Letícia deslizou pela passagem secreta, um túnel estreito conhecido apenas por ela, seu irmão Laurenn, e Dagmar, sua confidente e dama de companhia. Ao emergir na cidade, respirou fundo o ar fresco da manhã. A sorte lhe sorria; poucos conheciam seu rosto, o que permitia circular livremente sem atrair atenção.
Letícia decidiu visitar a feira que animava a cidade, uma oportunidade de conhecer melhor o reino que em breve deixaria para trás. Percorria as barracas com entusiasmo, encantada com as cores, os aromas e a vibrante energia do local.
Após comprar um lanche em uma das barracas, sentou-se para degustá-lo. Avistou uma barraca de sucos, parecia o complemento perfeito para sua refeição. No instante em que se levantou, um vaso de flores caiu do alto de um prédio, estilhaçando-se no chão exatamente onde ela estivera sentada segundos antes. A multidão ao redor expressou preocupação e alívio, e Letícia, ainda atordoada, agradeceu à sorte por ter escapado ilesa.
Absorta pela atmosfera festiva, Letícia perdeu a noção do tempo. Quando percebeu, a noite já havia caído. Enquanto caminhava de volta para o castelo, um calafrio percorreu sua espinha. A nítida sensação de estar sendo seguida a invadiu. Apressou o passo pelas ruas mal iluminadas, a sensação de perigo crescendo a cada instante. Pela aura que sentia, não era apenas uma pessoa. Mas quem seriam? E por quê? A proximidade dos perseguidores a fez correr em direção à rua principal, esbarrando em alguém no caminho.
Era o cavaleiro de cabelos prateados.
Ele a reconheceu imediatamente. Preocupado com sua expressão aflita, perguntou se estava tudo bem.
Letícia, ainda olhando ao redor em busca de seus perseguidores, sentiu a pressão diminuir. Eles haviam desistido?
— Gostaria que a acompanhe até sua casa? — ofereceu o cavaleiro.
— Se pudesse me levar até um local mais movimentado agradeceria — respondeu, aliviada. — O centro da cidade já é suficiente.
Enquanto caminhavam, a conversa se desenrolou naturalmente.
— A propósito, não me apresentei — disse o cavaleiro. — Meu nome é Aleph.
— Pode me chamar de Ticy — respondeu Letícia. — Você é novo por aqui? Nunca o vi na cidade.
— Cheguei há pouco tempo. Trabalho como guarda da cidade, mas pretendo conseguir um emprego no castelo. O príncipe Laurenn me convidou para treinar aqui.
— Vocês se conhecem?
— Sim, somos amigos. Treinávamos juntos.
— Se são amigos, por que não pediu a ele diretamente um emprego no castelo?
— Gostaria de chegar lá com o meu esforço — respondeu Aleph, com um sorriso. — E ele ainda não sabe que estou na cidade.
— Às vezes, aceitar a ajuda de um amigo é um sinal de sabedoria — observou Letícia.
— Pensarei nisso — respondeu Aleph. — Desculpe interromper a conversa, mas chegamos ao nosso destino.
Letícia agradeceu a companhia e seguiu em direção ao castelo. Os incidentes daquela noite, porém, a perturbavam. O vaso de flores, os perseguidores... tudo parecia suspeito demais. Principalmente após o anúncio de seu casamento com o príncipe do Outono.
— "Será que alguém do Reino está insatisfeito com o casamento e está tentando me eliminar?" — pensou, apreensiva. — "Mas como saberiam que eu estaria na feira? A menos que… seja alguém do castelo. Alguém próximo a mim."
Em uma hospedaria nos arredores da cidade, dois homens conversavam em voz baixa, enquanto uma terceira figura, envolta em um manto escuro com capuz, permanecia em silêncio.
— Senhor, já mapeamos a rotina da princesa. Em breve, poderemos executar o plano — disse um dos homens.
— Assim espero — respondeu a figura encapuzada, a voz rouca e ameaçadora.