A última coisa que lembro é o som de vidros quebrando. Um impacto súbito, seguido de um silêncio denso e absoluto. Depois, apenas escuridão. Não havia dor, nem medo, apenas uma sensação de vazio. Eu estava morto. Ou pelo menos, achava que estava.
Quando abri os olhos, o céu acima de mim não era o mesmo. As nuvens brilhavam em tons de roxo e dourado, como se pintadas por um artista em transe. O ar era doce, carregado de um aroma que eu nunca tinha sentido antes – uma mistura de flores silvestres e algo mais, algo que eu só poderia descrever como... magia.
Levantei-me devagar, sentindo a grama macia sob meus pés descalços. Meu corpo parecia diferente, mais leve, como se a gravidade aqui fosse mais suave. Olhei ao redor, tentando entender onde estava. Árvores gigantescas balançavam ao vento, suas folhas emitindo um brilho suave, como se fossem feitas de cristal. Era deslumbrante, mas também assustador.
"Onde estou?" murmurei, mas minha voz soou estranha, como se não fosse completamente minha.
Antes que eu pudesse refletir mais, um som de passos rápidos chamou minha atenção. Virei-me rapidamente e vi uma figura se aproximando. Era uma jovem com cabelos prateados que brilhavam sob a luz do sol, e olhos que pareciam guardar os segredos do universo. Ela vestia uma túnica azul-clara, e em suas mãos havia um cajado adornado com gemas cintilantes.
"Você está bem?" ela perguntou, sua voz melodiosa ecoando no ar.
Eu hesitei, tentando encontrar as palavras certas. "Eu... acho que sim. Onde estou?"
Ela sorriu, como se minha confusão fosse algo comum. "Você está em Elyndor, o reino das magias esquecidas. E você, meu caro, acabou de renascer."
A jovem se apresentou como Lyra, uma aprendiz de magia que havia sentido minha chegada ao mundo. Ela explicou que, de tempos em tempos, almas de outros planos eram trazidas para Elyndor, mas ninguém sabia ao certo por quê.
"Você deve ter uma conexão especial com a magia", disse ela, enquanto me guiava por uma trilha estreita. "Caso contrário, não teria sido escolhido."
"Escolhido?" perguntei, sentindo um frio na espinha. "Escolhido para quê?"
Lyra parou e olhou para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de empolgação e preocupação. "Para algo grande. Algo que pode mudar o destino de Elyndor. Mas primeiro, precisamos descobrir qual é o seu dom."
Enquanto caminhávamos, ela me contou sobre os diferentes tipos de magia que existiam no mundo: magia elemental, de cura, de ilusão, e até mesmo magia negra, proibida e perigosa. Quanto mais ela falava, mais eu me sentia sobrecarregado. Como eu, alguém que nem sabia onde estava, poderia ter um papel importante nesse mundo?
Lyra me levou até uma clareira onde uma grande pedra circular repousava no chão. A superfície da pedra era lisa como um espelho, mas refletia o céu de Elyndor, com suas nuvens brilhantes.
"Coloque sua mão aqui", ela instruiu, apontando para a pedra. "Ela revelará sua afinidade mágica."
Hesitei por um momento, mas sabia que não tinha escolha. Se eu quisesse entender meu lugar nesse mundo, precisava começar por aí. Coloquei minha mão na pedra e, imediatamente, senti uma corrente de energia percorrer meu braço.
A pedra começou a brilhar, e imagens surgiram em sua superfície: chamas dançantes, raios cruzando o céu, ondas se agitando e raízes se entrelaçando. Lyra ficou boquiaberta.
"Isso é... incrível", ela sussurrou. "Você tem afinidade com todos os elementos. Isso é extremamente raro."
Eu olhei para ela, confuso. "O que isso significa?"
"Isso significa", ela disse com um sorriso, "que você pode ser a chave para salvar Elyndor."
Antes que eu pudesse processar completamente o que havia acontecido, um rugido ecoou na floresta. Lyra ficou em alerta, seu cajado brilhando com uma luz intensa.
"O que foi isso?" perguntei, sentindo meu coração acelerar.
"Um predador da floresta", ela respondeu, sua voz firme. "Eles são atraídos por fontes poderosas de magia. E você, meu caro, é exatamente isso."
Antes que eu pudesse responder, uma criatura enorme emergiu da vegetação. Era uma besta com pelagem negra como a noite e olhos que brilhavam como brasas. Seus dentes afiados reluziam sob a luz do sol, e eu sabia que não havia como fugir.
"O que eu faço?" gritei, sentindo o pânico tomar conta de mim.
"Concentre-se!" Lyra ordenou. "Use sua magia. Sinta a energia ao seu redor e deixe-a fluir."
Eu fechei os olhos, tentando me concentrar. No início, tudo o que senti foi o medo, mas então, algo mudou. Uma onda de calor começou a se formar em meu peito, e eu senti uma conexão com o mundo ao meu redor. Quando abri os olhos, minhas mãos estavam envoltas em chamas.
A besta avançou, mas eu agi instintivamente. Estendi minhas mãos, e as chamas se projetaram em direção à criatura, atingindo-a em cheio. A besta rugiu de dor, mas não recuou. Em vez disso, ela parecia ainda mais furiosa.
"Mais!" Lyra gritou. "Você pode fazer mais!"
Desta vez, concentrei-me na terra. Senti as raízes das árvores ao meu redor, e com um gesto, elas se moveram, envolvendo a besta e prendendo-a no lugar. A criatura lutou, mas não conseguiu se libertar.
"Finalize isso!" Lyra ordenou.
Inspirei fundo e levantei minhas mãos ao céu. Nuvens se formaram acima de nós, e um raio caiu do céu, atingindo a besta com uma força avassaladora. A criatura desmoronou, e o silêncio retornou à floresta.
Eu caí de joelhos, exausto, mas Lyra estava ao meu lado em um instante.
"Você fez isso", ela disse, orgulhosa. "Sua magia é poderosa, mas você ainda tem muito a aprender."
Eu olhei para ela, ainda tentando entender o que havia acontecido. "O que vem agora?"
"Agora", ela respondeu, "começamos sua jornada. Há muito mais para você descobrir, e o destino de Elyndor depende de você."