Chereads / Acordei Como Meu Protagonista no Universo de Runeterra!? / Chapter 36 - Capítulo 36: Ixtal, ao Amanhecer.

Chapter 36 - Capítulo 36: Ixtal, ao Amanhecer.

O silêncio era confortável, quase familiar. A noite anterior havia sido cansativa, como sempre era em minha companhia. Fazer Qiyana desmaiar com um toque sutil de poder foi necessário a pequena rainha não se dava bem com cansaço, e a teimosia dela poderia ser inconveniente. Agora, o sol de Ixtal nascia lentamente, pintando o céu com tons alaranjados e rosados, enquanto eu tomava calmamente o meu café. A presença da térmica ao meu lado era deslocada nesse mundo mágico, mas eu nunca fui de seguir as normas locais.

Uma movimentação discreta chamou minha atenção. Qiyana começava a despertar, os olhos semicerrados e a postura desalinhada, uma cena que poucos provavelmente tiveram o privilégio de presenciar. Sua expressão confusa durou segundos antes de seu olhar pousar em mim, e, como um relâmpago, a confiança e a arrogância que definiam sua essência voltaram com força total.

— Ah, é só você. — Ela declarou com uma indiferença teatral, mas eu vi o leve franzir em sua testa.

Inclinei a cabeça em sua direção, um sorriso provocativo se formando em meus lábios.

— Bom dia pra você também, Vossa Alteza. Espero que o chão duro de Ixtal não tenha sido muito desconfortável para alguém tão… refinada. — O sarcasmo estava evidente, como eu sabia que ela preferia.

Qiyana bufou, mas, ao invés de disparar uma de suas respostas cortantes habituais, caminhou em minha direção e se sentou ao meu lado. Seus olhos passaram por mim até a térmica e o vapor que se elevava da caneca em minha mão. Eu podia sentir a curiosidade dela antes mesmo de falar.

— O que é isso que você está bebendo? — Ela perguntou, sua sobrancelha arqueando. O tom era casual, mas sua postura me dizia que ela não estava acostumada a ver algo que não conhecia. — E me diga, Renier, desde quando é aceitável para um ser menor começar a servir algo antes que sua Rainha sequer se levante?

Soltei uma risada baixa, tomando mais um gole do café antes de responder.

— Normalmente, em palácios, as refeições são preparadas antes mesmo que os nobres percebam a fome. É o básico, não acha? — Disse com um tom deliberadamente leve, provocando-a.

Seus olhos estreitaram enquanto ela estudava minha expressão. Qiyana era esperta, mais do que a maioria. Seu ego inflado era tanto uma máscara quanto uma arma.

— Você não parece ser da plebe, mas entende demais sobre a realeza. Por que será? — Ela inclinou a cabeça, uma mão repousando elegantemente no queixo enquanto me olhava.

Ignorei a pergunta, levantando a térmica em uma oferta silenciosa.

— Quer provar? — Perguntei, sabendo que o orgulho dela estava duelando com a curiosidade.

Ela hesitou, seus lábios se comprimindo em uma linha fina. Finalmente, estendeu a mão, pegando a caneca como se estivesse lidando com algo abaixo de sua dignidade. Dei de ombros e a observei levar o café à boca. Seus olhos se estreitaram por um breve momento enquanto processava o gosto amargo, mas algo nos cantos de sua boca denunciou o que eu já sabia.

Ela gostou.

— Interessante. — Disse apenas, devolvendo a caneca com um movimento casual.

— Interessante? — Repeti, provocativo. — Devo assumir que isso é um grande elogio vindo de você. Talvez eu deva oferecer meu café ao resto do seu clã. Pode ser o começo de uma revolução, não acha?

Ela revirou os olhos, mas o leve sorriso que escapou não passou despercebido.

Enquanto o café esfriava em minha mão, minha mente vagava pelos eventos da noite anterior. Eu havia deixado Qiyana adormecida sob a influência do meu poder, garantindo que não se intrometesse em algo que, mesmo para mim, fora inesperado: Evelynn. O encontro com o Demônio da Agonia não estava nos meus planos imediatos, embora, de certo modo, fosse inevitável. Seres além dos mortais em Runeterra tomariam conhecimento de mim cedo ou tarde, mas não imaginei que tão cedo se tornaria tão agora.

Olhei de soslaio para Qiyana, ainda acomodada ao meu lado. O orgulho dela parecia inquebrável, mesmo nas situações mais inusitadas. Decidi romper o silêncio.

— Encontrei Evelynn ontem à noite. A primeira da sua famosa lista.

Qiyana se virou para mim, surpresa estampada no rosto. Seus olhos estavam arregalados, e ela demorou um momento antes de perguntar.

— Você está vivo? Então algo aconteceu entre vocês… Por que não me acordou? Eu teria lidado com ela.

Havia uma ponta de indignação em sua voz, mas também preocupação. Internamente, respirei fundo. A verdade, claro, era impensável. Não apenas eu não matei Evelynn, como firmamos um contrato de ajuda mútua. Revelar isso para Qiyana não era uma opção.

Pensei rápido, e uma ideia surgiu. Materializei uma cauda, algo semelhante às que Evelynn ostentava como extensão de si mesma, e a joguei no chão diante de nós.

— Evelynn era mais fraca do que eu esperava. — Minha voz estava desprovida de emoção, como se a luta tivesse sido insignificante.

O choque no rosto de Qiyana foi imediato. Ela reconheceu a cauda, sua expressão oscilando entre incredulidade e fascínio.

— Você conseguiu… matar o Demônio da Agonia? — Sua voz saiu quase em um sussurro. Em seguida, uma alegria orgulhosa tomou conta dela, e seus lábios se curvaram em um sorriso satisfeito. — Renier, você foi de fato um grande e leal servo ao me proteger. — Sua declaração estava carregada de arrogância, mas também de uma felicidade genuína que eu raramente via nela.

Por dentro, senti um aperto desconfortável. A mentira queimava, mas eu sabia que manter a verdade oculta era necessário. Era Evelynn, afinal. E talvez, só talvez, eu mentiria novamente se fosse preciso.

Um sussurro suave e uma risada maliciosa ecoaram no meu ouvido, uma presença que apenas eu podia sentir. Evelynn.

— Você é realmente divertido, Renier. Mentir para os seus aliados com tanta naturalidade… é um charme tão cativante. — Sua voz era melodia e veneno, dançando nos meus pensamentos como se pertencesse a eles.

Dei de ombros, como se aquele sussurro não tivesse me afetado. Voltei meu olhar para Qiyana, que agora parecia mais imponente com a ilusão de uma vitória sobre Evelynn a seu favor.

— Nosso objetivo agora é retornar à capital de Ixtal. — Falei com firmeza, desviando sua atenção do momento. — Não podemos partir para a próxima da lista, Zyra, ainda. Você é uma filha importante para Ixtal. Ficar fora por muito tempo pode causar suspeitas.

Ela relutou, claramente insatisfeita em adiar sua missão, mas não podia negar a lógica em minhas palavras.

— Tudo bem. Voltamos para Ixtal, mas depois voltaremos à floresta. Zyra será a próxima.

Eu apenas assenti. Apesar do desconforto de mentir, sabia que tinha que continuar jogando este jogo. Evelynn ainda sorria em algum lugar nas sombras, e minha promessa com ela era uma peça crucial no tabuleiro que começava a se formar.

Continua…