e trancasse a porta. Enquanto isso, Laurenn estudava em seu quarto concentrado em um pergaminho repleto de anotações. Uma batida inesperada na porta interrompeu seus estudos. Surpreso com a visita tardia, abriu a porta e se deparou com uma cena chocante. 

 

 Rachel estava à sua porta, em prantos, com as roupas e os cabelos desalinhados, a maquiagem borrada pelas lágrimas. Ela se lançou nos braços de Laurenn, soluçando descontroladamente. 

 

— O que aconteceu? Quem fez isso com você? 

 

— Ele… ele me atacou! — balbuciou Rachel, entre soluços. — Sir Aleph… ele invadiu meu quarto… me forçou… eu… não consigo nem falar… 

 

— Aleph?! — exclamou Laurenn, incrédulo. — Tem certeza, Rachel? 

 

— Absoluta! Não posso estar enganada... — insistiu Rachel, o rosto banhado em lágrimas. — Expulse-o do castelo, Laurenn! Ele não pode ficar impune! 

 

Laurenn a conduziu até o sofá, ofereceu-lhe um copo d'água e a cobriu com uma manta, sentando-se ao seu lado. 

 

— Você consegue ficar sozinha por alguns minutos? Preciso resolver isso imediatamente. 

 

Rachel o abraçou. Laurenn, porém, não viu o sorriso de satisfação fria e calculista que se formou nos lábios dela, confiante de que tudo ocorreria conforme o planejado. 

 

— Espere aqui, Rachel — disse, com gentileza. — Vou resolver isso agora mesmo. 

 

Assim que Laurenn saiu e fechou a porta, a postura de Rachel mudou completamente. 

 

— Ele não tem álibi — murmurou, com um sorriso cruel. — Estava trancado em seus aposentos. Ninguém poderá defendê-lo. 

 

Laurenn questionou os cavaleiros sobre o paradeiro de Aleph. Alguns informaram que ele havia se recolhido aos seus aposentos, enquanto outros afirmavam tê-lo visto treinando com Hector. Decidido a esclarecer a situação, Laurenn dirigiu-se ao centro de treinamento, remoendo a estranheza da situação. Algo lhe parecia fora do lugar. 

 

No centro de treinamento, Aleph ensinava técnicas de combate a Hector. Ao se aproximar, Laurenn demonstrava abatimento, levando Hector a supor que se tratasse de alguma reprimenda do Rei Hayden. Tentando animá-lo, Hector convidou-o para juntar-se a eles. 

 

— Príncipe Laurenn, junte-se a nós! Nem vimos o tempo passar — convidou Hector, com entusiasmo. 

 

— Há quanto tempo estão treinando? — perguntou Laurenn, preocupado. 

 

— Mais de uma hora, acho... Sir Aleph está me mostrando umas técnicas interessantes — respondeu Hector, gesticulando com a espada. 

 

Um alívio percorreu Laurenn. Aleph não era o culpado, o que evitava consequências desastrosas. No entanto, restava o problema do ataque a Rachel. Cogitou algumas hipóteses, mas se repreendeu por duvidar dela. Como poderia investigar o verdadeiro culpado, se é que existia um? Lembrou-se do aviso de Aleph, que havia descartado na época. Sua angústia era evidente. 

 

— O que houve, Príncipe Laurenn? — perguntou Hector, percebendo seu estado. 

 

Laurenn relatou o ocorrido. 

 

— Não sei o que dizer — respondeu Hector, atordoado, levando as mãos à cabeça. 

 

Hector, sem mais conseguir esconder a verdade, revelou a Laurenn o comportamento dúbio de Rachel, descrevendo seus encontros secretos com diversas pessoas. Explicou que sua hesitação em compartilhar a informação vinha da dificuldade em encontrar o momento e a maneira certa de abordar o assunto delicado. Aleph, buscando uma solução prática, sugeriu: 

 

— Use as leis do reino a seu favor. 

 

Ele então explicou a Laurenn que, segundo a legislação, falsas acusações de agressão e difamação eram crimes puníveis com severas consequências, incluindo prisão e banimento. A ideia era que, Rachel confessasse a mentira, evitando maiores danos e transtornos para todos os envolvidos. 

 

Laurenn, dividido entre a incredulidade e a necessidade de agir, retornou ao quarto, incerto se deveria colocar o plano de Aleph em prática. Rachel o aguardava, aparentemente aflita. A tensão no ar era palpável. 

 

— Você já expulsou Aleph do castelo? — perguntou ela. 

 

— Por que o interesse em sua expulsão? O correto seria julgá-lo. Mas Aleph tem um álibi. 

 

— Impossível! Eu o vi entrando em seu quarto. 

 

Rachel percebeu o deslize. A contradição entre sua afirmação e a acusação anterior de ter sido atacada em seu quarto não passou despercebida por Laurenn. Ele decidiu usar a artimanha sugerida por Aleph, ainda que um pouco diferente do planejado. 

 

— Segundo as leis do reino, você não pode mais ser minha noiva — declarou Laurenn. 

 

— Como assim? 

 

— A futura rainha não pode ter tido relacionamentos amorosos anteriores. 

 

— Ninguém me falou sobre isso! 

 

— Infelizmente, é a lei. Prefere desistir por vontade própria? Se a verdade vier à tona, será difícil para você conseguir outro casamento. 

 

A fúria de Rachel se intensificou. Não apenas falhara em prejudicar Aleph, como agora era ela quem estava sendo descartada. Laurenn, lutando para conter o nervosismo, aguardava a resposta. Para sua surpresa, Rachel começou a rir. 

 

— Ainda bem que me livrei de você! Já não aguentava mais suas falas melosas, príncipe idiota! — esbravejou, estapeando Laurenn e saindo. 

 

Com a porta fechada, Laurenn tremia. Manter o teatro sugerido por Aleph havia sido um desafio. Levou a mão aos olhos, contendo as lágrimas. 

 

"Fui um idiota por não perceber e por não conseguir lidar com isso sozinho"— lamentou-se. 

 

Abalado, Laurenn sentia o peso do relacionamento destruído por sua incapacidade de lidar com a situação. A manipulação de Rachel e a revelação de sua verdadeira natureza deixaram marcas profundas. 

 

Rachel marchou furiosa até os aposentos do Rei Hayden, esmurrando a porta sem qualquer cerimônia. A atitude desrespeitosa inflamou o rei, que a puxou para dentro com violência. 

 

— Que atrevimento é esse?! Sabe que horas são? E se alguém a visse? — sibilou Hayden, segurando-a com força. 

 

— Quero desistir do casamento! Não consegui expulsar aquele homem, e Laurenn descobriu... certas coisas — respondeu Rachel, ofegante. 

 

— Explique-se! — rosnou Hayden, a fúria crescente em seus olhos. 

 

Num acesso de ira, Hayden agarrou Rachel pelo pescoço, apertando com força. Ela se debatia, buscando ar, implorando por misericórdia com um fio de voz. 

 

— Incompetente! Não consegue se livrar de um simples cavaleiro e ainda se expõe ao ridículo?! 

 

Ele a arremessou longe. Rachel caiu no chão, tossindo e arquejando. 

 

— Desapareça da minha frente se preza pela sua vida! Não quero me dar ao trabalho de me livrar de um cadáver — vociferou Hayden, a voz carregada de desprezo. 

 

Na manhã seguinte, durante a reunião do conselho, o Rei Hayden anunciou a desistência de Rachel do casamento real, informando que ela havia deixado uma carta e retornado para sua família. 

 

— Majestade, essa é uma oportunidade para fortalecermos laços políticos com um casamento com a nobreza de outro reino — sugeriu o conselheiro de relações exteriores. 

 

— Discordo. Devemos priorizar a política interna. Enfrentamos uma crise econômica e precisamos incentivar a produção nacional — argumentou o conselheiro de finanças. 

 

Os conselheiros aguardavam a decisão de Hayden. Este, buscando evitar o fortalecimento político de Laurenn, declarou: 

 

— Concordo com o foco na política interna. Avaliarei as candidatas que me forem sugeridas. 

 

A notícia animou os conselheiros, que viram a chance de apresentar suas filhas como potenciais noivas para o príncipe.