─ Vamos para fora, agora! ─ um homem encapuzado com uma pistola, manda o pai, a mãe e o próprio Cláudio com apenas cinco anos na época, sair de casa.
O assaltante mandou que saíssem ou morreriam todos ali mesmo, ele era o único dos cinco que possuía uma pistola com silenciador e parecia ser o líder.
─ Por favor, não faça isso! Está chovendo muito e meu filho tem asma grau 4! ─ o pai dele.
─ Não senhor, defunto não tem doença. Agora andem, vamos logo! ─ ele empurra o pai e a mãe de Cláudio. ─ Vamos, não tenho tempo para ficar ouvindo choro de um mimado como você! ─ ele joga o pequeno Cláudio de cara na lama.
─ Não, por favor! ─ a mãe dele está em estado de choque, chorando sem parar.
─ Meu filho! ─ o pai de Cláudio, chorando muito corre e o ajuda a limpar seu rosto com a camisa. ─ Ele é uma criança muito doente, um simples resfriado pode mata-lo. Por favor, deixe ele e minha esposa irem! ─ ele abraça o seu filho bem forte, enquanto olha para aquele bando de marginais.
─ O meu pai se humilhou implorando de joelhos! ─ lagrimas caem dos seus olhos, enquanto ele vai contando…
O mascarado atira e o acerta na cabeça.
─ Eu nunca vou esquecer aquela camisa vermelha que ele usava, tinha uma enorme estampa do Che Guevara…
─ NÃOOOOO! ─ minha mãe gritou com todas as forças, mas a chuva era muito forte e o barulho dela abafou muito o seu grito.
─ Pude ver meu pai cair em câmera lenta, ele se contorceu por uns quatro segundos no chão antes de morrer, parecia lutar pela vida! ─ ele olha para a rua pela janela da van, nesse momento o choro que segurou até então, veio. ─ Depois ele apontou a arma para minha mãe e atirou, ela sofria tanto naquele momento, que eu tenho certeza que ela nem sentiu aquela bala! Ela caiu da varanda, no meio daquela lama toda. Eu tentei correr para ajudá-la, mas o maldito disse:
─ Não garoto, vá embora! Corra para aquelas arvores e não olhe para trás. AGORA!
─ Porra cara, a ordem é para matar todos! ─ outro homem, que fumava o final do seu cigarro de maconha.
─ Meu filho vai embora, corra antes que ele mude de ideia e não se preocupe comigo. Eu sempre estarei com você, seu pai também! VAI. ─ a mãe dele virou-se de bruços para falar. Ela está ferida na barriga, e o seu sangue vai se misturando com a lama.
─ Corri o mais rápido que pude e entrei no meio das árvores. Ainda me lembro do último grito que ouvi de minha mãe, um grito tão baixo abafado pela chuva, mas que soava tão alto aqui no coração. Lembro-me que a noite que passei naquele matagal, foi a pior da minha vida. Eu chorei a noite toda, até ser encontrado pelos policiais de madrugada.
─ Deve ser horrível, conviver com essas lembranças! ─ Samantha põe a mão no ombro dele para tentar confortá-lo, os seus olhos estão cheios d'água.
─ A vida para algumas pessoas não tem valor algum! ─ Joshua chora copiosamente.
─ Sabe que pode contar conosco, para o que der e vier! ─ César também põe a mão em seu ombro.
Todos se comoveram com a história, menos Felipe…
─ É muito estranho, o seu pai devia estar devendo algo, ninguém morre assim sem ter feito nada, concorda? ─ Felipe, com um ar de insinuação.
─ Não sei, eu era só uma criança de cinco anos na época. Tudo que me lembro, é que ele era um ótimo pai e trabalhava duro na oficina mecânica para dar o melhor para mim e minha mãe. Certo dia ele me disse na oficina;
─ Olhe meu filho, seu pai é o melhor mecânico da região! ─ falava enquanto mexia no motor de um carro. ─ Bem, pelo ao menos é o que meus fregueses dizem, mas você quer saber mesmo o que é mais importante nisso é que eu trabalhei duro para chegar até aqui, eu batalhei muito para ter o reconhecimento do meu trabalho! Eu quero que você seja o melhor, não importa em quê, mas você sempre vai lutar para isso. Promete? ─ o pai dele parecia um homem muito feliz.
─ Claro papai!
─ Então aperta a mão do seu pai.
Cláudio aperta a mão dele e uma coisa muito estranha acontece… uma imagem vem em sua mente e em poucos segundos ele vê uma noite muito escura, chove muito, seus pais mortos no meio da lama em frente a sua casa e um homem mascarado olha na direção dele.
─ FILHO, ACORDA FILHO! ─ batendo levemente em sua face desfalecida, e ele lentamente volta a si. Quando estava em transe os seus olhos permaneciam abertos.
─ Pai! ─ ele abraça o seu pai como se fosse o último abraço da sua vida.
─ Meu filho, o que aconteceu?
─ Pai, eu tive um sonho horrível! Sonhei que você e a mamãe estavam mortos.
─ O que é isso meu filho, ninguém pode sonhar acordado. Olha, vamos esquecer isso está bem? Não fale nada para a mamãe, sabe como ela é, ficaria preocupada.
─ Está bem papai. ─ enxugando as lágrimas que brotaram em seus olhos.
─ Me passe aquela chave a li. ─ o pai dele tenta fazê-lo esquecer do ocorrido.
─ Na noite seguinte, os meus pais foram mortos. Até hoje eu me sinto culpado por não ter evitado. ─ as lágrimas novamente brotam de seus olhos. ─ Lembro-me que não conseguia parar de chorar, porque tudo batia com a imagem que eu vi; a chuva, a lama em frente a minha casa, o homem mascarado e até a escuridão, pois havia faltado luz no bairro, coisa comum quando chovia forte naquela época.
Ninguém aqui sabe o que senti, saber o que estava para acontecer e não ter forças para lutar, fazer o meu próprio destino! Tive que assistir tudo acontecendo!
Os anos passaram, com os meus quatorze anos conheci a magia através dos livros e quando li a definição do que era magia em um deles:
"A magia é a ciência e a arte de mudar o universo a sua volta conforme a sua vontade"
─ Foi após ler esta frase que eu percebi que podia ser o dono do meu destino.
─ Já ia esquecendo, pegue e dê uma olhada, é de hoje. ─ João pega o jornal e dá a Josias.
─ Isso é horrível! Aqui diz; duas jovens morreram esta madrugada de uma forma no mínimo cruel na cidade do Rio de Janeiro, elas tiveram os seus corações arrancados do peito enquanto as vítimas ainda estavam vivas. ─ o mestre fica muito preocupado com o que acabou de ler.
─ Eu já li tudo, aí diz que o Encontro Mundial dos Bruxos trouxe o assassino para o Rio de Janeiro. O pior é que o jornal faz serias críticas sobre os covens e irmandades mágicas de todo o país, inclusive o seu. ─ João aponta para ele.
─ Não pode ser! Logo agora que conquistamos espaço diante da sociedade, este louco põe tudo a perder! ─ Josias furioso.
─ Vocês ouviram?! ─ Felipe com os olhos arregalados.
─ Claro! Estão desconfiando de todos os bruxos nesse momento. ─ Patrícia.
─ Estão desconfiando de todos nós, a final o assassino pode ser qualquer pessoa. ─ Joshua de cabeça baixa, ainda limpando seus olhos.
─ Pessoal precisamos conversar. ─ César, meio sem graça.
─ Não vai dizer que você sabe de algo?! ─ Samantha desconfiada.
─ O que vocês estão tramando aí? ─ Josias vira-se para trás e pergunta com um leve sorriso.
─ Nada mestre, estamos falando da festa desta noite. ─ Juninho desconversa.
─ Tudo bem meus pupilos, quero vê-los impecáveis como bruxos e bruxas, ok?
─ OK! ─ todos respondem.
─ Me encontrem na minha casa às 19 horas. Primeiro descansaremos e depois eu contarei tudo. ─ César.
Doze horas depois…
─ Como é César, estamos aqui, conta logo! ─ Felipe, sentado no sofá com os outros.
─ Desculpem gente, é que gostaria de esperar as garotas mais alguns minutos. ─ ele olha para o relógio e em seguida a campainha toca. Ele corre para abrir a porta.
─ Me desculpa, mas minha irmã está mais preocupada com qual vestido irá usar na festa. ─ Joshua.
─ Então ela não vem?
─ Não César, ela não vem.
─ É, parece que a Patrícia não está dando a mínima para ele, como sempre, não é?! ─ Felipe fala em um tom baixo e sarcástico como é de seu costume.
─ O QUE VOCÊ DISSE?! ─ César conseguiu ouvir e ficou furioso, avançando nele e o segurando pelo colarinho da camisa.
─ HEI! Vamos gente, devemos guardar energia para o nosso verdadeiro inimigo. ─ Juninho se metendo no meio dos dois que ficam se encarando.
─ TOCK, TOCK, TOCK. ─ alguém bate na porta.
─ Deixa que eu abro. ─ Joshua se levantando.
─ Oi Samantha, entra aí.
─ Oi Joshua, todos já chegaram? ─ ela chegou toda arrumada.
─ Nossa! Nunca tinha reparado como a pequena está ficando tão bonita! ─ Cláudio pensa.
─ Pronto, agora que estamos todos reunidos podemos começar. Gostaria de pedir silêncio, por favor. ─ César aguarda todos se sentarem, para poder então começar a contar os fatos que ele e Juninho presenciaram na noite anterior.
─ Tudo começou no dia da abertura do evento, eu e o Juninho estávamos atrasados, vocês lembram, não é? Então, nos andávamos rápido para chegar até o local onde marcamos de se encontrar…
Enquanto isso no Aterro do Flamengo.
─ Veja Almir, está fechado. ─ Francisco estacionando a viatura policial enfrente as lonas do Encontro de Magia.
─ Veremos se conseguimos algo com os seguranças. ─ o inspetor, descendo do carro.
─ Não senhor, não sei onde eles estão hospedados. Espera aí, parece que lembrei algo… lembro-me de ter ouvido alguma coisa sobre uma festa. ─ um dos homens que fazia a limpeza do local, ele pega a carteira e mostra para Almir. ─ Vê doutor, eu não tenho nem dinheiro para ir embora hoje, muito menos para levar comida para minha família. Será que o senhor não tem nenhum trocado para me emprestar? ─ o homem está embriagado com a vassoura na mão.
─ Tome, eu acredito que isto dê para você comprar algo para comer. Agora fale homem, é muito importante para mim! ─ ele puxou da sua carteira uma nota de cem reais, e deu ao homem de idade já avançada.
─ Muito obrigado! Onde eu estava mesmo? ─ ele arregalou os olhos na nota e ficou feliz, enquanto abre um largo sorriso quase sem dentes na boca.
─ Você falava sobre uma festa, diga logo. ─ Francisco.
─ Sim, é isso mesmo, o estrangeiro dará uma festa hoje as 22 horas lá na Casa do Marinheiro. Ouvi dizer que será uma festa muito chique. ─ o homem vira-se e entra.
─ Só pode ser o tal Dimitri! ─ Almir caminhando em direção ao carro.
─ Onde fica a Casa do Marinheiro? ─ Francisco coçando a cabeça.
─ Você passa por lá todos os dias, é aquele clube enorme lá da Avenida Brasil. ─ eles entram no carro.
─ É que pensei que seu nome fosse Clube dos Marinheiros. ─ Francisco dando a partida no carro.
─ Meu amigo, temos uma festa chique para irmos e não vamos querer fazer feio, não é?! ─ Almir acende um cigarro.