Letícia retornou ao castelo, encontrando Laurenn à sua espera em seus aposentos. A preocupação era evidente em seu rosto. Ela nunca havia se atrasado tanto em seus passeios secretos pela cidade. Ele se aproximou, examinando-a com atenção.
— Letícia, aconteceu algo? — perguntou, a voz carregada de ansiedade.
Letícia negou, mas Laurenn sentiu que ela ocultava algo. Relutante em preocupá-lo baseada apenas em hipóteses, decidiu mencionar o encontro com o cavaleiro.
— Encontrei um cavaleiro na cidade, disse que é seu amigo. Parece que ele nasceu no Reino do Outono. Se chama Aleph.
Laurenn franziu a testa, pensativo.
— Não me recordo de nenhum cavaleiro do reino do Outono com esse nome.
Letícia descreveu a aparência física de Aleph. A surpresa de Laurenn se transformou em um reconhecimento hesitante.
— Ah... sim, me lembro dele agora — disse, evitando o olhar de Letícia. — Mas ele não poderá ser seu cavaleiro.
— Por quê? — perguntou Letícia, desconfiada. — Já o recrutou?
— Não é isso, Letícia. Este assunto não está em discussão — respondeu Laurenn, com uma firmeza incomum.
A resposta ríspida de Laurenn, tão diferente de sua habitual gentileza, aguçou ainda mais a curiosidade de Letícia. O que ele escondia? Por que não posso escolhê-lo?
Laurenn, porém, mudou de assunto abruptamente, lembrando-se do verdadeiro motivo de sua visita. No dia seguinte, conheceria sua futura noiva, a filha do chefe dos conselheiros, e a apreensão o consumia.
— Letícia — começou, hesitante. — Não sei como agir. Devo ser romântico? Distante? O que uma mulher espera em um primeiro encontro?
Letícia sorriu, enternecida pela insegurança do irmão.
— Apenas seja você mesmo, Laurenn. Tenho certeza de que ela gostará de você exatamente como é.
...
Em uma hospedaria nos arredores da cidade, dois homens conversavam em voz baixa, enquanto uma terceira figura, envolta em um manto escuro com capuz, permanecia em silêncio.
— Senhor, já mapeamos a rotina da princesa. Em breve, poderemos executar o plano — disse um dos homens.
— Assim espero — respondeu a figura encapuzada, a voz rouca e ameaçadora.
...
No dia seguinte, Laurenn, elegantemente trajado, lutava contra a ansiedade que lhe apertava o peito. Letícia se aproximou, ajeitou sua gravata com um sorriso encorajador e lhe desejou boa sorte.
Rachel, a filha do conselheiro real e futura noiva de Laurenn, chegou em uma carruagem luxuosa, escoltada por um pequeno grupo de cavaleiros. Com 19 anos, cabelos ruivos vibrantes e olhos verdes penetrantes, Rachel possuía uma elegância inata, vestindo-se com uma sofisticação que frequentemente excedia seu status.
Ao recebê-la, Laurenn, com uma demonstração de cortesia, indicou aos cavaleiros da escolta alojamentos confortáveis dentro do castelo, reconhecendo a longa jornada que haviam enfrentado. Os cavaleiros, impressionados com a consideração do príncipe, trocaram olhares de aprovação.
Rachel, por sua vez, aproximou-se de Laurenn com um sorriso encantador. Ele se curvou e, delicadamente, beijou sua mão.
— Vossa Alteza, é um prazer finalmente conhecê-lo — disse Rachel, com uma voz suave.
— A honra é minha por poder conhecê-la — respondeu Laurenn, genuinamente encantado.
Após ser recebida pelas damas de companhia e descansar da viagem, Rachel acompanhou Laurenn até os jardins do castelo. Enquanto caminhavam, observou a fisionomia do príncipe. O porte atlético contrastava com o ar estudioso e intelectual que ele emanava.
— "Ele é ainda mais bonito do que eu imaginava" — pensou Rachel. — "Talvez este casamento não seja tão ruim assim."
Chegaram a um coreto com vista para um lago cristalino, que, milagrosamente, não congelava mesmo durante o inverno. A paisagem era deslumbrante, um dos lugares preferidos de Laurenn no castelo.
Ele puxou assunto, perguntando sobre seus livros e autores favoritos. De repente, Rachel se inclinou, pousando a mão sobre o peito de Laurenn e fitando-o com um olhar intenso. Aproximou-se para um beijo, mas Laurenn, surpreendido e visivelmente ruborizado, colocou a mão delicadamente sobre seus lábios, impedindo-a.
— Não precisa se precipitar — disse, com gentileza. — Teremos tempo para nos conhecermos melhor. Você deve estar cansada da viagem. — E, solícito, colocou seu casaco sobre os ombros dela.
— "Será que é verdade que ele nunca teve uma namorada?" — questionou-se Rachel, intrigada.
— Não se preocupe com nada — acrescentou Laurenn, segurando suas mãos com carinho. — Estou aqui para cuidar de você.
— Suas palavras me confortam — respondeu Rachel, um sorriso enigmático nos lábios.
Ao longo do dia, Rachel observou a interação de Laurenn com os funcionários do castelo. Ele era gentil e atencioso com todos, um verdadeiro cavalheiro.
— "Será que tudo isso é fingimento ou ele é realmente assim?" — pensou, desconfiada. — "Preciso testar essa bondade toda."