Claire e Tristan escalavam loucamente a parede. A enorme parede ficava na parte de trás da mansão, onde a turma não havia ido no dia anterior. Lá, além da parede, haviam piscinas, pistas de corrida, além de alguns enormes trepa-trepas.
Tristan chegou logo após Claire.
-DOIS A ZERO! -Anny berrou.
-Ah cara! -David gritou. -Vocês são frouxos!
-NÃO É NÃO! -Anny gritou. -NÓS MULHERES É QUE SOMOS MELHORES!
As meninas vibraram, concordando. Claire sorriu para Tristan. Lá em cima, havia uma pequena guarita. Eles podiam ver o campo inteiro lá de cima. 10 metros de altura. Era muita coisa para se subir. A quantidade de cabos que prendiam os dois era enorme, mas para evitar aquela queda, Claire usaria o dobro sem problemas.
-Cara... -Tristan disse. -Onde será que os dois pombinhos estão?
-Espero que procurando a bandeira. -Claire riu.
Eles conseguiam ver a floresta, mas não muito a fundo. Ela olhou para a turma lá embaixo. As meninas acenavam e apalaudiam.
-Vai descer já? -Tristan olhou para ela. -Não quer aproveitar a vista?
-Quero. Essa competição pode ficar idiota.
Os dois riram e ficaram ali conversando.
-Pois bem, quem se garante na corrida? -Sonia perguntou. -Precisamos de duas pessoa em cada time! Um para a corrida em terra firme e a outra na natação!
Os grupos começaram a discutir e se decidir quem seriam os próximos.
Myrella caminhava, seguindo Scott. Ele não dizia nada.
-Certo, cara. Você me odeia?
-Não.
-Então por que tá me tratando assim?
-Trato todo mundo assim.
-Não, você não trata. Você é legal com as pessoas, de vez em quando. Você nem olha para mim.
Scott suspirou.
-Eu... Não sei. A gente nunca conversou. É isso.
-É. E você nem quer conversar, né?
-Não. Pessoas são irritantes.
-Ah, Scott...
Ela suspirou e deixou ele andar. Ele olhou para cima.
-Ei... -Ele olhou para ela. -Você viu o sol nascer de dentro da casa hoje?
-Não. A gente viu o sol se por ontem, atrás da mansão.
-Certo. A gente vai precisar voltar, e não sei quais as direções que estamos.
-É verdade. Você consegue se guiar pela posição do sol?
-Sim. É muito fácil.
-Me ensina?
-Pode ser. Olha lá. O sol já passou do meio do céu. Isso significa que já passamos do meio dia. Ele vai ir para lá, o Oeste. Se ele se pôs atrás da mansão ontem, então a gente precisa ir naquela direção.
Ele apontou para a direita deles.
-Cara... -Ela sorriu. -Você é inteligente. Que legal.
-Sim. Mas vamos seguir reto, se virar alguma vez, a gente pode acabar voltando para a mansão. E a Anny parece meio... Fanática.
-Cara, se a gente volta sem a bandeira... Acho que ela vai pendurar nós dois e fazer a gente de bandeira.
-Vai saber o quê ela faz.
-Bom, acho que eu tô segura com você. Espero que você não se perca.
-Espero também.
-É... Scott...
-O quê?
-Preciso ir num banheiro.
-Que merda... -Ele olhou em volta. -Não tem nada aqui. Talvez se a gente achar o lago, você pode dar um mergulho e...
-Ou fazer ali naquele mato. -Ela apontou para o lado.
-Isso é nojento. E perigoso. Vai que algum inseto ou animal...
-Por favor, não. Fica aqui, de costas. Se você virar eu te arrebento. E depois conto pra Heather e...
-Cala a boca e vai logo.
Scott ficou de costas, e corou. Ele escutou ela mexendo as roupas e...
Ele tentou se distrair. Onde estariam?
Ele olhou para cima, para ver o sol. Eles ficaram no corredor leste naquela noite. E o sol se pôs supostamente atrás da mansão. Portanto, estava indo para... O Norte? Ou o Sul?
As nuvens sopravam para uma das duas direções. Ele escutou um barulho. Scott ficou vermelho ao perceber que parecia água caindo.
Ele encarou o céu, com o coração acelerado. Seguiriam reto. Era o plano. Myrella tocou em seu ombro.
-Pronto.
-EI! Você lavou essa mão!? -Ele ficou mais vermelho e arregalou os olhos.
-Não tem onde lavar. -Myrella disse, constrangida.
-Não encosta em mim, então.
-Desculpa...
Os dois caminharam pela floresta. Logo, viram uma luz extremamente forte. Era o lago.
Scott ficou impressionado. Milagrosamente, seguiram a direção certa.
-Cara, você trouxe a gente mesmo. Não botava fé nisso! -Myrella sorriu e pôs a mão no ombro dele.
-NÃO ME TOCA!
-Ah.
Os dois caminharam pela beira do rio. Myrella parou, e mergulhou as mãos na água.
-Pronto. -Ela olhou para Scott. -Limpinhas, pai.
-Nunca mais me chame assim.
Os dois andaram mais um pouco, e viram as bandeiras, haviam mais de 30 dispostas lado a lado, sendo uma fileira de bandeiras azuis e uma fileira de rosas. Enquanto andavam na direção, Scott percebeu que um homem estava sentado na beira do lago, próximo a elas. O homem ali usava uma capa verde claro. Ele se virou assim que os dois chegaram próximos. O homem era pequeno, ainda menor que Scott. Ele era velho, e tinha uma barba falhada grande. Ele era calvo, seus olhos pequenos encararam os dois.
Scott gelou ao perceber aquilo. Ele viu o botão da capa, que possuía o mesmo broche que a de Atlas. O homem encarou os dois fixamente. Os dois chegaram mais perto. Scott segurou a mão de Myrella. A menina percebeu que algo estava errado ao sentir a mão suada de Scott.
-Oi, moço. -Scott gaguejou. -Eu... Eu e a minha irmã estamos pedidos. Você sabe... Sabe onde estamos?
-Perdidos. -O homem repetiu. -E falam com um estranho do mesmo jeito. Sabe que isso é perigoso, não sabe?
-Sei. Por isso eu vim na frente. O senhor sabe, ou não?
-Sim. Aqui é um acampamento privado. Chama-se Campo Mera. Se olhar bem na direção que vieram, tem uma clareira com algumas lâmpadas. Não saiam da trilha de luzes, e conseguirão se encontrar. Mais alguma coisa?
-Não. Obrigado. Estamos voltando.
Scott se virou e puxou Myrella. Ele olhou para trás quando os dois chegaram à clareira, e observou o lago.
Um chalé estava posicionado ali, na beira do lago. O lago era gigante, e algumas canoas estavam navegando por lá. Patos andavam, voavam e nadavam ali. O homem à distância se levantou, e foi com eles quando se afastaram suficientemente.
-Scott! -Myrella disse. -Quem era ele?
-Não sei. Mas ele tinha um broche no botão da capa.
-E daí?
-A capa dele é igualzinha à da Atlas.
-Quem?
-A professora Grace. Merda, esse cara vai fazer alguma coisa.
-Vamos ver para onde ele vai.
Os dois se esgueiraram atrás do homem. Ele entrou no chalé. O chalé tinha algumas pessoas, conversando e discutindo, pareciam ser clientes e funcionários do Campo.
Ele caminhou até uma porta no final do chalé. Ele saiu, e os dois viram um cais do outro lado do chalé. Eles saíram.
-Vem comigo. -Myrella disse.
Scott a acompanhou. Myrella parou na margem do lago, e ergueu as mãos. A água começou a se dividir. Uma abertura completa apareceu ali. Ela entrou, e Scott a seguiu. Ele olhou em volta, e não viu ninguém.
-O quê acha? -Ela sussurrou.
-Do caralho! Consegue manter assim por quanto tempo?
-O suficiente.
Ela andou, e a água se separava em um círculo ao redor deles. 'Então foi por isso que ela quem veio'. Scott pensou. Eles caminharam pelo chão lamacento, afundando os pés.
Eles pararam embaixo do cais, e viram o homem. Ele estava falando com alguém. Parecia um grupo com 7 pessoas.
-Certeza? -A primeira voz perguntou. -Como você pode ter certeza?
-A descrição do garoto que Atlas espancou bate com a dele. Pele meio escura, cabelo liso, um olho castanho e um vermelho.
-Vamos pegar ele?
-Não. É perigoso, ele é um Eterista. Se usar um ataque elétrico perto da água estamos fodidos.
-Mas e se ele não puder?
-Se não puder será um alvo difícil. Além do mais, temos os outros quatro. Ele deve ter suspeitado na hora em que me viu. Ele encarou meu botão por alguns segundos.
Uma outra voz riu.
-Para com isso, imbecil. Somos uma equipe séria.
-Certo. Se o menino te reconheceu, vai contar aos amiguinhos.
-É. E provavelmente vai tentar fugir. Vamos cuidar da estrada. Paramos o ônibus deles e aí encurralamos todos.
-Sim. Mas caso eles fiquem...
-Então estarão preparando para o combate.
-Sim. São probabilidades. Vamos ficar com o olho grudado na estrada. Não vamos mexer na mansão sem ordens. A senhora Lótus vai saber o quê fazer. Precisamos seguir o plano, os garotos não são tão importantes ao ponto de destruirmos nossa missão.
-Tem razão.
O grupo continuou conversando.
Myrella se agachou, Scott também. A água cobriu os dois. Estavam agora em uma bolha de ar abaixo da superfície.
-Quê merda é essa? -Myrella sussurrou de olhos arregalados.
-Fodeu. A gente tem que voltar agora. Vamos!
Os dois começaram a se esgueirar debaixo d'água. Myrella parou.
-E se eu afundar eles? -Ela perguntou. -Você pode dar um choque?
-Sim. Mas é perigoso demais tentar. Se algum deles puder cancelar meu ataque, vão pegar a gente. Vamos avisar ao Julian!
-Mas e se atacarem enquanto a gente foge agora?
-Então você corre, eu fico aqui e seguro eles. Um de nós tem que chegar lá e avisar aos outros.
Os dois saíram do lago, secos. Seus pés estavam sujos de lama. A terra firme acalmou Scott. Os dois correram até a clareira. Scott olhou para trás. Ele viu o homem. Ele estava lá, parado, olhando para ele.
Scott apontou para ele, e ativou a marca etérea. O homem se encolheu, assustado.
Scott se virou, e disparou atrás de Myrella.
-CONTINUA CORRENDO! -Ele berrou. -SÓ PARA QUANDO A GENTE CHEGAR LÁ NA MANSÃO!
Os dois correram pela trilha de lâmpadas. Pessoas caminhavam e corriam, passando por eles ou sendo ultrapassadas. Era tarde, o sol já estava baixo. Os dois logo saíram perto de uma entrada de parque. Eles olharam em volta, e viram a mansão, longe dali.
Juntos, eles andaram, arfando e tossindo. Quando chegaram perto, Julian olhou para eles, e foi caminhando, Andros e Anny foram junto.
-Cadê a bandeira!? -Anny perguntou.
-Scott, era pra você vencer! -Andros disse.
-Vão se foder. -Scott respondeu. Ele tossiu, e arfou. -Julian... A gente tá com problemas.
-Ei! -Anny gritou. -Como assim? Por que a falta de educação?
-Problemas? -Julian questionou. -Aconteceu alguma coisa?
-Claro que sim! -Starla se aproximou. -A Myrella tá assustada! O quê houve, querida?
-Perigo. -Ela respondeu.
-Eles estão aqui. Sabem sobre a gente. -Scott disse, sério.
-Eles...? -Julian ergueu a sobrancelha.
Scott assentiu, e respondeu:
-Gyazom.