Não saberia explicar esta sensação que tenho agora. O motivo dessa ansiedade correndo pelas minhas veias é devido a adrenalina que irei sentir daqui algumas horas. Com um elmo um pouco apertado em minha cabeça e esta armadura quente, estou em cima de uma carroça convencional partindo em direção a Sagólia.
Demorava um pouco mais de quatro dias para chegar a esse reino. Então a viagem seria longa o suficiente para eu me entediar, me animar de novo e me entediar novamente. Posso presumir que seja o mesmo para...
"Vai demorar bastante, não é?"
"Sim."
A minha frente estava uma pessoa. Ela vestia botas brancas e uma caça preta colada. Ela vestia algumas placas de armadura da cor rubi, como um peitoral, ombreiras e protetores de braço. Por baixo destas placas, ela usava uma roupa de manga comprida branca comum. Seus cabelos brancos soltos por cima de seus ombros combinavam com a armadura e sua roupa. Ela também usava uma máscara branca com listras vermelhas.
Era Asura, ela me acompanhava nesta jornada. Esta vestimenta exclusiva, foi preparada por Cássiria. Ela me disse que Asura combinava bastante com esse jogo de cores e eu concordava.
"Vamos passar por alguns bosques que tem criaturas mais fortes do que goblins, isso servirá para treinarmos."
"Bom, você não precisa treinar, né? Você é tão forte que não vai ter graça lutar com eles. É só estender a mãos para eles e 'Poow!', pronto acabou."
"Na verdade, não, eu estou usando esse limitador aqui." Apontei para meu braço. "Ele faz com que a magia de luz não se ative. Estou usando isso para que eu possa esconder a minha presença."
"Uau! Bem pensado."
"Então tudo que eu aprender sobre as artes da espada, vai ser junto com você!"
"Ah, sim."
Não pude ver por trás de sua máscara, porém com certeza ela sorriu.
A caminho de Sagólia havia alguns bosques que monstros de mais alto nível habitavam por lá. Esse caminho era um alternativo para ir mais rápido. Optei por ele por conta de alguns aventureiros dizerem que vão por lá.
Essa seria a chance de eu ver como sou sem a magia de luz que é muito forte. Alfred me disse uma vez que dominei todos os elementos depois de dominar o elemento luz. Então queria testá-los. Certamente terei uma luta digna eu acho.
Assim também, posso ver como Asura iria se comportar em uma batalha, afinal somos aventureiros agora. Eu iria participar da aniquilação dos goblins que está causando terror aos moradores de Sagólia. Isso tudo só para me disfarçar o máximo possível e poder me infiltrar dentro da cidade.
Para melhorar ainda mais minha ocultação. Fiz um clone de luz e deixei em Lálario, assim ninguém perceberia que pisei fora de lá. Apenas contei para Lola, Tess, Cássiria e Alfred sobre o plano, então, também sabiam que aquilo era um clone.
"São quatro dias de viagem, então vamos parar em um vilarejo perto, descansar e voltar a caminho. Bom, espero que dê para descansar..."
"As hospedagens são caras? Soube que não trouxe muito dinheiro."
"Eu não trouxe muito dinheiro para que não desconfiem, mas fica tranquila, as hospedagens, comida, tudo foi contado."
Asura começou a olhar ao redor. Estávamos em uma pradaria grande, poucas árvores eram vistas. Ao longe, podia-se ver uma montanha rochosa que certamente bloqueava o caminho para o outro lado. Do outro lado da montanha, ficava Sagólia.
"A última vez que viajei sobe uma carroça foi durante o incidente, eu estava indo te buscar. Fico contente que consegui chegar a você naquele dia. Tinha medo de te perder para sempre..."
Eram palavras, calorosas e bonitas, mas eu baixei a cabeça. Eu lembro do momento quando vi Asura durante minha batalha contra os reis demônios. Foi uma mistura estranha de alivio e desespero. Ela podia ter se machucado muito, se eu não tivesse usado o "Expansão de Mana".
"Naquele dia... eu também tive medo de te perder, é desesperador lembrar." Eu disse.
Asura olha para mim, porém debaixo da máscara.
"Me desculpe por lembrar, essa não foi a intenção..."
"Não se preocupa, percebo agora que compartilhamos do mesmo sentimento. Isso me deixa feliz."
Passou-se a tarde.
Paramos para descansar os cavalos e dormir durante a noite. Era realmente uma sensação diferente dormir fora do lugar que está acostumado, principalmente dormir no campo aberto a noite.
"Acendi a lareira Aros."
"Certo, obrigado."
Caminhamos até a lareira e nos sentamos envolta dela. O cocheiro da carruagem dormia de dentro dela, parecia que ele não queria nos incomodar. Asura e eu ficamos vendo a brasa da chama crescer um pouco até nos manter aquecidos do vento gélido da noite.
As coisas no outro dia seriam um pouco perturbadas, então precisávamos de um bom descanso.
"Me desculpe por ter que ficar de máscara... Infelizmente o Grande Rei tem olhos espalhado por toda parte por esse continente. Me perdoe, mas teremos que aguentar até pegar a hospedagem lá no vilarejo."
"Não tem problema, me sinto animada quando estou de máscara. Principalmente por usar uma máscara desenhada por você, sério, ela é muito bonita."
"Você está dizendo isso porque gostou ou porque quer me alegrar?"
"Os dois."
"Entendo."
Encostamos a cabeça um no outro.
Ao som dos estalos da lareira, eu estava vivendo um clima romântico com a mulher com quem tanto amo. Nesse mundo, eu tenho apenas dezoito anos, no outro mundo eu tinha um pouco mais de vinte. Com toda aquela idade, eu não tive uma experiência tão romântica de um jeito fantasioso antes.
"Sabia que sua armadura combina com você?" Diz ela.
"Sério? Eu comprei com um ferreiro barato no centro comercial."
"Não falo da qualidade, mas de todo o conjunto. Você usa uma armadura metálica e brilhante, isso pode te disfarçar bem, mas quando digo que combina com você, é esta capa azul que tem. Ela me faz lembrar de seu rosto, mesmo quando está com o elmo."
"A capa entrega tanto? Então vou precisar tirá-la..."
"Não!" Ela se exalta. "Não a tire. Eu a amo em você. Porque me faz lembrar de seu rosto e de todo você."
"Se você gosta mesmo dela, então não irei tirar."
Durante essa conversa, eu tirei a espada junto da bainha e coloquei no chão. Por algum motivo, eu queria a vê-la novamente. Então a retirei da bainha e pude ver sua lâmina. Era uma espada muito bonita, ela tinha o cabo de metal, porém moldado perfeitamente para o encaixe de minhas mãos. O guarda mão também da mesma cor metálica era perfeitamente esculpido. Mas a parte principal...
"Ela é bem bonita mesmo." Diz Asura.
"Pois é..."
"Como que o ferreiro fez a lâmina ficar azul assim?"
A lâmina da espada era um azul forte, da cor de minha capa. Mesmo sendo tingida, ela ainda tinha o brilho do metal então dava para ver meu reflexo e de Asura.
"O ferreiro disse que usou uma planta como corante. Ele disse que manchava tanto que precisou lavar as mãos todos os dias depois de forjar ela. Eu acredito, quando fui lá pegar a espada, as mãos dele ainda estavam azuladas. Então duvido que a tinta saia com tanta facilidade."
"Uou..."
"Mas a sua também é legal, não é?"
"Ah, sim."
Ela retira a espada de sua bainha. E era estranho, como combinava perfeitamente com ela. Essa espada só pode ter sido forjada para Asura tê-la. Era quase da mesma arquitetura que a minha, mas a Lâmina era mais fina e era vermelha.
"E a sua? Como ela ficou vermelha desse jeito?"
"Por que... eu matei muitas pessoas..." Ela diz em tom sério.
Me assustei.
"É brincadeira. Ela é de um minério vermelho que acharam em algum lugar do continente. Meu pai me deu de aniversário quando eu era menor, achando que eu um dia entraria na academia de cavaleiros."
"Ah... Entendo. Ela é bem legal, até mais legal que a minha. Combina muito com você, essas cores."
"Vermelho?"
"Sim, a cor de seus olhos." Nesse momento peguei seu rosto mesmo com a máscara e fiz ela me encarar frente a frente. "Já te disse antes, nunca cansarei de vê-los."
Pude ver que mesmo de máscara, ela ficou corada rapidinho.
Eu vou usar essa aventura, para avançar em meu relacionamento. Sei que eu e Asura estamos próximos o suficiente recentemente. Mas por não nos conhecermos muito bem, uma distância fica entre a gente. Farei de tudo para diminuir isso.
...
Era o outro dia.
Estávamos já dentro da carroça e viajávamos para mais o norte, em direção as montanhas. Elas se aproximavam cada vez mais. De lá, já podíamos ver o vilarejo, já que o campo onde estávamos era um pouco elevado.
"Estamos chegando, olha!" Diz Asura empolgada.
O vilarejo não era tão pequeno, se tivesse um pouco mais de orçamento, muralhas em volta, certamente poderia ser considerada uma cidade. As casas eram um pouco mais simples sem contar a vestimenta deles. Quando reencarnei, eu vi que as roupas de um nobre e da população lá do centro comercial eram diferentes, mas aqui nesse vilarejo é bem mais aparente a diferença de classes.
Nossa carroça parou em frente a entrada do vilarejo. Lá tinha dois guardas postos com uma expressão séria. Eles se aproximaram da gente e eu desci da carroça para recebe-los.
"Bom dia cavaleiro, você é um aventureiro?"
"Ah, sim. Estou rumo a Sagólia, vim até aqui para dar uma descansada."
"Certo, você pode nos dizer seu nome de aventureiro?"
"Nome de aventureiro?"
Eu não sabia disso.
Mas depois eu percebi do que eles estavam falando. Nos mangás que lia antes, os aventureiros tinham um nome para se aventurar. Alguns eram exagerados, mas outros eram apenas nomes. Eu precisava ter um bem maneiro para causar intimidação, não é?
Qual escolher? Eu não posso demorar muito tempo pois eles irão desconfiar.
Eu queria um nome em que todos falassem sobre mim, que só pelo meu nome, eu recebesse mais olhares do que os outros, ficando acima deles. Espera... receber mais do que os outros... querer os olhares a mim...
"Meu nome é Greed, sou um aventureiro que veio da parte sul do continente."
"Ah, veio de Lálario? Certo. Gre-ed. Greed não é?"
"Isso."
"E essa moça?"
Como eu explicaria a ele?
Essa definitivamente não era a parte difícil, mas eu queria fazer uma apresentação na qual o guarda não desconfie e deixe Asura contente. Pensar nisso me fazia usar todas as funções que meu cérebro podia.
"Ela é minha esposa, ela me acompanha em minhas aventuras."
"Então se aventura com sua esposa, que ótimo. Bom, não vou pedir identificação, aqui não é um vilarejo restrito que deixaria as pessoas de fora. Sejam bem-vindos ao vilarejo Leonoir!"
Depois de confirmar que podíamos entrar, pedi para o cocheiro deixar a carroça em lugar seguro e ofereci a ele para que pegasse uma estalagem próxima. Depois de deixa-lo ir, estava eu e Asura nas ruas do vilarejo.
Em Leonoir era pequeno, mas surpreendentemente parecia uma cidade. Pessoas andavam pelas ruas com compras que fizeram aqui perto. As casas não tinham o costume de ter dois andares, então por isso digo pequeno.
"Deve ter uma hospedagem um pouco para lá, devemos ir." Diz Asura.
"Certo, vamos."
Então caminhamos rumo ao local de onde pessoas vinham.
Depois de caminharmos, paramos para falar com alguns moradores e pedimos para nos dizer onde fica uma hospedagem por perto. Eles apontaram a uma que aventureiros geralmente ficam. Então fomos para lá.
Agora estávamos em um beco que dava passagem a rua paralela de que estávamos. Se fosse em meu outro mundo, esse seria o lugar mais perigoso do planeta. Mas neste momento, este beco um pouco largo, passava poucas pessoas — melhor do que nenhuma.
"Sua esposa né?" Diz Asura.
"Me desculpe Asura, eu queria dizer algo para que eles não desconfiassem. Me desculpe se ficou irritada com minha apresentação ousada."
"Hm, eu não disse que não gostei."
Nesse momento, Asura virou o rosto para o lado tentando desviar o olhar.
Então finalmente chegamos à hospedagem.
Ele ficava no centro comercial do vilarejo, sua estrutura era pobre, mas tinha dois andares. Então adentramos normalmente. Logo quando abrimos a porta podíamos ver mesas espalhadas pelo local e na frente um grande balcão. Era lá que precisávamos ir.
Neste primeiro andar, parecia que servia de uma taverna, mas estava incrivelmente vazio, nenhuma pessoa sequer estava sentada lá. Chegamos próximos ao balcão e vimos um velho corcunda o suficiente para se parecer com um ponto de interrogação.
"Olá, queríamos um quarto."
"Certo, certo." Diz ele com a voz rouca e se levanta um pouco lentamente. "Quantos quartos serão, dois?"
"Não, apenas um."
"Não temos quartos com duas camas, apenas temos um quarto com cama de larga de casal. Tem problema em pegar este?"
"Nenhum, era esse mesmo que queria."
Asura e eu estávamos acostumados a dormir na mesma cama.
Ele disse quantas moedas precisaria e eu tinha a quantia e até um pouco mais, me deixou aliviado. Mesmo sendo um velho corcunda, ele não foi nem um pouco rabugento, era a primeira vez que vejo esse mundo quebrar um dos clichês.
Subimos até o quarto e entramos. Não era um quarto exatamente dos melhores em quesito limpeza, mas a cama parecia ser extremamente confortável para estar numa hospedagem como essa. Asura se deitou na cama completamente exausta, talvez ela sinta saudade da cama lá do castelo.
"Então vamos descansar."
"Isso."
Nesse momento eu retiro o elmo e me dá um alivio gigantesco, eu sinto o ar gelado que por algum tempo não estava sentindo pelo elmo. Quando eu o retirei e coloquei em cima de um baú que havia lá, Asura começou a me encarar bastante.
"O que houve Asura?"
"Você... é extremamente bonito..." Diz ela em um tom meio robótico.
Assim ela me deixa bem envergonhado. Ela também retira sua máscara e eu disse o mesmo a ela. Talvez não teve o mesmo efeito por ter sido a frase replicada, mas ela sorriu para mim, isso já deixava meu coração alegre.