O Reino do Inverno estendia-se sob um manto de tranquilidade gélida. Imponentes montanhas, cobertas por gelo eterno, erguiam-se em direção ao céu, suas árvores cristalizadas pela neve. Lagos começavam a congelar sob o toque do solstício de inverno, prenunciando a estação que reinava soberana naquele reino. O clima hostil, porém, dificultava a agricultura, obrigando o reino a recorrer a frequentes trocas comerciais, especialmente com seu principal aliado econômico: o Reino do Outono.
O Reino do Inverno enfrentava um inverno rigoroso com dificuldades econômicas. A má gestão do Rei durante a última colheita havia lançado o reino em uma crise profunda. Para salvar seu povo da fome e da ruína, o monarca viu-se forçado a recorrer ao próspero Reino do Outono. A ajuda, porém, vinha com um preço: o cumprimento de um antigo acordo que selava o destino da Princesa Letícia. Recém-completados seus dezoito anos – a idade núbil naquele reino –, ela seria entregue em casamento ao Príncipe Ryuuji, do Outono, consolidando uma aliança política crucial para a sobrevivência do Reino do Inverno.
Letícia, uma princesa de cabelos negros, olhos azul-claros e 1,68 de altura, dedicava-se com disciplina às suas responsabilidades reais, incluindo o aprofundamento em estudos sobre a diversidade cultural e territorial dos reinos.
Após completar sua rotina diária, Letícia voltou aos seus aposentos, onde suas damas de companhia a aguardavam com uma surpresa. Sobre uma mesa, repousava uma bela caixa, adornada com laços elaborados e marcada com o brasão do Reino do Outono: uma folha de outono envolta por um dragão. Curiosa, Letícia preparava-se para abrir o presente quando as damas, animadas, sugeriram que o fizessem juntas.
Dentro da caixa, revelava-se um vestido deslumbrante em um tom de azul cintilante, decorado com cristais que lembravam fragmentos de gelo. O tecido possuía uma textura fina e luxuosa, com um acabamento que refletia a habilidade dos estilistas renomados do Reino do Outono, famoso pela qualidade de seus algodões e pela beleza de suas criações. As damas de companhia suspiraram, admiradas com a peça, reconhecendo a excelência do presente.
Letícia também achou o vestido belíssimo, mas uma leve inquietação a tomou, gerando-lhe um certo desconforto diante daquele presente.
— Algo a perturba, princesa Letícia? – perguntou a dama de companhia.
— O vestido é encantador. Mas... por que o Príncipe do Outono me enviaria um presente como este? – Letícia tocou o tecido delicado, pensativa.
— Ora, ele a corteja, não é? É natural que um pretendente demonstre seu interesse.
Letícia observava o vestido com uma surpresa genuína. Sabia, desde criança, do compromisso com o príncipe Ryuuji, um acordo entre reinos selado antes mesmo de seu nascimento. No entanto, aquele era o primeiro gesto pessoal que recebia dele. As damas de companhia, extasiadas com a beleza da peça, continuavam a admirá-la, tocando os bordados com delicadeza.
De repente, uma exclamação de surpresa. Ao examinarem a caixa com mais atenção, descobriram uma carta aninhada entre as dobras do tecido. Com um sorriso radiante, uma das damas a entregou a Letícia.
— Princesa, uma carta para Vossa Alteza! — anunciou, animada.
A surpresa inicial deu lugar a uma hesitação repentina. Letícia encarou o envelope com uma mistura de curiosidade e apreensão.
— Não estou com ânimo para ler agora — respondeu, desviando o olhar.
— Se Vossa Alteza permitir, podemos lê-la em seu lugar — ofereceu outra dama, ansiosa por desvendar o mistério.
— Esperem... — disse, sua voz agora carregada de uma curiosidade que não conseguia mais disfarçar. — Eu mesma lerei.
Rompeu o lacre com dedos trêmulos e desdobrou o papel. O silêncio no quarto se intensificou, enquanto os olhares das damas de companhia convergiam para ela, ávidos por decifrar qualquer reação que revelasse o conteúdo da carta.
"As folhas do outono se unem a lindos cristais de neve que iluminam um belo inverno, espero que nosso brilho possa iluminar todas as nossas estações."
Um silêncio pensativo pairou no ar após a leitura da carta. A frase poética do príncipe Ryuuji ecoava na mente de Letícia, carregada de um significado que ela ainda não conseguia decifrar completamente.
— Princesa, que palavras encantadoras! — exclamou uma das damas de companhia, os olhos brilhando de admiração. — Ele pareceu tão poético na carta.
— Talvez o Rei anuncie o casamento em breve! — comentou outra dama, com entusiasmo.
A última observação atingiu Letícia como um choque de realidade. Casamento. A palavra ressoava em seus ouvidos, carregada de um peso inesperado. Assim que as damas se retiraram, a princesa se viu sozinha, a sós com seus pensamentos e a crescente apreensão que lhe apertava o peito. Dirigiu-se a um pequeno baú escondido sob a cama e retirou um caderno, de capa de couro desbotada. Abriu-o com cuidado, revelando páginas preenchidas com uma caligrafia delicada, e começou a ler, seus olhos percorrendo as linhas com um ar de profunda preocupação.