─ Mais que droga! Eu só preciso ver com os meus próprios olhos, só isso. ─ ele entra na Casa dos Marinheiros, andando muito rápido.
É uma noite relativamente fria e venta muito, é uma noite daquelas raras de se ver no Rio de Janeiro, ainda mais nesta época.
─ Eu acredito que o César não vai conseguir levar numa boa não. ─ Cláudio.
─ Com certeza, se para você está sendo difícil imagina para ele que a ama desde a primeira vez que a viu. Por falar nisso, foi pouco antes de nos conhecermos…
Juninho se recorda do primeiro dia do exame para ser aceito na Omus. Naquela época a Ordem Mágica americana já era famosa, por buscar resgatar a verdadeira magia de poder. Eles estavam inaugurando a sua primeira filial no Brasil, a filial do Rio de Janeiro. A televisão anunciou muito sobre o exame, não porque quiseram, mais porque receberam para isso. Eu achei péssimo, pois atraiu um monte de idiotas que nunca se quer, haviam lido um livro. Estava lotado de gente de todas as idades, mesmo assim a maioria absoluta era de jovens.
Quando o exame terminou, eu fiquei uns minutos conversando com alguns colegas, depois enquanto eu estava indo embora, me deparei com aquele garoto magro, de cabelos pretos caracolados enormes, mas totalmente sem corte, muito mal vestido e segurando um livro na sua mão direita. Ele estava cercado por três garotos maiores, infelizmente eles eram negros, como eu. Apesar da pouca idade, eu sempre fui enorme e forte por natureza, meio gordinho, mas forte. Eu fui até eles e perguntei:
─ O que ele fez para vocês? ─ a esta altura, o mais agressivo dos garotos, já o estrangulava com a própria camisa, o erguendo pela gola enquanto o empurrava para cima, pressionando-o contra a parede. Os outros dois, seguravam os seus braços, um em cada.
─ Esse branquelo azedo aqui?! ─ ele olhou bem nos olhos de César. ─ Nada! Ele vai apanhar, para aprender a ser homem! ─ forçando mais o estrangulamento.
─ Solta ele agora! ─ mesmo eu sendo maior que eles, eu sabia que iria ser bem ruim para mim.
─ Você é irmão cara! Da mesma cor! ─ um deles que larga o braço do garoto nesse momento. ─ Quer saber, vai seguir teu rumo ou vai sobrar para você também! ─ ele puxa um canivete. ─ E aí negão? Qual vai ser?! ─ nesse momento o canivete caiu da mão dele e estranhamente, ele continuou vindo para cima de mim como se estivesse com ele nas mãos.
─ Escuta aqui meu irmão, eu não gosto de covardia! Eu já sofri muito nas mãos de gente como vocês, e isso não tem nada a ver com cor, classe social ou nenhuma destas merdas… Isso tem a ver com gente idiota como vocês, que precisam levar uma lição para aprender que somos todos iguais! ─ ele furou meu coração com o canivete imaginário dele, já que o real havia caído e ele nem se deu conta. Eu dei um direto no meio da cara dele, ele chorou na mesma hora e saiu correndo.
─ Mais que merda! Hoje você deu sorte branquelo, mas vamos nos encontrar novamente! ─ após cochichar isso para ele, saiu correndo com o seu outro amigo.
─ Você tem que aprender a reagir cara. Eu já passei muito por isso também, entretanto eram idiotas brancos que me perseguiam.
─ Eu reagi! ─ diz sorrindo.
─ Reagiu se enforcando nas mãos dele?! ─ ele sorri enquanto balança a cabeça para os lados negando. ─ Ah para por favor, não me faça rir!
─ Eu usei magia para entrar em contato com o meu anjo guardião, ele me enviou você não foi?
─ Você é meio esquisito, deve ser por isso que eles quiseram te bater. Olha vê se não fica falando estas coisas por aí não viu, as pessoas comuns não compreendem. Pensam que somos loucos.
─ Eu sei disso, pode ficar tranquilo. Eles não gostam de nerds foi só isso, a prova deles ficou em branco e como eu fui o primeiro a terminar a minha na sala em que eu estava, automaticamente fiquei na mira deles.
─ Aqueles idiotas, ainda falam em racismo! Além de se tornarem racistas, odeiam os outros só por serem diferentes!
─ Você sabe que eu te ajudei naquela hora não sabe?
─ Você diz na hora em que caiu o canivete da mão dele? Aquilo foi você?
─ Sim, depois eu o fiz pensar que ainda estava segurando-o. ─ abre um largo sorriso ao dizer.
─ Ele ia me furar no peito, se ele estivesse armado! ─ instintivamente levei minhas mãos ao coração. ─ Eu poderia estar morto agora!
─ Por isso a magia é muito perigosa, devemos saber literalmente que toda a ação, pode gerar uma reação. Para me salvar, eu quase matei você sem querer. Naquele momento, eu tive de usar magia novamente, para não pôr a sua vida em risco.
─ Que magia usou?
─ É segredo, não posso falar.
No último exame, depois da peneira que eliminou a maioria dos candidatos…
─ Quem é aquela garota linda, que falou com você?! ─ César encantado com a beleza da Patrícia.
─ Ela é uma amiga que fiz em um coven que não existe mais, se chamava Esfera de Luz! Aprendemos muito lá, mas era muito teórico e quase nada de prática.
─ Ela é perfeita! ─ olhando-a em transe.
─ Ele tentou se aproximar dela uma vez, mas ela recuou dizendo gostar dele apenas como amigo. ─ eles vão caminhando para a entrada.
─ Só espero que ele não faça nenhuma besteira. ─ Cláudio entrando no clube com o Juninho.
─ Oi César, pensei que você e os outros não viessem mais! ─ Josias.
─ Oi mestre. ─ passando por ele quase sem notá-lo, olhando para os lados a procura do seu grande amor.
─ O que será que vocês fofocavam que o deixou daquele jeito? Deixa para lá. Olhem, Dimitri e a sua esposa estão muito bem vestidos! ─ Samantha de olhos arregalados para os dois.
─ Esposa? ─ Cláudio surpreso.
─ Sim, desde que ela chegou, chamou a atenção de todos, pois além de ser muito bonita, jovem e misteriosa, ela não falou uma palavra até agora. ─ Juninho.
─ O que houve com o garoto? ─ Wadramór apontando para César, que vai seguindo para os fundos do clube.
─ Parece estar chateado com algo. ─ Josias vendo se consegue avistar César em meio à multidão, sem sucesso.
─ Você se preocupa com estes jovens como se fossem seus filhos. ─ Cassandra admirada com a preocupação dele.
─ Passamos tanto tempo juntos na Omus, que realmente somos uma família.
Em outro lugar, no clube…
─ Vamos voltar para a festa? ─ Patrícia alcoolizada.
─ Estão todos bebendo, cantando e dançando… se formos para lá faremos o mesmo, está bem? ─ Alan pegando a garrafa de vinho quase vazia e as duas taças que estavam no chão ao lado deles. Eles estão sentados encostados em um muro do alojamento dos marinheiros, um pouco mais afastado da festa.
─ Eu não bebo, não danço muito bem, mais cantar eu canto. ─ Patrícia ri após falar bem próximo do rosto dele, com o dedo indicador erguido quase na sua cara, ele se aproveita e dá um beijo nela, que o empurra logo em seguida.
─ Me desculpe, eu não me controlei! ─ diz totalmente sem graça. ─ De hoje você não passa, só mais um pouco de vinho e pronto. ─ pensa enraivecido por não ter conseguindo êxito na sua investida.
─ A culpa foi minha. ─ com a mão direita na testa, visivelmente tonta devido ao vinho que bebeu. ─ Suponho que seja melhor voltarmos para a festa.
─ Tudo bem, mais beba a última taça é para acabar. ─ ele a puxa pelo braço e põe na sua mão a taça que acabou de encher, e fica esperando que ela beba.
César observa de longe, agachado atrás de um tronco de árvore enorme.
─ Ok, mas é a última. ─ ela dá uma golada e deixa a taça pela metade. ─ Onde está a sua? ─ Patrícia ergue as sobrancelhas enquanto fala, depois começa a procurar no chão em volta deles.
─ Aqui. ─ ele enche com o que sobrou da garrafa e ameaça beber, quando ela da outra golada ele joga fora por cima do ombro e finge ter bebido tudo. ─ Agora, beba o seu todo. ─ ele mostra a taça vazia para ela, depois olha em volta como se estivesse escolhendo um local.
─ Eu precisava ver com os meus próprios olhos! ─ a imagem deles se beijando não sai da sua cabeça. ─ No meu coração não haverá mais lugar para você, só haverá lugar para a magia a partir de hoje em diante! ─ fechando o punho direito e o levando até a altura da boca. O vento parece ter aumentando sua força, soprando a sua capa, dando um efeito visual muito bonito.
Na festa…