Quando Erine acordou naquela manhã, ela teve certeza de quê tudo na noite passada aconteceu. Ela se levantou, e precisava comer desesperadamente.
Seus pais estavam na sala, assistindo. Já eram 11 horas. Ela correu para a cozinha.
-Filha... -Christine chamou. -O quê houve?
Erine pegou um prato, e começou a pegar tudo o quê via pela frente para tomar seu café da manhã. Ela se sentou no sofá, e olhou para a mãe.
-A Anne, mãe. A Anne aconteceu.
-O quê ela fez? Vocês brigaram?
-Sim.
-Por quê?
-Porquê foi ela quem me envenenou.
-O quê!? -Christine se levantou. -Como assim!? Por que ela fez isso!?
Erine começou a chorar. Entre soluços, ela contou para a mãe tudo o quê aconteceu. Christine e Terence ficaram chocados com o ocorrido. Os dois estavam convictos de que Joe era o responsável até aquele momento.
-Mas ela fez isso sem nenhum motivo. -Terence disse. -Vamos denunciar ela.
-Isso mesmo. -Christine concordou.
-Deixem isso pra lá. -Erine continuava comendo.
-O quê?! -Sua mãe gritou. -Como assim!?
-Vocês dois acusaram o Joe quando a polícia considerou ele culpado. Agora não importa mais.
-Então vai dizer que todo o esforço que fizemos aquele tempo todo foi em vão!? -Terence gritou.
-Só me deixem. Esqueçam ela. Eu não me importo mais.
-Mas... -Terence parou de falar. -Merda. Eu culpei o Joe todo aquele tempo. Eu fiquei com raiva daquele rapaz por nada...
-E agora que ficou com raiva de si mesmo quer descontar na Anne. -Erine debochou.
-Ei! -Christine disse. -Você mesma disse o quê ela fez. Vai deixar assim, tudo bem por você!?
-Sim. Agora a merda toda já aconteceu. -Erine estava com os olhos inchados. -Meu namorado morreu. Meus amigos vão ficar com raiva um do outro depois disso. Não preciso de vocês dois surtando na minha orelha.
-Erine... -Terence começou.
-Não. Não me importo, não ligo.
-Desculpe, filha. -Christine disse.
-Eu disse que não ligo.
Os dois pararam de tentar falar com ela. Erine terminou de comer e voltou para seu quarto. Ela se sentou no chão, e ficou ali por algum tempo. Ela olhou para o celular. Contatos...
Ela ligou para Martha.
-Oi, Miga, como você tá? -Martha cantarolava do outro lado.
-Vem para a minha casa, agora.
-O quê?
Erine desligou o telefone. Ela ligou para Karen, para Paul e para Matt. Em pouco tempo, Karen chegou e se deparou com Christine com um olhar pesado na porta.
-Aconteceu alguma coisa? -Karen perguntou.
-Aconteceu. -Terence disse. -A Erine não quer falar com ninguém. Pode tentar.
Karen entrou, e ficou esperando na porta do quarto. Erine não abriu. Mesmo com ela batendo. Paul, Matt e Martha chegaram logo depois. Eles ficaram ali, batendo na porta.
Matt abriu a porta e entrou. Erine estava sentada, encostada na parede, chorando. Matt se ajoelhou e a abraçou.
-Ei... -Karen chamou. -O quê foi?
-Anne. -Christine disse. -As duas... Brigaram.
-Lá vem. -Paul se sentou no chão. -Ela fez alguma coisa tão ruim assim?
-Sim... -Erine disse.
-Amiga, o quê aconteceu? -Martha se sentou ao lado dela.
-Foi ela. -Erine contou. -O tempo todo, foi a Anne.
-Hein? -Karen perguntou. -Ela fez o quê exatamente?
-Me envenenou.
-Erine... -Karen murmurou. -Conta isso direito, calma aí.
Ela se sentou no chão. Christine entrou no quarto. Todos se sentaram, e ficaram esperando. Erine contou tudo. Detalhadamente, até mesmo a parte sobre Martha.
-Mas que merda. -Paul se sentou. Todos ali choravam por tudo aquilo. -E agora? Vamos falar com a Anne?
-Claro! -Karen disse. -Se foi tudo realmente assim...
-Por favor, não façam isso. -Erine disse. -A Anne não fez por mal.
-O quê!? -Martha gritou. -Como não!?
-Ficar com raiva dela só vai piorar tudo. Eu vou perdoar ela. Quando chegar a hora, eu vou. Eu só quero um tempo longe dela. Vocês sabem que ela só estava fraca...
-Você não tá falando nada com nada. -Karen falou. -A Anne te envenenou. E isso é tudo o quê importa!
-Quando o Joe foi acusado, todos ficaram quietos. Ninguém tentou dar uma prova de um culpado. Não se façam de inocentes. -Erine olhou com raiva para eles.
-Formalmente acusado. -Paul disse. -Ninguém tinha sequer uma pista de quem era o culpado. Então só...
-Só desistiram. -Erine terminou. -Agora querem ficar com raiva dela por nada. Vocês nem se importam, só querem se desculpar por ter acusado o Joe.
-O quê!? -Christine indagou. -Você vai defender essa...
-CALA A BOCA! -Erine berrou. -EU NÃO PEDI NADA DISSO! EU PERDI O JOE, PERDI O LINUS, PERDI A ANNE! E VOCÊ NUNCA APARECEU AQUI POR MIM, MÃE! NENHUM DE VOCÊS TEM O DIREITO DE ME DIZER QUEM EU DEVO DEFENDER!
-ERINE! -Christine gritou.
Christine ameaçou partir para cima dela. Paul se impôs entre elas.
-Calma!
Erine se levantou.
-Erine, calma. -Martha disse.
Matt segurou Martha e fez um sinal de não. Ele apontou para Erine.
-Quer dizer algo? -Erine perguntou.
-Uhum. -Matt grunhiu. Ele pegou o celular e escreveu "Eu consigo acalmar a Anne por você. Você perdoar ela te faz ser a melhor pessoa aqui."
Erine abraçou ele e chorou.
-Ah, Matt. Como eu queria que todo mundo pensasse como você. Por favor, vão embora. Quero ficar sozinha.
-Uhum. -Matt sorriu.
-Mas ela... -Christine disse. Ela olhou para a filha. -Desculpe, querida. Eu vou sair.
O grupo logo saiu.
-E agora? -Karen perguntou.
-Vamos ver a Anne. -Paul disse.
Os quatro foram até a casa de Anne. Quando bateram palmas, Anne abriu a porta, e cruzou o quintal para receber os amigos.
-Oi. A Erine contou? -Foi tudo o que ela conseguiu falar.
-Sim. -Martha disse, olhando feio para ela.
-Anne... -Paul olhou para ela. -Eu não entendo. Como você foi capaz de fazer isso?
-Eu não sei. -Anne abaixou a cabeça. -Eu só fiz... Devia ter pensado mais no quê eu estava fazendo...
Matt abraçou ela.
-Vamos entrar. -Karen disse. -Não vamos discutir assim no meio da rua. Tudo bem?
-Tudo. -Anne disse.
Eles entraram, e se reuniram na cozinha.
-É... -Martha começou. -Eu acho que... Acho que a gente devia ir lá na Erine. Você pode conversar com ela e pedir perdão.
Anne olhou para ela.
-Eu posso. Mas ela não vai querer me ouvir.
-Não por enquanto. -Karen disse.
-Mas ela vai te perdoar. -Paul falou. Ele afagou o cabelo de Anne. -Você é uma bobona. Mas a Erine tá bem.
-Por favor, gente, não. Vão fazer eu me sentir pior assim.
Matt deu um tapinha nas costas dela, e mostrou o celular. Estava escrito algo no bloco de notas.
"Você se sente mal. Isso é bom, quer dizer que sabe que errou. Mas precisa consertar seu erro. A Erine vai esperar um pouquinho para te perdoar. Mas você precisa provar que quer ser perdoada. E eu vou até o fim com você."
Anne começou a chorar e abraçou Matt.
-Ei... -Martha disse. -Acho que você devia ter me dito tudo aquilo antes. Não tentado me mandar embora sem a Erine. Anne, as coisas se resolvem com diálogo. Você sabe disse.
-Eu sei. Eu achei que você ia ficar com nojo de mim.
-E por que eu ficaria?
-Porquê... Eu não sei. Mas e se ficasse?
-A gente não escolhe quem a gente vai amar. -Karen disse. -Só escolhe se vai ser sincero com tudo isso. Nem sempre dá certo, as pessoas têm seus próprios sentimentos, e podem escolher seu próprio destino. É por isso que você devia ter sido sincera desde o começo.
-Aí todo mundo ia rir de mim. -Anne olhou para Martha, chorando. -Todo mundo ia fazer piadas comigo, todo mundo ia saber que eu sou a sapatão do colégio, e todo mundo ia me detestar por isso.
-Não, Anne. -Martha disse. -Não ia. Eu não iria. A Erine não iria.
-O Joe não iria. -Anne disse. -E nem o Matt. O Matt sempre fica do nosso lado, e todo mundo parece excluir ele de tudo. Eu achei que iam fazer isso comigo também.
-Não! -Karen disse. -Nós nunca faríamos isso!
-Vocês fizeram. -Anne respondeu. -O plano contra o Vrazael, lembram? Ele envolvia quase todos nós. Quase. Eu e o Matt sobramos naquilo tudo. Não digam que foi pela nossa segurança, vocês sabem que só não podiam encaixar a gente nisso.
-Anne... -Paul começou. -Merda. Desculpa. Eu não posso voltar atrás com isso. Se alguma vez eu fiz você se sentir excluída, me desculpa.
-É, Anne. -Karen disse. -Se você se sentia sozinha, podia ter pedido companhia.
-Eu pedi. E só o Matt percebeu. Mas nada justifica o quê eu fiz. Eu não consigo me olhar no espelho. Eu não consigo viver comigo mesma.
-Anne... -Martha chamou. -Idiota. Você estragou tudo. Eu sei, você tem seus sentimentos, seus motivos, sua vida. Mas podia ter sido sincera, podia ter dito tudo. Ou só nunca ter dito nada para a Erine.
-Eu fui sincera. -Anne respondeu. -Precisei ser pelo menos uma vez.
-Talvez tenha sido tarde. -Martha olhou para ela.
-Eu sei.
-Mas não é tarde para se desculpar. -Karen respondeu. -Talvez seja hora de você começar a viver de verdade. Peça perdão, consiga o perdão da Erine. O nosso você já tem.
-Mas eu não consigo me perdoar. -Anne respondeu. -No final, eu vou me odiar.
-Não, Anne, não vai. -Martha falou. -No final, você vai se entender. Mas precisa se autoconhecer e se autoaceitar.
-E como eu faço isso?
-Meditando. -Paul disse. -Sábado nós vamos nos encontrar com a Luci. Talvez ela saiba de alguma coisa.
-Se ela souber, me repassem. Não vou ir para não incomodar vocês.
-Ei... -Martha disse. -Você pode ir.
-Não. Não posso chegar perto da Erine depois de tudo isso.
-Você... -Karen parou. -Bom, se você acha. Talvez No fim você consiga se perdoar e voltar a ser amiga da Erine.
-É. -Anne disse. -Até lá, vou ficar longe, para não incomodar ela.
-Você está certa. -Martha respondeu. -Até lá, fique longe dela. E de mim também.
-Martha... -Karen começou.
-Tudo bem. -Anne abaixou a cabeça. -Eu prometo.
-A gente vem te ver depois de ver a Luci. -Paul disse. -Pelo menos eu e o Matt vamos vir.
-Idiotas. -Anne disse. -Por favor não sejam bonzinhos comigo. Elas vão odiar vocês.
-Anne... -Martha chamou. -Tchau. Até o dia em que você virar uma pessoa melhor.
-Tchau.
Martha se virou e saiu.
-Martha! -Karen gritou. -Eu vou ir ajudar ela. Tchau, Anne.
Karen correu atrás dela.
-Bem, é isso. -Paul acenou e foi embora. -Matt, você vem?
Matt fez que não.
Anne virou para ele.
-Eu vou deitar e pensar na vida, Matt. Vai lá se divertir com eles.
Matt fez um sinal de "Então tudo bem" e foi atrás dos amigos.
-Espera, Matt. -Anne chamou. Ele parou, e ela o abraço. -Vem me ver quando puder. Você é o melhor. Tchau.
Matt sorriu. Ele foi até a porta, e acenou para ela. Ele foi embora.
E Anne ficou lá, sozinha, outra vez.
Ela se deitou em sua cama e pensou em tudo o que fez. E ali ela ficou, chorando, o resto do dia, assim como Erine em sua casa.