Erine ouviu atentamente a cada detalhe. Os meninos explicaram sobre Tristan, sobre o vampiro e sobre a missão deles.
-Deixa eu ver se entendi, -Paul disse. -As pessoas simplesmente mandaram vocês em uma missão suicida?
-Não. -Scott disse. -Mandaram o Mil numa missão suicida.
-Entendi. O Mil protege vocês, e vocês protegem o Tristan. -Paul coçou o queixo. -Se for assim, eu e a Erine podemos tentar investigar...
-Calma. -Martha disse. -Nós todos somos os Mirai. Esqueceram? Vamos nos organizar.
-Sim. -Paul disse. -Na verdade, se nós, os mais velhos assumirmos a investigação, a maior preocupação dos adultos vai ser o Tristan.
-O Zack vai conseguir bolar um plano. -Scott disse. -O problema vai ser ele dar certo.
-Zack? Ele é o inteligente? -Karen perguntou.
-Sim. -Hector respondeu. -Ele é o mais inteligente.
Karen riu.
-Olha, Paul, você tem concorrentes! -Anne disse.
-Espera, o Paul é o inteligente de vocês? -Hector perguntou.
-Sim. -Erine respondeu. -Ele e o Zack juntos vão conseguir planejar bem. O problema é que se esse vampiro realmente atacar, vamos precisar de algum lutador. E ninguém aqui sabe lutar.
-Max. -Scott disse. -Ele sabe. E também... Hector!
Ele segurou Hector pelo ombro.
-Cara, -Hector disse. -Acho que a gente tá pensando na mesma pessoa.
Os dois se encararam por alguns segundos e então falaram, juntos.
-Heather!
-Nathan!
-Galera, tem quantas pessoas no nosso time? -Paul perguntou.
-Merda! -Scott disse. -Na verdade, a gente pode trazer os dois!
-Isso! -Hector concordou. -Jeff disse para suspeitarmos, mas não diria que um dos dois fosse trair a gente!
-O quê? -Erine arregalou os olhos. -Como assim?
Hector pigarreou.
-É... então...
-Nada. Jeff disse que alguém pode ser um traidor. Só isso.
-Sinceramente, tem tantos nomes que eu já nem sei quem é quem. -Paul anunciou. -Vamos atrás de conhecer o Tristan primeiro.
-Sim. -Hector disse. -Vamos levar vocês até o hospital em que ele está.
-Agora? -Martha perguntou.
-No fim da aula. -Scott disse. -Apareçam no pátio coberto.
-Não sei... -Martha disse. -Vocês garotos acham que é uma boa ideia?
-Sim. -Scott disse. -Não tem perigo nenhum.
-Por enquanto... -Anne resmungou.
-Você vai calar a boca? -Scott a olhou feio.
Anne ficou em choque.
-Scott! -Erine gritou. -Por quê?
-Porquê ela é chata.
Matt começou a rir.
-Chega, chega! -Karen interrompeu. -Tudo bem, vamos nos organizar. No final da aula, vocês esperam a gente no pátio.
Os oito concordaram.
Hector e Scott saíram à procura dos amigos.
-Boa! -Hector disse.
-Agora só falta a gente trazer o Nathan e a Heather pro grupo.
-Sim. O Nathan vai ser fácil. Mas... E a Claire?
-Sei lá. Ela não tá aqui.
-Sim. Eu fiquei preocupado.
Scott olhou para ele.
-Você não tá gamado nela, né?
-O quê? Não!
-Tá bom.
-É sério! Eu só tô preocupado!
-Já entendi.
-Ah, merda, Scott! Não tô zoando, é sério.
Scott começou a rir.
Enquanto isso, Tristan em seu quarto recebia, animado, uma visita de Claire.
Os dois se abraçaram.
-Como você está? -Claire perguntou.
-Bem! Na verdade... -Tristan virou o olhar. -Sabe os nerds? O Hector e o grupinho dele?
Claire deu uma risada.
-Sim! Ele falou comigo. Eu queria te ver hoje.
Claire abraçou ele. Ela começou a chorar.
-Desculpa, amigo. Foi tudo por minha causa...
-O quê? Não! Não foi. Como a gente ia saber que aquilo lá queria matar a gente?
-Ele não ia querer se eu não...
Ela desabou em lágrimas.
Tristan a abraçou e chorou junto.
-Ele nem deve ligar pra gente mais. -Tristan disse. -Para de chorar.
Ele soluçava e tossia enquanto falava.
-Verdade... Vamos esquecer isso...
Ela não conseguia terminar as frases.
Os dois choraram, juntos, por horas.
Após algum tempo, adormeceram.
Vanda os acordou após algumas horas.
-Oi! -Ela disse.
-Tia Vanda! -Claire disse e a abraçou.
-Oi, querida! Que bom te ver! Sua mãe disse que você ia vir, então eu trouxe um lanchinho para vocês dois!
Ela deu um delicioso sanduíche para cada um deles. Claire comeu ferozmente o dela.
-'descumpa', tia... -Ela disse com a boca cheia. -Eu não... 'Almochei' hoje.
-Pobrezinha. Não fica com vergonha. Pode comer. Os seus colegas já vão chegar.
-Os nerds? -Claire perguntou.
-Nerds? -Vanda ergueu uma sobrancelha.
Tristan riu, e explicou para mãe sobre o fato dos cinco protetores dele serem nerds.
-Que legal! -Vanda disse. -É bom que vocês convivam com gente inteligente! Eu me arrependo de não ter sido amiga dos nerds da sala.
Ela ria enquanto falava. Após alguns minutos de conversa, as portas se abriram. Os cinco entraram, e deram oi para Tristan.
-Claire! -David exclamou e tentou abraçá-la.
-Oi.
Scott ficou quieto.
-Cadê o Mil? -Tristan perguntou.
-Ficou lá embaixo. Ele tá falando com uns amigos nossos que vão ajudar ele.
-Ah sim. -Tristan ficou olhando para eles, em silêncio. -Gente... Eu acho que vou para a aula amanhã. Não vou precisar fazer nenhum exame até sábado.
-Exame? -Zack perguntou. -Exame de quê?
-Pra ver se eu tô melhor da cabeça... Pra ir para casa.
-Ah sim. E você tava bem no último?
-Sim... -Tristan deu um sorriso. Ele não esperava aquela simpatia. Esperava que o estranhassem, que o olhassem com desdém por ter feito exames psicológicos.
Tristan se sentou na cama.
-E aí, qual a boa de hoje? -Hector perguntou. -Vamos dar uma volta pelo hospital?
-A gente pode? -Tristan olhou para sua mãe.
-Eu... Acho que não. Vou ver com alguma enfermeira.
No fim, foram liberados, e saíram explorar o hospital. Viram salas de música, de artes, os jardins daquele lugar. Era estranhamente bonito e reconfortante. E enquanto os sete exploravam o hospital acompanhados por Vanda, Mil e o restante dos Mirai estavam reunidos em uma sala na recepção do hospital, e ali eles discutiam um plano.
-Certo, Mil. -Erine disse. -Você quer dizer que esse vampiro não vai atacar o Tristan de novo?
-Não. Vrazael já é um freguês do Departamento de segurança pública faz muitos, mas muitos anos. -Mil explicou. -Eu pesquisei a fundo antes de vir nesta missão. Tem mais de mil relatórios sobre ele. Isso é insano, pois o relatório mais antigo data da fundação do departamento, que aconteceu há 500 anos!
-Mas então esses relatórios já explicaram sobre como acabar com ele, não é? -Martha perguntou.
-Sim. Vrazael é basicamente um humano. Não é algo muito comum de se dizer, mas vampiros existem há tanto tempo quanto nós. Eles estão conosco, vivendo em sociedade normalmente, alguns nem devem saber que são.
-Tá me dizendo que existem mesmo vampiros, e que eles estão entre nós? Tipo aquela teoria sobre reptilianos? -Paul perguntou.
-Sim. Exatamente. A questão é que alguns pouquíssimos simplesmente querem se destacar e se sobrepor a tudo e a todos. E Vrazael é um desses. Agora, entendemos que a maioria deles é civilizado, com umas exceções.
-Esse monstro, no caso. -Erine falou. -Se ele existe faz tanto tempo, e não consegue se "sobrepor" -Ela fez as aspas com a mão. -, então é porquê ele tem alguma falha. Você acha isso?
-Sim. É exatamente isso. Vrazael é imortal. Diferente dos outros vampiros, que normalmente morrem se você arranca o coração, Vrazael sempre volta. Não sabemos qual é o estigma que o mantém vivo. Mas, todos os relatórios contém uma derrota diferente, ele foi vencido e "morto" -Ele imitou o sinal de Erine. -várias e várias vezes. E dependendo da forma que o mataram, ele demorou um tempinho para voltar.
-Demorou? -Paul perguntou. -Tem algum número específico de anos em mente?
-Algumas vezes ele sumiu por décadas.
-Interessante. -Paul disse. -E o quê essas derrotas específicas que fizeram ele sumir por anos têm de especial?
-Essa é a parte complexa. -Mil explicou. -Mas dentre os diversos relatórios que demonstraram uma longa pausa, eu percebi que tem três coisas que atrasam ele. Podemos enterrar ele vivo depois de picotar ele. Vai demorar menos tempo, mas vai dar um bom tempinho. Se conseguirmos machucar ele a um nível quase inacreditável, podemos jogar os restos na água. Não sabemos quanto tempo isso pode levar, mas é uma ótima aposta.
-Sim, estratégias arriscadas, mas eficientes. -Paul comentou. -E deixa eu adivinhar, a terceira...
-Provavelmente todos pensaram na mesma coisa. A arma mais eficiente que já usaram contra ele foi fogo.
-Você consegue fazer fogo? -Erine perguntou. -Nenhum de nós consegue.
-Não. Infelizmente. -Mil disse isso e baixou o olhar. Sua franja cobriu o rosto.
-Bem, nós ainda podemos arrebentar ele e jogar no fundo do mar! -Paul disse.
-É. Por enquanto, é isso o quê vamos fazer. O plano está pronto. Vamos avisar as crianças.